GOMORRAA





Nascidos em 2014 nas entranhas imundas da maior capital do Brasil, os maníacos do Gomorraa trazem um Black/Thrash Metal doentio, sujo e veloz, com conteúdo lírico e ideológico baseado na “velha escola” do Metal Extremo. Em 2020 a banda está divulgando seu primeiro álbum, intitulado “Sordidus Fabellas Luxuries Et Profanus”, lançado por uma aliança de selos do Brasil, Holanda e Costa Rica. Encontrei Mike, Skonger e Devastatör em um boteco sujo na Zona Leste paulistana e batemos um papo descontraído sobre a banda, o disco e o caos nosso de cada dia...


Recife Metal Law - Como é a primeira vez da banda por aqui, pergunto sobre o nome Gomorraa. Por que é diferenciado com mais uma letra “A”? Tem algum significado especifico?
Mike Dorsal –
Primeiro gostaria de agradecer imensamente a oportunidade que está dando ao GomorraA de estar presente no Recife Metal Law, comigo, Skonger e Devastatör. Vamos lá! Na primeira formação da banda, em 2014, a banda se chamava “Eterno Carnal”. Fizemos apenas duas apresentações com esse nome, até chegar ao GomorraA, por simples opinião que o nome era um pouco longo e por conselhos de amigos também, como Glauber do Might Execution. Também achávamos que era melhor criarmos um nome só como: Destruction, Sextrash, Sarcófago e afins... Pensamos no assunto que não era algo tão “chamativo”. Chegamos ao ensaio e conversamos sobre um nome que poderia estar de acordo com as temáticas da banda. Pensamos na cidade de “Sodoma e Gomorra” que, de acordo com contos bíblicos, foram destruídas por “Deus” devido aos seus pecados e práticas de atos contrários à moral. Achamos que combinava com a proposta e era mais fácil a pronúncia e também mais “chamativo”, ainda mais por ter um conto histórico também. Referente aos dois “A”, nada demais. Colocamos mais um “A” devido as inúmeras bandas que existiam e existem com nome “Gomorra” ou “Gomorrah”.
 
Recife Metal Law - A banda lançou alguns materiais desde sua formação com títulos um pouco diferenciados - “Obsessão Sexual” (EP 2015), “Negro Culto de Rais” (EP 2017) e, em 2019, o disco completo, “Sordidus Fabellas Luxuries Et Profanus”. Fale um pouco sobre esses três lançamentos e aproveite para explicar a associação dos títulos do EP de 2017 e do álbum completo de 2020.
Mike –
O “Obsessão Sexual” foi nosso primeiro registro. Na época eu estava muito influenciado por Sextrash em um todo. Graças a ele iniciamos nossa estrada e ideias que seriam vindas futuramente, (in)felizmente o formato foi em CD-R, mas depois conseguimos relançar ele na coletânea em K-7 pela Nyarlathotep Records, que teve tiragem de 50 cópias e se chamou “Triunfo do Anjo Suicida”, que reuniu sons dos EPs “Obsessão Sexual”(2015) e “Negro Culto de Rais” (2017). Mas espero um dia poder relançar esse disco. Nele tivemos a primeira sessão de gravação, lembro que levamos ao Walter e Felipe “Realete” (engenheiros) o disco do Bathory (“Bathory”) e queríamos aquela essência “crua” para se basear na mixagem. Gravamos semi ao vivo; foi um registro que hoje ainda converso com Jhon e falamos que temos muito orgulho, mesmo ele sendo “seco” e “cru”. O “Negro Culto de Rais” foi o EP de mudanças já em questões líricas e sonoras. Na ocasião, já não tinha mais comigo o Anderson e Jhon, e rolou a entrada de Crucifier, Skonger e Devastatör na banda. Eu nunca fui um cara que gosta de pensar em passado, ficar pegando música e tal, acho isso perda de tempo para uma “vida curta”. Sempre gosto de aproveitar tudo que tenho em mãos e buscar algo novo. Quando eles entraram na banda já tínhamos ideias em mãos e apenas fui a frente para produzir algo novo. O que acho melhor para apresentar uma nova formação na banda? Disco novo! E assim concretizei ao lado do Natan o “Negro Culto de Rais”, eu já tinha riffs e letra da “Triunfo do Anjo Suicida”, letra que seria “Negro Culto de Rais”. Natan criou seu instrumental e fizemos os três (eu, Crucifier e Skonger) a “Dança das Bruxas”, e para incluirmos mais uma música minha que até hoje gosto bastante do instrumental, foi a própria “Obsessão Sexual”. Gravamos um cover da música “War” do Bathory, uma banda que para mim é parte importante da essência da banda e que ainda se mantém. Tem um bônus que foi a última música que compomos para o EP “Deus Imperfeito”. Essa foi a música totalmente exclusiva no lançamento do CD pela Narcoleptica Production (Rússia), que lançou uma tiragem de apenas 300 cópias e só vieram 50 para a banda. Gravamos esse material no NT Studio e o engenheiro de som foi o próprio “Crucifier”, que tinha um estúdio na época e deu um grande adianto a esse gatilho na banda. Nossas influências no disco foram The Mist, Chakal, Sodom, Bewitched, Cruel Force, Bathory e bandas com a mesma temática. Quanto a mixagem, lembro que pensamos na mesma mixagem do disco homônimo do Bathory, só que com uma qualidade melhor para manter a essência obscura que tínhamos em mente. Ficou exatamente o que eu queria no “Obsessão Sexual”, que foi “cru”, mas não era obscuro. Agora o “Sordidus Fabellas (Luxuries Et Profanus)” nada mais é do que uma continuação (talvez) do “Negro Culto de Rais”. Muitas músicas já haviam sido feitas antes mesmo de gravar o “Negro Culto de Rais”, como “Submisso ao Prazer”, “Condessa das Artes Cruéis”, “Arco do Bode”, “Avante Força Infernais” e a ‘intro’ “Sinal Iminente das Trevas”. “Avante Força Infernais” e “Sinal Iminente das Trevas” foram músicas que já estavam composta por mim na época que o Jhon saiu da banda. Então foi um disco rápido de se fazer, só faltava as músicas finais que compomos durante o ano de 2018 e no início de 2019 para o gatilho final e podermos entrar em estúdio para lançar esse material. Referente ao lançamento, a tiragem foi de 500 cópias em formato CD digipack e os responsáveis foram os selos Macaco de Guerra Records (São Paulo), VSF Records (Curitiba), Escória Distro (Acre), Murder Records (Holanda) e Sanatorio Records (Costa Rica). A versão em K-7 teve tiragem de 50 cópias e foi lançada pelo selo Dor Presente (São Paulo). Este disco foi o “fim” de um ciclo das ideias do “Negro Culto de Rais” e “Obsessão Sexual” para o que está por vir. Hoje somos uma banda mais amadurecida, principalmente liricamente. Sobre associação dos títulos do EP de 2017 com o álbum, não houve nenhum motivo.

Recife Metal Law - Ficam nítidas as influências musicais da banda em sua sonoridade. Fácil de identificar um pouco - e muito - de Bathory, Cruel Force, Hellhammer, Motörhead, Holocausto, Chakal, The Mist, Sarcófago, Sextrash, Sepultura, Dorsal Atlântica, Mutilador, DarkThrone e Vulcano. Existe uma intenção de resgatar valores de épocas passadas na obra da banda ou se trata apenas de gosto dos integrantes pelo ‘old school’?
G. Devastatör -
Gosto pelo ‘old school’ sempre fez parte da nossa essência. As influências vão bem mais do que essas citadas, até porque cada um trouxe um pouco das suas e acrescentou no som do Gomorraa. Normalmente o Mike Dorsal chega com um som e colocamos nossas ideias. Acredito que isso mostra uma diferença em nossa forma de compor, porque não já definimos qual banda vai soar, tirando a questão da produção, que era mesmo resgatar a sonoridade de álbuns lançados no final dos anos 80 começo dos anos 90.

Recife Metal Law - “Sordidus Fabellas (Luxuries Et Profanus)” contou com uma produção nos moldes dos anos 80. Como foi isso de gravar em fita DAT e masterizar o material de forma antiga?
Mike –
Gravamos o disco no Estúdio Manillar e tivemos a honra da engenharia feita pelo Guilherme Profundezas, Claudio Soares e Orlando. Estávamos atrás de algum estúdio que poderíamos sinceramente “bancar”, pois a maioria estava desempregado. Juntamos uma grana, o Cláudio fez a proposta de gravarmos no Estúdio Manillar, que havia já produzindo o álbum “Seja Feita a Vossa Maldade” da banda Profundezas e também “Açoite” da banda Açoite. Vimos valores, conversamos e acertarmos referente à produção que fizemos com as ideias da década de 80 (só que com um pouco mais de tempo) e concretizamos o “Sordidus Fabellas (Luxuries Et Profanus)” como podem ouvir. Referente aos discos que nos baseamos, foi totalmente o “Rotting” do Sarcófago e o “Schizophrenia” do Sepultura. O Cláudio se baseou bastante as linhas de guitarra no “Sexual Carnage” do Sextrash. Essas foram as influências na parte de mixagem desse disco e, para mim, remeteu bem natural e não parecido, mas as referências ajudaram a concluir isso. Tivemos sorte dessa mixagem! Eu estava presente quando aconteceu. O Açoite foi a primeira banda a usar o aparelho DAT (e saiu o que saiu e aquilo me impactou de uma forma e pensei na época: “Já pensou isso com a gente?”)... Veio o Cláudio e me fez uma proposta: se nós gostaríamos também de masterizar no DAT em dois canais. Foi uma experiência da “antiga escola”; me senti tirando 10 em uma prova. A ideia era dar uma aparência mais antiga ao som e aquela pegada apodrecida. Essa ideia acho que ajudou muito na concretização que tínhamos antes da “master” no DAT. Agradeço demais ao Cláudio! Foi um grande braço direito em conselhos, principalmente em linhas de vocais e toda paciência que tiveram conosco.

Recife Metal Law - Os títulos das músicas do álbum deixam bem evidentes a proposta lírica da banda, mas tem uma diferença no conteúdo desse material na mensagem das introduções. O momento atual do Brasil tem associação com a mensagem das ‘intros’ ou apenas foram inseridas para complemento da mensagem das músicas?
Mike -
A primeira ‘intro’ (instrumental) nada mais é o que eu escutava no “Antes do Fim” após “Guerrilha’ ou a ‘intro’ do “Schizophrenia”. Aquele toque final, a parte instrumental, sempre amei instrumentais como “Speed Light” do Assassin e, principalmente, o Iron Maiden com “Transylvania”, “The Ides of March” e “Genghis Khan. Uma banda que não só a mm, mas tenho certeza que marcou a vida de muitos! Então fiz com toda essa ideia voltada a isso, principalmente quando escuto o “Live!” Do Vulcano, um disco que tem ali nítido Heavy Metal, Thrash/Speed, Doom e Death Metal em um só disco. Eu sempre achei fabuloso Vulcano, por isso sempre será uma referência para mim até 2009 - pois foi uma banda que desde 1985 nunca gravou um disco parecido, sempre se renovaram, com intuito ou não. Quanto a faixa sete, “Manifesto (Sórdidos Contos)”, sim, foi com a ideia de tudo que estamos passando, não só dentro de “uma cena”, que era para ser livre contra toda forma de opressão gerada e que desde que foi criada aqui no Brasil mostrou isso nitidamente, como também em nossas vidas sociais, que a cada dia nos sufocam com mais hipocrisia, preconceito, egocentrismo e afins... Algo que me faz pensar que parece que estamos cada vez mais retrocedendo ao invés de evoluir. E a ideia, em si, remete a bandas que faziam isso nas décadas de 80 e 90, como as faixas “Recrucify”, “Intro (Sexual Carnage)”, “Innocence and Wrath”, “(Invocacione) The Almighty Satanas”, “Intro: The Agony of Souls “(Amen Corner)...

Recife Metal Law - Apesar da pandemia mundial de Covid-19, 2020 foi um ano com vários lançamentos no Underground brasileiro. Observamos uma mudança de comportamento enorme na forma das bandas, fanzines, sites e programas voltados a música pesada se comunicarem. Consequentemente cancelamentos de tour, eventos... Tudo junto com as restrições sociais impostas para segurança da saúde. A banda acabou de lançar um disco novo e se deparou com isso. Como ficaram os planos do Gomorraa para divulgar o disco e tudo agregado a esse lançamento? Fale um pouco sobre as gravadoras envolvidas no disco e também se existe algum planejamento de tour rolando?
G. Devastatör -
2020 está sendo um ano muito rico para o Underground; inúmeros lançamentos, como você citou... Esperamos que o próximo ano se mantenha assim. Infelizmente tivemos algumas datas canceladas por conta da pandemia e isso acabou atrasando em um mês o lançamento do disco. No momento estamos focados em compor para o segundo álbum. Referente aos shows, vamos esperar toda essa situação passar e estar relativamente seguros para darmos continuidade na divulgação do ‘debut’ e, provavelmente, do segundo álbum.
Mike - Os selos envolvidos foram a grande aliança que concretizou nosso lançamento. Agradecemos imensamente a cada um que acreditou no nosso trabalho e estamos sabendo que anda rolando bacana o lançamento do disco na mão deles.

Recife Metal Law - Vivemos tempos difíceis para a arte como um todo no Brasil. O governo que está no poder deixa claro seu desinteresse para todas as manifestações artísticas. Até mesmo as comerciais, convencionais ou da “moda”, que fazem parte do consciente coletivo da maioria, estão em risco. E para deixar mais complicado, temos agora presente e atuante nas redes sociais uma espécie de Headbanger de extrema direita, que curte Black Metal, mas faz campanha para político cristão e apoia outras coisas bem estranhas. Já que a música de vocês está completamente fora do contexto de arte convencional e por sabermos que independente do momento político de nosso país nunca rolou apoio aos artistas do tal
Underground, como vocês observam, lidam e interagem com esse momento que estamos vivendo?
G. Devastatör -
Redes sociais deram voz para muitos idiotas falarem o que bem entendem sem se preocupar em serem cobrados. Sinceramente, não consigo entender o que fez esse pessoal acreditar nesse cara? O mais engraçado são integrantes de bandas com a mesma proposta temática que a nossa se assumirem de direita. Agora viram que seu vulgo “Messias” não passa de um desmiolado e negam que fizeram merda. Óbvio que dá uma revolta ao ver esse pessoal “bostejando”, colocando político no altar... Parece que nunca entenderam a mensagem que o Rock/Metal quiseram transmitir. Não interajo quando vejo essas publicações.
Skonger - Em minha opinião, você ser Black Metal e apoiar o conservadorismo é um grande erro... Não só pelo fato desse conservadorismo pregado hoje em dia ter a base na bíblia cristã, mas, também, pelo fato de que esses valores vão contra tudo aquilo que nós acreditamos, pois o Black Metal é um grito contra a religião e suas doutrinas conservadoras, suas repressões e todas as suas regras que por séculos escravizaram as mentes humanas, impedindo-os de pensar por si mesmos e usando o nome de um “Deus” para suas conquistas políticas. E aqueles que se intitulam “Black Metal conservadores” apoiam justamente alguém que se conseguisse o poder totalitário na certa iria derrubá-los; aquele ao qual eles tanto apoiam. Eles seriam os primeiros a cair perante um governo totalitário, já que nossa música, modo de se vestir e estilo de vida, estão totalmente fora dos padrões estabelecidos pelo conservadorismo.
Mike –
É algo tão simples para um bom entendedor: as mensagens e letras são óbvias, pois desde que comecei a ouvir som e entrar nesse cenário aprendi que o som sempre foi contestar qualquer tipo de opressão. O mais engraçado que está tão fácil acesso às informações, mas preferem se cegar e as utilizar de forma inútil. Mas, por hora, ainda temos pessoas coerentes dos antigos e recentes que mantém a essência e palavra naquilo que faziam e fazem e não cuspiram no prato que comeram.

Recife Metal Law - De forma geral. Quais os planos futuros da banda após o “Sordidus Fabellas (Luxuries Et Profanus)”?
Mike –
Como G. Devastatör já comentou, estamos compondo o segundo disco da banda e planejamos, por agora, ainda devido à pandemia, focar no mesmo. No momento não iremos nos apresentar, talvez só quando o segundo disco da banda sair. Mas nunca podemos afirmar que não faremos um show ou outro, mas não iremos nos enfiar em alguma tour ou shows constantes. Também temos projetos de Splits (se tudo ocorrer nos conformes) para 2021 e ainda neste ano de 2020 irá sair um Split de apenas 60 cópias em K-7 através dos selos Macaco de Guerra e Dor Presente, intitulado “No Future”. Serão seis bandas totalmente fora dos
padrões atuais de Splits que vemos hoje em dia: GomorraA, Existência com Gosto de Nada, Maniac Force, Days Of Hate, Escombro A.V. e Revolta indigesta. Um Split que será muito interessante e estamos muito satisfeitos por participar. Torcemos que até outubro esse Split já esteja em nossas mãos para distribuirmos.

Recife Metal Law - Agradecemos por esse bate-papo e deixamos aqui espaço para suas considerações finais. Forte abraço a todos!
Mike -
Agradecemos imensamente por essa oportunidade que o Recife Metal Law nos deu e um grande obrigado ao Chakal do Thrashera por nos ter chamado para esse grandiosa entrevista! Obrigado a todos que apoiam a banda de alguma forma, divulgando, indo aos shows ou comprando o merchandising. Ainda temos cópias do K-7 e do CD. Para quem quiser adquirir, só entrar em contato conosco. Deixo a mensagem aqui principalmente nessa pandemia e para aqueles que tem ansiedade:
“Sempre que bater o desespero ou ansiedade, busque alguém próximo, de confiança. Converse, desabafe e não tenha vergonha de pedir ajuda, pois saiba que nunca está sozinho. Converse e busque outro caminho, sempre!”. E as pessoas que estejam lendo isso, tenham mais EMPATIA ao próximo! - GO VEGAN - Mike Dorsal.

Contatos:
gomorraasp@gmail.com
https://gomorraaxxx.bandcamp.com
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Entrevista por Chakal
Fotos: Divulgação, Adilson Sann, Solange Monteiro