Um festival de renome a nível nacional; preço de ingressos condizentes com a atual situação do país; local que comporta o evento de fácil localização e bem amplo – apesar da acústica atrapalhar um pouco. Só por isso já dá para animar o público a comparecer ao Abril Pro Rock. Mas não é bem assim, já que muitos esperam o anúncio com certa tensão e que sejam anunciados grandes nomes do Heavy Metal, principalmente se for de fora do país. E este ano as coisas não foram fáceis para a produção do Abril Pro Rock...
Primeiro veio o cancelamento do show do Malevolent Creation (esta foi a terceira vez que a banda cancela um show em Pernambuco) e, em seguida, veio mais uma baixa ‘gringa’, dessa vez Warrel Dane, que sofreu um acidente e teve que operar o ombro. E se uma parcela do público já criticava as atrações, essas baixas vieram como um balde de água gelada. E olha que o ‘cast’ estava repleto de excelentes nomes, mas parece que o público sempre espera por algum nome de fora do país (mesmo que não seja grandioso, mas que esteja em evidência). Assim, o receio era que o público fosse uma grande decepção, ainda mais pelas incansáveis reclamações por meio de redes sociais.
Chego ao local do evento poucos minutos antes do horário anunciado para abertura dos portões, e algumas mudanças puderam ser notadas, a começar pela entrada. A antiga ponte que ligava uma das entradas para o Chevrolet Hall não mais estava lá, então o acesso foi por outro lugar. Ah, o local ainda continua o mesmo, mas atualmente não se chama mais Chevrolet Hall e, sim, Classic Hall. Outra mudança foi na adição de mais um palco, o que comentarei um pouco mais a frente.
Por volta de 18h30 os portões se abrem para o público e não havia grandes filas, portanto sem empurra-empurra na entrada. Para o credenciamento também foi tranquilo, apesar de mais uma vez nem pedirem identificação. Enquanto eu pegava o meu credenciamento, comecei a ouvir alguns acordes, e pensei que a primeira banda havia começado o seu show, então tratei de me apressar. Mas não foi nada disso. Ainda estavam na passagem de som, então aproveitei para dar uma volta e olhar os stands. Eram diversos e com uma boa variedade de itens, para todos os gostos e todos os estilos. Também havia um local, com certo isolamento acústico, para quem quisesse participar, tocando alguns covers. Só não sei se havia algum tipo de premiação.
Como vem ocorrendo nos últimos anos, os dois principais palcos ficam lado a lado, mas, inicialmente, eles não foram usados e é aí que entra o terceiro palco, armado numa das escadarias do Classic Hall. Esse terceiro palco foi usado pela três primeiras bandas, contando com boa iluminação e um equipamento bom, apesar da oscilação na mesa de som.
Com um atraso não contumaz, quando se trata de Abril Pro Rock, as 18h50 tem início o show da banda pernambucana Confounded. Após uma “Intro” (onde o vocalista Léo Montana se contorcia e já mostrava que faria um show insano) vem a brutal “Scars of the Body”. O início veio com a guitarra de Marcelo Godoy e o baixo de Fábio Montarroios quase inaudíveis, o que foi se normalizando ao decorrer da música. A partir de então não houve pudor e a banda destilou seu Death Metal com partes brutais e viscerais, com vocais ora guturais, ora urrados e gritados, nos trazendo petardos como “Sinners” e “Carnal Disappointment”. Mas o ‘set’ não foi composto apenas por brutalidade e velocidade, já que podíamos ouvir alternância com partes mais marcadas e que fez parte do pequeno público bater cabeça em frente ao palco. Léo, como já mencionado, foi insano, do início ao fim, além de bastante comunicativo. De humor sarcástico, fez várias referências, principalmente a prostitutas (daí a música “Pussyfer”), drogas, dependência (ao café, com “Caffeine Thrills”), sexo, entre outros tópicos. A banda mostrou segurança e não se importou com o público pouco numeroso na hora de sua apresentação. Vale mencionar, também, a segurança e brutalidade emanada da bateria de Beto Nascimento. O Confounded aproveitou para anunciar que em breve seu primeiro álbum estará sendo lançado.
Como os três primeiros shows seriam nesse terceiro palco, havia um tempo para desmonte e outros ajustes, assim daria para o pessoal dar uma volta, seja para comprar algo ou até mesmo comprar a fraca (e cara) cerveja vendida no local. Mas o movimento nos bares era bem pequeno.
Por volta das 19h30 era dado início ao segundo show da noite. O Monticelli traz em sua formação os irmãos Monticelli: Artur (vocal/guitarra), Vitor (baixo) e Bruno (bateria), e vem ganhando bastante respaldo no meio Underground pernambucano. O início do show da banda, após uma introdução com som de pouso alienígena (“Invasion”) e o trio usando máscaras representando aliens, veio com “Plan B”. Assim como na banda anterior, problemas na parte sonora, só que dessa vez a guitarra ficou praticamente inaudível e as linhas de baixo bem na frente, felizmente logo resolvido. A banda faz uma mescla interessante de Hard Rock com Heavy Metal, além de se preocupar bastante com a parte visual. Os vocais de Artur são usados de forma mais limpa e grave e a banda dosa sua sonoridade, sem exageros. “Payback” é uma das músicas mais conhecidas da banda, e fez uma boa alternância entre o Heavy Metal e o Hard Rock. Já “Behind These Walls” tem uma levada mais Stoner. O público, ao seu modo, agitou bastante, e deu para perceber que a banda já tem certo público. Inclusive percebi que alguns cantavam as músicas da banda, que mesmo com o respaldo, ainda não é tão conhecida do grande público. Mas, a tirar por esse show no Abril Pro Rock, tem tudo para alçar voos maiores. Só achei estranho a retirada do backdrop do Monticelli, deixando um grande buraco na parte de trás do palco. O ‘set’ da banda contou apenas com cinco músicas (“Sympathy” e “Future Blues” complementaram), mas que foi suficiente para demonstrar que a banda tem potencial. Ainda houve tempo para um desabafo do baixista Vitor com relação à parte da imprensa “livre”, que andou “falando um monte de merda” sem ao menos ouvir a banda. O som não foi tão violento como o da banda anterior, mas as palavras foram bem agressivas.
Mais um pequeno intervalo para novos ajustes. O público, a essa hora, já era um pouco maior, mas estava bem dividido pelo amplo local. Mesmo assim, uma parte foi se aglomerar na frente do palco...
E parecia que parte desse público já sabia o que iria acontecer. “Resist” foi a responsável por iniciar o show da sergipana [maua]. Devo dizer que o público instigou bastante, logo nesse início, e a frente do palco ficou bem hostil. Até eu fiquei com vontade de ir para o meio do mosh, que foi bem insano, assim como toda a apresentação da banda. Apesar das partes mais modernas, com certo groove, a banda não se assemelha, tanto, com a cena do Metalcore, já que passa longe das chatas alternâncias de vocais agressivos com vocais limpos. O grandalhão vocalista Érico Groman tem uma forte postura em palco e agita bastante, além de seus vocais potentes e amedrontadores. Deu para notar uma banda bem postada e fazendo músicas violentas, tais como “Volatile” (com levadas interessantes, principalmente nos vocais) e “Stay With me a Little Longer”, porém de certa forma prejudicada com a sonorização, que não nos deixou ter uma audição mais apurada de sua apresentação. O [maua] ainda fez uma pequena homenagem a Chico Science, numa versão para “Samba Makossa”. A apresentação, com cerca de meia hora, ainda contou com “Breakthrough” e “Warhead”. Vale lembrar que a banda lançou o álbum, “Unconscience”, no Abril Pro Rock. Pena que a sonorização não foi tão favorável, porém a banda compensou isso com bastante energia e um show contagiante.
Findado os shows no palco sobressalente, não houve intervalo para que tivesse início o show do NervoChaos, banda bem conhecida do público Underground do Nordeste. A banda, recentemente, havia tocado em Pernambuco, ao lado do Sinister, no “Visions of Rock” em Caruaru. Assim, quem esteve naquele show, podia esperar por mais uma apresentação agressiva do quarteto (Edu Lane – bateria; Thiago Anduscias – baixo; Cherry – guitarra e Lauro Nightrealm – vocal/guitarra). A banda pegou um público já aquecido e mais numeroso, que depois da uma “intro” continuou com as rodas de mosh em “The Harvest”. Achei o som um pouco embolado no início do show, vindo a melhorar mesmo na terceira música, “Dark Chaotic Destruction”, onde os vocais de Lauro ficaram mais audíveis. Sobre a sonorização, ela ficou bem mais alta no palco principal e o jogo de luzes estava fantástico. Era esperado que o show não fosse tão longo, o que fez com que a banda mantivesse sua pegada caótica, veloz, doentia... Death Metal trazendo certa influência do velho Hardcore em alguns momentos ou até mesmo andamentos em meio tempo em outros. Como mencionei no início, a banda fazia pouco tempo que havia tocado em Pernambuco e, felizmente, pude ver aquele show. A mudança foi o palco, porque, mesmo com nova formação, a sonoridade do NervoChaos ainda continua contagiante e carregada de ‘punch’. Mesmo com um ‘set’ curto, não faltaram “For Passion Not Fashion”, “Total Satan”, “Pazuzu Is Here” (com o seu famoso chamado “deus não está aqui hoje”) e “Pure Hemp”, esta para finalizar a apresentação. O que não me deixou totalmente satisfeito foi a sonorização, que desde o início das apresentações carecia de uma melhor regulagem.
Agora com os dois palcos disponíveis, não havia intervalo entre os shows, ou seja, terminou um começou o outro. Então era chegada a hora do Sick Sick Sinners. Estava bem curioso para ver o show desses paranaenses, pois era a que mais destoava das demais, já que não era uma banda Metal ou Hardcore. Bem, isso foi o que eu pensei... Psichobilly, Rockabilly... Uma junção dos dois, com cargas pesadas de guitarras e um enorme contrabaixo pulsando sem parar. Curti bastante essa mistura insana, e ainda algo de Folk, Country e até Celtic Metal!!! O público também gostou e ficou na frente do palco para ver/ouvir temas como “Evil Cabin”, “Nitro Girl” e “Hospital Hell”. O público mostrou está se divertindo e entrou no ritmo, inclusive fazendo algumas rodas de mosh. Mesmo com a sonorização não estando 100%, deu para sacar a proposta do Sick Sick Sinners, que se encaixou perfeitamente no festival. O ‘set’ foi curto, porém contagiante, com espaço para uma bem humorada música em português: “Cadilac Podrera”. O show foi finalizado com “We are the Sick Sick Sinners”, para ninguém esquecer desse ótimo show e dessa ótima banda!
A banda seguinte abria o espaço para o Hardcore. O Questions já conta com 16 anos de atividades e é bem conhecido no meio. Sua sonoridade, tipicamente Hardcore, traz traços do velho Thrash Metal. Atualmente vem divulgando seu mais recente trabalho de estúdio, “Pushed Out... Of Society”, e o seu show teve diversas músicas desse disco, tais como “Cheap Talk”, “Rise Again” e “Out of Society”, mas, obviamente, não deixando de visitar outros álbuns de sua discografia. Mesmo com um tempo curto, o ‘set’ contou com 14 músicas. E o convite a agitar era sempre feito pelo vocalista Edu Andrade, mas o público já demonstrava sinais de cansaço. E olha que era apenas a sexta banda. Mesmo assim o Questions não se intimidou e o seu Hardcore flertando com o Thrash Metal, principalmente nos riffs de guitarra de Pablo Menna, e trazendo certa influência do RxDxPx em alguns andamentos, era um convite a agitação. A tônica de problemas no som continuou e em certos momentos parecia que o técnico de mesa estava procurando acertar o ‘ponto ideal’. Como foi um ‘set’ balanceado, os primórdios da banda foi visitado com “Union/Respect”, advinda do primeiro disco, “Resista!”. O fim veio para selar de vez a ótima apresentação do Questions, mandando um cover furioso (se é possível) para “Troops of Doom”.
Vi o final do show do Questions um pouco afastado, tendo em vista ter recebido o convite do Headbanger e jornalista Wilfred Gadêlha para uma entrevista que fará parte do vindouro documentário PEsado (sim, com o mesmo título do livro, lançado por ele). Será um documentário para TV e que tem o financiamento da Funcultura. Mais uma vez Wilfred fazendo com que o cenário “Pesado” de Pernambuco tenha um maior alcance. Esse documentário, a se julgar pelo livro, virá com uma ótima qualidade e com cenas e depoimentos interessantes. Fiquei realmente honrado de poder fazer parte do mesmo.
Voltando aos shows, houve uma mudança na ordem de apresentação das bandas e, sendo assim, a próxima banda a tocar foi a pernambucana Terra Prima, se apresentando pela terceira vez no festival. Capitaneada pelo carismático vocalista Daniel Pinho – nesse show com um visual a lá Steven Tyler – a banda mostrou mudanças significativas em sua sonoridade. O que antes era um Melodic Heavy Metal, agora tende para um lado mais Hard Rock/AOR e inserção mais intricada no instrumental, ou seja, com levadas mais Prog Metal. Como não tinha muito tempo de show, o ‘set list’ da banda contou com poucas músicas, advindas dos dois álbuns lançados. Depois de uma “Intro” mandaram “Once Upon a Time” e “Coming Home” do recente “Second”, que mostra uma sonoridade diferente, como já mencionei, e seguiram com “Await the Story’s End” do “And Life Begins”, que tem aquela levada mais Power Metal. Os vocais de Daniel, mesmo com a mudança na sonoridade do Terra Prima, ainda alcançam tons incríveis e a banda, como um todo, se posta bem em palco, com boa movimentação. Mesmo achando estranho, já que eu era acostumado com o estilo inicial da banda, o show foi muito bom e melhor ainda com o final trazendo a trinca “GateZzzZzz”, “Time to Fly” e “Life Carries On” do “And Life Begins”, numa espécie de medley.
Chamado de última hora para suprir a vaga deixada por Warrel Dane, Edu Falaschi foi a oitava atração da noite. O repertório, como havia sido anunciado, seria baseado em clássicos do Heavy Metal, ou seja, seria uma apresentação recheada de covers, a qual teve início com “Symphony of Destruction” do Megadeth. E sabemos que boa parte do público Heavy Metal adora um cover. Sendo assim, boa parte do público correu para perto do palco. Mas não foi só Edu quem cantou. Antonio Araújo (guitarrista do Korzus) fez uma homenagem ao Warrel Dane cantando “The River Dragon Has Come” do Nervemore. Também do Korzus, Marcello Pompeu cedeu seus vocais para “Creatures of the Night” do Kiss. Edu ainda mandou músicas de suas antigas bandas: Symbols e Angra, dessa última mandou “Rebirth” e “Nova Era”, e ainda cantou, a pedidos, “Saint Seiya (Pegasus Fantasy)”. Não é o tipo de show que eu gosto, mas os fãs de covers adoraram.
Notei que houve uma alternância de estilos e, tendo em vista o grande número de atrações, foi uma boa jogada, já que o cansaço seria inevitável, mas uma sequência muito grande de bandas extremas iria cansar ainda mais o público.
A atração seguinte foi o Oitão, que tem a sua frente o vocalista Henrique Fogaça, o qual ficou ainda mais conhecido por causa de sua participação no programa “Master Chef”, da Bandeirantes. Uma instrumental abriu o show da banda e Fogaça entrou com uma máscara. Acredito que o motivo não era o de não ser reconhecido, afinal ele, antes do show de sua banda, deu uma volta no Classic Hall, inclusive parando para algumas fotos. O ‘set’ do Oitão foi bem violento, com músicas de seus dois álbuns, tendo início com a devastadora “Pobre Povo” e logo seguida da não menos agressiva “Tormento”. O baterista Marcelo BA não aliviou um só segundo e tornou o som da banda ainda mais bruto, com a ajuda do baixista Ed Chavez e do guitarrista (e veterano) Ciero. Absurdamente pesada, a sonoridade do Oitão não deixou pedra sobre pedra e o público acompanhou a insanidade, já que se debatia em rodas de mosh em frente ao palco. Mesmo com a atenção mais voltada para o vocalista, a banda mostrou que é mais que isso, alternando momentos de maior rispidez com passagens mais marcadas, conseguiu manter o público agitando praticamente todo o show. Fogaça foi bem comunicativo, mas sempre passando algo de cunho social ou crítico e anunciando pedradas como “Podridão Engravatada”, “Chacina” e “Faixa de Gaza”. No palco, ao fundo, um grande backdrop, com o tema do novo álbum de estúdio, “Pobre Povo”. Além de músicas dos dois álbuns, a banda ainda mandou um cover violento para “Olho Seco”, obviamente da seminal banda Punk Olho Seco, com Canibal (Devotos) dividindo os vocais com Fogaça. O final dessa violenta apresentação veio com “Imagem da Besta”.
Continuando com a alternância de estilos, o Hardcore deu espaço para o Heavy Metal clássico do lendário Robertinho de Recife, que voltou de vez ao Heavy Metal, após anos afastado do estilo. Confesso que curtia bastante a música “O Elefante”, que o guitarrista fez participação com a cantora Emilinha, lá na longínqua década de 80. Anos mais tarde foi que tive conhecimento do Metal Mania, onde o guitarrista desfilava aquele típico Heavy Metal cantado em português, com eventual influência do Hard Rock e dos guitarristas de sua época. Esse disco, na época, não teve tanto impacto, até mesmo porque Robertinho sempre foi um músico que não se prendia a um determinado estilo, mas marcou toda uma geração. Robertinho já não tem mais aquele semblante de outrora, o tempo é implacável, porém toca muito, e como toca! Ainda mais acompanhado da bela Isa Nielsen, que manda muito bem na outra guitarra. O vocalista Lucky Leminsky segurou muito bem os vocais, inclusive em alguns tons mais altos, e ainda arriscou um chute no ar. Bem de voz e fisicamente. O ‘set list’ foi baseado no único disco lançado pelo Metal Mania e dele vieram temas como “Gata”, “Fogo”, “Corações e Pernas”, “Fantasia em Preto e Prata”, além de “Feiticeira” e “Como um Animal” que, reconheço, não saber se são músicas de sua discografia. Os covers ficaram por conta de “You’ve Got Another Thing Comin’” (Judas Priest) e “Metal Daze” (Manowar). O fim do show foi com “Metal Mania”, que reuniu no palco o pessoal do Monticelli e o guitarrista Antonio Araújo. O show terminou como uma grande festa!
Já passava da 01h00 quando a única atração ‘gringa’ do festival deu início a sua apresentação. Se eu não me engano, esse foi o último show da turnê que os belgas do Evil Invaders fizeram pelo Brasil. Acompanhando a “Intro”, uma fumaça verde no palco criava um visual interessante e quando a banda mandou “Fast Loud ‘N’ Rude” tudo estremeceu. Foi simplesmente fulminante e os moshes voltaram a surgir. A banda é Speed Metal até a última gota e o vocalista Joe (também guitarra) não poupou nos vocais gritados, tão típicos do estilo. De início as duas guitarras (o outro guitarrista se chama Max Mayhem) estavam sumidas. Felizmente não demorou para que ambas as guitarras ficassem bem audíveis. A banda fez um show simplesmente empolgante e insano. Velocidade e fúria andavam lado a lado e, no palco, a movimentação era intensa. Os caras corriam sem parar, batiam cabeça, pulavam... E, claro, isso contagia bastante o público, mesmo que parte dele estivesse jogado pelo chão. Forças ainda foram reunidas para formar rodas de moshes em “Driving Fast”, “Pulses of Pleasure” (título do primeiro e, até agora, único disco de estúdio da banda) e “Shot to Paradise”. Mesmo com músicas próprias contagiantes, o Evil Invaders abriu espaço para um cover: “Fabulous Disaster” do Exodus e em “Victim Of Sacrifice” a banda comandou uma ‘wall of death’. “Master of Illusion” veio para finalizar um show fantástico! A banda, mesmo com parte do público já exausto, conduziu sua apresentação com muita energia.
O semblante de muitos demonstrava que a noite foi longa (e que ainda não havia terminado). A essas alturas muitos corpos estavam espalhados pelo chão. A maratona de shows e, certamente, o álcool fez com que muitos não conseguissem ir até o fim...
Mas ainda havia mais shows e, após 15 anos, os gaúchos do Rebaelliun estavam de volta. O Abril Pro Rock marcou o retorno da banda aos palcos e era notório que estavam tirando um grande peso, carregado por mais de uma década. A banda já está com álbum novo, prestes a ser lançado, mas que foi disponibilizado na internet semanas atrás. Então era de se esperar que o repertório fosse bem diversificado, passando por toda a demolidora discografia da banda. Começaram com as novas “Legion” e “The Path of the Wolf”, passando por “…And the Immortals Shall Rise” e “Spawning the Rebellion” (do “Burn the Promised Land”). A banda estava com sangue nos olhos, e essa volta parece ter dobrado a energia do Rebaelliun, já que não houve espaço para momentos amenos, e o que predominava era a brutalidade em cada som tocado. Mesmo com a satisfação enorme em poder tocar novamente ao vivo, o público não respondeu a altura, seja pelo cansaço ou por estar poupando o resto das forças para os shows posteriores. Mas, claro, uma parcela do público fez questão de ficar na frente do palco, para poder ver e ouvir de perto os riffs alucinantes das guitarras de Fabiano Penna e Adriano Martini (esse substituindo Ronaldo Lima, submetido a uma cirurgia), as batidas brutais e certeiras do baterista Sandro Moreira e os vocais urrados e as linhas graves de baixo de Lohy Fabiano. Em meio às músicas de autoria própria, houve espaço para “Day of Suffering” do Morbid Angel. “The Legacy of Eternal Wrath” e “At War” vieram para fechar esse show brutal de retorno, que faltou apenas ter um público mais receptivo e menos cansado.
Realmente parecia que parte do público remanescente decidiu por poupar forças, afinal, ao anúncio doKorzus, grande parte desse mesmo público se dirigiu para frente do palco. A banda tocou pela primeira vez no Abril Pro Rock em 2007 e nove anos depois subia ao palco do evento, para um público menor do que naquele ano, porém com ares de banda principal em 2016. Quem já acompanha a banda, sabe que o seu Thrash Metal é empolgante, não se prendendo ao que a banda fez outrora. A banda se reciclou, mas não desfigurou a sua sonoridade. Tudo bem, não é mais aquele Thrash Metal dos primórdios, mas desde o “Mass Illusion” que a banda trafega por algo mais contemporâneo e técnico. Por falar em “Mass Illusion”, o Korzus está comemorado 25 anos de seu lançamento, e eu esperava que o ‘set’ fosse baseado no mesmo, porém “Guilty Silence” (do “Ties of Blood”) e “Never Die” (do “Discipline of Hate”) confirmaram que o ‘set list’ daria uma ‘volta’ em toda a discografia da banda. Vale ressaltar que a sonorização ficou muito boa, bem balanceada e numa altura correta, deixando toda a parte instrumental do Korzus bem audível. E não é que o público despertou!? Sim, lá estava o público de volta as rodas de mosh. O Korzus também fez uso de luzes verdes no palco, criando um aspecto interessante no backdrop. Antonio Araújo já está mais do que inserido no Korzus. Inclusive o guitarrista teve tempo para fazer um pequeno solo, com direito a citação ao Hino de Pernambuco. Marcello Pompeu continua com sua voz característica, algo que ficou perceptível na trinca (em forma de medley) “Mass Illusion”/“Kids of the Streets”/“Beyond the Limits of Insanity”, únicas músicas advindas do ‘aniversariante’ “Mass Illusion”. Interessante, também, a inserção das cheias de groove “Correria” e “Internally”. Ah, não posso esquecer de mencionar que Pompeu também aproveitou para comandar uma ‘wall of death’. Ele tinha boa parte do público nas mãos. Mas o que realmente mais me impressionou foi a execução de “Guerreiros do Metal”, música presente no lendário “SP Metal II”. “Legion” fechou a apresentação do Korzus e alguns riffs de guitarras chegou a me lembrar a pernambucana ChaoSphere. Será que Antonio Araújo tem algo a ver com isso?
Passando das 03h00, o Viper tinha a missão de fechar a edição 2016 do Abril Pro Rock. A essa hora uma parte do pequeno público que foi conferir o festival este ano já havia debandado. Outra parte ainda se segurava heroicamente. Deu para perceber que a banda iria fazer um show bem descontraído, e foi isso que se viu durante mais de uma hora de apresentação. Os músicos brincaram, conversaram, contaram velhas histórias e faziam isso entre uma música e outra. Assim, o show foi se prolongando, e o público, que já não era dos maiores, aos poucos foi saindo. Mesmo assim, uma pequena parte ficou em frente ao palco para ver/ouvir os velhos clássicos do Viper, num ‘set list’ baseado nos seus primeiros dois discos. E daí vieram “Soldiers of Sunrise”, “To Live Again”, “Knights of Destruction”, “Theatre of Fate” e até mesmo “Rebel Maniac”, quando Andre Matos não estava mais na banda. Por falar em Andre, talvez ele seja um dos músicos que mais participou do festival. Vez ou outra ele aparece, seja em alguma banda ou na sua carreira solo. Ainda sobre Andre, achei sua voz com pouca potência inicialmente, vindo a melhorar algumas músicas depois. Pit Passarell está bem magro, errando algumas vezes, mas se mantendo firme com seu baixo, inclusive pediu para reiniciar a parte do meio de “Living for the Night”, para mostrar que ainda manda muito bem no seu instrumento. Já o baterista Guilherme Martin e os guitarristas Felipe Machado e Hugo Mariutti mostram a mesma vitalidade de outrora. Chegando ao fim, em “H.R.”, Pit foi para o vocal e Andre assumiu o baixo, e finalizaram com um cover para “Breaking the Law” do Judas Priest. Foi um show descontraído, mas era visível que o público já não aguentava mais...
Houve muita reclamação, como mencionei lá no início, pois muitos queriam uma grande atração, de renome ou não, mas que ao menos fosse de fora do país. O Evil Invaders, única banda ‘gringa’ a tocar no festival, está apenas começando, e tem um estilo relegado ao Underground. Mas uma coisa é certa: o festival trouxe ótimas bandas, do mais variados estilos e o ponto negativo mesmo foi o grande número de atrações, afinal o público daqui não tem costume de acompanhar festivais com muitas atrações e isso acaba refletindo no final. As primeiras bandas tocam para pouca gente, assim como as últimas. Essas ainda pegando um público já cansado.
A sonorização este ano não foi das melhores, e oscilou bastante, prejudicando a audição em alguns momentos. O público girou em torno de 1500 pessoas um pouco mais, um pouco menos. E vale salientar que o festival não se resume apenas à música, já que tem diversos atrativos, seja ele visual ou de merchandising.
Ano que vem são 25 anos, e já vi que tem gente reivindicando um festival com atrações melhores. Mas para quem seriam essas atrações? Para quem fica em casa, reclamando? Para quem apoia o Heavy Metal nacional?