Todos sabem da grande importância de Minas Gerais para o Heavy Metal nacional, pois de lá, mais especificamente de sua capital, saíram bandas até hoje de relevante valor para o estilo no país. Mas nem só na capital mineira o Heavy Metal existia. E de uma cidade interiorana chamada Machado veio uma das mais antigas bandas de Death Metal em atividades no Brasil: Corpse Grinder. São 23 anos de luta e dedicação ao Underground, onde a banda nunca procurou enveredar pelas modas passageiras, lançando diversas Demos e três álbuns de estúdio. O mais recente lançamento da banda é o DVD “20 Years Grinding Corpses”, que como o próprio título diz, se trata de um material comemorativa aos 20 anos de existência do Corpse Grinder. Na entrevista a seguir o vocalista/guitarrista Junior nos falou sobre a trajetória da banda, entre outros tópicos.
Recife Metal Law – Em 2007 o Corpse Grinder comemorou 20 anos de existência. Quais foram os momentos mais difíceis que a banda enfrentou durante todos esses anos?
Junior – Como toda banda Underground, nós enfrentamos muitas dificuldades no passado e ainda enfrentamos hoje. É até difícil citar um momento difícil que enfrentamos. Eu acho que os problemas sempre existiram e sempre existirão; na verdade eles vão mudando de acordo com cada época da vida da gente. Quando nós éramos jovens, com 17 a 20 anos, o nosso gás e a nossa força de vontade era imensa; o tempo disponível para tocar fora e ensaiar era maior, mas nós não tínhamos apoio de ninguém; não sabíamos tocar quase nada; nossa aparelhagem de ensaio e instrumentos eram bem piores. Hoje em dia, quando se fala em ensaiar ou fazer show, o nosso gás felizmente é o mesmo de antigamente, porque estamos fazendo o que mais gostamos, que é tocar Death Metal. Temos um equipamento melhor, experiência, apoio da Kill Again Records, mas, infelizmente, quanto mais velho a gente vai ficando as responsabilidades do trabalho, do dia-a-dia, de cada integrante, vai tomando o espaço dos shows e ensaios. Nós estamos na ativa até hoje, porque o Metal está nas nossas veias e faz parte de nossa personalidade. Não fosse por isso, já teríamos desistido há muito tempo.
Recife Metal Law – Pouquíssimas bandas da mesma época de vocês permaneceram ativas e/ou se mantiveram fiéis ao seu estilo. Em algum momento passou pela cabeça de vocês em seguir alguma tendência para ter um maior respaldo no meio Heavy Metal?
Junior – Nunca passou pela nossa cabeça em seguir nenhuma tendência em época nenhuma, porque essas tendências que surgem periodicamente, no meio, são passageiras, e o Metal simples, feito com garra por quem gosta, ‘de Headbanger para Headbanger’, permanece. Por isso é que nos orgulhamos de todos os materiais que lançamos, independente da qualidade de gravação e produção. Você sempre vê bandas que quando são entrevistadas ignoram algum material lançado, ou ficam dando desculpas porque fizeram tal álbum diferente; nós não temos este problema e vamos sobrevivendo tocando nosso ‘Old School’ Death Metal e vendo o tempo destruir os modistas infiltrados no mundo do Metal.
Recife Metal Law – Os dois únicos membros que permaneceram na banda desde o seu início foi você, Júnior (vocalista/guitarrista), e o baterista Rômulo. Rômulo, por sua vez, saiu da banda em 2008. Como foi para você, Júnior, permanecer como o único integrante da formação original do Corpse Grinder?
Junior – Para falar a verdade, eu não fiquei tão surpreso quando o Rômulo disse que não iria tocar mais, uma vez que ele não estava demonstrando o mesmo interesse como antes e eu praticamente não me considero o único membro original atualmente, já que considero o Flávio como se fosse um integrante original, visto que depois que ele entrou é que começamos a fazer shows e divulgar mais a banda em fanzines. Da formação anterior, que eu era baixo/vocal, Renato (guitarra) e Rômulo (bateria), nós não fizemos nenhum show e saímos somente em um número do Metal Blood zine, que hoje é uma raridade. Esta foi uma fase muito rápida da banda e tudo que fizemos de mais importante o Flávio já estava presente, por isso é que eu o considero como se fosse um membro original do Corpse Grinder.
Recife Metal Law – O primeiro lançamento da banda é a Demo “Frontal Attack of Deathcore”, porém não é considerado oficial. Qual a razão para não considerar essa Demo um lançamento oficial?
Junior – Porque essa Demo foi gravada do modo mais primitivo possível, ou seja, colocamos um gravador no meio do lugar onde ensaiávamos, soltamos o ‘pause’ e se não tivesse nenhum erro de ninguém, e a fita não enrolasse, a música já estava gravada. Nós gravamos essa Demo somente para escutarmos e ver como estava ficando o som, mas o Rômulo andou passando para alguns amigos e acabou saindo uma resenha dessa Demo no Metal Blood # 4, de 1989. Que eu me lembro acho que foi a única. Já as Demos seguintes já foram gravadas com mesa de som, bateria microfonada, equipamento melhor (emprestado) e, devido a termos conseguido uma qualidade melhor de gravação, tivemos mais coragem de divulgar mais entre os amigos e enviar para mais fanzines, por isso é que consideramos oficial somente a partir da Demo “Necropsy”, gravada em 1990.
Recife Metal Law – A capital mineira é considerada o berço do Heavy Metal brasileiro, porém o Corpse Grinder surgiu no interior mineiro. Machado fica acerca de 400 quilômetros de Belo Horizonte. Apesar de toda a efervescência do Heavy Metal em Minas Gerais, em meados da década de 1980, vocês tiveram facilidade em mostrar sua música no meio Underground da época?
Junior – Não, porque nós éramos muito isolados no início, morando em uma pequena cidade do interior de Minas. Aqui quem curtia Metal nessa época eram apenas os integrantes da banda e as poucas pessoas que se aventuravam a ir aos nossos ensaios; saíam de ouvido doendo e não voltavam nunca mais. Foi aos poucos que, através de amigos daqui, fomos sendo apresentados a outros bangers de cidades vizinhas e que fomos conhecendo e entrando em contato com os primeiros fanzines para divulgar o nosso som. Naquela época era tudo na base da carta e os contatos, as trocas e resenhas dos materiais, demoravam muito para se concretizarem; era tudo mais difícil. Na verdade, apesar de estarmos a par das bandas de Belo Horizonte na época, que somos fãs até hoje, o nosso som começou a ser divulgado primeiro no Distrito Federal, porque foram os primeiros contatos que tivemos, depois em São Paulo e logo em seguida em Belo Horizonte.
Recife Metal Law – Como já mencionado, até hoje vocês permanecem fiéis ao estilo que se propuseram a fazer, mas depois de tantos lançamentos, quais foram às mudanças mais significativas na sonoridade da banda?
Junior – As mudanças mais significativas na sonoridade da banda aconteceram bem no início. Nas primeiras Demos de 1990 e 1991. Tínhamos muita influência de Hardcore e nosso som chegava a ser Deathcore em algumas músicas, e a partir da Demo “Sick Entrail of Humanity” (1992) é que o som se firmou no puro Death Metal, que é o som que fazemos até hoje e que muda e melhora somente em termos de gravação e produção.
Recife Metal Law – Em 2009 o selo brasiliense Kill Again lançou o DVD “20 Years Grinding Corpses”. Obviamente esse material é comemorativo aos 20 anos de formação da banda, mas por que só foi lançado dois anos após as duas décadas do Corpse Grinder?
Junior – O problema do atraso desse lançamento não foi nossa culpa e nem da Kill Again Records. Tanto nós quanto o selo fizemos nossa parte, dentro dos prazos estabelecidos, mas infelizmente a Kill Again colocou a produção do DVD em mãos erradas e o pior, pagou adiantado. Nos primeiros problemas que apareceram os caras deixaram a produção do nosso DVD de lado e pegaram outros CDs e DVDs para produzirem, e assim nós fomos vendo DVDs de bandas que foram gravados depois do nosso saírem antes, porque os caras que estavam produzindo o nosso DVD não estavam dando conta de resolver os problemas que estavam ocorrendo; até que resolveram colocar nas mãos do Felipe (vocal do Unearthly), que é muito entendido no assunto, e conseguiu resolver os problemas. Mas isto foi feito depois de muitas cobranças, desentendimentos e brigas entre o selo e a produção do DVD, que acabou resultando no grande atraso deste lançamento.
Recife Metal Law – O show gravado para as imagens principais do DVD foi realizado no Hammer Rock Bar, em Campinas/SP, e o ‘set list’ foi baseado nos álbuns de estúdio da banda. Houve o pensamento em fazer algo especial, fazendo um ‘set’ composto por músicas de todas as épocas da banda?
Junior – Não! No show em Campinas nós tocamos o ‘set list’ que estava sendo apresentado nos shows que estávamos fazendo na época, com algumas modificações de um show para outro. O pensamento de usar uma música de cada época, nós deixamos para o CD de regravações que acompanha o DVD, porque quando tocamos em Campinas nem todas as músicas antigas que regravamos estavam bem ensaiadas para tocar no show, e a ideia era também colocar músicas diferentes no CD das do DVD. Você pode ver que repetimos poucas, para não ficar muito repetitivo e para poder abranger mais as composições das diferentes épocas da banda.
Recife Metal Law – O DVD vem com alguns bônus, inclusive com imagens de um show feito por vocês em 1994. Existem imagens anteriores a essa, e que podem ser usadas num futuro DVD?
Junior – Eu tinha algumas fitas VHS mais antigas, que o som estava sem condições e as fitas mofaram, e sei de gravações feitas até em 1991, que eu enviei uma fita para um cara gravar para mim uma semana depois do show, e estou esperando até hoje! Portanto, a mais antiga que tínhamos condições de usá-la foi a do show de Passos/MG, em 1994, que está no DVD, porque comigo eu não tenho nada mais que possa ser usado em um futuro DVD, a não ser que algum arqueólogo do Metal descubra alguma gravação de shows mais antigos e queira fazer uma doação para nós.
Recife Metal Law – Ainda nos bônus, existem dois vídeos-clipes. Qual a razão para a escolha de “Sinister Winged Minstrel” e “Imminent War” para clipes? Esses vídeos foram divulgados de alguma forma ou foram feitos exclusivamente para o DVD?
Junior – Esses vídeos-clipes foram feitos exclusivamente para o DVD, não foram divulgados antes. Eles foram feitos pelo Hélio (guitarrista solo) de modo caseiro, totalmente ‘Do It Yourself’. Ele fez por conta própria o clipe da “Sinister Winged Minstrel”, nos mostrou, nós gostamos e tivemos a ideia de colocá-lo no DVD, e demos a ideia pra ele fazer também um clipe para “Imminent War”, pela facilidade que se tem de achar cenas de guerras na internet, as misturando com o clima agressivo da música. Achamos que sairia outro clipe interessante.
Recife Metal Law – Mesmo com tantos anos de estrada, a banda nunca saiu em uma turnê pelo país. Apesar de shows em Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, outros Estados nunca tiveram a oportunidade de ver a banda ao vivo. Será que existe a possibilidade de outros Estados brasileiros poderem abrigar um show do Corpse Grinder, no futuro?
Junior – É lógico que sim! É certo que não temos muita disponibilidade para ficar muito tempo fora de casa, devido ao trabalho do dia-a-dia de cada integrante, e como já disse antes, quanto mais velho a gente fica vai aumentando o serviço e as responsabilidades. Mas isto não impede totalmente de irmos tocar em outros Estados; é só os organizadores entrarem em contato com nós pelo menos uns quatro meses antes para organizarmos nossas vidas e aceitarem pagar transporte de ida e volta, estadia e cerveja, e o resto é só deixar por nossa conta. Portanto, não é tão difícil abrigar um show nosso, porque se fosse não teríamos tocado no Mato Grosso e quatro vezes no Distrito Federal, que são lugares bem longe para nós. Se tiver alguém aí em Pernambuco interessado, diga para entrar em contato conosco, que seria um imenso prazer para nós podermos tocar aí em suas terras.
Recife Metal Law – Agora falando sobre o futuro da banda, vocês já estão trabalhando em novas músicas para um novo full lenght?
Junior – Sim. O novo álbum já está pronto. Falta dar alguns retoques finais em algumas músicas, ensaiar mais um pouco e entrar no estúdio para gravá-las. Dependendo do ritmo que seguir os ensaios, estamos planejando ir para o estúdio em setembro. O novo álbum terá oito músicas inéditas. Não tem um título definido ainda e será o primeiro álbum com o Kleber na bateria, que substituiu o Rômulo desde 2008.
Recife Metal Law – Que o Corpse Grinder continua a ‘triturar corpos’ por muitos e muitos anos! Deixem um recado para os leitores do Recife Metal Law e para os admiradores da banda...
Junior – Em primeiro lugar quero agradecer pela oportunidade dessa entrevista que, espero, seja satisfatória e esclarecedora para todos os headbangers leitores do Recife Metal Law. E que continuem a ler e a apoiar todas as formas de divulgação do Metal nacional, que nos ajudam a divulgar nosso trabalho, que é muito importante para nós que temos banda e lutamos há tanto tempo no Underground. Peço, também, para usarem downloads somente para conhecer o som das bandas e não ficar baixando CD inteiro, de banda nacional, que custa de 10 a 15 reais. Deixem para fazer downloads somente para materiais importados, raros e caros. Essa prática esta sendo um verdadeiro câncer para as bandas e selos nacionais. Então fica aqui o meu pedido para quem se diz Headbanger e consciente: para apoiar o Metal nacional na realidade e não virtualmente, porque nada substitui o prazer do Headbanger em ter uma coleção de vinil, K-7, CD e DVD de verdade. Obrigado!