MARTYRDOM





Lembro que conheci o Martyrdom, no final da década de 90, através do saudoso fanzine Metal Invaders. Mas conheci apenas de leitura, um vez que não tive acesso ao material de estreia da banda. Porém, com o pessoal do fanzine, cheguei a adquirir um VHS, de um evento ocorrido em Feira de Santana/BA, onde o Martyrdom era uma das bandas participantes. O que ouvi foi algo fantástico, porém, só depois de muitos anos é que a banda registrou algo em estúdio e, mais recentemente um EP e o seu álbum de estreia, mantendo intacta a sua qualidade sonora. E sobre passado, lançamentos, formações, atual álbum, tivemos uma conversa com o vocalista AmraKing.

Recife Metal Law – Antes de existir o Martyrdom, existia o Damnatory. Por qual razão o Damnatory cedeu espaço para o surgimento do Martyrdom?
AmraKing - Hail MetalEvilBrother Valterlir Mendes e todos os leitores do fudido Recife Metal Law! Primeiro gostaria de agradecer muito por ceder espaço no Recife Metal Law para o Martyrdom! Bom, respondendo a pergunta, o Damnatory foi formado com uma proposta Death Metal e com o passar do tempo ficou claro que a sonoridade estava indo por um caminho com influências Doom e Black Metal e letras voltadas ao Ocultismo com o conceito da Morte exposto através do misticismo de culturas antigas, principalmente dos povos das ricas civilizações pré-colombianas. Por essa razão o Damnatory seguiu sua trajetória através do Martyrdom e aqui estamos.

Recife Metal Law – Pelo que andei pesquisando, da formação inicial não restou nenhum integrante. Mas verifiquei que houve o lançamento de uma Demo-ensaio em 1997 e, nela, o guitarrista Alberto Britto já fazia parte da banda, sendo o integrante mais antigo. Como Alberto, ao lado dos demais músicos que vieram após ele, trabalhou a musicalidade da banda até os dias atuais?
AmraKing -
A primeira formação do Martyrdom já contava com o Alberto Brito e houve muitas mudanças na formação, inclusive a que resultou na minha entrada. O Martyrdom possui uma atmosfera que mesmo com muitas mudanças na formação sua essência permanece. Claro que todos que entram contribuem com suas influências, mas a essência permanece.

Recife Metal Law – O segundo integrante mais antigo é você, E.O. Amraking, no Martyrdom desde 1998,
começando como tecladista, depois baixista e hoje é o vocalista da banda. Na verdade, desde 2005 é o vocalista. Essa função é a que melhor se adequa para Amraking ou a razão para que você assumisse esse posto foi outra?
AmraKing
- Numa das mudanças de formação eu assumi a responsabilidade de escrever as letras e já fazia backing vocals antes de ser o vocalista principal. Como escrevo, acredito ser mais fácil expressar nosso conceito ideológico nas canções.

Recife Metal Law – Apesar de existir desde 1996, ter lançado uma Demo-ensaio em 1997, a banda só voltou a lançar algo – a Demo “Subterrâneo Culto às Trevas” – em 2013, ou seja, um hiato de lançamentos de 16 anos. O que aconteceu com a banda durante esse período?
AmraKing -
Aconteceu de tudo um pouco. As já citadas mudanças de formação que contribuíram para esse hiato e todas as conhecidas dificuldades que uma banda Underground enfrenta na cena.

Recife Metal Law – Após 22 anos de formado, o Martyrdom lançou seu primeiro álbum, porém, antes dele, veio o EP “Culto Primitivo à Morte”, que trouxe um single, faixas ao vivo, vídeos... Qual foi o intuito de lançar esse material?
AmraKing -
Nós estávamos trabalhando na pré-produção do que viria a ser nosso primeiro álbum e o estúdio que estávamos trabalhando teve um problema técnico com quase tudo que já estava pronto, mas conseguimos recuperar a canção que abre o disco, “Culto Primitivo à Morte”, e como teríamos que recomeçar todo o trabalho de produção com as outras músicas, decidimos conclui-la e lançar um single para mostrar à
cena o que estava por vir. Após o lançamento do single, de forma virtual, recebemos uma proposta de lançar um EP com essa canção em três formatos e alguns bônus de gravações ao vivo, daí veio o EP “Culto Primitivo à Morte”. 

Recife Metal Law – O álbum de estreia, “Ritual Místico de Adoração à Sabedoria Ancestral”, conta com nove músicas, algumas delas tendo feito parte da Demo de 2013. Quais as mudanças principais, nessas músicas, da época da Demo para os dias atuais?
AmraKing -
A principal mudança foi que resolvemos não mais reproduzir as letras em inglês e, sim, em português, mas também praticamente reescrevemos o instrumental de todas as músicas que o Martyrdom havia lançado em seu material de estreia, a Demo-ensaio de 1997.

Recife Metal Law – A banda faz um som, de certa forma, com bastante identidade, mesmo que faça uso de elementos de Doom e Death Metal, porém não podendo ser chamada de uma banda de Doom, muito menos de Death Metal. Como seria definida a musicalidade do Martyrdom nesse primeiro disco?
AmraKing -
Intitulamo-nos uma banda Death Metal, principalmente por conta do conceito que abordamos em nossas letras, mas a musicalidade conta com as influências que você citou e também com Black Metal e Heavy Metal em sua essência.

Recife Metal Law – Falando em musicalidade, esse álbum de estreia mostra uma banda coesa, linear, mas não no sentido de se repetir e, sim, de trazer músicas bem construídas, com teclados bem inseridos,
apresentando momentos densos e com melodias moribundas, como é o caso de “A Verdadeira Inquisição”, em seu início. Isso como exemplo. Qual foi a maior preocupação dos músicos ao compor para esse álbum?
AmraKing -
Muito obrigado por suas palavras! Obrigado mesmo!! Não poderíamos ter recebido elogios melhores que esse ao nosso trabalho! Nossa maior preocupação é, sempre foi e sempre será permitir que, no momento que estamos compondo, a espontaneidade e a naturalidade esteja sempre presente e deixar que nossos sentimentos sejam transmitidos através dessas composições.

Recife Metal Law – A parte lírica trata de assuntos relacionados às civilizações antigas, morte, anticristianismo, além de citações a escritores como Edgar Allan Poe. Liricamente, quais são as principais influências do Martyrdom?
AmraKing -
A literatura possui escritores que fizeram história por transmitir todo seu sentimento e visão de mundo através de palavras, essa entrega e essa química é algo fantástico! Particularmente me identifico com escritores conhecidos mundialmente como Poe, Lovecraft, Kafka, Schopenhauer, Nietzsche e outros nem tão conhecidos, mas não menos importantes, e aqui eu gostaria de citar um escritor que nasceu e morreu aqui em Feira de Santana e que está presente em nosso álbum: Aloisio Resende.

Recife Metal Law – Falando em escritores, o disco é encerrado com “O Último Sofrimento d’Alma” (Outro), que nada mais é que o verso final do poema “Flor de Carne” do escritor conterrâneo da banda, citado na resposta anterior, Aloísio Resende. Esse fim foi para homenagear o escritor ou a cidade de
Feira de Santana? Ah, apesar de eu ter citado que a música é o verso final do poema, ele não é recitado...
AmraKing -
Eu encerrei a resposta falando um pouco da participação do Aloisio Resende em nosso disco e agora nos cede a oportunidade de falar um pouco mais sobre esse escritor e sua “presença” em nosso álbum. Não foi uma simples homenagem, foi uma honra enorme ter o Aloisio Resende como convidado especial a participar desse disco. Sua contribuição está de forma tácita presente na última canção (instrumental) do disco, e mesmo não recitando o recorte do seu poema, o sentimento que “Flor de Carne” transmite está presente nas melodias.

Recife Metal Law – O álbum foi gravado no Netuno Estúdio, em Feira de Santana, porém mixado e masterizado no La Hacienda Creative, em Montreal, Canadá. Por que mixagem e masterização foram feitas fora do país?
AmraKing -
Quando começamos a pré-produção já tínhamos a ideia de gravar o disco no estúdio, mas a pós-produção (mixagem e a masterização) seria feita por um conhecido nosso, o qual já conhecíamos o trabalho e gostamos da forma como ele trabalha, e quando finalizamos as gravações enviamos para que ele pudesse concluir. Como neste momento ele estava trabalhando no Canadá o ‘trampo’ foi feito por lá mesmo.

Recife Metal Law – Sobre a gravação, ela foi feita ao vivo, em estúdio. Por que vocês optaram em gravar dessa forma?
AmraKing -
Depois do problema que tivemos com o estúdio anterior, conversamos sobre a possibilidade de gravar ao vivo para ver como ficaria. Seria a experiência de show no estúdio com os recursos que temos quando tocamos, e deu certo, pelo menos nos agradou. Mas no segundo álbum, que já estamos, inclusive, trabalhando, não vamos trabalhar no estúdio dessa forma, principalmente por conta dos elementos que estão sendo trabalhado nas músicas.

Recife Metal Law – A parte gráfica, que ficou sob responsabilidade da Putrid Design, é de uma beleza ímpar, bastante caprichada. O quão importante foi para esse lançamento esse cuidado todo no layout gráfico?
AmraKing -
A parte gráfica do álbum ilustra todo o conceito abordado nas canções, pelo menos para nós é algo tão importante quanto as composições. Conversamos com a Putrid Design que rapidamente entendeu o que queríamos e fez um excelente trabalho.

Recife Metal Law – No atual momento que vivemos, essa pergunta tem sido praticamente obrigatória... O que a Martyrdom pretende, após o fim dessa pandemia que assola o mundo, fazer, no que se diz respeito à divulgação de seu nome e shows?
AmraKing -
Estamos trabalhando nas composições do nosso segundo disco e vamos seguir esses trabalhos. No momento não há perspectiva de que os eventos (shows) voltem a acontecer tão cedo. É uma situação difícil e ninguém sabe muito o que vai acontecer, não é verdade? Mas vamos concluir as composições, gravar e aguardar para ver o que vai acontecer. Muito obrigado, mais uma vez, por ceder o espaço para a passagem do nosso Cortejo Fúnebre no Recife Metal Law!

Site: www.facebook.com/Martyrdomdeathmetal

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Against the Media