Evento: December’s Metal Fest Data: 18/12/2010 Local: Bomber Rock Bar. Recife/PE
Bandas: - Firetomb (Thrash Metal – PE) - The Ax (Thrash Metal – PE) - Cruor (Thrash Metal – DF) - Cangaço (Folk/Death/Thrash Metal – PE) - Subinfected (Grindcore – PE)
Resenha: Valterlir Mendes e Thiago Pimentel (Cangaço)
Fotos: Fagner Figueiredo
Com relação aos shows de Heavy Metal em território pernambucano, em 2010 o ano foi bem produtivo, haja vista o bom número de eventos que ocorreram, tanto de bandas Underground (locais e de outros Estados), como de maior porte. Notei que houve uma boa evolução e a produção dos eventos realizados sempre se mostraram preocupados com a sonorização dos shows, o que agrada a todos, principalmente ao público que comparece para prestigiar tais eventos. Já o público, como sempre, oscila bastante, às vezes comparecendo, outras vezes apenas reclamando. Algo já habitual, o que uma pena.
O “December’s Metal Fest” viria a ser o último evento do ano, mesmo que outros eventos tenham ocorrido após este. Porém o intuito desse festival não era pra ser o último evento do ano e sim comemorar o aniversário do atuante designer gráfico (e vocalista da banda Inner Demons Rise) Alcides Burn. E pra isso ele convidou bandas que mostraram força no meio Underground pernambucano durante o ano de 2010, algumas novatas (e promissoras), outras já veteranas no meio. A festa estava pronta e quem lá esteve com certeza teve uma boa impressão do evento.
Antes dos shows, o aniversariante ganhou bolo e velinhas para soprar, além do tradicional “parabéns pra você”. Alcides preparou a festa e os convidados (mesmo que pagando os ingressos e as bebidas – afinal não levaram presentes – risos) estavam bem à vontade e se divertindo, antes mesmo das bandas começaram a fazer seus respectivos ‘sets’.
A banda responsável por começar as apresentações foi a Firetomb, que teve bastante destaque no cenário Pernambucano, após o lançamento de seu primeiro álbum, “Hellvolution”. Logo nos acordes iniciais de “Between Heaven and Hell” já deu para notar que a sonorização, apesar da humildade da aparelhagem, estava muito boa, deixando tudo soando nítido. Com uma boa postura em palco, a banda detonou seu Thrash Metal, que ganhou bastante fúria em temas como “Hellvolution” e “Fallen Man”. Porém, mesmo presenciando um show forte e correto, o público estava bem apático, algo que mudou um pouco quando a banda mandou dois covers na sequência, covers de sua principal influência: Slayer. “Jesus Save” (com presença de Alcides dividindo os vocais) e “Seasons in the Abyss” fez abrir as primeiras rodas de moshes, mesmo que de forma tímida. O show transcorreu bem energético, mesmo sem muitas novidades, se comparado aos shows anteriores da banda. O fim veio com “To Kill or to Die”. Agora é esperar que a banda possa expandir, em 2011, sua sonoridade para outros Estados brasileiros, afinal potencial o quinteto formado por Lucas Moura (vocal), Marcos Paulo e Randal Silva (guitarra), Risaldo Silva (baixo) e Luciano Silva (bateria) tem.
São 24 anos de dedicação ao Metal pernambucano, mesmo que só agora em 2010 tenha lançado seu primeiro álbum, “Postcard From Hell”. O The Ax é o que se pode chamar de uma banda ‘cult’, pois mesmo com todos os anos de atividades nunca foi de lançar muitos materiais. O show da banda foi bem longo, apresentando um ‘set’ com muitas músicas, começando pela lendária “The Crematorium Waits For Us” (faixa que dá título a sua primeira e única Demo). Contando com uma sonorização muito boa, nítida e que deixou o seu som bem denso, o trio formado por Washington Pedro (guitarra e vocal), Hermírio Paulino (baixo) e Ricardo Lacerda (bateria), fez um dos melhores shows que pude presenciar da banda. Alguns não gostam muito da sonoridade do The Ax pelo fato da banda dar maior ênfase na parte instrumental, com pouca utilização dos vocais graves de Washington, que por vezes lembram o Lemmy (Motörhead). Mas aí já é gosto pessoal. Eu, sinceramente, aprecio bastante, e é muito bom poder ouvir temas como “All Tolerance”, “Generation” e “Instrumental to the Grave’s Diggers”, sendo executados ao vivo. A banda traz um misto do velho Rock N’Roll, sujo e visceral, com o velho Thrash Metal em seu som. Só faltou um pouco mais de movimentação em palco, mas volto a mencionar: um dos melhores shows da banda. O ‘set’ ainda contou com dois covers: “Legal Rapes” (Unleashed) e “In the Name of Tragedy” (Motörhead).
O público durante o show do The Ax também se mostrou contido, sem agitar muito, mas com a entrada de outro veterano no palco, o Cruor, era de se esperar que houvesse uma maior agitação. A banda fez grandes shows em 2010, abrindo para nomes como Megadeth e Death Angel, e vem ganhando bastante notoriedade, até mesmo em razão das insanas apresentações, capitaneadas pelo não menos insano vocalista Wilfred Gadêlha. E sempre que vou ver um show do Cruor, reparo logo para o palco, e como o palco do Bomber Rock Bar é pequeno, fico prestando atenção em Wilfred, já que o cara não pára um só minuto, seja agitando com o público, batendo cabeça, dando pulos ou correndo de um lado para o outro. Pena o palco o deixar um pouco “preso” nesse show. Porém nada que viesse a tirar a energia passada pela banda. No ‘set’ houve uma pequena alteração, não com músicas diferentes de seus shows anteriores, mas com uma mudança na ordem das músicas. “Seca” foi à responsável por dar início ao ‘set’, logo seguida de “Septem Sermones Ad Mortuos”. É notório que as músicas da banda ganham uma dose cavalar de peso e agressividade nas apresentações ao vivo, talvez por isso alguns dos presentes começaram a se arriscar nas rodas, no perigoso e escorregadio piso no Bomber. O bom é ver que a energia da banda não se resume apenas a Wilfred, mas também aos demais integrantes, que agitam bastante. E olha que o membro fundador da banda, Jairo Neto (baixo) estava adoentado, mas desempenhou com bravura seu papel e foi até o fim com a banda, que é complementada por Túlio Falcão (guitarra) e Bruno “Bacalhau” Montenegro (bateria). O “tiro de misericórdia” veio com “Postmortem” (Slayer) e “Escape to the Void” (Sepultura), que deixou a frente do palco bem nervosa. Agora só falta um novo full lenght, já que o Cruor, ao lado do The Ax, é uma das bandas mais antigas em atividades em solo pernambucano.
Após o Thrash Metal reto e visceral do Cruor surge, apresentando seu Death Metal intricado, a quarta banda da noite: o Cangaço. Este trio, sempre se destacando pelo “traje regional”, demorou um pouco para ajustar os equipamentos, mas conseguiu empolgar a plateia até durante a passagem de som - com direito a Gojira (!). A apresentação teve início com “Positivo”, canção inédita cuja letra em português - única até o momento - encaixou-se bem na sonoridade da banda. Logo em seguida o grupo continuou com - em minha opinião - uma de suas melhores músicas: “Corpus Alienum”, música que abre a Demo “Parabelo” e, além de sintetizar o som da banda, possui interessantes trocas de vocais entre Rafael Cadena (guitarra) e Magno Lima (baixo). Nessa altura a presença de palco dos integrantes e domínio sobre o ambiente/plateia já chamavam minha atenção. Durante a primeira pausa Magno aproveita pra anunciar a canção mais antiga da banda, pertencente à época de sua antiga banda (Vectrus). A linha de baixo marcante, acompanhada do riff anuncia “Ghost of Blood”. Essa música talvez seja a mais Death Metal do grupo, e “danificou um pouco” - no bom sentido - o ambiente. A próxima pausa serviu para Magno parabenizar e convidar o vocalista - e aniversariante - Alcides Burn para a brutal versão de “Devious Instinct” do Monstrosity. Versão esta que fez jus a original: bateria e riffs afiadíssimos garantiram uma ótima performance homenageando não só Alcides, mas uma banda que poderia ter sido mais reconhecida (Monstrosity). Destaco os agradecimentos do Magno para os veículos de mídia (websites, blogs, zines, etc.), foi um agradecimento bem inesperado naquele momento. Logo em seguida o grupo ataca com a ótima “Status Variabilis”, garantindo um dos maiores momentos de empolgação do público. A próxima canção foi a já clássica “Device of Astrals”. Essa música dispensa comentários, só sua introdução é de fazer cair o queixo. Para desfecho do evento houve uma incrível homenagem ao mestre Chuck Schuldiner com uma versão para “The Philosopher”. Confesso que quando vi Rafael iniciar o famoso tema em tapping de abertura fiquei muito surpreso - não imaginava a execução dessa canção - e ela caiu muito bem para a banda, levando ainda em conta que o estilo de Magno Lima assemelha-se ao de Steve DiGiorgio. Chuck ficaria honrado. Curiosamente o show do grupo era previsto para abrir O evento, mas com o sorteio - decidido de última hora pelas bandas - a banda acabou sendo a penúltima do evento. Mais sorteios introduziriam o show do Subinfected...
E nem só de shows foi feita a noite/madrugada do “December’s Metal Fest”, mas também de alguns sorteios, que incluía algumas Demos e CDs, ou seja, o público pode ser presenteado, tanto pela produção como pelas bandas. Boa iniciativa, e que de alguma forma incentiva o pessoal a ir prestigiar eventos de natureza Underground.
A última banda do festival foi a reformulada Subinfected, que agora conta com Elvis (ex-Abyss of Darkness) nos vocais, Enoch Leite e João Jr. (guitarras), Hermírio Paulino (baixo) e Ricardo Necrogod (bateria). A banda mostrou coesão e boa postura em palco, destilando um violento Grindcore, com bases Death Metal. Os riffs vinham bem postados, por vezes velozes e agressivos, por outras vezes mais trabalhados e densos. Isso é bem interessante, o que não torna o som da banda tão reto ou maçante de se ver/ouvir. Infelizmente a essa hora, além das poucas pessoas que restaram, a sonorização não era das melhores. Inclusive os vocais ficaram “bem atrás”, por vezes bem difíceis de ouvir, além das incômodas microfonias que irritavam bastante. A banda procurou fazer um ‘set’ com músicas próprias, tais como “Shot”, “Ancient Problems” e “ParaDIEse”, pena, que como já mencionado, para um público minúsculo. Porém a banda não se importou com os problemas e seguiu destilando porradas sonoras sem qualquer piedade. E numa das músicas (“Necrotic Cannibal”) o aniversariante foi convidado para subir no palco e assumir os vocais (Alcides já foi vocalista do Subinfected). Quero poder ouvir/ver um show do Subinfected em condições melhores. E pelo que estou sabendo, a banda já está trabalhando no seu ‘debut’ álbum.
Um bom evento, que contou com um número razoável de presentes, e com uma boa sonorização (só vindo a falhar no último show). E já fui informado que o “December’s Metal Fest” vai contar com outras edições. Então agora é esperar o final de 2011 pra ver quais bandas farão parte do ‘cast’ do Festival. Por fim, parabéns, Alcides. Vamos comemorar muitos aniversários teu juntos!