Dust Commando: entrevista para a Heavy And Hell Press
Os tempos são outros para a música e para a política no Brasil; muitas máscaras caíram e, de certo modo, vamos tendo um retrocesso social. E no mercado musical, mesmo tendo a ajuda virtual que leva a música para qualquer lugar, sofremos certo retrocesso cultural, pois todo o encanto e arte de se ter um material físico em mãos parece ter ido por água abaixo.
Sobre esses assuntos e algumas coisas a mais, o vocalista/baixista Thiago Rabuske do Dust Commando comenta com a Heavy And Hell Press o seu ponto de vista. Confira:
Hoje o cenário está tomado pela comunicação virtual, tendo menos interações reais, se assim podemos dizer. De certo modo isso, para a indústria fonográfica, é ruim. Na visão do Dust Commando, é ainda viável lançar materiais em formato físico?
Thiago: Eu sou da época da música em suporte físico, no caso vinil e depois CD. Então sou suspeito para falar - acredito que a mídia seja uma obra junto com a música em si. Cresci lendo e apreciando encartes e capas de vinis e CDs das bandas que mais gostava, e até hoje acredito que um álbum deva guardar relação direta entre a música e a arte visual que dela tira inspiração para vir à tona. Acredito, também, que entender e utilizar corretamente a mídia eletrônica (no caso o MP3 e os sites de streaming) é fundamental para sobreviver no meio musical atual.
Um bom momento que a cena vive, é o maior nascimento de bandas só de mulheres ou com que tenha algum membro feminino, desmitificando certas regras impostas em estilo que não tem regras. Como é para vocês este momento em que as mulheres headbangers crescem a passos largos?
Thiago: Eu acho sensacional que todo ser humano que tenha vontade e talento para disseminar sua arte possa ter a oportunidade de fazê-lo, pois é uma maneira de expressão e como temos liberdade total e irrestrita para isso devemos aproveitar da melhor maneira possível. Ando escutando direto os novos trabalhos da Nervosa e da Demolition, por exemplo, e estou impressionado com o que tenho ouvido! É muita qualidade! Não pode haver preconceito ou divisão, a meu ver, em uma cena que depende do público e somente dele para se manter!
O Brasil vive um momento complicado em termos políticos. É escândalo em cima de escândalo, um país que virou chacota mundial. E parece que a situação só tende a piorar. Como vocês enxergam o Brasil daqui a cinco anos?
Thiago: Olha... Eu não tenho muita esperança, sinceramente. Se algum político atingisse um cargo muito elevado e fizesse um pacto pela educação que durasse pelo menos 100 anos eu começaria a acreditar... Mas como sabemos que quem se elege só faz obra de infraestrutura e que apareça bem claramente aos olhos eu não sou muito otimista! A educação é a única estrutura capaz de sustentar o desenvolvimento de um país tanto em termos econômicos como sociais. A coisa anda tão difícil que todas as ideias atualmente andam convergindo para um futuro bem obscuro, a meu ver - e acredito que haja um ardil político para garantir a votação que sempre alcançam distribuindo benesses de toda sorte, desde dinheiro a cargos. Para os que detêm o poder, uma sociedade educada e informada não serve, pois ela se recusaria a ser servil e manipulada como sabemos ser, mas fingimos não ser!
Falando sobre o ‘debut’ “Chaos Lives In Fur”, o mesmo tem recebido muitas críticas positivas, tendo um ótimo reconhecimento no Underground. Gostaria que comentasse tal momento.
Thiago: Para nós cada palavra contida em uma resenha, seja ela positiva ou negativa, é como se fosse uma vitória. É como diz o velho ditado - falem bem ou mal, mas falem de mim! Tivemos a sorte de ter recebido somente críticas positivas até o momento, e isto é o motivo pelo qual não desistimos e seguimos com força trabalhando para nos mantermos na cena e, quem sabe, adquirirmos uma relevância maior na mesma no futuro. Acreditamos na música como uma maneira de expressão livre, onde o que importa é tanto a ela em si quanto a mensagem, seja ela pela palavra, seja pela coerência do conteúdo, seja pelo amor com que tentamos colocar em tudo que fazemos por esta banda e pela nossa cena!