DEMONIZED LEGION





Depois de 15 anos de sua formação, Demo, split, ao vivo, EP e muitos, muitos shows Brasil a fora, a banda paraibana de Death Metal finalmente chegou ao seu álbum de estreia. “Invoking Darkness and Death” foi lançado em 2018, marcando, assim, os 15 anos de formação da banda, que é composta desde 2010 por Vomitory (vocal), Van Ripper (guitarra), Decaptator (bateria) e Anguis Infernalis (baixo). E essa nova entrevista que realizei com a banda foi justamente abordando o seu primeiro álbum de estúdio, além de outros tópicos, como shows ao vivo e a maldita pandemia do Covid-19. Sem maiores delongas, confiram a entrevista, que foi respondida por Vomitory e Decaptator.

Recife Metal Law – Surgida em 2003, a Demonized Legion lançou alguns materiais, tais como Demo, EP,
Split, ao vivo, até chegar ao seu álbum de estreia, “Invoking Darkness and Death”. 18 anos separam a formação da banda e o lançamento do ‘debut’ álbum. Como foram usados esses anos e os lançamentos para dar forma ao álbum de estreia?
Vomitory -
Salve, meu caro! Mais uma vez é uma grande satisfação participar do Recife Metal Law! Esse álbum foi lançado com, ao menos, 10 anos de atraso, e acredito que com o passar do tempo e mudança de formação as próprias músicas antigas foram mudando de atmosfera. Mas tudo foi um processo natural. Não lembro de alterarmos alguma coisa voluntariamente. De qualquer maneira percebemos que algumas músicas foram ficando mais rápidas e agressivas. As letras, sim. As últimas compostas estão entrando em um universo mais voltado ao Existencialismo e Expressionismo.

Recife Metal Law – Inicialmente surgida como uma banda de Brutal Death Metal, a suas raízes não foram arrancadas, porém é notório que a sonoridade atual também tem fortes elementos do Black Metal, isso sem falar na temática lírica. Mas essa tendência sonora para o Black Metal foi algo necessário, em razão das letras?
Vomitory -
Acho que as linhas de voz colaboram para sua percepção. O vocal ‘rasgado’ dá essa característica, e nas músicas novas ele está bem mais presente. Hoje, diferentemente do passado, não deixamos de inserir algo por simplesmente soar mais Black Metal, apesar de nossa proposta ser basicamente Death Metal.
Decaptator - Salve Valterlir e a todos do Recife Metal Law, meu respeito! Bem, nosso instrumental se permeia por estilos clássicos que muito estimamos. No início tínhamos como base o Death Metal, mas apreciamos muito os clássicos do Black Metal e isso concomitantemente é expressado em nossas atuais composições. Na verdade, eu sempre analiso as letras e tento expressar meu máximo com base na temática em toda extensão da música, pois deixa a obra em total harmonia com as letras e isso é contemporizado com os demais da banda.

Recife Metal Law – Esse primeiro álbum contém dez músicas, sendo que a primeira, que dá título ao disco, é uma “Intro” e as duas últimas – “A Toast for Freedom” e “The Christian’s Annihilation” - são
bônus. O encarte informa que ambas foram gravadas em 2013, porém “The Christian’s Annihilation” faz parte de uma Demo lançada em 2009 e do ao vivo lançado em 2011. Já “A Toast for Freedom” eu só me lembro de ter conferido nos shows da banda...
Vomitory -
Essas faixas bônus... “The Christian’s Annihilation” faz parte de uma regravação feita em 2013 para celebrar os 10 anos de Demonized Legion. Esse é um dos nossos sons mais antigos. Já “A Toast for Freedom” foi nossa primeira composição com a então nova formação. Resolvemos acrescentá-las como bônus já que essa gravação de 2013 não tinha saído em formato físico. Regravar “The Christian’s Annihilation”, na época, acabou também nos mostrando como soaria o Demonized Legion com a então nova formação.

Recife Metal Law – O álbum foi gravado e mixado no Black Hole Studio, em Natal/RN, ficando a masterização a cargo de João Felipe Santiago. Como se deu a escolha do estúdio? A produção final foi o que os integrantes da Demonized Legion esperavam?
Decaptator -
Sim! O Black Hole Studio tem uma equipe extraordinária. Já conhecíamos seus trabalhos dentro e fora do estúdio como músicos ótimos que são. Isso nos deixou bem seguros de que estávamos em boas mãos e o resultado foi bem o esperado, sim.
Vomitory - Pessoalmente gostei muito do resultado, pois, como sempre, tudo foi feito num espaço reduzido de tempo e, mesmo assim, conseguimos um trabalho satisfatório e que tem recebido boas críticas. A escolha foi feita principalmente pela boa referência e relação que temos com a cena de Natal/RN de maneira geral. O
Flávio e o João Felipe, além da experiência com Death Metal, são responsáveis por excelentes trabalhos de bandas do Metal potiguar.

Recife Metal Law – Esse álbum conta com participações especiais de Flávio França (Expose Your Hate, Outset, Son of a Witch) e LC Hunter (Nighthunter), ambos de Natal/RN. O convite se deu devido ao disco ter sido gravado na cidade deles?
Vomitory -
Além de grandes amigos, a logística ajudou! É sempre uma oportunidade prazerosa ter velhos amigos participando de gravações ou participar de alguma. Tínhamos conversado antes e foi uma boa ideia. Os solos do Flávio ficaram matadores!
Decaptator - O convite foi em comum acordo com todos da banda. São verdadeiros irmãos de longa data e, ainda por cima, são dois puta músicos. Vimos o encaixe perfeito para ambos em cada música. Nada só reservado, apenas a questão cômoda de estarmos na mesma cidade. Foi tudo muito natural e durante as gravações, até porque uma música nunca estará pronta até que seja gravada e durante a gravação sempre um ‘insight’ aparece.

Recife Metal Law – A arte da capa é uma das mais blasfemas lançadas nos últimos anos. Realmente afrontadora, ainda mais num país que quer ser dominado por bancadas evangélicas e até mesmo dentro do próprio meio Heavy Metal, repleto de “Headbangers defensores da família tradicional, que mantêm a moral e bons costumes”. Como surgiu a ideia de capa tão impactante e como ela foi recebida, tanto
dentro como fora do meio Heavy Metal?
Vomitory –
Digamos que demos algumas “palavras-chave” e o Alcides Burn desenvolveu a arte com total liberdade. É para crente odiar! Quando se fala em capas de discos, as minhas favoritas são as de Death Metal ‘noventista’, com desenhos coloridos feitos à mão, de demônios, cemitérios, gente decapitada ou apodrecendo, rios e céus escuros ou sangrentos. Capas que retratam “cenas” também são muito interessantes. Se não estou enganado, essa foi uma das primeiras artes que o Burn fez com desenho digitalizado.
Decaptator - Sem dúvida nossa intenção foi alcançada. (risos) Concebemos a ideia e o mestre das artes e amigo Alcides Burn absorveu como nunca. A veracidade de sua arte está representada de maneira a expressar a nossa repulsa ao que ali está exposto de uma forma muito clara e que de certa forma está expressa nas músicas. Em se tratando de feedback, tivemos muitos elogios e para quem não apreciou, lamentamos. Quem trabalha para agradar a todos esquece de sua identidade. Devemos fazer o que queremos, o que pensamos e o que defendemos. A frustração não será um fardo levado para o caixão para mim e nem para os demais do Demonized Legion.

Recife Metal Law – O álbum foi lançado através do selo HellNoise Produções, que é de propriedade do vocalista Diego Vomitory. O surgimento do selo se deu em razão da necessidade de lançar esse álbum?
Ele trabalhará com outras bandas, que não seja a Demonized Legion?
Vomitory –
Na verdade, todos os lançamentos do Demonized Legion foram pela HellNoise Produções. Com relação ao “Invoking Darkness and Death”, a divulgação foi surpreendente. Hoje nos restam apenas 100 cópias (espero esgotar até o final da peste). A intenção da HellNoise Produções, que antes era só produtora, é seguir lançando algumas bandas do Underground e iniciar um trabalho mais voltado para lançamentos e distribuição, visto que agora só pretendo realizar o “HellNoise Fest” uma vez por ano, e não mais shows pontuais como ocorria. Geralmente com bandas em turnê. Campina Grande hoje tem uma nova geração de produtores decentes e isso ajuda muito, da minha parte, a focar em algo mais coeso e planejado. A ideia é que o “HellNoise Fest” faça parte do calendário do Underground nacional, especialmente aqui no Nordeste. Estaremos em breve com outros lançamentos. Por enquanto com as bandas que atuo (Funeral Profano e Centauri) e posteriormente outras entidades do submundo. Como não é ainda algo que me dedico 100%, prefiro, por enquanto, me comprometer apenas comigo e com os amigos de bandas.

Recife Metal Law – Diego, como mencionado, além da Demonized Legion, tu és responsável por movimentar o Underground de tua cidade natal, Campina Grande/PB. Assim, trabalha bastante com a produção de shows, levando bandas de diversos estados. Devido a pandemia do COVID-19 os eventos foram paralisados. De que forma isso afeta, não só os eventos que tu produzes, mas também a divulgação desse lançamento da Demonized Legion?
Vomitory –
A HellNoise tinha dois eventos programados para o primeiro semestre de 2020, e ambos foram desmarcados. No caso do “HellNoise Fest”, festival anual que ocorre em Campina Grande, a ideia é que ocorra com o mesmo ‘cast’ quando as aglomerações forem permitidas. Um adiamento sem nenhuma previsão. Foi algo bem inusitado e afetou praticamente todos os setores. Mas falando especificamente de eventos, o dano é incalculável. Afetou o coração da atividade que é a aglomeração de pessoas para entretenimento. Por compensação, acredito que o retorno vai trazer muita gente sedenta por “rolé”. Quando anunciarem o fim das restrições, os primeiros vão ser insanos, se o medo ainda não imperar. Mas a questão maior vai ser a situação econômica do país. Ainda não temos uma noção do verdadeiro efeito disso tudo, mas já podemos esperar o pior, visto que temos um completo imbecil no poder. A desgraça é mais desgraçada com um boçal ignorante no controle, e (caramba!) eleito. Enfim, apesar de toda essa situação, a HellNoise e o Demonized Legion voltarão
após o sopro mortal da peste, se não morrermos! Esperamos que os nossos estimados e os seus passem por essa da melhor maneira.

Recife Metal Law – Antes mesmo do álbum de estreia, a banda chegou a excursionar e tocar por diversas cidades, em diversos estados. Já existem propostas para uma espécie de tour de divulgação de “Invoking Darkness and Death”?
Vomitory –
Infelizmente o disco saiu com atraso em 2018. Tínhamos iniciado a tour de 15 anos em agosto, com 15 shows confirmados, mas o disco só chegou as nossas mãos em novembro por conta do descaso de uma empresa chamada Jamef, que ficou mais de dois meses com a encomenda presa no seu depósito. De qualquer forma fizemos as datas da tour. Foram shows incríveis! Posteriormente enviamos as cidades que havíamos tocado e, como falei acima, acredito que não tenho mais de 100 cópias do “Invoking Darkness and Death” ainda comigo. Nossa ideia é já pensar em um novo lançamento e, aí sim, planejar um novo giro.

Recife Metal Law – Se não me falhe a memória, Vomitory e Decaptator estão juntos, na banda, desde a sua formação, enquanto que Van Ripper e Anguis Infernalis entraram na Demonized Legion em 2010. Em quais aspectos uma formação sólida mais ajudam, em se falando de vocês?
Vomitory –
Uma formação sólida é sinal que todos conseguem se aturar por um longo tempo. (risos) E, no nosso caso, que não tem dinheiro envolvido, é porque gostamos mesmo. Acho também que a solidez facilita o processo de criação e a banda, por sua vez, acaba criando com mais consistência sua forma identitária. Isso se pode observar em várias bandas que quando mudam de integrante acabam ‘frustrando’ quem, digamos, estava acostumado com uma formação específica.
Decaptator - É importantíssima essa solidez! É criada uma sintonia que reverbera, reflete e é reproduzida musicalmente nas composições. E, sim, estou desde a formação da Demonized Legion. Hoje somos mais que banda, somos uma família!

Recife Metal Law – Talvez 2021 seja mais um ano perdido, devido à pandemia. Mas, como banda, quais os planos de vocês para o futuro?
Vomitory –
Estávamos compondo para um novo material. A ideia é lançar uma ‘bolachinha’ com duas músicas antes do próximo álbum. Estamos aguardando a definição de toda essa situação. Tínhamos dois shows marcados e mais alguns planejados, que acredito agora que ocorrerão só em 2022, na melhor das hipóteses. Mais uma vez obrigado pelo espaço, meu caro! Espero rever você em breve no ‘rolé’!
Decaptator - Somos muito conscientes. Agora é se resguardar (FICAR EM CASA) e planejar os próximos ataques sonoros pós covid-19. Agradecemos ao Recife Metal Law e a você, Valterlir, pelo grandioso trabalho e força ao Metal Underground! See you on stage “Hellbrothers”!

Contatos: www.facebook.com/DemonizedLegion

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Valterlir Mendes
e Gil Mariano