Evento: Death Angel em Recife Data: 30/10/2010 Local: Clube Internacional do Recife. Recife/PE
Bandas: - Cruor (Thrash Metal/PE) - Death Angel (Thrash Metal/EUA)
Resenha: Valterlir Mendes e Thiago Pimentel
Fotos: Valterlir Mendes
Após várias mudanças de local e a notícia de que o público nos shows do Death Angel, em sua turnê pelo Brasil, estava sendo bem pequeno, finalmente, no Clube Internacional do Recife, o evento foi realizado, para a alegria do pequeno público que lá compareceu. Acho que o público não chegou aos 500 pagantes, porém foi bem maior que o público que os shows da banda vinham recebendo em sua tour brasileira.
Numa bela produção de palco, com bom jogo de iluminação, e uma sonorização beirando a perfeição, a Blackout Discos honrou sua parte e cumpriu de forma mais que satisfatória seu lado, na produção. Era de se esperar bons shows, tanto da banda de abertura, como da banda principal.
O Clube Internacional do Recife é um ótimo local, mas uma pena que um dos lados tenha sido fechado, o que fez aumentar o calor lá dentro, ainda mais nessa época do ano, em uma cidade tipicamente de temperaturas altas, como Recife.
Com uma hora de atraso sobe ao palco a banda pernambucana Cruor, que vem numa boa crescente de shows, inclusive abrindo para grandes nomes da cena mundial do Thrash Metal, como foi o caso do Megadeth, e agora o Death Angel. Após uma “Intro” e sem muitos rodeios, a banda fez o que sabe fazer muito bem: detonou com seu furioso Thrash Metal, mesclado a partes clássicas do estilo e andamentos bem técnicos. De início achei o som muito bom, porém com o passar do show notei que a guitarra de Túlio Falcão ficou um pouco saturada, e de difícil entendimento. Mas nada que pudesse conter a empolgação da banda, que tinha ótima movimentação em palco e, só para variar, com o vocalista Wilfred não parando um só segundo, o que contagia ainda mais o público. O público se mostrou um pouco contido no início, mas o Cruor, com uma performance furiosa, e executando petardos como “Whitechapel”, “Septem Sermones Ad Mortuos” e “Slow Death Machine”, tratou de fazer o aquecimento dos presentes, que chegaram a se arriscar em algumas pequenas rodas de moshes. Como sempre mandaram os covers para “Escape to the Void”, do Sepultura (prejudicado pela sonoridade ‘embolada) e “Postmortem” do Slayer, que foi emendado a “Seca”, que é de autoria da banda e tem uma ‘levada’ bem parecida com o clássico do Slayer. Enfim, mais uma ótima apresentação dessa veterana banda pernambucana, que mostra ter cacife para tocar ao lado de qualquer banda, seja ela de grande, pequeno ou médio porte.
Um detalhe curioso foi o fato de alguns membros do Death Angel - Ted Aguilar (guitarrista) e Will Carroll (baterista) - aparecerem durante o show do Cruor para tirar fotos com os fãs e realizar pequenas filmagens. Ambos demonstraram bastante simpatia e simplicidade - muitos não perceberam quando os caras passaram em meio ao público, por exemplo.
Algum tempo após o show de abertura uma “Intro” acústica sai dos PAs, anunciando a entrada do quinteto norte-americano, Death Angel, no palco, que começa seu show com “I Choose the Sky”, música presente no novo álbum “Relentless Retribution”. Apesar de sua agressividade e rapidez, a canção não empolgou totalmente o público - para uma música de abertura, obviamente -, a empolgação veio, de fato, com a segunda canção que atende pelo singelo nome de “Evil Priest”. Os riffs desse clássico - pertencente ao ‘debut’ da banda - contribuíram para a formação das primeiras rodas de mosh e tentativas (fracassadas) de stage diving - havia uma proteção no palco que impediu a prática. A apresentação seguiu com “Buried Alive”, música relativamente recente, e “Voracious Souls” - um dos maiores clássicos da banda que teve seu refrão fácil entoado por boa parte dos presentes. Mark Osegueda detonava em palco, tanto nas vocalizações agressivas, assim como nos vocais mais limpos e até mesmo na agitação incessante. O show continua, ou melhor, tem uma pausa, e Mark aproveita para saudar o público (com um “boa noite Recife”, em português mesmo), seguido de uma interação com os presentes (em inglês). Logo em seguida emendaram duas músicas recentes: “Relentless Revolution” e “Claws in So Deep”. Ambas as canções soaram bem melhores - e mais agressivas - do que em suas versões de estúdio, principalmente a última. Faço uma ressalva para a competência dos caras no palco. Explico: a banda possui uma performance muito similar ao que é encontrado nos álbuns de estúdio - em especial Mark Osegueda, que ‘bangueava’ seus gigantes dreads sem parar. É incrível como o cara - ainda - faz com tranquilidade todos aqueles vocais. Ah, ele também foi um dos poucos que acertou a pronúncia do nome da cidade. A partir daí o que se teve foi um desfile de clássicos, músicas como: “Seemingly Endless Time”, “Stop” e “3nd Floor”, fizeram o tempo passar bem mais rápido. Essa última possui um dos refrões mais bacanas da banda – ‘Welcome to the third floor (...)’ - e, em minha opinião, foi uma das mais marcantes do show. A apresentação seguiu com canções mais recentes, entre as quais se inclui a rápida “This Hate” e, canções já não tão novas, que marcam o retorno - com o álbum “The Art Of Dying” (2004) e “Killing Season” (2008) - com as faixas “Thrown to the Wolves” e, finalmente, “Lord of Hate”. Ambas as músicas foram pontos altos da apresentação, sendo as canções mais reconhecidas - e comemoradas - pelos presentes. Em especial a carismática - dedicada a Saddam Hussein - “Lord of Hate”, cujo início foi comemorado desde sua intro acústica. Depois os ânimos diminuíram um pouco e houve espaço para outro clássico: “Falling Sleep” e “Truce” - também do álbum novo - anunciada por Rob Cavestany (guitarrista, vulgo “Liu Kang”). Depois de “Truce” houve um intervalo para, o avassalador, encore que estava por vir. Mark Osegueda faz um discurso para o pessoal, em especial a galera do moshpit, e anuncia o clássico “Thrashers”. Não precisa nem comentar como os homenageados agradeceram, certo? Houve ainda espaço para “Bored”, uma excelente música, mas que diminuiu o ritmo e não foi tão bem recebida como merecia. A apresentação fechou, insanamente, com “Kill As One”, cujo ‘anúncio’ foi feito pela intro da também clássica e que infelizmente não foi tocada na íntegra, “The Ultra-Violence”. Não tem nem o que comentar sobre “Kill As One”, talvez o maior clássico do grupo... A canção é puro Thrash Metal e tem um refrão soberbo. Enfim, ‘destruiu’ o que ainda restava do Internacional. Os músicos foram simpáticos, distribuindo palhetas, baquetas. Já não bastasse a apresentação em si, Will Carroll quase destruiu um lustre da casa ao jogar uma baqueta para a plateia, após o fim do show. Em suma, uma apresentação impecável. Diria que foi capaz de impressionar até quem desconhecia a discografia dos caras. Um grande mérito foi a ausência de erros, tudo foi perfeitamente executado pelo quinteto.
Depois da apresentação é fácil concluir que um show do Death Angel é essencial para qualquer fã de Thrash Metal; fazer comparações com outras apresentações é sempre perigoso, mas fui a outros shows do gênero - de bandas que eu aprecio mais, inclusive - e nenhum me impressionou tanto como este.
Parabenizo a produção do evento que, depois de várias mudanças no local de apresentação da banda, realizou o concerto sem cogitar - ao menos para o público - a possibilidade do cancelamento do show. Na lista de locais se incluem: o Armazém 14 - condenado por conta do estado de conservação do teto - e o clube de shows na Ilha do Retiro - cancelado pelo local ser ponto de votação.