Após poucos dias da realização do grandioso show do Megadeth na capital pernambucana, o espaço foi aberto para um evento de natureza Underground. Porém o evento, intitulado Uma Noite no Pátio da Taverna, prometia, uma vez que contava com o apoio da Prefeitura do Recife.
Juntamente com um pessoal de minha cidade, me dirigi para Recife, um pouco atrasado e já temendo perder o início do evento, que ocorreria a céu aberto e com entrada franca. No meio do caminho uma forte chuva, e isso aumentou minha preocupação, afinal poderia afastar o público e afetar a performance das bandas. Felizmente a chuva se foi e quando chegamos o céu estava aberto, sinal de que tudo correria normalmente.
Um público modesto se aglomerava no Pátio de São Pedro, público esse bem eclético e apresentando alguns curiosos. Pude perceber que a sonorização disponibilizada era de alto nível e o palco estava bem montado e com um bom tamanho. Então esperamos mais algum tempo e as 21:25 horas a primeira banda começou sua apresentação, ou seja, com pouquíssimo atraso...
A Obscurity Tears foi à responsável por dar início às apresentações. Antes de a banda começar a tocar um locutor fez a apresentação da banda, lendo um histórico da mesma. Feita a apresentação ouvimos uma “Intro”, logo seguida de “Sad Existence”, música presente na Promo “My Chemical State”, a qual o quinteto vem divulgando com bastante ênfase. Com esse início já deu para perceber que a sonorização estava excelente, apesar de algumas microfonias teimar em querer aparecer. A Obscurity Tears é uma banda que acompanho já faz bastante tempo e já vi diversos shows após o lançamento da Promo, porém sempre me impressiono a cada performance que vejo, pois a banda mostra segurança e uma sonoridade cada vez mais cativante. Até a vocalista Márcia Raquel, que antes se mostrava bem tímida em palco, está bem desenvolta, mostrando boa movimentação e procurando se comunicar com o público. O show continuou com músicas presentes na Promo: “Prisoner in Itself”, “Ashes of a Paradise” (não canso de ouvir essa música, que traz uma forte carga de ‘feeling’. Maravilhosa!) e “My Chemical State”. Com a sonorização jogando a favor, a banda fez um ‘set’ irrepreensível, e tocando músicas de todas as suas fases, como “Crying in Silence” e “Memory’s Garden”. A boa surpresa foi a execução da longa “Decay of a Supreme One”, com boa intercalação de vocais limpos de Márcia e agressivos do baixista Flávio Brito. Para coroar a apresentação da Obscurity Tears mandam “A National Acrobat” do velho Black Sabbath. Como mencionei no início, essa banda me impressiona a cada show que vejo.
Cerca de 15 minutos após o fim do show da primeira banda, a Gandavo sobe ao palco, e também fez uso de uma “Intro” para começar sua apresentação. O nome da “Intro” é bem curioso: “Arreganhando as ‘Porteira’ of Hell With Fire”. No show do trio, formado por Joabson Branntwein (guitarra e vocais), João Andrade (vocal e baixo) e Rodrigo Driguer (bateria), houve a ‘ameaça’ de a chuva voltar, mas após alguns minutos, e alguns pequenos chuviscos, tudo voltou ao normal. Tive a informação de que a banda estava parada há cerca de dois anos, e talvez isso tenha afetado um pouco em sua performance, já que os músicos pareciam um pouco inseguros. Nada que atrapalhasse o show, mas o público ficou meio morno, apenas olhando o show. A Gandavo caminha pelos lados do Power Metal, com uma pegada peculiar, carecendo de um pouco mais de ‘punch’ nos vocais de João Andrade. O ‘set list’ contou apenas com músicas próprias, entre elas “Human Avarice”, “King or Pawn” (com início arrebatador, e andamentos bem pesados). Nota-se que a banda procura inserir momentos mais melódicos em sua sonoridade, mas prefiro os andamentos mais agressivos que a banda apresentou. Antes de soltarem “A Triste Sina”, o vocalista João Andrade fez um pequeno discurso falando sobre a importância das bandas Angra e Sepultura para a cultura brasileira, e a dedicou para Pernambuco. Após isso uma bandeira do nosso estado ficou estendida sobre um dos retornos de palco. O ‘set’ foi complementado com “Time to Break The Circles”, “Deliverance Isn't Freedom” e “Wisdom or Gold”. Achei o show da banda correto, mas uma segunda guitarra e um pouco mais de ‘punch’ nos vocais dariam um ganho bem maior a Gandavo. Espero ver mais shows dessa banda, que me chamou bastante à atenção.
Mais alguns pequenos ajustes em palco, e chega a hora da Pandemmy fazer seu show. A banda tem pouco tempo de formação e recentemente lançou sua primeira Demo, “Self-Destruction”, então era de se esperar que o seu ‘set list’ fosse baseado nesse trabalho. E não foi diferente, abrindo com “In Front Of Death”, música de bases pesadas e andamento denso. Death Metal bem trabalhado, e com boa postura da banda em palco. Mesmo baseando seu som no Death Metal, nota-se uma influência muito forte do Thrash Metal nos andamentos das músicas, como ouvido em “Burn My Clan (The Lines Of Violence)”. A mescla é bem feita, o que dificulta dizer se a banda faz um estilo com influência do outro ou vice-versa. Como a Demo só apresenta quatro músicas, era de se esperar que o ‘set’ contasse com algum cover e eles vieram com “In League With Satan” do Venom e “Ace Of Spades” do Motörhead. Covers bem executados, que deixou o público bem instigado. Aproveitando a reação dos presentes, mandaram mais uma de autoria própria: “Heretic Life”, com as guitarras de Pedro Valença e Diego Gomes apresentando riffs nos moldes da ‘velha escola’ do Death Metal, e a ‘cozinha’ formada por Fausto Prieto (bateria) e Augusto Ferrer (baixo) dando uma acelerada no andamento, numa linha mais Thrash Metal. Já o vocalista Rafael Gorga mostra versatilidade, alternando momentos mais graves/agressivos, com algo mais gutural. Antes mesmo do término do show do Pandemmy pude ouvir alguns dos presentes fazendo elogios a banda, o que não era para menos. A sonorização também ajudou, deixando o som bem definido. A penúltima música foi uma nova, intitulada “Involution Of A Lost Society”, um verdadeiro arregaço Thrash Metal, com velocidade beirando o Hardcore, que deixou alguns boquiabertos. O final veio com a excelente “Self-Destruction”, outra pancada impiedosa. Pretendo ver o Pandemmy muitas vezes ao vivo!
A banda responsável por finalizar o evento foi a Cangaço, banda que vem ganhando bastante espaço na cena Heavy Metal recifense, em razão da alta técnica de seus integrantes e da música peculiar que o trio formado por Magno Lima (baixo e vocal), Rafael Cadena (guitarra e vocal) e Arthur Lira (bateria) faz. Como o próprio nome da banda diz, ela procura traçar uma sonoridade entre o peso do Thrash/Heavy Metal com andamentos de música da nossa região, mas de forma bem natural, o que é mais importante. Após uma “Intro” mandam “Logical Mistake”, música de passagens bem intricadas, que mostra todo a técnica e poderio da banda. Já “Devices of Astral” veio para mostrar como se faz uma sonoridade com ritmos regionais sem soar forçado. Thrash/Heavy Metal de alta qualidade e com forte influência da música regional nordestina, mais precisamente do baião, porém sem nenhum dos ritmos se sobressair aos outros. Os vocais são bem divididos entre Magno e Rafael, e Arthur é bem preciso na condução de sua bateria, marcando o andamento não só dessa música, mas de pérolas como “Ghost of Blood”, “Corpus Alienum” e “Mind Genocide”. E para mostrar que não ficam no lugar comum, até os covers foram inusitados, sendo o primeiro para “Devious Instinct” do Monstrosity e o outro para “Through the Eyes of Greed” do Sadus. “Opposing” e “Bersekers of Apocalypse”, ambas de autoria própria, vieram na sequência. Era espantoso ver a qualidade da Cangaço, que até em passagens mais simples de sua sonoridade mostrava uma técnica invejável. O final veio com mais um cover inusitado: “Pull the Plug” do Death, com Rafael nos vocais. Essa banda tem muita lenha para queimar e um potencial poucas vezes visto em bandas de nosso país.
O evento ocorreu de forma satisfatória até o final, e até um princípio de confusão foi logo contornado, não manchando o bom andamento do festival. Sempre é de se esperar algum tipo de confusão num local que aglomera muita gente, alguns deles estando ali apenas por curiosidade ou até mesmo com ‘segundas intenções’.
Apesar de ser um evento ‘open air’, com entrada franca, e uma sonorização de alto nível disponibilizada para as bandas, o público não compareceu num número tão grande. Não foi decepcionante, mas esperei mais gente no local, principalmente dos ditos Headbangers recifenses. Mas ficar em casa vendo programas televisivos aos sábados é opção de cada um. Sei que pude (assim como muitos que ali estavam) presenciar um evento de alta qualidade e com bandas de grande potencial, fazendo apresentações muito boas. Que ocorram mais eventos desse tipo e que os organizadores possam ter sempre o suporte, seja do Governo do Estado, Secretaria de Cultura ou das próprias prefeituras.