COMANDO ETÍLICO
O Comando Etílico é Hervall Padilha (vocal), Lucas Praxedes (guitarra), David Praxedes (baixo) e Kleber Barbosa (bateria). Nascida na cidade de Natal/RN, em 2003, a banda, desde a sua formação, vem fazendo sua música calcada no velho Heavy Metal, mais precisamente naquele Heavy Metal feito em terras brasileiras, em meados da década de 80, com suas letras escritas em português. Depois de uma bem aceita Demo, “Metal & Prazer” (2007), este ano o quarteto lançou seu primeiro homônimo álbum, que só vem a solidificar a qualidade sonora apresentada por esses natalenses desde a época de sua Demo. Mesmo com todas as dificuldades encontradas, o Comando Etílico trabalha com a possibilidade de fazer uma tour de divulgação desse álbum. Na entrevista a seguir, respondida pelo vocalista Hervall Padilha, ficaremos sabendo um pouco mais sobre o Comando Etílico.
Recife Metal Law – Como foi que quatro caras se juntaram, em 2003, para formar o Comando Etílico?
Hervall Padilha – Os irresponsáveis por esta ideia são os Praxedes! É tudo culpa deles! (risos) Tocávamos em bandas distintas e nos encontramos por mero acaso! David e Lucas tiveram a ideia e acabaram por compor três canções que seriam apenas gravadas e repassadas a amigos Bangers e nada mais. Chamaram Kleber para gravar a cozinha e a banda se formou também apenas para este fim: gravar uma fita Demo (sim, isso mesmo, uma FITA)! Sabendo da existência do Comando Etílico, um amigo convida a banda para tocar em seu aniversário e aí a coisa não parou mais. O que seria a fita Demo deu lugar a mais shows, mais canções num caminho até então, sem volta! Num desses shows os vi tocar junto ao Shock (PB). Gostei do que vi e ouvi, virei fã de imediato da banda. Falei pra minha esposa: ‘preciso fazer parte disso!’. Entrei em contato com os caras e fizemos uns testes. Somos um quarteto desde então e tem sido muito bom pra nós!
Recife Metal Law – O nome para a banda foi escolhido de comum acordo, por representar mesmo o que eram os integrantes: um ‘Comando Etílico’?
Hervall – O nome veio da cabeça do David. Adoramos o nome para o que nos propomos a fazer e sem falar na ideia do ‘Comando’, termo muito usado em letras metálicas de grandes ícones desta vertente musical como Exodus, por exemplo, com “Metal Command” e tantos outros. Confesso que somos bons de copo! Mas ao contrário do que muitos pensam, não somos dependentes do álcool e nem achamos nele soluções pra nossas vidas. Tudo em relação ao álcool pra nós está ligado à diversão e nada mais. Seria muito estranho ir à casa de amigos ouvir Heavy Metal e beber chá com biscoitos. (risos) A bebida forte nos salva nessas horas!
Recife Metal Law – Os integrantes da banda já passaram por outras bandas em sua terra natal. Participar de tais bandas foi essencial para moldar o som do que viria a ser o Comando Etílico?
Hervall – Sim, porque o Comando Etílico é um misto de ideias, mas com um único foco que é tocar Heavy Metal. As bandas nas quais tocamos antes eram distintas de estilo e o que ouvimos como músicos também! Tudo é muito pessoal. Isso ajuda muito no processo de composição, ajuda a diferenciar canções dentro de uma mesma proposta e não entrar num ciclo vicioso onde você precisaria apenas ouvir uma canção sendo as demais uma cópia da primeira. Acho que nossas influências distintas são benéficas para o produto final, que é a nossa música.
Recife Metal Law – Muitas bandas nacionais vêm fazendo uma sonoridade calcada nos ícones do Heavy Metal brasileiro da década de 80. Fazer uma sonoridade Heavy Metal com letras em português se deu em razão dessa tendência, surgida no início desta década?
Hervall – Sem a menor dúvida! Está é a nossa referência musical a seguir! O que realmente não entendo é por que algumas pessoas negam isso?! Quando uma banda começa, seja ela nova ou mais antiga e até mesmo uma banda jurássica (risos), ela tem uma referência musical! A nossa é essa... Tocar Heavy Metal e cantar em português! Isso não tem a ver com patriotismo, nacionalismo ou algo do tipo. Isso é apenas o que queremos fazer! O Comando Etílico não tem a menor pretensão de ser uma banda original dentro de uma atmosfera jamais vista ou ouvida. Costumo falar que nosso sonho é gravar o próximo “Reign in Blood” e ainda chegaremos lá! Se uma turma monta uma banda e o som dela parece com Beatles, Led Zeppelin, Iron Maiden, Celtic Frost, Slayer, ou qualquer uma dessas bandas incríveis do passado, é apenas porque são as suas referências e isso é ótimo! A nossa é essa e adoramos fazer o que fazemos. Originais sim, mas dentro de nossa realidade de composição e não do estilo que tocamos.
Recife Metal Law – O primeiro lançamento foi o DVD “Metal & Prazer Ao Vivo”, lançado em 2005, que trazia algumas músicas próprias e alguns covers. Porém esse material não contou com a tua presença, Hervall. Qual a razão para isso?
Hervall – Este DVD é apenas o registro de um show feito por um amigo da banda de forma amadora. O mesmo nunca foi lançado oficialmente. A banda nesta época era um trio com Lucas Praxedes fazendo voz e guitarra. Foi neste show que eu os vi pela primeira vez. É um registro importante pra banda, mas o mesmo nunca foi lançado oficialmente.
Recife Metal Law – Em 2007 foi à vez do lançamento da Demo “Metal & Prazer”, material que foi bem recebido entre os amantes do estilo. O que esse lançamento proporcionou ao Comando Etílico? Sua divulgação foi satisfatória?
Hervall – Até os dias atuais recebemos e-mails nos parabenizando por “Metal e Prazer”. Sem a menor dúvida este registro teve papel fundamental em nossa carreira. Através dele chegamos a nosso disco de estreia com mais facilidade. O reconhecimento de um trabalho árduo é sempre compensador. Para nós “Metal e Prazer” sempre será o nosso trabalho mais importante.
Recife Metal Law – Agora em 2010 vocês chegaram ao seu primeiro homônimo álbum. Por que intitular o álbum apenas com o nome da banda?
Hervall – Não havia um título previamente escolhido. O que tínhamos eram nossas canções, a concepção da capa e algumas ideias para o encarte. Ao fim optamos por “Comando Etílico” por ser nosso primeiro disco oficial. Por ser nosso ‘cartão de visita’. Queríamos nossa identidade à frente disso e assim ficou!
Recife Metal Law – O material gráfico traz uma tonalidade azulada e a sua capa uma mão com um abridor de garrafas fincado nela, lembrando as mãos de Cristo na cruz. O que a banda quis passar com essa capa?
Hervall – Não há uma única mensagem estampada ali! Quando elaborei a capa pensei em como seria para membros do clero enxergar seu maior ícone pregado onde quer que fosse com saca-rolhas e abridores de garrafa em lugar dos tradicionais pregos! Atacar um ícone religioso é algo até banal nos dias atuais. Não estamos preocupados com essa ideia em primeiro plano e sim com a ideia de que somos livres dentro de um mundo alienado por doutrinas vis, de direita e esquerda! O porquê desta alusão citada em sua pergunta é este! Mas poderia ser qualquer outro ícone ali apregoado por nosso tão amado ‘multi-abridor’ de latas, garrafas, rolhas, etc.! (risos)
Recife Metal Law – Fazer letras em português para um estilo de origem inglesa não é tarefa das mais fáceis, acredito eu, mas o Comando Etílico se sai muito bem em suas músicas/letras. Como são escritas as letras para que se adéquem a métrica da música?
Hervall – Obrigado pelas palavras e realmente é uma tarefa árdua. Mas adoramos fazê-la! Todas as melodias que criamos para a voz obedecem a regras de rima e harmonia mesmo não estando de acordo com a métrica natural da música. Isso torna a canção mais rica como um todo, pois a voz acaba indo por caminhos não triviais.
Recife Metal Law – Tais letras falam sobre bebidas, orgias, honra, lutas, diversão... Vocês acham que esses são os temas que realmente devem ser abordados por uma banda de Heavy Metal?
Hervall – Existe um tema especifico a ser abordado por uma banda de Heavy Metal em suas letras? É evidente que não! Onde ficaria o ‘espírito’ original do Rock n’Roll que é a liberdade? Isso seria enterrado e não podemos fazer isso cavando fronteiras que limitem nossa liberdade de expressão! Cantamos nossa realidade mesmo que ela seja apenas literária, mitológica ou mesmo folclórica. Em “Comando Etílico” seguimos exatamente a mesma ideia de “Metal e Prazer” em termos de composição e letra. Temas místicos, lendas urbanas, contos épicos, tem tudo lá! Com a nossa cara, com a nossa sonoridade, mas, sobretudo, com liberdade!
Recife Metal Law – O álbum é composto de dez magníficas canções, numa verdadeira ode ao Heavy Metal. Porém duas delas são minhas preferidas: “Medusa” e “Selvagens da Noite”. Quais músicas desse disco são as preferidas dos integrantes e quais estão tendo maior respaldo junto aos bangers?
Hervall – Minha canção preferida é “Tormento”; Kleber gosta mais da “Madame Pecado”; o Lucas gosta de “Força Motriz”; e David, tal como você, prefere “Medusa”. Se falarmos em conjunto acho que não elegeremos apenas uma, pois temos um carinho enorme por cada uma delas! Quanto aos Bangers locais e por onde passamos, “Ataque!” é a canção deles! Cantam conosco refrão a refrão. É como se fosse à identidade deles e, uma vez que também é a nossa, ficamos muito felizes com isso.
Recife Metal Law – “Selvagens da Noite” (título original: “The Warriors”) foi inspirada no filme de mesmo nome, lançado em 1979, e seu andamento instrumental se assemelha com o de “Violência Real” da Dorsal Atlântica. Como foi compor essa música, tanto a parte instrumental como sua letra?
Hervall – “Selvagens da Noite” é nossa canção mais agressiva e ela é bem antiga! Ela está em nosso repertório antes mesmo de gravarmos “Metal e Prazer” e por muito pouco não entrou em nosso CD-Demo. A música chegou em forma de esqueleto trazida pelo Lucas a um de nossos ensaios. Ouvindo a mesma começamos a arranjar e elaborar as divisões e vi que mediante a agressividade da mesma precisávamos de uma letra no mesmo nível de raciocínio. Eu havia escrito “Selvagens da Noite” um ano antes de apresentá-la a banda e nunca havia tido a oportunidade de musicar essa letra. Este filme, o qual retratamos, é um dos melhores que já vi em minha vida e tenho um carinho especial por essa canção também em virtude disso. Gosto do solo elaborado pra ela. Acho que o Lucas foi muito feliz nele retratando toda a tensão contida no filme. Assim como enxugar um livro o transformando em filme é difícil, enxugar um filme numa música de poucos minutos também não é fácil. São muitos personagens, cenas clássicas e textos indispensáveis. Pra quem conhece o filme, acho que o representamos bem nesta canção!
Recife Metal Law – As músicas, apesar de terem letras por vezes que tratam de bebidas e diversão, parecem se basear em algo que ocorre com os integrantes da banda. Estou certo ao afirmar isso?
Hervall – Não necessariamente! Mas costumamos em tais letras abordar temas que se aproximem mais de nossa realidade. Isso torna a coisa mais honesta tanto pra nós quanto pra quem houve nossa música.
Recife Metal Law – Uma das músicas mais cultuadas da banda é “Estação Antiga”, que não faz parte desse álbum. Qual a razão para deixar essa música de fora do disco de estreia, apesar do álbum contar apenas com músicas inéditas?
Hervall – Exatamente por isso! Queríamos um disco apenas com canções inéditas e assim foi feito! Amamos todas as nossas composições, sem exceção alguma, e “Estação Antiga” é praticamente um auto-retrato do Comando Etílico. Foi uma das primeiras composições da banda quando ainda era um trio. Tem um lado urbano muito forte e isso cativa de forma natural, sem maiores apelações. Sempre enxerguei “Estação Antiga” como declaração do que costumamos ser no dia-a-dia. Reunir amigos para ouvir Heavy Metal em bares ou mesmo numa ‘session’ na casa de alguém é uma prática comum para nós! Bom poder reportar isso numa canção, sendo algo sincero.
Recife Metal Law – Essa música se refere a algum lugar em especial em Natal?
Hervall – Sim, a estação antiga existiu um dia! Costumávamos nos reunir com outros Bangers para degustações fartas de bebida forte no terminal de ônibus de um bairro tradicional aqui de Natal, a Ribeira. Lá existia (antes de sua revitalização) a ‘rodoviária velha’ com seus botecos sujos e de tão nobre atendimento. Apelido carinhoso conquistado sem muita escolha com a construção do novo terminal rodoviário num outro bairro da cidade. Com essa construção, a “Estação Antiga” (assim batizada por David Praxedes) na nossa música, foi cada vez mais esquecida pela população tornando-a um lugar ‘impróprio’ e ‘maldito’ depois de altas horas da noite! Ou seja, um lugar perfeito pra nós! (risos) Prostitutas, mendigos bêbados aliados a filósofos e boêmios da mais alta estirpe, eram frequentadores assíduos do local junto a um punhado de Headbangers e suas jaquetas. Temos ótimas recordações de lá!
Recife Metal Law – Cheguei a ver um show do Comando Etílico, este ano, aí em Natal. Impressionei-me com a energia que a banda nos passa e com a recepção do público local. Existe a possibilidade de uma tour para divulgar o álbum e, consequentemente, para que o público de outras localidades vejam como a banda é em palco?
Hervall – Mais uma vez agradeço em nome de toda a banda por suas palavras! Nosso vigor em palco ao longo dos anos tem sido nossa marca registrada ao vivo. E o público Banger, esses são nossos fiéis amigos, estão sempre conosco nos dando apoio. Somos gratos a todos! Quanto a uma turnê Etílica, sim, isso é totalmente possível! Mas existe uma questão importante nisso que é a figura do ‘produtor local’. Sem esse personagem tudo se torna inviável pra qualquer banda! Temos também uma carga horária de trabalho semanal que nos impede de pegar a estrada com mais frequência em dias atípicos aos fins de semana, quando normalmente costumamos viajar. Para isso teríamos que entrar de férias todos juntos ou coisa parecida. Uma ideia que baratearia custos para todos seria uma produção conjunta entre produtores de estados vizinhos, podendo, a banda, estar em dias distintos em cada um deles, sendo sexta, sábado e domingo e depois retornar pra casa. Acho que este é um bom formato uma vez que os custos seriam divididos, tornando, assim, a coisa mais viável e funcional. É de nosso profundo interesse levar nosso show para outras cidades do país, mas infelizmente não depende apenas de nós!
Recife Metal Law – O que esperar de agora em diante do Comando Etílico, com um álbum em mãos?
Hervall – Mais diversão, mais barulho, mais Heavy Metal! É o que somos e o que sabemos fazer. Estamos viajando com o novo show e o público está recebendo muito bem as novas canções, o que é muito importante pra nós. Também estamos trabalhando em canções novas e já temos praticamente um EP inédito em mãos para um lançamento futuro. Mas no momento estamos concentrados apenas em “Comando Etílico”. Gostaria de deixar aqui meus sinceros agradecimentos pelo bom papo em nome de toda a banda ao Recife Metal Law e em especial a pessoa do Valterlir. Contem sempre conosco e precisando de barulho, chamem o Comando Etílico. Abraço a todos!
Site: www.comandoetilico.com / www.myspace.com/comandoetilico
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Larrissa Abreu, Felipe Guerra e Juliana Garcia