CHEMICAL DISASTER
Apesar de não manter uma sequência de lançamentos, o Chemical Disaster sempre procurou manter seu nome em evidência. As mudanças de formação também foi outro problema em sua trajetória, mas com o retorno do vocalista original, Luiz Carlos, a banda já se prepara para lançar um novo álbum (previsto para o início de 2011). Enquanto isso, o Chemical Disaster continua a divulgar seu último trabalho de estúdio, a avassaladora Demo “Promo Disaster CD 07”, que vem recebendo boas críticas e dá uma prévia do que os admiradores dessa banda oriunda da Baixada Santista, e com 20 anos de atividades, terão pela frente. Com a palavra Luiz Carlos...
Recife Metal Law – O Chemical Disaster existe desde 1990. Já se vão 20 anos e muitas coisas mudaram de lá pra cá. Como era para se manter uma banda no início da década de 90?
Luiz Carlos – Bem, Valterlir, há 20 anos, aqui na região da Baixada Santista (litoral de São Paulo), não haviam estúdios de ensaio, então, quem queria ter banda, tinha que ter todo o equipamento necessário, além de um lugar específico para ensaiar (normalmente, garagens, quartos improvisados com forração para o som não expandir muito, etc.). Os equipamentos nacionais possuíam qualidade muito inferior aos equipamentos importados e poucas pessoas conseguiam ter acesso a produtos vindo de fora, sem contar que o preço era muito além da realidade em que vivíamos. Não era tão simples gravar uma Demo em fita K-7 (com boa qualidade). No entanto, em poucos anos, logo o mercado mudou (a economia do país também), e as bandas nacionais já conseguiam ficar ‘pau a pau’ com as bandas ‘gringas’. Acho que a galera que montou banda nos anos 80 sofreu muito mais dificuldades e, por isso, essas bandas merecem todo o respeito do pessoal que curte som. Hoje em dia é tudo tão fácil... Mesmo com pouca grana um cara que tem um equipo razoável em casa (incluindo um computador e programas/plug-ins) consegue fazer uma Demo e disponibilizar na Internet. Os tempos mudaram radicalmente a favor da galera jovem de hoje.
Recife Metal Law – Vocês já tiveram muitas mudanças em sua formação, inclusive você, Luiz Carlos, vocalista da banda, após nove anos a frente do grupo, saiu e ficou dez anos fora do Chemical Disaster, retornando em 2009. Caso tantas mudanças na formação não tivessem ocorrido vocês acham que a banda, hoje, estaria num outro patamar?
Luiz – Pergunta interessante... Mas eu vejo que todas as mudanças que o grupo sofreu serviu para nos incentivar a sempre ter o melhor time, inclusive, quando eu saí do grupo, sei que eles optaram por outros vocalistas competentes e, quando voltei, fiquei orgulhoso com o ótimo material preparado para o terceiro álbum. Tanto que, de imediato, optei em manter a divulgação do material gravado com o Valdemar Novaes (vocalista anterior) e só recentemente foi disponibilizado em nosso Myspace uma música inédita contando comigo e com o Ricardo Lima (guitarrista do Predatory, que atualmente também integra o Chemical Disaster). Existem bandas que raramente trocam de músicos e tudo funciona bem; no caso do Chemical Disaster, realmente tivemos muitos músicos que deram o melhor de si, mas que, por alguma razão, tiveram outras prioridades na vida e se desligaram do grupo. Mas o foco da banda sempre foi à música, então, independente de quem esteja na formação, à qualidade do material é sempre nossa prioridade.
Recife Metal Law – Vocês já chegaram a trabalhar com dois selos distintos: Cogumelo e Demise, para o lançamento de seus dois álbuns de estúdio. Como foi trabalhar com esses selos?
Luiz – Em 1993 a Cogumelo era a melhor oportunidade para um grupo nacional ter uma boa repercussão. Basta ver a extensa lista de títulos que eles lançaram até 1994. Então, não tínhamos dúvida alguma quando recebemos o contrato. O problema foi que logo em seguida o mercado fonográfico teve a reviravolta do formato CD; muitos amigos passaram a ignorar lançamentos em vinil e só tinham olhos para o CD. Com isso, as vendas foram caindo e a saída para as gravadoras foi reduzir o número de lançamentos por ano, até tudo se estabilizar. No nosso caso, amargamos uns três anos preso ao contrato com a Cogumelo, sem ter condições de lançar nosso segundo álbum (já que a gravadora é quem decidia se a banda gravava ou não). Quando o prazo de validade do contrato expirou, havíamos gravado de forma independente o segundo disco (“Scraps of a Being”) e começamos a procurar por um novo selo. Nessa época deixei o grupo, mas continuei em contato com a banda e, quando eles fecharam com a Demise, sabia que também era uma ótima opção. Wilson Jr. (dono do selo) estava investindo nos lançamentos, sempre com muita qualidade e acredito que foi uma boa parceria para ambos os lados.
Recife Metal Law – O primeiro álbum da banda, “Resurrection”, foi lançado em 1993, pela Cogumelo. Existe a possibilidade de um relançamento desse álbum, haja vista que o mesmo está apenas disponível (e bem difícil de encontrar em alguns Estados) no formato Long Play (LP)?
Luiz – Essa pergunta só o João Eduardo (dono da Cogumelo) pode te responder! (risos) Os direitos de relançamento são exclusivos dele. Tempos atrás ouvi dizer que ele pretendia ter todo o catálogo antigo em CD, mas quando (e se) um dia isso vai rolar, não tenho como prever. Realmente, eu considero esse disco atemporal, ou seja, depois de 17 anos eu pego o vinil e ouço um material que deve constar até os dias de hoje no ‘set list’ da banda. Tem músicas ali que foram escritas há 20 anos, como “Sexual Maniac” e “Pleasures of Pain”, por exemplo. Interessante é que se trata de um dos poucos títulos da Cogumelo que ainda consta no catálogo deles (confira no site!).
Recife Metal Law – Noto que sempre houve um intervalo entre os lançamentos do Chemical Disaster. Então, quais são as diferenças básicas entre o primeiro full lenght e o segundo, “Scraps of a Being” (2000)?
Luiz – O “Resurrection” possui material escrito entre 1990 e 1993; após o lançamento desse trabalho, no final de 1993, não demorou muito e já começamos a trabalhar músicas novas, mas um dos principais compositores (o baixista André Martins) deixou o grupo no final de 1994. André sempre foi um cara que compunha muito material em pouco tempo, com extrema facilidade. Mas o guitarrista Fernando Nonath conseguiu ser um dos pilares na composição do “Scraps of a Being”, que foi um trabalho que conta com material escrito entre 1994 e 1998. Eu encaro o “Scraps of a Being” um genuíno disco de Death Metal ‘old school’, enquanto que o “Resurrection” é um disco de Death Metal com grande influência de Thrash (repare nas palhetadas de guitarra) e Doom Metal (por conta do clima mórbido de muitas músicas).
Recife Metal Law – O último trabalho de estúdio da banda é a “Promo Disaster CD 07”, lançado em 2007. Esse trabalho traz três músicas simplesmente avassaladoras, e é uma prévia do que virá a ser o próximo álbum da banda. Essa Promo realmente sintetiza o que virá a ser o próximo disco do Chemical Disaster?
Luiz – Pode acreditar! Total Death Metal ‘old school’! Indico o material novo para fãs de Morbid Angel (“Altars of Madness”), Cannibal Corpse (“Eaten Back to Life”), Deicide (o clássico ‘debut’ deles, de 1990!), Entombed (“Left Hand Path”), Dismember (“Like an Ever Flowing Stream”)... Não queremos ser a banda mais rápida, ou mais satânica, ou seja lá o que for. Queremos fazer Death Metal. Ouça as músicas no nosso Myspace e tirem suas próprias conclusões.
Recife Metal Law – Entre as músicas da Promo existe um cover para “Sex & Outrage” do Motörhead, o qual não foi creditado. Qual a razão para colocar esse cover e não creditar o mesmo? Sinceramente, pela linha instrumental achei ser uma música do Motörhead, mas não quis arriscar em dizer que era...
Luiz – Cara, que fã de Metal ‘bagaça’ não é chegado no ‘véio’ Motörhead? No “Scraps of a Being” gravamos a “Iron Fist” e foi incluída no final do CD (quando termina a música “Daybreak Clouds”, basta acelerar no CD player!). Quando voltei para o Chemical Disaster, no ano passado, dei uma reativada na divulgação da “Promo Disaster CD 07” (que saiu pela Violent Recs., no final de 2007), e os caras estavam com esse cover engavetado (gravaram para um tributo nacional que nunca foi finalizado). Achei que seria perfeito incluí-lo como bônus e o fato de não creditá-lo no ‘track list’, é só pra deixar o pessoal intrigado mesmo. O Chemical Disaster gravou um cover do Vulcano (“Witche’s Sabbath”, cuja versão original saiu no “Live!”, de 1985 e, posteriormente, no “Who Are The True?”, de 1988), pois estamos presentes no CD Tributo ao Vulcano que a Violent Recs. lançou recentemente, intitulado “Satanic Legions – A Tribute to Vulcano”. Esse será o último registro do grupo com o Valdemar Novaes no vocal (achei legal a versão que ele gravou, junto com o próprio Angel, ex-vocalista do Vulcano) e decidi não regravar os vocais, mantendo a gravação original.
Recife Metal Law – “Third Wound”, esse será mesmo o título do que virá a ser o próximo full lenght da banda?
Luiz – Sim, esse título já havia sido escolhido antes mesmo de meu retorno e, o substantivo ‘Wound’ possui algumas traduções interessantes. “Third Wound” pode ser traduzido como ‘Terceira Chaga’ (ou ferida, lesão) ou mesmo como ‘Terceira Ofensa’ e, tratando-se de ser nosso terceiro álbum, até possui essa ligação.
Recife Metal Law – Depois do lançamento da Promo já se passaram três anos e o novo álbum ainda não foi lançado. Qual a razão para que esse trabalho demore tanto a chegar ao mercado?
Luiz – Foi um lance tragicômico! O grupo iniciou o processo de gravação em 2005, no mesmo estúdio que usamos no “Scraps of a Being” (que foi gravado em 1998), só que a tecnologia de captação de áudio estava sendo mudada nesse estúdio e, após a conclusão dos ‘takes’ de bateria, a banda optou em abandonar o que já havia sido feito e iniciar em outro estúdio, em Santos (cidade onde moramos). Em 2006, a banda já estava com o trabalho bem adiantado, mas após um erro por parte do operador de áudio, trechos dessa gravação foram perdidos... Então, pela terceira vez, o Chemical Disaster começou a gravar esse disco, dessa vez no Estúdio O Beco, com o engenheiro de som Ivan Pellicciotti. Em 2007, boa parte da gravação estava feita e para que a banda não sumisse da cena, lançamos a “Promo Disaster ‘07”, assim seria possível concluir a gravação com calma, mantendo o nome circulando no circuito Underground. Em 2008, o grupo ficou com pouca atividade, realizando alguns shows, mas tudo num ritmo mais lento. Então, em 2009, houve a reformulação no ‘line up’, com a saída do Valdemar Novaes, meu retorno e também o acréscimo do guitarrista Ricardo Lima. Tivemos que perder tempo com ensaios, tanto de material antigo (para voltarmos a fazer shows), mas, também, eu e o Ricardo tivemos que pegar as músicas novas gravadas para o novo álbum. Só então, eu e o Ricardo passamos a gravar nossas partes. No momento restam apenas três músicas para o Ricardo incluir os ‘trampos’ de guitarra e pretendo dar alguns retoques de voz nas últimas seis faixas que gravei.
Recife Metal Law – Ainda falando sobre o vindouro álbum, todas as músicas que farão parte do mesmo já estão definidas, assim como sua capa?
Luiz – Ainda não discutimos sobre o conceito gráfico, mas te digo que o novo disco trará 13 músicas (11 compostas após o “Scraps of a Being”, uma regravação de uma música antiga do grupo e uma música inédita que o Ricardo compôs após a entrada dele no grupo). A música nova ainda será gravada nas próximas semanas; a intenção é mixar tudo entre julho e agosto. O lançamento está previsto para o início de 2011, pela Violent Recs.
Recife Metal Law – Por fim, o que podemos esperar do Chemical Disaster daqui pra frente?
Luiz – Quem já nos conhece, sabe que continuamos sendo adeptos da velha escola Death Metal. Para quem não ouviu nosso som, basta acessar nosso Myspace. Disponibilizamos uma música já com a formação atual, além de material de nossos dois discos lançados, inclusive algumas faixas extraídas de Demos antigas e covers. Entrem contato com a gente pelo Myspace ou pelo e-mail (pretendemos divulgar nosso novo material no máximo de lugares possíveis, mostrando a cara da banda como ela é hoje!). Valeu a oportunidade, Valterlir!
Site: www.myspace.com/chemicaldisasterband
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação