DEATHGEIST





Com o fim das atividades do Bywar, uma das mais importantes bandas do Thrash Metal brasileiro, o estilo perdeu um grande representante. Cada músico seguiu caminhos diferentes, montaram bandas com estilos diferentes, mas parece que continuar o legado deixado pelo Bywar fez com que Victor Regep e Adriano Perfetto se juntassem novamente, musicalmente. E dessa junção surgiu o Deathgeist. A primeira formação da banda, além dos dois citados músicos, ainda contava com Maurício Bertoni (guitarra) e Hugo Golon (bateria), que logo cedeu as baquetas para Goro, o qual foi responsável pela bateria nos dois álbuns do Deathgeist, mas que no ano passado (2019) saiu da banda, abrindo espaço para Fernando Oster (ex-Woslom). A banda segue firme, com dois álbuns lançados, e fazendo Thrash Metal de alta qualidade. A seguir, Adriano nos fala um pouco mais sobre a banda, seu início, legado, planos...


Recife Metal Law - Victor Regep e Adriano Perfetto estiveram juntos, fazendo parte do Bywar, até o lançamento do “Heretic Signs” (2005). Após isso Victor saiu do Bywar e a banda continuou. O Bywar se desfez e os caminhos de Victor e Adriano novamente se cruzaram, dessa vez em forma de Deathgeist. Vocês mantinham contato e elaboravam algo juntos antes da formação do Deathgeist, em 2017?
Adriano Perfetto –
Na verdade, eu e o Regep sempre mantivemos contato. Mesmo quando ele não estava mais no Bywar nós já nos falávamos com certa frequência. Mas nunca paramos para pensar em voltar a tocar juntos. Quando eu montei meu projeto/banda de Doom Metal (Timor Trail), o Regep e eu passamos a ter um contato mais próximo. Ele sempre comparecia aos shows e daí partiu dele a ideia de me convidar para montarmos um projeto de Thrash Metal nos moldes do Bywar. No começo eu não levei muito a sério, mas por persistência dele acabei criando alguns riffs e mandei para ele... Ele adorou o que ouviu e fiquei até surpreso, pois fazia anos que não fazia nada do tipo. Sendo assim, acabei me empolgando a compor um álbum todo, e foi assim que surgiu o Deathgeist. Após isso chamamos o Mauricio Bertoni e Hugo Golon para se juntar ao time.

Recife Metal Law - A pergunta que precisa ser feita: o vocalista/guitarrista e o outro guitarrista da formação original do Bywar juntos novamente. Por que não reativar o Bywar ao invés de formar uma nova banda?
Perfetto –
O Bywar sempre foi uma banda onde a irmandade entre a gente falou mais alto. Sempre! Cada integrante do Bywar estava voltado a trabalhar em seus novos projetos (Warbound e Warshipper). Isso é algo natural na carreira de um artista, onde quer explorar novas tendências, novas composições, estilos e tentar alcançar novos públicos dentro Heavy Metal. Então eu sei que o momento era para viajar em novos trabalhos, não só para mim e para o Regep, mas para todos outros integrantes que passaram pelo Bywar. Digamos que ainda não é o momento. E como falei que a irmandade fala mais alto, não seria legal voltar sem os caras da formação original.

Recife Metal Law - Deathgeist é uma continuação até que natural do Bywar. É Thrash Metal com os vocais característicos e aquelas guitarras que destilam Thrash nos riffs, nas bases, nos solos, além da ‘cozinha’ (baixo e bateria) com aquela levada ‘old school’. Esse tipo de comparação, eu acho, não sou apenas eu quem faz. Isso chega a incomodar, já que quando se faz uma banda nova muitos querem que ela não seja comparada com o passado?
Perfetto –
Não vejo problema algum com certas comparações, mesmo porque é inevitável não lembrar ou não soar como Bywar, até mesmo pelo fato de que eu estou cantando (onde sempre fui a voz do Bywar em quatro álbuns lançados). Tudo acaba lembrando, desde a voz e até mesmo pelas composições. Aprendi muito com os caras em 17 anos de banda, seria inevitável não soar parecido, já que se trata de uma banda do mesmo estilo.

Recife Metal Law - O primeiro álbum, homônimo, veio no mesmo ano de formação da banda. Vocês não quiseram lançar Demo e partiram logo para o full lenght. Vocês estavam bem seguros do que fazer em estúdio com as músicas presentes no álbum de estreia?
Perfetto –
Pois é... A ideia de não lançar um EP ou uma Demo foi exatamente pelo fato que temos uma ampla bagagem dentro do Metal brasileiro. Muitas pessoas já conheciam nossos trabalhos com o Bywar, e se tratando de Thrash Metal, que é um estilo onde a gente tem um bom conhecimento, foi bacana ter lançado logo um full lenght, não teríamos necessidade de lançar um material antes... Até porque hoje em dia as coisas mudaram. A galera ouve música pelo celular, streaming, YouTube, etc. Hoje em dia as bandas optam por lançar singles e acredito que daqui uns anos essa história de lançar álbuns longos não vai mais existir, infelizmente, pois ainda sou o cara que admira ter uma coleção de vinil ou CDs.

Recife Metal Law - O álbum apresenta o que há de melhor no Thrash Metal. Claro, com o pé na ‘velha escola’, mas sem soar datado. E notei que esse primeiro álbum vem com melodias bem apuradas. É para o ouvinte botar para rolar, erguer o punho e bater cabeça o tempo todo. Como vocês analisam o respaldo desse disco junto ao público e a mídia especializada?
Perfetto –
Foi dos melhores possíveis! A mídia especializada e os headbangers adoraram o álbum. E a ideia foi exatamente essa: fazer algo que não apenas o público de Thrash fosse gostar, mas, sim, todo o público que gosta de Heavy Metal em várias vertentes e de um modo geral.

Recife Metal Law - E qual foi a importância desse primeiro disco para a continuidade da banda e de que forma ele influenciou o álbum seguinte, “666”?
Perfetto –
Como lançamos o álbum sem pretensão de que fosse bem aceito e, na verdade, até no começo fizemos tudo como se fosse apenas um projeto, a nossa surpresa com a aceitação e a energia dos shows que fazíamos foi de extrema influência para que continuássemos em frente e gravar logo na sequência o álbum “666”. Acabamos abraçando a ideia de que realmente o Deathgeist era realmente uma banda sólida e com muita coisa pela frente: shows, turnês e gravações. “666” foi composto em cima de uma energia muito incrível que rolou entre a gente.

Recife Metal Law - “666” é um álbum de músicas inéditas, no sentido de que nele consta apenas músicas compostas após o lançamento do primeiro álbum ou há algo no novo álbum que foi sobra de estúdio?
Perfetto –
Todas as músicas foram compostas realmente após o lançamento. Nada foi sobra de “Deathgeist” (2017). Inclusive, nesse álbum tivemos todos compondo e ajudando na finalização de “666”.

Recife Metal Law - O novo álbum apresenta justamente o que o ouvinte quis ouvir, afinal é uma continuação da estreia. Claro, não é um álbum que soa como um clone do primeiro, mas que mantém a mesma pegada e energia. Havia a preocupação da banda em apresentar algo que o público esperava e que não o decepcionasse?
Perfetto –
Sempre temos essa preocupação. Nós nunca queremos que um álbum seja a cópia do outro, apesar de que as vezes seja inevitável essa comparação, afinal, ali tem elementos de composição que mantemos desde as épocas de Bywar, e até mesmo porque os outros integrantes tem a sua maneira de colocar o seu sentimento nos arranjos e ideias. Mas a verdade é que temos sempre esse cuidado de sermos diferentes entre os lançamentos.

Recife Metal Law - A capa de “666” traz a mesma personagem contida na capa do disco anterior, mas, dessa vez, com um padre acorrentado e uma igreja despedaçada. Essa personagem se trata de “Deathgeist”?
Pefetto –
Exatamente! Esse personagem é o Deathgeist! Achamos bacana ter algo que seja lembrado em todos os álbuns, assim como bandas dos anos 70 e 80 faziam em seus trabalhos. E ele também estará em nosso terceiro lançamento.

Recife Metal Law - Qual a razão do título? Além da faixa-título, há ligação do título do álbum com as demais letras do disco?
Perfetto –
O álbum não é conceitual, porém as letras abordam temas do cotidiano e sempre contra qualquer tipo de opressão religiosa. “666” é a prova de que somos completamente contra ditadores políticos e religiosos que escravizam seus rebanhos em cima de uma verdade que não existe. A letra de “666” também é um grito de revolta contra ditadores que querem calar a nossa liberdade de expressão e contra qualquer tipo de preconceito existente em nossa sociedade.

Recife Metal Law - Dois videoclipes foram lançados, um para “Human Slaughter” e outro para “Creepshow”, esse último agora no período de isolamento social. Mas, falando sobre os clipes, o quão importante vocês acham que eles sejam para a carreira de uma banda?
Perfetto –
Os clipes são de extrema importância nos dias atuais. A nova geração está aí para comprovar. A galera está o tempo todo conectada ao YouTube para assistir seus artistas preferidos, e acho que hoje em dia é a melhore maneira de divulgar o trabalho. No passado todos nós sempre curtimos comprar fitas em VHS para assistir shows, vdeoclipes, etc. A realidade hoje em dia é outra e precisamos nos moldar a nova realidade.

Recife Metal Law - Após o lançamento de “666”, Goro (bateria) saiu do Deathgeist. Devo dizer que ele fez um ótimo trabalho em ambos os álbuns. Suas conduções foram precisas e seguras, do jeito que o estilo praticado pela banda pede. O que motivou a saída de Goro do Deathgeist?
Perfetto –
O Goro é um grande amigo das antigas e sempre jogamos muito limpo entre nós. Ele sentiu a necessidade de não continuar mais para focar em seu trabalho atual, que para ele é muito mais lucrativo. A banda, os shows, que sempre foram algo “For Fun”, nunca deram o devido retorno financeiro. Todas as bandas sabem disso e ele optou por seguir a vida dele trabalhando com outra coisa que para ele e para sua família é realmente mais viável!

Recife Metal Law - No lugar dele veio Fernando Oster, conhecido por seu trabalho no Woslom. Uma das credenciais para Fernando entrar na banda foi o cover feito pelo Woslom para “Thrasher’s Return” do Bywar?
Perfetto -
Nós já tínhamos um contato com o Fernando Oster na época que o Woslom fez o cover do Bywar, mas mesmo depois disso a gente sempre se encontrava em shows realizados por ele, pela agência que ele trabalha, então sempre mantivemos esse contato. Após a saída do Goro chegamos a conversar com ele e ver se para ele seria interessante assumir as baquetas do Deathgeist, e para nossa surpresa ele topou na hora! Ficamos muito contentes com ele ter aceitado e ter entrado para o nosso time e nossa família Deathgeist.

Recife Metal Law - O primeiro álbum foi lançado pela Mutilation Records. Já o segundo foi lançado pela Thrash or Death Records, com suporte da Mutilation e outros selos na distribuição. Por que a mudança do selo principal no lançamento do segundo álbum?
Perfetto –
Nos dias de hoje quanto mais pessoas estiverem envolvidas no lançamento e divulgando seu trabalho é muito melhor! A Thrash or Death nos contactou para um possível lançamento de “666” e achamos muito interessante a ideia de termos duas gravadoras trabalhando nisso. E, na verdade, não existe um selo principal. Mutilation e Thrash or Death são as gravadoras que lançaram o Deathgeist.

Recife Metal Law - O Bywar chegou a se apresentar pelo Nordeste e tive a honra de poder ver dois shows da banda: um em Campina Grande/PB e outro em Fortaleza/CE. Porém a banda nunca se apresentou em Pernambuco, coisa que o Deathgeist faria no mês de maio. Infelizmente essa maldita pandemia veio para atrapalhar. Ainda há planos, após esse caos que assola o mundo, de tocar em terras pernambucanas o mais breve possível?
Perfetto –
Mas com certeza! Assim que tudo isso se normalizar e os shows vierem a acontecer vamos dar continuidade aos planos que foram adiados. Estaremos fazendo essa tour acontecer! E com certeza faremos a galera de Recife quebrar tudo com nossas músicas! Temos certeza de que faremos o nosso melhor e vamos nos divertir muito em terras pernambucanas.

Contatos:
www.facebook.com/deathgeist666
deathgeist666@gmail.com


Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Kubo Me
tal,Dani Moreira