WARSHIPPER





O Warshipper, após o lançamento de seu segundo álbum, “Black Sun”, colheu diversos frutos, inclusive uma turnê pela Europa, antes dessa maldita pandemia assolar o mundo. Manter o nível de um disco tão bem sucedido era um grande desafio para a banda. Era, pois seu mais novo álbum “Barren...” comprova que a banda ainda tem muito a nos apresentar, em termos musicas e, também, em sua temática lírica. “Barren...” mostra uma banda ainda mais difícil de rotular, mesmo que sua musicalidade possa ser apontada como sendo Death Metal. Mas os elementos musicais, usados de forma inteligente, diversos faz com que a música do Warshipper vá além de qualquer estereótipo. Mantendo a formação desde o início - Rodolfo Nekathor (baixo), Renan Roveran (vocal/guitarra), Rafael Oliveira (guitarra) e Roger Costa (bateria), é este último quem respondeu essa nova entrevista para o Recife Metal Law.


Recife Metal Law - O segundo álbum da banda, “Black Sun”, abriu diversas portas, por assim dizer. A banda fez muitos shows, antes do advento dessa maldita pandemia, inclusive fazendo uma turnê na Europa. O que “Black Sun” significou, em todos os aspectos, para o Warshipper?
Roger Costa –
Primeiramente, agradeço a atenção e oportunidade de compartilhar da história do Warshipper contigo e leitores da Recife Metal Law! O “Black Sun” foi um divisor de águas na história da banda em vários aspectos. Musicalmente, demos um passo à frente ao buscar e incorporar novos elementos à nossa estrutura sonora. Nunca fomos (ainda não somos) presos a um determinado ou gênero específico, adeptos a rotulações e limitações de composições, por exemplo. Sempre houve muita liberdade nesse sentido e isso ficou perfeitamente perceptível ao se comparar a evolução musical que o “Black Sun” teve em relação ao seu antecessor, “Worshippers of Doom”. Liricamente também creio que houve uma expansão e evolução, ao visitarmos outros elementos e abordarmos assuntos diferentes. Isso tudo foi muito bem aceito pela galera que acompanha nosso trabalho e pela crítica, resultando em várias análises e resenhas com boa repercussão, diversos shows excelentes que fizemos por esse Brasil antes da pandemia e culminou na primeira turnê europeia, que foi o ápice das oportunidades que o álbum proporcionou.

Recife Metal Law - Algumas mudanças entre o álbum anterior e o mais recente podem ser vistas/ouvidas. Uma delas foi a mudança de selo. Como foi o acordo entre banda e o veterano selo/loja Heavy Metal Rock para o lançamento de “Barren...”
Roger –
A mudança para a Heavy Metal Rock ocorreu de maneira tranquila, através de uma oportunidade surgida em virtude do incrível trabalho de nossa assessoria Som do Darma. Quando estávamos com o material do “Barren...” pronto e em mãos, o Eliton Tomasi e Susi fizeram um grande trabalho de divulgação e ‘label shopping’ no mercado fonográfico e a melhor oportunidade apresentada foi com a HMR. Diante do contexto e limitações do cenário naquela época, devido ao excelente histórico de trabalho e lançamentos da HMR e condições oferecidas pelo selo através do Wilton Marchini, o acordo foi fechado muito facilmente.

Recife Metal Law - Sonoramente não digo que há uma grande mudança na musicalidade na banda, mas é nítido que muitas músicas do álbum soam mais Death Metal que no álbum anterior, apesar de manter as características de andamentos mais compassados e até mesmo limpos. Entre os músicos, no momento de criação dessas novas músicas, o que foi pensado e posto em prática? Havia uma linha a seguir?
Roger –
Como citei antes, sempre tivemos muita liberdade de composição e nunca seguimos fórmulas prontas. Essa é uma característica muito latente. Nesse sentido, as criações musicais foram ocorrendo naturalmente. Apenas a parte lírica que, quando a ideia do conceito do disco passou a ser discutida, teve uma linha definida a ser seguida. Como definimos uma estratégia conceitual ao disco, as letras possuem conexão natural entre elas e seguiram, com essa naturalidade, uma forma pré-estabelecida de contexto.

Recife Metal Law - Ainda sobre a sonoridade mais Death Metal, dois bons exemplos são “Barren Black” e “Respect”, essa segunda com os vocais de Fernanda Lira (Crypta, ex-Nervosa). Começar o disco com uma música mais direta seria uma forma de prender a audição do ouvinte?
Roger –
Apesar de ser uma composição antiga, a “Barren Black” só foi trabalhada por nós mais recentemente no “Barren...” e foi a primeira composição que concluímos para esse CD. Inclusive, já a tocávamos ao vivo. Acredito que por esse motivo e pela composição do acrônimo das iniciais das músicas, mais do que pensando em prender o ouvinte, ela seja o primeiro som do disco. Concordo que disco com ‘intros’ longas ou músicas cadenciadas e gradativas não são mais comuns hoje em dia, onde temos essa postura mais imediatista e de “ir direto ao ponto”. Então, considerando todo o exposto, ela foi a escolha inicial para iniciar o ‘play’ com um “soco no estômago”.

Recife Metal Law - Falei sobre a Fernanda, na música “Respect!”, mas, além dela, o álbum traz outro convidado: Fanttasma (Rafael Augusto Lopes) em “Compulsive Trip” (a música mais diferente do disco, com uso de sintetizadores). Como se deu inserir esses músicos nessas músicas? Qual a contribuição de ambos? Digo no sentido de apresentar algo ou eles apenas reproduziram o que o Warshipper queria para as músicas?
Roger –
A participação da Fernanda e do Rafael são a cereja do bolo no disco e, como esperado, se deu de maneira muito agradável, profissional e grande contribuição. No caso do Rafael, por ser nosso amigo de longa data e produtor, não apenas do “Barren...”, mas também do “Black Sun”, essa participação dele na “Compulsive Trip” foi muito especial e fruto de nossas experiências durante o processo de produção do Disco. Ele é um cara sensacional, extremamente profissional e dono de um bom gosto e técnicas apuradas. Sempre contribuiu bastante para nossa evolução individual e em grupo durante as gravações, e esse processo de produção com o Lopes é sempre uma experiência muito agradável. Ele é um engenheiro, bacharel, diplomata, embaixador... (risos) Já em relação à participação da Fernanda, foi também uma experiência muito gratificante para gente. Como a letra dessa música trata de um tema muito peculiar, mas, infelizmente, muito presente nas vidas das mulheres, de várias formas, julgamos mais coerente trazer alguém para participar que tivesse essa visão feminina da questão e com expressividade para que pudéssemos atingir mais pessoas e provocássemos maior conscientização e discussão sobre o tema. Ao falar sobre equalização de direitos entre gênero, precisávamos de uma artista mulher para poder dar voz ao tema. Foi quando eu sugeri o nome da Fernanda e falei com ela, que aceitou de pronto. Ela teve total liberdade no processo, onde contribuiu com ajustes em partes da letra e, o mais legal, sugeriu o novo nome da música. “Respect!” foi sugestão dela e aceitamos na hora.

Recife Metal Law - Com relação à parte lírica, as letras são muito bem escritas e fazem diversos questionamentos. O que quer ser transmitido com as letras é algo difícil de conciliar, ainda mais para pessoas que não são acostumadas com leitura e até mesmo autocrítica. Como foi trabalhar na temática lírica desse disco e como vocês acham que o público vai assimilar as letras de “Barren...”.
Roger –
A temática lírica de “Barren...”, em resumo, procurar abordar temas como a reações do indivíduo perante a constante necessidade de adequação a padrões que são pré-estabelecidos como “normais” ou aceitáveis pela sociedade, e quais são as emoções e sensações oriundas desse julgamento. Assim as letras falam bastante dessa constante necessidade de adequação do indivíduo. Concordo que de maneira não muito óbvia em alguns aspectos, pela complexidade, amplitude e individualidade que o tema pode representar para cada pessoa, a ideia central é justamente propor uma leitura bastante profunda a respeito da sensação de esterilidade, que muitos de nós desenvolvemos para com a sociedade, em função das mais diversas injúrias de cunho social que são desferidas por consequência de preconceito, desigualdades, entre outros elementos.

Recife Metal Law - A letra de “Anagrams of Sorrow” (música semiacústica, com vocais bem diferenciados, quase “limpos”) foi inspirada por um poema de Letícia Grégio. Quem é Letícia Grégio e como esse poema foi apresentado à banda?
Roger –
O poema que inspirou a composição lírica desta música foi escrito pela Letícia Grégio, namorada do Renan (vocalista/guitarrista). Ela atua na área da psicologia e, assim como feito com o Rodolfo (baixista da banda), que é psicólogo especialista em autismo, o Renan conversa muito e absorve bastante do ponto de vista e conhecimentos da Letícia. Esta letra foi escrita pelo Renan em conjunto com o Rafael (guitarrista da banda), onde as inspirações para composição são oriundas de suas próprias experiências e emoções. Inclusive, temos um ‘lyric video’ para este som que transmite muito bem todas essas sensações e emoções mencionadas.

Recife Metal Law - O disco contém 11 músicas e as primeiras letras de cada música formam um anagrama de “Barren Black”, que é a primeira música do disco. De que forma surgiu a ideia para o ‘track list’ e por que a primeira música foi escolhida para a formação do anagrama?
Roger –
Como citado anteriormente, “Barren Black” é o título da primeira faixa do álbum, e inicialmente seria o nome do disco, mas resolvemos deixar apenas como “Barren...”, para transmitir a sensação de “o que vem depois disso”. Acredito que o jogo das letras iniciais amplifica a percepção de relação entre as músicas, letras, arte e temas, reforçando a ideia do conceito acerca do disco.

Recife Metal Law - A tradução de “Barren...” é “Estéril...”. Assim sendo, a capa, em uma tonalidade cinza, com uma arte que mostra uma árvore morta “florescendo” humanos, a cargo de Brenda Cassimiro, tem total ligação com o título ou a capa reflete o conteúdo lírico, como um todo, do disco?
Roger –
O trabalho da Brenda é fantástico e ela é uma artista incrível. Quem acompanha o trabalho dela sabe do que estou falando. A capacidade artística da Brenda Cassimiro em absorver todo conteúdo conceitual do álbum, a temática e assuntos abordados, as emoções e sensações causadas pelas músicas e sintetizar tudo isso em uma arte visual foi simplesmente perfeita.

Recife Metal Law - “Barren...” foi gravado no Casanegra Studio, sob a batuta de Rafael Lopes. O disco tem uma gravação de alto nível, mas o resultado final era o que os músicos do Warshipper esperavam?
Roger –
Quando falamos de produção com o Rafael no Casanegra Studio, automaticamente já esperamos um resultado de alto nível. Mas confesso que o resultado atingido superou as nossas expectativas. Como já citei, o trabalho do Lopes foi primoroso e contribuiu muito para o resultado que obtivemos. Ele tem grande experiência na área, seja como músico ou produtor, e contribuiu de maneira intensa para esse resultado.

Recife Metal Law - Voltando a falar sobre o som da banda, mencionei que o disco veio com uma pegada mais Death Metal, mas isso não significa que o disco é fácil de rotular, pois sua sonoridade é muito rica, tem muitas mudanças de andamentos, alguns bem intrincados. Podemos dizer que a música do Warshipper é algo bem singular e sem parâmetros?
Roger –
Concordo contigo. E considero essa singularidade e dificuldade de rotulação algo muito positivo. Acredito que seja uma demonstração de originalidade, também. E a receita básica para isso é não seguir fórmulas prontas e não impor limites ao processo criativo. Logicamente, o Death Metal é o elemento primário e mais latente em nosso som, mas não nos prendemos apenas a isso. A música é uma demonstração artística muito rica, intensa e completa. Buscamos explorar essa capacidade ao máximo, mas com consciência.

Recife Metal Law - A arte gráfica, no livreto que traz letras, fotos da banda e as informações indispensáveis do álbum, ao seu fim, traz a capa do single “Atheist”. “Atheist” é citada como “bonus track”, mas essa música não faz parte do ‘track list’ regular do disco. Fiquei sem entender...
Roger –
Isso foi uma falha de comunicação que acabou ocasionando na falta da faixa no CD. Iremos corrigir este defeito para as próximas prensagens. A faixa está disponível em todas as plataformas disponíveis, além de possuir um belo ‘lyric video’ em nosso canal no YouTube.

Recife Metal Law - Em tempos idos, os videoclipes surgiram como grande divulgador de bandas. Em tempos atuais, com a pandemia do covid-19, os registros audiovisuais já são uma realidade, sejam em ‘lives’ ou mesmo em videoclipes. O Warshipper já lançou dois videoclipes desse novo álbum: “Barren Black” e “Respect!”. Qual a razão para a escolha dessas músicas para os primeiros videoclipes do novo álbum? Vocês pretendem lançar mais algum videoclipe para reforçar a divulgação de “Barren...”?
Roger –
A utilização dos recursos audiovisuais na divulgação do trabalho das bandas já é uma realidade há um tempo e foi potencializada agora, em tempos de pandemia. As músicas “Barren Black” e “Respect!” possuem um grande impacto sonoro e lírico e queríamos promover essa primeira impressão ao álbum. Além delas, já lançamos ‘lyric videos’ para as músicas “Anagrams of Sorrow” e “Axiom”. Também temos uma, a “Embryo”, com nossa participação na primeira edição do “Roadie Crew Online Festival”. Estamos, sim, preparando novos materiais audiovisuais e em breve lançaremos!

Recife Metal Law - Um novo álbum lançado, porém sem perspectiva de se apresentar ao vivo, num palco, de estar na estrada. Como é para uma banda como o Warshipper esse período sem poder subir num palco, estar na estrada?
Roger –
É uma sensação terrível, muito ruim e que requer muita adaptação e resiliência. Principalmente num cenário totalmente incerto e imprevisível. Particularmente, creio que estamos vivendo o início de uma nova realidade para a sociedade em si, onde muitas mudanças de ações e hábitos se tornarão permanentes. Isso requer de todos nós muita paciência, autocontrole, empatia e esperança. Como músicos, faz muita falta toda a energia e contato com a galera curtindo o seu som e apoiando o seu trabalho. Mas em algum momento voltaremos a ter esse tipo de interação. Aproveito para desejar saúde e boa sorte a ti, Valterlir, e Recife Metal Law, bem como a galera. Mantenham-se seguros, se cuidando e cuidando dos seus, para superarmos essa situação o quanto antes. Forte abraço!

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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação