NECROMORTEN





O Necromorten surgiu como uma ideia, entre amigos, para se formar uma banda de Grindcore, isso em 1994. Porém, com o passar dos ensaios e após a gravação da segunda música, a banda pendeu para o lado do Thrash Metal, estilo que faz até hoje. Mesmo com tantos anos em atividades, o Necromorten não é de lançar muitos materiais, tendo lançado apenas uma Demo (“After the Holocaust” – 2002) e um full lenght (“Warfuse” – 2010). E esses lançamentos só vem a reforçar aquele velho ditado que diz que “quantidade não é qualidade”. Nesses dois lançamentos esses cearenses mostram seu total poderio, inclusive no álbum de estreia, um verdadeiro petardo Thrash Metal. Confiram agora a entrevista cedida pelo baixista Eduardo Magnani.

Recife Metal Law – O Necromorten deu início as suas atividades em 1994, e já teve diversas mudanças em sua formação, inclusive de vocalistas. Como essas mudanças afetaram na sonoridade da banda, no decorrer do tempo?
Eduardo Magnani –
Na verdade, as mudanças nunca ocorreram de forma traumática e somos grandes amigos até hoje dos ex-integrantes. Em 1994, a ideia inicial que tivemos foi de formar uma banda de Grindcore e não de Thrash Metal. Chegamos até a compor uma música Grind, mas já na segunda composição, que foi a “Holocaust”, fomos pro Thrash. Então, pelo que lembro, não duramos mais do que cinco dias como uma banda de Grindcore (risos). Assim, o que posso dizer é que as mudanças de formação da banda nunca tiveram qualquer impacto na sonoridade, já que sempre soubemos muito bem o que queríamos de estilo musical. O que acontece é que as saídas dos ex-integrantes se deram de forma muito natural, já que alguns deixaram a banda para se dedicar a estilos musicais diversos, enquanto outros saíram por questões de falta de tempo.

Recife Metal Law – O estilo Thrash Metal está em alta, mas quando a banda foi formada o estilo passava por um momento crítico. O início das atividades da banda foi difícil, em razão da baixa do Thrash Metal, na época?
Eduardo –
Nos anos 90 houve um senso comum de que o Thrash Metal havia entrado em colapso pelo fato de que as bandas relevantes do estilo haviam acabado ou então mudado totalmente a sonoridade, salvo algumas raríssimas exceções. De qualquer forma, para mim o Thrash nunca se enfraqueceu e o que ocorreu nos 90 foi que ele retornou para seu lugar de origem, que era o Underground. A partir do ano 2000 houve uma especulação sobre um renascimento do estilo. Não concordo muito com isso porque para mim o Thrash sempre esteve aí firme e forte. O fato de o Thrash Metal ser considerado em baixa na década de 90 não foi uma dificuldade para o Necromorten, na verdade o que mais dificultou para nós foi o fato de sermos muito novos na época e ainda estarmos desenvolvendo nossas habilidades musicais.

Recife Metal Law – O primeiro lançamento da banda se deu após oito anos do surgimento do Necromorten. Trata-se da Demo “After the Holocaust”, lançada em 2002. Todas as músicas compostas pela banda entre 1994 e 2002 estão nesse material?
Eduardo –
Nem todas. Como eu disse, bem no começo da banda nós tínhamos a intenção de tocar Grindcore e compusemos uma música chamada “Scum”, a qual nunca foi gravada, apesar de até hoje vez ou outra nós a tocarmos em alguns ensaios. Entre 1994 e 1996 nós também chegamos a trabalhar em outras músicas, mas sinceramente não consigo me lembrar exatamente os nomes delas. Lembro que havia uma chamada “Euthanasia is the Escape”, mas não levamos adiante. Além disso, chegamos a mexer em algumas composições entre 1998 e 2002, mas nada que tenha rendido muito.

Recife Metal Law – E como foi todo o processo criativo das músicas na época?
Eduardo –
Eu considero que o Necromorten teve duas fases distintas. A primeira foi de 1994 a 1996, nesta época éramos bem moleques e basicamente as composições foram criadas por mim e pelo Davi Fernandes (ex-guitarrista). Foi um tempo legal, apesar da nossa inexperiência musical. Lembro que nós nos reuníamos na área comum do prédio em que morávamos e ficávamos tomando cerveja e vodka e trabalhando nas músicas. Obviamente, o processo não era muito longo, pois rapidamente ficávamos meio bêbados e parávamos de compor (risos). Depois a banda entrou em um período de inatividade entre 1996 e 1998, neste último ano eu tive a ideia de resgatar a banda e fomos em frente. Desde então as músicas são compostas por mim e pelo meu irmão (Rodrigo Magnani – guitarra). Há duas situações diversas: A primeira é quando eu resolvo compor, então preparo a música inteira e mostro pro Rodrigo, aí geralmente ele altera algumas partes e substitui por algo que ele cria. A outra maneira é quando o próprio Rodrigo resolve compor alguma música inteira, aí geralmente ela não é alterada, pois eu prefiro não mexer na composição dos outros (risos). No que se refere às letras, cada um tenta esboçar algo, mas hoje em dia esta função é praticamente toda do Pablo (vocal), pois ele é um cara bastante inteligente e faz umas letras bem interessantes.

Recife Metal Law – Esse material foi divulgado por oito anos, porém notei que a banda passou algum tempo ‘sumida’, antes do lançamento de seu ‘debut’ álbum. Por que isso ocorreu?
Eduardo –
As coisas são assim mesmo com o Necromorten. Na verdade, nós nunca quisemos viver de banda, então tocamos por prazer e pelo fato de sermos fãs de Metal. O que acontece é que a banda fica sumida durante alguns períodos. Quando lançamos a “After the Holocaust”, fizemos alguns shows, depois paramos com eles e fiquei divulgando o material e encaminhando para meus contatos. Neste tempo ficamos também ensaiando apenas de forma esporádica. Eu prefiro que seja assim, pois somos uma banda completamente independente em todos os sentidos, já que não temos rabo preso com ninguém e não precisamos ficar submetendo a banda a pressões e a desejos de terceiros. Nós temos nossas vidas e o Necromorten é parte disso, porém o fato de não querermos viver da banda nos permite conduzi-la da nossa forma, sem ter que dar satisfação para outras pessoas. Uma banda que tenho como grande exemplo com relação a isso é o Sarcófago, pois enquanto estava na ativa, os caras estavam pouco se fodendo pros outros, faziam o som deles e não deviam nada para ninguém. Eles tocavam por essência e devoção ao Metal, sem ter que dar satisfação. Além disso, na época da banda, eles tinham suas próprias vidas e trabalhos e não dependiam financeiramente do Sarcófago, o que permitiu que conduzissem a banda de forma totalmente independente. Outra coisa que também tomei como exemplo foram as palavras do baixista do Anthrax (Frank Bello) quando eu estava assistindo a um DVD da banda: “Eu adoro tocar, mas eu odeio a indústria musical”. Então as coisas funcionam desta forma com o Necromorten; a música para nós não é um produto comercial, então preferimos nos manter de fora da merda que corre nos bastidores. Nós colocamos a banda para andar apenas quando queremos e não devemos satisfação para ninguém, eu até concordo quando algumas pessoas dizem que tratar uma banda desta forma é adotar uma postura radical, mas este é o preço que pagamos para manter nossa integridade e para não termos que nos submeter a esquemas mercenários e politiqueiros.

Recife Metal Law – “Warfuse” é o primeiro álbum da banda. Um verdadeiro petardo Thrash Metal, carregado de músicas violentas, velozes e furiosas, mas, também, nos apresentando aquelas partes cadenciadas típicas do Thrash Metal. O resultado final desse álbum satisfez a todos do Necromorten?
Eduardo –
Satisfez completamente. O “Warfuse” saiu da forma que planejamos e tem sido motivo de muito orgulho. Tudo no disco nos agradou e seguimos exatamente o que acreditamos com relação à sonoridade e à parte gráfica. Obviamente eu sou suspeito para falar, mas eu sou muito fã do “Warfuse” (risos), pois ele tem tudo o que eu espero de um disco de Thrash Metal.

Recife Metal Law – Das músicas presentes na única Demo, todas fizeram parte do álbum, ou seja, o disco conta com sete músicas que são realmente inéditas. Por que colocar todas as músicas presentes da Demo no ‘debut’?
Eduardo –
Porque são composições que gostamos muito e julgamos que elas mereciam estar no ‘debut’. Além disso, o Necromorten é uma banda de Thrash Metal e nunca iremos abandonar este estilo, assim não há conflito entre as músicas da Demo com as composições mais novas, pois elas estão todas no mesmo patamar. Vale ressaltar também que a distribuição da Demo foi bem mais caseira, então não queríamos que as músicas dela ficassem restritas só a este material.

Recife Metal Law – “Transgressor” é a música mais diferente desse álbum, pois além de vir cantada em português, tem uma levada totalmente Hardcore. A intenção de colocar essa música no álbum foi para homenagear o velho Metal feito em nossa língua?
Eduardo –
Na verdade, a ideia para “Transgressor” veio do Barba (bateria), pois ele é um fã fervoroso de Hardcore. Lembro que um dia estávamos conversando e ele disse que acharia legal o Necromorten compor um som HC para prestar um tributo a este estilo, até porque é uma influência direta da banda, já que além do Barba, eu sou muito fã de Hardcore também. Achei a ideia interessante e ele disse que seria ainda mais legal se a letra fosse em português. Dias depois eu compus a “Transgressor”. Então não foi exatamente uma homenagem ao Metal cantado em português, mas sim uma forma de homenagear o Hardcore, que é um estilo que foi uma das origens do Thrash Metal.

Recife Metal Law – Notei que as músicas foram divididas em blocos, cada um recebendo um nome, quais sejam: “Of War”, “Of Religion”, “Of Man” e “Of Pride”. O que isso, de fato, significa?
Eduardo –
Quem criou esta questão dos blocos foi o Pablo (vocal). Nós tínhamos as quatro músicas que falam sobre guerra (“Making a War”, “Holocaust”, “Iron & Steel” e “Propagator of Pain”) e eu tive a ideia de nomear esta sequência de “War Front” ou “War Quartet”. Falei sobre isso com o resto da banda e algum tempo depois o Pablo fez a sugestão de dividir em blocos e colocar os nomes de acordo com as temáticas em comum de algumas músicas. Todos acharam a proposta bem legal e decidimos colocar assim no “Warfuse”. Acho que ficou interessante e deu certo ar de originalidade para o disco.

Recife Metal Law – Há algumas participações no disco, como é o caso dos guitarristas Davi Fernandes, Ricardo Gomes e Talles Mutilator (esse último já tendo feito parte da banda), além do vocalista Eduardo Vomitorium, que foi o primeiro vocalista do Necromorten. Por que colocar esses músicos como convidados especiais em “Warfuse”?
Eduardo –
Na verdade todos que fizeram participações especiais no Warfuse já foram da banda. O Davi Fernandes tocou entre 1994 e 1996. O Talles Mutilator tocou de 1998 a 2000 e o Ricardo Gomes fez parte entre 2001 e 2007, tendo participado inclusive da “After the Holocaust”. Sobre o Vomitorium, preciso fazer uma correção, pois ele foi o segundo vocalista, tendo ficado na banda entre 1998 e 1999. O nosso primeiro vocal foi o Joel Dissection entre 1994 e 1996. A ideia de convidar os ex-membros para gravar alguns trechos foi uma forma de agradecer a eles pelo período em que estiveram na banda, pois a participação de cada um foi essencial para escrever a história do Necromorten.

Recife Metal Law – O Necromorten fez um show em Recife, abrindo para o Overkill, e foi com uma baixa na formação, uma vez que o guitarrista Rodrigo Magnani não pôde viajar com a banda, em razão de problemas de saúde. O guitarrista já se recuperou?
Eduardo –
Sim, ele já se recuperou. Ele teve uma inflamação aguda nos tendões do braço direito e não tinha qualquer condição de tocar. Como já havíamos fechado nossa participação
no show e estávamos muito empolgados pela possibilidade de tocar em Recife e, principalmente, abrir pro Overkill, nós conversamos e decidimos ir pro sacrifício com apenas uma guitarra. Ensaiamos bastante para isso e acredito que fizemos um ótimo show, apesar da dificuldade de estar sem um dos guitarristas. Aproveitando, eu quero aqui agradecer ao público de Pernambuco, pois no show do Overkill nós fomos muito bem recebidos. Nós sempre tivemos vontade de tocar em Recife, já que é a principal cidade do Nordeste em relação ao Metal. Ficamos muito satisfeitos com o show e também foi muito legal porque fizemos muitos amigos por lá.

Recife Metal Law – Existe a possibilidade e/ou planos da banda se apresentar novamente em Pernambuco, para continuar com a divulgação de “Warfuse”?
Eduardo –
Sinceramente, não sei. Na verdade, após o show do Overkill nós conversamos e decidimos parar de tocar ao vivo. Comentamos isto com alguns amigos e todos ficaram bastante surpresos, falando coisas do tipo: “Mas vocês acabaram de lançar um puta disco e vão parar de fazer shows?”. O Pablo inclusive colocou um comunicado sobre isso no nosso Myspace. Sei que parece estranho, mas como disse antes, nós não queremos viver da banda e acreditamos que já conseguimos com o Necromorten o que queríamos, como fazer a abertura para bandas lendárias, como Destruction e Overkill. Gravamos nossa Demo e ela foi muito bem resenhada na época, tendo sido inclusive destaque da edição de maio/2003 da Roadie Crew. Lançamos o nosso tão desejado ‘debut’ e ele ficou da maneira que queríamos e agora estamos aí trabalhando na divulgação. Então, acredito que com o lançamento do “Warfuse”, nós fechamos um ciclo. A banda continua e daqui um tempo vamos começar a ensaiar para preparar material novo para um futuro segundo disco. Obviamente, se nós tivermos uma oportunidade interessante de show, iremos analisar e possivelmente tocar, mas só sendo algo muito fora do normal. Na verdade, desde que comecei a tocar, eu sempre tive o sonho de um dia fazer a abertura para o Slayer, pois é minha banda favorita e eu sou um fã incondicional, bem ‘xiita’ mesmo (risos). Acho que eles devem vir pro Brasil no próximo ano ou até talvez ainda em 2010, não sei se tocarão em Recife. Se forem fechadas apresentações deles em solo brasileiro, nós vamos tentar nos habilitar para abertura, seja onde for. Então basicamente é isso sobre shows, o nosso foco a partir de agora é ensaiar, compor e lançar um segundo disco no futuro.

Recife Metal Law – Estou sabendo que atualmente tua pessoa e o baterista Fabiano Barba estão com um projeto chamado Divisão Armada. As músicas feitas para esse projeto não cabem na sonoridade da banda principal dos músicos?
Eduardo –
A Divisão Armada é bem recente, na verdade ela surgiu um tempo depois do show do Overkill, acho que em abril ou maio de 2010. Como tínhamos decidido parar com os shows em relação ao Necromorten e também voltar a ensaiar só mais para frente, eu conversei com o Barba sobre montarmos um projeto para cruzar Thrash Metal e Hardcore, ou se preferir para tocar Crossover. Depois disso convidamos um amigo próximo (Victor Tama) e ele topou rapidamente. Então montamos a Divisão Armada e somos um ‘power trio’, sendo eu no vocal e baixo, o Barba na batera e o Tama na guitarra. Essa banda é bem mais despojada e uma ‘cacetada sonora’ (risos). Acho que as composições que temos não caberiam no Necromorten, a não ser que fosse algo meio como fizemos com a “Transgressor”, que é uma música ‘diferente’ e foi posta no “Warfuse” como uma forma de homenagear o Hardcore. Na Divisão Armada atualmente nós estamos com quatro músicas compostas, sendo duas em português e duas em inglês, mas já conversamos e a partir de agora vamos fazer as letras somente na nossa língua, pois fica mais legal. Estamos pensando em gravar uma Demo no futuro ou até mesmo um álbum. Vamos esperar para ver como as coisas vão correr.

Recife Metal Law –Como vocês da Necromorten estão fazendo o trabalho de divulgação do ‘debut’ álbum? Quais os planos para o restante de 2010?
Eduardo –
Nós lançamos o “Warfuse” em parceria com três selos: Gallery Productions (CE), Gino Produções (CE) e Distro Rock (PA). A maioria das cópias do “Warfuse” ficou com os proprietários destes selos e eles estão distribuindo de acordo com seus conhecimentos e experiência. Nós não nos metemos nesta parte, pois preferimos deixar os caras trabalharem da forma que acharem melhor para poderem recuperar o investimento que fizeram. Quem basicamente ‘adotou’ a banda foi o Emydio Filho (Gallery Productions), pois ele é um grande amigo e incentivador do Necromorten. Ele está fazendo um trabalho muito legal e sou muito grato a ele por todas as oportunidades que nos deu e por sempre ter acreditado na banda. Com relação ao restante de 2010, estamos aí na expectativa pelas resenhas do “Warfuse” nos veículos especializados: zines, revistas e sites. Por enquanto eu e o Rodrigo estamos compondo material novo e daqui algum tempo iremos retomar os ensaios para trabalhar nas músicas e ir preparando nosso segundo disco.

Site: www.myspace.com/necromorten

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação