CRUCIFIXION BR





O Crucifixion BR surgiu em 1996, na cidade gaúcha de Rio Grande. Mesmo com as diversas mudanças na formação ao longo dos anos e até mesmo mudanças de cidades, a banda se manteve perseverante durante todos esses anos, sempre contando com os membros fundadores - Maxx Guterres (guitarra/vocal) e Juliana “DarkMoon” Novo (bateria) - a sua frente. Hoje complementam a formação da banda Beto Factus (baixo) e Rafael Orsi (guitarra). Com essa formação, o Crucifixion BR segue sua caminhada, espalhando o seu característico Blackned Death Metal e divulgando seu atual álbum de estúdio, “Human Decay”.

Recife Metal Law - O Crucifixion BR surgiu como, apenas, Crucifixion, em 1996, tendo lançado até algumas Demos com esse nome. Depois de alguns anos é que a banda decidiu por usar o BR em sua nomenclatura. Isso se deu ao fato de existir muitas bandas com o nome Crucifixion ou há outros fatores
que causaram tal mudança?
Maxx Guterres -
Sim, o fato principal foi porque outras bandas começaram a se pronunciar nos EUA e Europa. São bandas que nem estão na ativa e não tem nada a ver com o estilo, com a mensagem que estávamos passando naquela época. Na verdade, seria antes (o nome da banda) Hellish Prediction. Eu já tinha desenvolvido o logotipo, e a primeira letra foi escrita em 1995. Eu andava com ela no bolso. (risos) Em seguida eu pensei que esse nome não era inteligente para toda vida desta banda... Eu estava escutando LPs do Sepultura, comecei com K-7 do “Bestial Devastation”, pulei para “Morbid Visions”, onde a tradução literal é realista para toda existência, assim como em forma figurada. Eu mudei somente o refrão da minha letra. Tinha sentido com o novo nome e homenagem a melhor banda do mundo: Sepultura. Quando mandaram o e-mail sobre o nome, eu pensei em mudar, mas não tinha sentido. Não era justo. Eu escutava Ragnarok (Pagan/Folk/Black Metal, Reino Unido), daí pensei em BR representando nosso país. Mandamos um foda-se para quem quer incomodar estando parado. Foi fácil de mexer no logotipo, abaixou um pouco o pentagrama e o BR se encaixou. Acho que deu tempero e mais personalidade ao nome, nossa proposta lírica e musical. Sou grato por eles terem feito isso, só deu um ‘up’ maior; deu a personalizada que queríamos.

Recife Metal Law - A banda nasceu em Rio Grande, interior gaúcho, depois indo para Porto Alegre e, finalmente, estando hoje em São Paulo. Tendo em vista que a baterista Juliana “DarkMoon” Novo é a única remanescente da formação original, tais mudanças se deu exclusivamente por ela ter que mudar para outras cidades/Estados?
Maxx -
Juliana não é a única original. Eu gravei “Human Decay”, compus mesmo, estou presente nos clipes oficiais do mesmo... Eu sou o criador e fundador, e a Juliana Novo é a única desde o começo. Só sobrou nós dois nestes 25 anos de estrada e batalhas. A gente se mudou de Rio Grande/RS para Porto Alegre/RS, pois o foco era mostrar nosso nome para mais pessoas. E sonho, também, amor e paixão pelo Black Metal inteligente e o Death Metal. Fomos para Porto Alegre e conseguimos avançar, tocar em mais lugares, até com o Krisiun e Dark Funeral no Bar Opinião. E São Paulo foi a continuidade do sonho; vontade de levar a mensagem do Crucifixion BR para mais lugares. Então tocamos com Attomica, Torture Squad,  Claustrofobia, tocamos no Da Tribo com a banda da Cherry (ex-Okoto, descanse em paz); conheci o Toninho Warrior do Official Sepultura Fan Club quando tocamos no “Guaru Metal Fest” junto ao Vulcano, Nervochaos, Firestrike... E, com força de vontade, depois turnê na Europa. O Crucifixion BR é uma entidade de força, batalha e espiritualidade que ainda respira e quer mostrar o “Human Decay” em tour para mais pessoas em todo o  mundo.

Recife Metal Law - Apesar de todos os anos de formada, a Crucifixion BR só veio a lançar o seu primeiro álbum em 2014. O que significou o lançamento desse primeiro álbum, “Destroying the Fucking Disciples of Christ”, para a banda, após 18 anos de ser formada?
Maxx –
Nós éramos pobres, muito novos, não tínhamos dinheiro. A gente fez um sacrifício para lançar as duas Demos, e, outra, minha preocupação era fazer algo especial e profissional para mostrar para o mundo. Foi concebido um EP promocional e depois o álbum “Destroying the Fucking Disciples of Christ” e o videoclipe de “Eternal Judgement”.

Recife Metal Law - O mais recente álbum recebe o título de “Human Decay” e conheci a sonoridade da banda através dele. Um verdadeiro atentado Blackened Death Metal. Ele é bruto, pesado, denso, desconcertante, para citar alguns adjetivos sobre o disco. Quais as principais diferenças entre esse novo álbum e o seu antecessor?
Maxx –
Exatamente! Tu conseguiu ver, sentir o “Human Decay”, principalmente com as palavras que usou. Ele é desconcertante desde a “intro”. O “outro” tem essa atmosfera em que a música está brutal e  evoluída, inclusive nas letras e na capa. “Human Decay” é a continuação do “Destroying the Fucking Disciples of Christ”. Um som evoluído, inteligente, brutal e desafiador musicalmente. Orgânico, com alma, assim como o “Destroying the Fucking Disciples of Christ”, que também foi um disco desafiador para o estilo da cena Black Metal extrema.

Recife Metal Law - O disco traz temas como a faixa-título, “Annihilation and Victory” (de andamento mais denso e com inserção de ótimos solos de guitarra), “Into the Abyss” (outra com ótimos solos, no seu início e no seu decorrer) e a devastadora “Blood Fire Victory” (esse som não vai te deixar inerte). Apesar de toda a voracidade encontrada nesses sons, as músicas não são “retas”, trazendo mais peso do que velocidade, em si. Cada música traz suas peculiaridades e elementos que a tornam diferentes entre si, porém com cada uma trazendo o único objetivo de apresentar brutalidade no som do Crucifixion BR, sem necessariamente ficar na velocidade o tempo todo. Como foi todo o trabalho de criação das músicas e qual era a meta a se alcançar com o novo disco, em termos sonoros?
Maxx -
A Crucifixion BR com o “Destroying the Fucking Disciples of Christ” já teve o desafio de explorar elementos dentro do Black Metal e a atmosfera dele, mas este novo álbum já tem um ‘mix’ de outros elementos do Doom e Death Metal. “Human Decay” é a sequência do que o Crucifixion BR é realmente, e demostra a arte extrema em forma de música. Eu sou o compositor e letrista, produtor, ajudei na mixagem dos dois álbuns, e a composição vem do nada, não é programada. Quando escrevo algo vem do nada. É uma inspiração momentânea, sem programação. Já imagino a música como um todo, tanto o instrumental quanto as letras. Vejo a Crucifixion BR além de somente música. Ela é espiritual. Há elementos de mensagem no “Human Decay” de correr atrás da vitória, amor próprio. A Crucifixion BR, nestes 26 anos, prova isso: a mensagem é de guerra para a vitória intelectual coletiva.

Recife Metal Law - Umas das músicas, “Insanidade Bestial”, traz o título em português, porém a letra é totalmente em inglês, com exceção do título, que é gritado como uma espécie de refrão. Qual a razão de essa música ter o título em português e ser cantada em inglês?
Maxx -
É uma viagem minha de mostrar algo diferente no Crucifixion BR, não ficar rotina. É um ótimo refrão em português, título forte e tem paralelo com a música “Annihilation and Victory” com andamento mais cadenciado, mas mantendo a raiz, intensidade e verdade do Crucifixion BR. Sem regras, desafiador, o “Human Decay” é isso.

Recife Metal Law - O disco contém 12 faixas, porém “Opening the Gates, Blasphemy Returns”, “Confirmed Execution 666”, “Passage” e “The Final Chapter”, são uma espécie de “intermezzos”. Incluir tais temas foi uma espécie de dar uma trégua em algumas passagens, tendo em vista que o álbum contém forte teor de brutalidade?
Maxx -
As “intros” foram ideia minha, de misturar influências das “intros” do álbum “Arise” (do Sepultura) com algo da banda de Black Metal Watain, que possui interlúdios loucos. Eu fiz as vozes de aliens, pois é um tema que me cativa. É tipo um mantra, principalmente o “outro”, que tem batidas tribais como um vodu... Tem a ver com a mensagem das letras da capa. É um alerta para o mundo, para si próprio. Gosto muito do “Panzer Division Marduk”, como uma mensagem de guerra e alarme: cuidem do mundo, cuidem de si próprios. Não culpem ninguém por sua revolta, vazio, fracasso... Querer não é poder e, sim, realizar é poder.

Recife Metal Law - Com relação a parte lírica, ela foi totalmente criada por você, Maxx, e envereda pelo ocultismo, caos, destruição, ataque às religiões. Por que toda a parte lírica ficou a teu cargo?
Maxx –
Sim, sempre foi e sempre será assim. A raiz foi dessa forma, assim como a mudança do nome que criei. Crucifixion já alerta a realidade em vários aspectos, de forma que cada ouvinte interprete sobre as letras no “Human Decay”. É basicamente isso, como já comentei na resposta anterior; é uma evolução do “Destroying the Fucking Disciples of Christ” liricamente, da obscura arte, maravilhosa, inteligente, justa. Tem aura, ‘mix’ com lance, digamos, pagão. “Human Decay” é um ritual de vitória, crescimento, amor próprio, dar valor a esta passagem e, também, é um recado para quem não aceita suas falhas, julgamentos e silêncios. Devemos crescer, não culpar ninguém; não alimentar fracasso, vitimismo ou falsa e vergonhosa soberba. Com o passar dos tempos a meta é evoluir naturalmente e dar ênfase as vitórias de crescimento individual. Não desistir de nada, não deixar nada continuar interrompendo o seu processo de evolução. Nós fazemos nossas escolhas. A direção é tu que escolhe. Espero que “Human Decay” alimente o ‘feeling’ de crescimento espiritual e cotidiano. Foco, lutas com vitórias.

Recife Metal Law - O disco traz como convidados Andre Rod (Attomica) em “Human Decay” e Dave Ingram (Benediction) em “Bloody Fire Victory”. Geralmente convidados para participar de um disco surgem de ideias da banda porque acham que tal música ou passagem caberiam para determinado músico. Foi dessa forma que surgiu a ideia de convidar Andre e Dave para o disco? Por que as músicas que eles participaram cabiam as suas respectivas participações?
Maxx -
Como falei do detalhe em termos de composição, nada é planejado, as ideias vêm. Eu estava em fase de mixagem com o Sebastian Carsin, escutando a pré-mix aqui em casa, escutei o refrão da música “Human Decay” e pensei: “ficaria tri um backing vocal nela”. Com a “Bloody Fire Victory” eu já tinha gravado todos os vocais, já tinha influência de Benediction com minha voz, daí me deu um ‘click’ e mandei mensagem para muitos caras famosos do Metal nacional e de fora. O André foi o primeiro a responder. Cara, eu fiquei chocado! E o Dave Ingram também aceitou o convite. Eu sou fã dele desde moleque, não imaginava que ele estaria em uma música minha. Ele fez um ótimo trabalho, assim como o Andre do Attomica.

Recife Metal Law - A gravação do álbum, feita no Hurricane Studio, ficou num patamar espantoso, nada deixando a desejar em termos de produção. Trabalhar ao lado do conceituado Sebastian Carsin já estava em pauta antes mesmo de a banda entrar em estúdio? Como vocês avaliam o resultado final, em termos de gravação, mixagem e produção - que ainda teve Maxx Guterres participando -, de “Human Decay”?
Maxx -
Eu decidi fazer de novo com ele, mesmo já morando em São Paulo, já que o resultado do “Destroying the Fucking Disciples of Christ” foi uma gravação de qualidade. Achei que não era o momento de mudar de estúdio e gravar em São Paulo. Deu tudo certo no final. Um resultado espetacular! E aproveitei para visitar Porto Alegre, a minha cidade, Rio Grande/RS, e ainda tocamos em Porto Alegre e Pelotas. Foi insano! Desafiador como deve ser, deu tudo certo. Tinha o lance que as composições estavam mais evoluídas nas cordas, daí já pensei no “Seba” gravar os solos de guitarras. Eu e ele trabalhamos nas ideias, e ele criou algo forte, com verdadeiro ‘feeling’ do real headbanger. Ótimo guitarrista, foi uma grande experiência e tudo deu certo, no final, que é o mais importante.

Recife Metal Law - O disco foi gravado em meio a pandemia (Covid-19). Dessa forma, a capa chegou a ser inspirada nesse caos que a humanidade vive desde 2020?
Maxx –
Não, foi inspirada no contexto das letras do álbum.

Recife Metal Law - O álbum foi lançado com o suporte da Shinigami Records. O trabalho de divulgação desse selo tem sido o ideal para o Crucifixion BR?
Maxx –
Sim, ele acreditou em nós, como foi no primeiro álbum. Vi em muitas lojas virtuais, como Americanas. Então eles fazem um ótimo e honesto trabalho de distribuição e divulgação.

Recife Metal Law - Parafraseando a música “Chaos of Morality”, quais são os próximos passos da banda nesse nosso país, que hoje é realmente um “caos da moralidade”?
Maxx –
Os próximos passos são continuar divulgando o álbum nas mídias em todo o mundo e fazer shows em breve pelo Brasil. Também estamos preparando mais um videoclipe e, mais adiante, tentaremos uma tour na Europa.

Contatos: www.crucifixionbr.com

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Rodrigo Lacerda, BLBPhotography, divulgação