SIEGE OF HATE
A Siege of Hate surgiu em 1997, na capital cearense, e de lá para cá vem firmando seu nome no meio Underground, mais precisamente na cena Death/Grindcore, com um som pesado, furioso e letal. São duas Demos e dois álbuns lançados, sendo o mais recente o ‘matador’ “Deathmocracy”, lançado no ano passado. Além disso, obviamente, a banda vem fazendo diversos shows, inclusive tentando fazer uma tour pelo Nordeste, que ainda não foi concretizada. Mesmo algumas mudanças em sua formação não são capazes de parar a máquina de destruição intitulada Siege of Hate. Saibam mais sobre a banda nas palavras do vocalista/guitarrista Bruno Gabai.
Recife Metal Law – Numa carreira de 13 anos, quais foram às maiores vitórias conquistadas pelo Siege Of Hate, e quais são as dificuldades encontradas até hoje para se manter na ativa?
Bruno Gabai – Acho que, sem dúvida, nossa maior vitória foi conseguirmos realizar nossa primeira turnê na Europa, em outubro de 2009, onde fizemos dezesseis shows em sete países: Portugal, Alemanha, República Tcheca, Áustria, Eslovênia, Itália e França. Foi muita ‘ralação’ pra conseguir organizar tudo, mas valeu muito à pena. O fato de também termos conseguido o lançamento de nosso primeiro CD, “Subversive by Nature”, e a distribuição de nosso CD novo, “Deathmocracy”, por selos europeus também foi uma grande conquista, pois possibilitou um alcance bem maior à nossa música.
Recife Metal Law – Além de seus próprios lançamentos, nesse período de atividades a banda já participou de diversas coletâneas. Quais os benefícios que essas participações em coletâneas trouxeram para o grupo?
Bruno – As coletâneas servem de ‘cartão de visita’ para a banda. São verdadeiros mostruários de bandas que ajudam bastante na divulgação, embora não sejam rentáveis comercialmente. São legais, também, para lançar alguma música inédita, mostrar material novo. Agora, em minha opinião, coletâneas são bem mais efetivas se de baixo custo, para dar de brinde, de presente ou como item promocional, pois ganham maior alcance. E tem também a vantagem de cada participante acabar divulgando todos os outros demais.
Recife Metal Law – Vocês costumam usar a abreviação S.O.H. para o nome da banda. Usar a forma abreviada de Siege Of Hate serve para demonstrar que a banda sofre influências de bandas como D.R.I. e S.O.D.?
Bruno – Em resumo, sim. Na verdade, quando eu escolhi este nome, já foi com a intenção que também pudesse ser uma sigla que soasse legal e essas bandas que você citou foram algumas das principais inspirações nossas. Hoje tem gente que nos chama por Siege of Hate (principalmente no exterior) e outros por S.O.H.. Pra nós, tanto faz.
Recife Metal Law – O primeiro álbum, “Subversive by Nature”, veio em 2003, e em 2006 veio um split com o Time Kills Everything, intitulado “Out of Progress”. Qual a análise que vocês fazem de cada um desses lançamentos?
Bruno – O “Subversive by Nature” tem toda aquela energia de primeiro álbum, que junta praticamente todas as músicas da banda até então. É mais ‘cruzão’, mas é um disco muito porrada, do caralho! O split “Out of Progress” traz algumas músicas das mesmas sessões de gravação do “Subversive by Nature”, mais algumas novas, e eu considero basicamente uma sequência do primeiro CD, dando continuidade ao trabalho que estávamos fazendo. Ambos são partes importantes do Siege of Hate e hoje procuramos mesclar músicas de todos os CDs nos shows.
Recife Metal Law – Ano passado a banda lançou seu segundo full lenght, o devastador “Deathmocracy”. Como foi todo o processo criativo e trabalho em estúdio até a finalização desse álbum?
Bruno – Durante a composição do “Deathmocracy”, eu e o Neto (ex-guitarra e segundo vocal) estávamos numa fase de tocar riffs mais elaborados e acho que isso acabou trazendo à tona nossas influências mais Metal, deixando as músicas com uma atmosfera mais Death Metal, embora sem deixar a veia Grind/Crust. O nome do CD acaba puxando um pouco pra isso também, embora Deathmocracy signifique, na verdade, que hoje a democracia está morta e a morte é a única coisa realmente democrática que resta. Daí aquele corpo oco na capa e o monte de insetos, simbolizando a putrefação da nossa sociedade.
Recife Metal Law – Esse álbum começou a ser gravado em março de 2007 e foi finalizado em janeiro de 2009. Por que tanto tempo para finalizar as gravações do mesmo?
Bruno – A demora foi devida, basicamente, a alguns poucos fatores que posso citar. Primeiro: falta de tempo nossa para gravar tudo logo em sequência, pois todos da banda trabalham e não vivemos exclusivamente de música, assim tínhamos que compatibilizar nosso tempo (geralmente à noite) com os horários de estúdio disponíveis. E aí, vem o segundo motivo: dificuldade de conseguir horário de estúdio, já que gravamos em um estúdio comercial, que grava de tudo. Então, às vezes acontecia de gravarmos uma sessão de guitarra hoje e outra daqui a um mês. Isso realmente atrasou muito as gravações. E por último, demoramos muito para achar um som satisfatório na mixagem, devido a umas mudanças ocorridas no estúdio (e no computador onde estava a gravação). Mas, para nós, pelo menos o resultado final valeu à pena.
Recife Metal Law – Antes mesmo do término das gravações, o guitarrista e segundo vocalista Ricarte Neto saiu da banda, uma vez que teve que viajar pro Canadá. Porém parece que ele deixou suas partes totalmente gravadas. Estou certo?
Bruno – Na verdade, quando ele foi embora para o Canadá (agosto/2008), todas as gravações já estavam concluídas, faltando apenas a mixagem, a qual somente foi concluída em janeiro/2009. Assim, mesmo o Neto já tendo saído da banda, como ele participou de toda a composição e gravação do “Deathmocracy”, nós achamos justo mantê-lo na formação e fotos do CD.
Recife Metal Law – E como foi que vocês receberam a notícia de que o Ricarte iria sair da banda? Vocês pensam em colocar um novo guitarrista/vocalista ou irão continuar como trio?
Bruno – Quando ele nos disse que estava planejando ir morar no Canadá, foi uma surpresa, pois estávamos em fase final de composição do CD, o que sempre é uma fase de se fazer planos para o futuro, divulgação, turnê, etc. Além disso, boa parte das músicas foi composta para duas guitarras e dois vocais (a participação dos vocais dele neste CD foi bem maior que nos outros) e, de repente, teríamos que nos virar apenas nós três ou pior: arrumar um substituto que suprisse bem as duas funções (o que é mais difícil). Como já havíamos tocado várias vezes como trio, inclusive na turnê que fizemos pelo Sul/Sudeste em 2005 (sem o Neto, que não pôde ir) e como o som do S.O.H. não exige tanto duas guitarras, decidimos continuar como um trio e assim estamos até hoje. Aliás, uma novidade é que, depois da turnê que fizemos no ano passado, nosso baixista George Frizzo ficou na Alemanha para estudar e ainda deverá ficar por lá pelo menos mais um ano. Assim, para a banda não parar, chamamos outro amigo nosso, Fábio Morcego, que está respondendo pelo baixo e também pelos vocais que eram do Neto. Dessa forma, a banda se mantém um trio (ao vivo, pelo menos). Se o George vai voltar em definitivo e se o Fábio vai continuar com a gente depois disso (numa segunda guitarra, por exemplo), preferimos deixar rolar e depois vemos como fica.
Recife Metal Law – Voltando a falar do novo álbum, podemos ouvir 16 sons, totalmente voltados ao Grindcore/Death Metal. Quais são as diferenças básicas entre o ‘debut’ e o novo álbum?
Bruno – O primeiro CD foi um pouco mais cru e direto, com composições de desde o início da banda, quando ainda era um projeto paralelo do Insanity (ex-banda minha e do George), daí acaba soando mais descompromissado, enquanto que o novo é um pouco mais elaborado, no sentido técnico da coisa. Mesmo assim, se você escuta o “Subversive by Nature”, o split “Out of Progress” e o “Deathmocracy”, você percebe que a essência é a mesma, tanto na música como nas letras, havendo apenas uma evolução nas composições. Considero o álbum novo tão brutal quanto o primeiro, mas com uma atmosfera ainda mais raivosa e densa.
Recife Metal Law – Carla Alcântara faz participação, com vocalizações, em “Intolerance Rising” e “L’Enfer”. Por que usar as vocalizações de Carla nessas músicas?
Bruno – A Carla é esposa do Neto e nossa amiga, e sempre deu força pra banda. Na “Intolerance Rising”, queríamos colocar algo como uma fala de uma repórter e na “L’Enfer”, tinha um diálogo que já era idéia do Neto (pois a música e a letra são quase todas dele). Daí, como a Carla fala bem inglês e francês, o convite foi natural e ela topou na hora.
Recife Metal Law – A temática lírica abordada no álbum é a típica de bandas de Grindcore, ou seja, problemas sociais, corrupção, etc., mas uma música me chamou bastante a atenção: “Judas Sanctified”. O que vocês quiseram transmitir com a letra dessa música?
Bruno – Este tema me surgiu na época que começou a ser divulgado que havia sido encontrado e traduzido o evangelho de Judas Iscariotes, que é renegado pela Igreja Católica, pois não apresenta Judas como o grande traidor responsável pela morte de Jesus Cristo, mas sim como se ele tivesse sido orientado por Jesus para traí-lo, o que lhe daria finalmente o perdão da comunidade cristã, pois ele teria sido o apóstolo que teve o papel mais difícil, que seria trair seu mestre, contra a sua vontade, e daí a Igreja sairia de mentirosa na história. Como as bases da Igreja Católica são fundamentadas em uma série de histórias manipuladas em seu próprio benefício, é bem possível que esse evangelho seja verdadeiro, o que significa que até ‘o traidor mais famoso da história’ poderia ser perdoado. Assim, utilizei esse título para escrever sobre a falha (e falsa) justiça que temos hoje em nossa sociedade, que condena inocentes e permite que criminosos confessos (e reconhecidos) sejam postos em liberdade ou mesmo nunca sejam condenados (como nossos políticos). Provas desaparecem, o passado é apagado e nós todos acabamos sendo culpados por deixarmos que isso aconteça sem represálias.
Recife Metal Law – Esse lançamento já vem rendendo bons frutos a banda, não estou certo? Digo isso em razão de vocês, em outubro do ano passado, terem feito uma tour pela Europa...
Bruno – O “Deathmocracy” realmente tem tido uma aceitação muito boa, melhor que os anteriores, e estamos apenas começando a divulgação dele, pois saiu oficialmente aqui no Brasil no final do ano passado. A turnê da Europa já estava nos nossos planos há algum tempo e a parceria com o selo Bomb This Shit Productions da Alemanha foi definitiva para decidirmos começar a divulgação do CD por lá.
Recife Metal Law – Esse material vem cercado de cuidados. A parte gráfica é de deixar qualquer um espantado! De quem foi à ideia de apresentar o encarte nesse formato (encarte em papelão de alta qualidade, com segundo encarte contendo letras, e ao se desdobrar se transforma num pôster)?
Bruno – A parte gráfica e a concepção da arte é toda de responsabilidade do nosso baixista George Frizzo e eu tenho que registrar que ele realmente se superou. Ele trabalha como designer gráfico e ele nos deu a ideia de fazermos algo diferente neste CD. O mercado de CDs está cada vez mais escasso e difícil, com a propagação da música pela Internet, as piratarias, downloads, etc. Então, achamos que, para lançar nossa música em CD hoje, é importante agregar valor ao produto, apresentando algo mais que chame atenção do público, que faça a pessoa se interessar em ter o CD, já que as músicas podem ser baixadas na Internet. E isso tudo com baixo custo. Assim, quisemos fazer um CD com um visual bastante impactante, de qualidade, e ainda conseguimos vendê-lo por um preço médio de R$. 10 sem ter prejuízo, pois o importante realmente é espalhar nossa música o máximo possível.
Recife Metal Law – O Siege Of Hate pretendia fazer algumas datas pelo Nordeste ainda no primeiro semestre de 2010 ao lado da também cearense Clamus. Como funcionaria essa tour e como os produtores poderiam levar as bandas para suas respectivas cidades?
Bruno – As duas bandas lançaram seus novos CDs quase ao mesmo tempo (inclusive o vocalista/guitarrista da Clamus, Lucas Gurgel, viajou conosco para a Europa para divulgar a Clamus por lá e foi nosso roadie). Assim, decidimos fazer um trabalho conjunto aqui de divulgação também e estamos começando a marcar shows. O que as duas bandas pedem é o básico: passagens (ida e volta), hospedagem e alimentação (são sete pessoas, no total). A ideia inicial seria rodar de van, mas os custos não compensam muito e decidimos fazer de ônibus, mesmo. Assim, produtores que estiverem interessados, favor entrarem em contato conosco através dos e-mails [email protected] e [email protected] ou nos nossos perfis do Orkut ou MySpace (www.myspace.com/siegeofhate ou www.myspace.com/clamusmetal).
Recife Metal Law – Quais os demais planos do Siege Of Hate para 2010? Obrigado pelo tempo cedido!
Bruno – Tocar muito, por esse Brasil todo, divulgando o “Deathmocracy” e, mais para o segundo semestre, começar a preparar o material novo que pretendemos lançar no ano que vem, que deve incluir um DVD com trechos da turnê da Europa e outros vídeos de várias fases do S.O.H., além de um livro tipo diário da turnê, que o George e o Lucas (Clamus) estão escrevendo. No mais, nós é que agradecemos ao Recife Metal Law pelo espaço e grande força e esperamos finalmente este ano tocar para a fudida galera de Pernambuco, que nós já ansiamos há bastante tempo. ENJOY YOUR LIFE AND GRIND!
Site: www.siegeofhate.com / www.myspace.com/siegeofhate
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação