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Entrevistas

ALTERA O
TAMANHO DA LETRA
 

Recife Metal Law - O seu portal de informação!

 

SOTURNUS



A banda Soturnus, surgida em 2000, na capital paraibana, começou suas atividades no Underground fazendo uma sonoridade voltada ao Gothic Metal. Com o passar dos anos e com o lançamento de seu primeiro álbum (“When Flesh Becomes Spirit”) – já sem os vocais femininos – a banda deu uma guinada em sua sonoridade, trazendo uma música mais voltada ao Death/Doom Metal e um aprimoramento musical incrível. A sequência de álbuns sofreu um hiato, mais em conta de alterações na formação da banda, principalmente com a saída de um dos fundadores, Rafael Basso. Mas, mostrando que evolução musical é a tônica do Soturnus, a banda lançou, em 2013, o excelente “Of Everything That Hurts”, um álbum que mantém o que já fora feito no álbum anterior, porém com mais amadurecimento musical e mostrando que o Soturnus é um dos grandes nomes do estilo em terras brasileiras. Atualmente a formação da banda é Guilherme Cavalcanti (baixo), Eduardo Vieira (bateria), Andrei Targino e Eduardo Borsero (guitarras) e Rodrigo Barbosa (vocal). Guilherme e Andrei nos fala um pouco mais sobre o novo álbum e sobre a carreira da banda na entrevista a seguir.

Recife Metal Law – “When Flesh Becomes Spirit” foi o ‘debut’ álbum do Soturnus, lançado de forma independente em 2006. Foram sete anos até que o segundo álbum fosse lançado. Então, como foi o processo de divulgação desse primeiro álbum, tendo em vista que a banda, como mencionado, o lançou de forma independente?
Guilherme Cavalcanti –
Em 2006 a banda funcionava com outra estrutura. Éramos quatro integrantes. A divulgação estava correndo seu ritmo normal, com shows, boas resenhas nos veículos especializados e uma grande interação e contatos com as outras bandas do estilo. Essa sistemática durou até 2008, quando tivemos uma mudança muito grande na formação da banda. Rafael Basso saiu e tivemos que reformular tudo. Isso fez com que parássemos com os shows até a formação se estabilizar, o que só ocorreu no fim de 2009. Dessa forma, tivemos um período sem shows, fazendo a divulgação apenas com nossos contatos, entrevistas e resenhas. No final, acho que poderíamos ter uma maior repercussão do trabalho, mas distribuímos bem o disco, fizemos shows em muitas cidades e as resenhas foram todas muito positivas.

Recife Metal Law – Logo após o lançamento do ‘debut’, um dos membros fundadores da banda, Rafael Basso, deixou seu posto de vocalista/guitarrista, já que teve que sair do país. Rafael era um dos principais responsáveis por criar as músicas do Soturnus. Com a saída dele, houve algum tipo de preocupação com a parte sonora da banda, digo, de continuar a fazer um som nos moldes que ele criava em suas músicas?
Guilherme –
Com a saída de Rafael nos preocupamos bastante com o direcionamento que banda iria seguir. Sempre conversamos bastante sobre como o novo trabalho deveria soar. Fizemos uma verdadeira imersão em nossas influências para começar a compor o novo trabalho. Obviamente, não poderíamos copiar a maneira de Rafael compor, mas queríamos seguir o mesmo direcionamento.

Recife Metal Law – No final de 2013 a banda lançou seu segundo álbum, “Of Everything That Hurts”. Entre um álbum e outro foram sete anos de intervalo. Como foi todo o processo criativo desse novo álbum?
Guilherme –
Depois que estabilizamos a formação e tínhamos as músicas ensaiadas para os shows, nada mais natural do que começar a compor músicas novas. Com os novos integrantes e, também, o advento da tecnologia o processo de composição mudou um pouco. Antes acho que levávamos mais tempo para compor uma música, testando e compondo riffs ou até músicas praticamente inteiras, saindo do zero, nos ensaios. Para o novo álbum, muitas coisas eram mostradas já pré-gravadas e isso facilitava imensamente a dinâmica no ensaio. Não se perdia muito tempo passando as músicas uns para os outros. O processo continuou como antes, bastante democrático, só que mais ágil. O resultado foi satisfatório; acredito que conseguimos manter a essência do direcionamento musical colocando a forma de compor e tocar dos novos integrantes. O álbum soa como um álbum do Soturnus, com o amadurecimento dos membros originais e o frescor e vitalidade dos dois novos integrantes. O hiato deu-se muito mais pela dificuldade em encontrar uma parceria para lançar o disco do que para compor e gravar.

Recife Metal Law – Devo dizer que “Of Everything That Hurts” mantém as raízes do Soturnus intactas, porém carregando ainda mais no feeling e mostrando uma evolução espantosa. A que se deve isso? A uma troca de experiências ou é razão de muitos ensaios?
Guilherme –
Primeiramente, passou-se sete anos entre os discos. Com isso nos tornamos músicos mais experientes. Sabíamos o que esperar um do outro e isso tornou todo o processo bem mais confortável. A evolução ocorreu de forma natural. Fora isso, nós sempre ensaiamos bastante e tentamos manter um ritmo constante nos ensaios.
Andrei Targino – O direcionamento artístico sempre foi uma das principais preocupações do Soturnus durante o processo de composição. Nós entendemos que sempre há espaço para se desenvolver, procuramos escrever músicas honestas, que consigam transmitir de maneira cada vez mais efetiva a densidade emocional que tentamos imprimir nelas. Foi com base nesse espírito que submetemo-nos a esta “imersão criativa”, por assim dizer, na produção do “Of Everything That Hurts”, lapidando com cuidado o que seria a sutil, mas presente transição sonora do “Death/Gothic” com elementos de Death melódico praticado anteriormente, para o “Death/Doom” que propomos hoje em dia. Essa é uma característica que estará sempre presente conosco. Na hipótese de um provável terceiro disco, essa retórica também será verdadeira.

Recife Metal Law – A parte lírica da banda sempre foi muito bem escrita, e nesse novo álbum não foi diferente. Quais são as temáticas abordadas nas letras? O que mais influencia na hora de criar uma letra?
Guilherme –
Sempre nos preocupamos em fazer tudo da melhor maneira possível no Soturnus e com a parte lírica não poderia ser diferente. Tenho sempre a preocupação não “escrever por escrever” e nunca apenas jogar as palavras para preencher a música de forma aleatória. O tema principal são as dores e paixões humanas, sejam elas físicas ou espirituais. Quando penso sobre as influências, a primeira coisa que vem em mente é a segunda geração romântica brasileira, com Alvares de Azevedo e Fagundes Varela, por exemplo. Em segundo plano, mas não menos importante, vem um movimento chamado de Psicodélica Nordestina, que teve como expoentes músicos incríveis como Zé Ramalho, Alceu Valença, Lula Cortês e a banda Ave Sangria, e aconteceu nos anos 70, principalmente em Pernambuco. Só depois disso é que o Rock/Metal aparece e com ele aparecem bandas como Paradise Lost, Anathema, My Dying Bride, Katatonia e o próprio Black Sabbath.

Recife Metal Law – O álbum passeia por diversos estilos, porém os mais latentes são o Doom e o Death Metal. Vocais limpos e agressivos aparecem naturalmente numa mesma música, assim como o instrumental, por vezes, chega a ser bem ríspido, como ouvido em “The Shame Within”, com andamentos beirando o Black Metal. Fazer essa mescla não deve ser algo fácil, mas o feeling garante para que cada música soe verdadeira. Feeling, musicalidade e técnica podem andar juntos e o Soturnus demonstra isso...
Guilherme –
Acredito que essa tríade nunca deve ser separada. A técnica sem o feeling não é nada. Se analisarmos um som que não é necessariamente extremo, como o Soturnus, aí é que isso deve ser levado ainda mais em conta. A técnica deve ser um instrumento, um caminho para que consigamos executar o que o feeling e a musicalidade estão nos pedido ou apresentando.
Andrei – Como a própria “The Shame Within” é uma das músicas cujo instrumental foi concebido por mim, acredito que posso tentar dar uma luz acerca do assunto. Na verdade, a resposta é bastante simples: usamos apenas os riffs que, no momento em que foram escritos, soavam especiais. No Soturnus nós não “enchemos linguiça”, só entram na versão final das músicas as partes que realmente mereceram essa atenção, segundo critérios internos da banda.

Recife Metal Law – O título do álbum quer dizer, numa tradução livre, “Tudo Aquilo que Fere”. A capa mostra uma árvore numa paisagem desolada e uma pessoa se aproximando dela. Como foi criada a concepção da capa? Há alguma relação entre capa e título?
Guilherme –
Trabalhamos novamente com o grande artista Gustavo Sazes.
Andrei – Acredito que a intenção de Gustavo Sazes com a capa tenha sido, de maneira simbólica, tentar expressar a amplitude das dores que afligem a existência humana através de um conceito abstrato. Não se sabe se o caminhante solitário segue em direção à árvore morta ou se ele se distancia dela, no final de tudo, o fato é que ele não tem mais realmente para onde ir, pois nada mais existe, e se nada mais existe só lhe resta um sentimento: a dor. Ou melhor, todas as dores. Por isso o disco gira em torno da temática “Sobre tudo o que dói”.

Recife Metal Law – A gravação do novo álbum passou por diversos estúdios, mas teve a produção, mixagem e masterização a cargo dos irmãos Andrei e Victor Hugo Targino. Devo dizer que toda a produção sonora ficou excelente. O resultado apresentado, no final, foi de agrado de todos da banda?
Andrei –
Sim, acredito que posso falar em nome de todos que o resultado final do disco ficou bastante satisfatório. Dessa vez fizemos opção por timbres analógicos, gravados microfonados em estúdio, usando uma Mesa/Boogie Mark V em todas as guitarras. Nada de simuladores digitais nesse disco! No entanto, a verdadeira mágica fica a cargo do meu irmão e produtor fonográfico Victor Hugo Targino, que consegue dar nova vida aos registros individuais de áudio, através de seu primoroso trabalho de mixagem e masterização, deixando o disco “com cara de disco”.

Recife Metal Law – O álbum não contou com muitas participações especiais, mas como vocês analisam o trabalho dos músicos Rodrigo Guimarães, Victor Hugo Targino e de Samara Jadi Oliveira, esta última cooperando na letra de “The Same Within”?
Andrei –
Por serem amigos nossos de longa data e músicos bastante talentosos, convidá-los para nos auxiliar e colaborar com nosso trabalho foi algo que aconteceu de modo natural. Rodrigo é um guitarrista excelente e bastante criativo, isso reflete muito bem no solo da música “Of Everything That Hurts”, cujo feeling cativante emociona desde a primeira sequência de notas. O mesmo pode ser dito de Victor Hugo Targino, que não se conformou em ser “apenas” um excelente produtor e engenheiro de som, decidiu que queria se tornar um puta guitarrista foda também. Quem se interessar, acompanhe o trabalho do cara no Instagram (@vhtarginoproduction) e YouTube (www.youtube.com/vhtargino).

Recife Metal Law – Em 2008 - acho que foi o último show da banda que eu vi - o vocalista era Marcos Meirelles. Nesse novo disco o vocalista é Rodrigo Barbosa. Eu me lembro perfeitamente do show no “III Aumenta Que é Rock”, e Marcos era excelente. Quando fui olhar o encarte do novo disco, me espantei, pois já é outro vocalista, mas com as mesmas características, ou seja, uma boa flexibilidade nos vocais.
Guilherme –
Ah é! Marcos tá tocando baixo no Metacrose hoje em dia. Ele saiu em 2009, e no mesmo ano achamos Rodrigo, “perdido” aqui por João Pessoa, sem banda!
Andrei – O barbudo foi um achado mesmo! Ele trouxe para a banda grande parte dessa atmosfera fúnebre que buscamos expressar atualmente. Além de ter sido o grande destaque das resenhas do novo álbum, possui também esse poderoso vocal grave e profundo. A gente o chama de “garganta profunda”, se é que você me entende! (risos)

Recife Metal Law – E como vocês conseguiram um vocalista com as mesmas características que os dois vocalistas anteriores?
Guilherme –
Depois que Marcos Meirelles saiu, fizemos um teste com um vocalista que não se deu muito bem com os vocais limpos, então soubemos que Rodrigo estava disponível. Ele já era fã da banda e chegou no teste já cantando as músicas. Foi uma grata surpresa.
Andrei – Marcos Meireles, grande amigo nosso de longa data, já tendo inclusive participado de outros projetos musicais paralelos com membros do Soturnus, como foi o caso do Abstinence of Pain. É uma verdadeira autoridade em vocal gutural na cidade. O cara tem o vocal mais potente que já vi na vida, sem exagero nenhum! No entanto ele precisou se afastar do Soturnus na época para se dedicar de maneira mais focada em projetos profissionais pessoais. Demos muita sorte com Rodrigo Barbosa, que conseguiu preencher muito bem a vaga deixada, contribuindo de maneira bastante significativa para a sonoridade geral da banda.

Recife Metal Law – Voltando ao álbum novo, dessa vez vocês o lançaram por um selo, o Eternal Hatred, e tem o apoio na distribuição da Voice Music. O que essa parceria vem rendendo para o Soturnus?
Andrei –
Através da Eternal Hatred, nosso selo parceiro, e da MS Metal Agency, nossa assessoria de imprensa e agentes, temos obtido um significativo retorno do novo lançamento, boas resenhas do disco, boa distribuição para os principais canais da mídia especializada. Pretendemos expandir ainda mais essa parceria com a Voice Music, que fará em breve a distribuição física do CD para lojas de departamento ao redor do Brasil.

Recife Metal Law – Uma banda da Paraíba – Warcursed – recentemente fez uma tour na Europa. Pelo visto está sendo mais fácil uma banda excursionar na Europa do que no seu próprio país. O Soturnus pretende fazer algo nesses moldes, para divulgar o novo álbum?
Andrei –
Na verdade os caras do Warcursed tocam feito uns loucos em qualquer lugar! (risos) Eles não perdem a chance de mostrar o bom trabalho que fazem, seja onde estiverem e a excursão na Europa foi um merecido reconhecimento desse esforço. Sobre a situação das turnês no Brasil o que vemos é que os agentes e produtores do Underground precisam se consolidar mais, abrir canais de comunicação permanente uns com os outros e estabelecer um verdadeiro circuito Underground, onde bandas sérias que trabalham de verdade pelo Metal tenham a oportunidade de divulgar os seus trabalhos, fortalecendo cada vez mais a força do nosso Heavy Metal nacional. Ou se faz isso ou teremos boas bandas com bons materiais, todos parados em casa, sem oportunidades, o que é uma verdadeira tragédia para quem gosta e apoia de verdade o Metal nacional.

Recife Metal Law – O que se esperar do Soturnus para o ano de 2015?
Andrei –
Para 2015 temos um EP que visa complementar as diretrizes dadas pelo “Of Everything That Hurts”, propondo um resgate do nosso passado.

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Marcelo Gomes


Site: www.soturnus.com
 
 
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