Pro Xrislou Over Brazil 2025 - Rotting Christ Tour
Evento: Pro Xrislou Over Brazil 2025 - Rotting Christ Tour Data: 14/02/2025 Local: Armazém 14. Recife/PE
Bandas: - Pandemmy (Death/Thrash Metal - PE) - EvokeD (Black Metal - PE) - Rotting Christ (Black Metal - Grécia)
Resenha por Valterlir Mendes
Fotos: Valterlir Mendes, Bruna Borges e Marcos Café
Após 26 anos, o Rotting Christ voltou à capital pernambucana. A banda tocou pela primeira - e até então única - vez, em Recife, em 1999. Naquela oportunidade eu não pude participar do evento. A internet, no Brasil, engatinhava, e as informações eram na base dos flyers - que por muitas vezes chegava muito tempo depois de o show já ter ocorrido - e dos cartazes. Vez ou outra havia anúncio em rádios, tais como a Transamérica ou a Rádio Cidade, que eram rádios que, na época, divulgavam eventos relacionados ao Rock e ao Heavy Metal.
Os gregos estão em uma extensa turnê pelo Brasil. Após o ano de 1999, a banda já tocou outras vezes no Brasil, incluindo uma vez na capital potiguar: Natal. Dessa vez, Pernambuco entrou na rota e os que foram em 1999 receberam com entusiasmo a notícia da nova vinda da banda para o Estado. Claro, quem não teve a oportunidade de ver a banda na ocasião (alguns eram bem jovens, outros nem nascido, e alguns que não puderam ir mesmo), teriam a oportunidade de ver o Rotting Christ em ação.
Dia 14 de fevereiro de 2025, uma sexta-feira... A capital pernambucana, há um tempo, sempre recebia shows aos sábados, mas de um tempo para cá isso mudou. E sabemos que isso, de certa forma, atrapalha a ida de muita gente, principalmente daqueles que moram no interior e até mesmo em outros Estados. Mesmo assim se esperava um bom público.
Peguei a estrada (com mais dois amigos), saindo do interior (Macaparana), dista 120 quilômetros da capital, com uma boa antecedência para chegarmos a tempo de conferir todos os shows. Sem pegar engarrafamento, algo atípico numa sexta-feira, ainda mais numa capital, chegamos ao local do evento, o Armazém 14 (que vem abrigando os eventos de médio porte em Recife), às 19h50. Foi o tempo de comer algo e se dirigir para a frente do Armazém 14. O movimento era tímido e ao chegar fui informado que os portões ainda não haviam sido abertos. Então, esperei mais um pouco, foi quando recebi a informação de uma segunda pessoa que os portões, sim, já tinham sido abertos, no horário anunciado, às 19h00. Corri para ver a primeira banda em ação e ao chegar no local de credenciamento da imprensa (mesmo local de venda de ingressos), fui informado pela produção que o show do Pandemmy acabara de terminar. Uma pena, pois eu estava querendo muito ver essa volta da banda para os palcos em Pernambuco, sua terra natal. Posteriormente fui informado que a produção antecipou todos os shows, em razão de a banda principal ter que pegar um voo no sábado, logo cedo, para continuar sua turnê.
A segunda banda de abertura da noite foi a EvokeD, também pernambucana, tendo a frente Sorcerer Do’Urden (vocal/guitarra), acompanhado de Axel (baixo) e Apophis (bateria). A banda surgiu em 1997, parou em 2000, voltou em 2019 e, agora, em 2025, acaba de lançar seu álbum de estreia, “Warfare of the Gods”. Às 20h25 uma “Intro” anuncia o início do show da EvokeD, com a banda adentrando ao palco e Sorcerer Do’Urden e Axel empunhando espada e machado, num visual bem carregado, usando ‘corpse paint’ e vestimentas que nos remetem aos anos mais profanos do Black Metal. A primeira música a ser executada foi “Sword of Abyssal Shadows”, um Black Metal mais ríspido, com uso de vocalizações mais ‘rasgadas’, e andamento mais veloz. Esse início de show contou com problemas no baixo de Axel, o qual não se fazia ouvir e teve que ser trocado no decorrer da música, tudo de forma bem rápida. “Assassins of Hades” manteve o mesmo ímpeto agressivo da música de abertura e o público pode ouvir até algumas vocalizações mais graves. Já “The Binding of the Evil One” é um som com andamento mais marcado e tétrico, mostrando que a banda não faz apenas um som ‘reto’. O show, que durou 30 minutos (ainda contou com as músicas “Warfare of the Gods” e “Older Than Time Star”), apresentou uma auramaligna, como deve ser no Black Metal. A EvokeD lançou mão de alguns samples, muito bem feitos, diga-se. E não há como se impressionar com a velocidade e destreza de Apophis (Beto, também Infested Blood, Féretro, entre outras). O palco ainda contou com dois estandartes (um de cada lado) e deixou a visão de palco bem interessante.
No palco haviam duas baterias. As bandas de abertura usaram uma, a banda principal iria usar outra. E eu cheguei a imaginar que, em razão disso, os ajustes em palco iriam demorar bastante. Mas eu realmente fiquei impressionado com a pontualidade (que até foi adiantada) nesse evento. A bateria secundária rapidamente foi desmontada e, também rapidamente, fizeram os ajustes necessários para o show principal, com alguns integrantes da banda principal em palco, fazendo “os corres”.
Após 26 anos, o Rotting Christ voltava aos palcos pernambucanos, e às 21h17 dava início ao seu show. Uma “Intro” anunciava o início e os músicos, um a um, caminhavam para as suas posições no palco. E foi incrível! Que show foda! Que banda incrível! Que presença de palco de Sakis Tolis, que com maestria dominou o público, além de seu carisma incontestável! A todo tempo se comunicava com o público, numa atitude respeitosa e de agradecimento aos presentes. Pura humildade. E seus vocais continuam intactos, sejam nos sons mais atuais, sejam nas músicas clássicas, da década de 1990. Além de Sakis, o Rotting Christ conta com Themis Solis, o seu irmão, que desde o início (lá em 1987) está na banda. Para esses shows ao vivo, tivemos no baixo/backing vocals Kostas Eliotis, que era pura energia no palco, com uma movimentação intensa, e Kostis Foukarakis, que comandou a outra guitarra, além dos backing vocals. Kostis, na verdade, acompanhou de forma brilhante Sakis, para este ficar mais livre para os vocais. Um enorme backdrop, com a imagem do novo disco de estúdio, “Pro Xristou”, era a única coisa que ornamentava o palco do Rotting Christ, e até ficou meio que “apagado”, lá no fundo, além de algumas imagens nos bumbos da bateria. Outra coisa que me impressiona no Rotting Christ é a sua musicalidade. Esta banda, nunca, jamais, pode ser classificada meramente como Black Metal. A sua sonoridade vai muito além. Algumas músicas são como uma espécie de ritual, de andamentos limpos e melódicos. A banda, em palco, fazendo o show, e alguns temas como “Aealo” (música de abertura, que alterna velocidade com passagens melódicas, marcadas), “Pretty World, Pretty Dies”, “Like Father, Like Son”, deixava o público numa espécie de transe (ou algo parecido). Além disso, Sakis, a todo momento, com muita simpatia, comandava o público, que erguia os punhos, os dedos chinfrados, gritava em coro... Fantástico!!! Um verdadeiro espetáculo! Mas, claro, também teve espaço para petardos agressivos como “The Sign of Evil Existence” e “Societa Satanas” (cover do Thou Art Lord, banda da qual Sakis também faz parte), que fez o público abrir as típicas rodas de moshes. Lindo demais!!! Além das músicas citadas, para exemplificar alguns pontos específicos do show, também tivemos outros momentos que merecem menção. Quando digo momentos, falo sobre músicas... “Daimonon Vrosis”, “Kata Ton Daimona Eaytoy”, “Elthe Kyrie”, “King of a Stellar War”... Nenhuma deixava o show ficar morno e a banda procurou fazer um apanhado de todas as suas fases. Claro, vai sempre faltar algo, numa carreira de quase 40 anos, mas o que foi executado, o que nos foi apresentado, foi apresentado sem qualquer defeito, com muita garra, energia. A clássica “Non Serviam” contou com Sorcerer Do’Urden, dividindo os vocais com Sakis. Como era de se esperar num show do Rotting Christ, o uso de samples foi utilizado com bastante eficácia, deixando as músicas executadas bem próximas do que foi feito em estúdio, mas, claro, com a energia típica de um show de Metal. A banda chegou a sair duas vezes do palco. Uma primeira, com uma “Intro” tocando, voltando e executando a ritualística “In Yumen-Xibalba”, seguida de “Grandis Spiritus Diavolos” e “The Raven”. E, mais ao final, quando saem do palco, sem anúncio, porém sem o público arredar o pé, mas na dúvida se voltariam... E voltaram! Sakis pergunta, em alto e bom tom (e em português): “mais uma, Recife?”, e finalizam com “Noctis Era”. A banda agradece aos presentes, chama para a típica foto, com o público ao fundo e encerram um show simplesmente perfeito! Foi uma hora e vinte minutos de show, mas que passou tão rápido, num show tão empolgante, que parece ter sido menos.
Ao fim do show, após alguns minutos, Diego (EvokeD, Darkside Studio) avisou que o Rotting Christ iria atender a todos, tirando fotos, dando autógrafos... Atitude louvável e de uma banda de Metal, Underground, que mantém a humildade e pés no chão. Nada de ‘meeting & greet’! Uma pena eu não poder ter ficado para ao menos uma foto.
No local do show, além de venda de bebidas (eu não podia beber, por estar dirigindo, mas o preço da cerveja não era nada atrativo) e comidas, tinha muito merchandising, incluindo camisetas do Rotting Christ. Mas os preços também não eram nada atrativos. A camiseta da banda estava custando meros R$ 180,00 (!!!).
Felizmente, dessa vez, a produção não fez separação com grades, o que deixa espaço para que o público observe melhor o show e até mesmo para ficar mais perto do palco. Até porque a mesa de som, geralmente, fica no meio do espaço e a separação por grades dificulta para aqueles que ficam atrás. Enfim, mais um show memorável do Rotting Christ na capital pernambucana!