CARLOS LICHMAN





A música instrumental tem lá seus adeptos, ainda mais quando se trata de música feita para guitarras. Porém tais adeptos têm seu perfil, na maioria músicas ou estudantes de música. Porém o guitarrista Carlos Lichman, em seu mais novo trabalho, intitulado “Genocide”, certamente vai ultrapassar a barreira, pois é um álbum destinado ao público Headbanger, com fortes e pesados riffs de guitarras, além de solos bem construídos, sem soar forçado ou que queira mostrar uma técnica absurda. E olhe que isso o músico tem. A carreira de Carlos Lichman começou em outros projetos, mas a partir de 2003 decidiu seguir em carreira solo. E sobre essa carreira, entre outras curiosidades, esse gaúcho falou ao Recife Metal Law...


Recife Metal Law – Comecemos falando sobre o início de tua carreira. Como surgiu a ideia de fazer música instrumental? Quais foram tuas principais influências para tomar esse caminho?
Carlos Lichman –
Durante minha adolescência já trabalhava com música, dando aulas e fazendo shows nos pubs em Porto Alegre. Tocava com muitas bandas de Heavy Metal, Death Metal, e tinha alguns alunos. Contudo, precisava de uma forma para divulgar mais meu trabalho como instrumentista, não só dentro do Heavy Metal. Tive a ideia de lançar uma Demo com duas músicas no estilo Rock instrumental, a qual se chamou “Planet Rock”, em 2003. Como era para me divulgar a banda recebeu meu nome: Carlos Lichman. Duas músicas totalmente voltadas para a guitarra, muitos riffs e solos. Era para me destacar mesmo. Tive boa aceitação fazendo alguns shows, workshops, masterclass e muitas comparações com grandes guitarristas. Depois, em 2005, lancei “Intense Guitar Playing”, um EP com três músicas que seguiu a mesma ideia. A minha carreira solo começou unicamente para alavancar minha carreira para uma banda maior e trabalhos financeiramente melhores do que apenas ficar tocando em pubs. As maiores influências foram os guitarristas dos anos 80, assim como os do começo da década de 90. Steve Vai, Paul Gilbert, Satriani, Tony Macalpine, Richie Kotzen, Nuno Bittencourt, Greg Howe e Marty Friedman são alguns que me influenciaram e escuto até hoje.

Recife Metal Law – Antes de tua carreira solo, tu fazias parte de uma banda chamada Neverland, a qual, inclusive, gravou um EP, “Wake Up the Dragons”, em 2001, contando com um vocalista. O fim dessa banda se deu em razão de tua carreira solo?
Carlos –
O fim da Neverland rolou pelo fato da falta de profissionalismo dos outros músicos. Eu queria ser músico, os outros sei lá o que queriam ser na vida, mas era claro que eu era o único que batalhava por shows, estudava para ser um bom instrumentista e tudo mais. A banda era minha, assim como as músicas, então acabei com tudo para poder estudar mais guitarra e poder voltar com força total. Fiz muitos cursos, estudei com muitos professores e continuei dando aula até que comecei com a carreira solo. Hoje tenho um vocalista que é profissional e que a voz me agrada. Estou trabalhando em um material com vocal. Será bacana ter um trabalho assim.

Recife Metal Law – Teu estilo de tocar guitarra, mesmo se mostrando bem técnico e fazendo bases e riffs intricados, caminham pelo lado do Heavy Metal. A tua intenção é fazer música instrumental dirigida ao público Heavy Metal?
Carlos –
“Nasci” como guitarrista de Metal. Escuto este estilo desde criança. Contudo, com o tempo aprendi a gostar de muitas coisas e a tocar outros estilos. Os dois primeiros CDs foram nessa linha, mas pretendo gravar algumas coisas com influências de Fusion e Hard Rock. São estilos que eu gosto muito.

Recife Metal Law – Agora falando sobre o teu estilo mais clássico, em 2006 foi lançado um DVD intitulado “Celebrando Mozart”, que traz releituras, claro, de músicas de Wolfgang Amadeus Mozart. Como surgiu a ideia de fazer um lançamento nesse formato e como foi colocar em prática tal ideia?
Carlos –
Nesse trabalho a ideia não foi minha; fui convidado para tocar na gravação do DVD ao vivo. Realizo o trabalho de free-lance com alguns grupos ao vivo e em gravações. É uma forma de viver de música e de aprender com outros grandes músicos, tocar em lugares legais e aprender estilos diferentes.

Recife Metal Law – O teu primeiro álbum se chama Firestorm, e foi lançado em 2007, e em 2008 esse mesmo trabalho foi lançado com o intuito de mostrar teu método de tocar guitarra. Poderia falar um pouco mais a respeito desses lançamentos?
Carlos –
Após a boa aceitação de “Planet Rock” e “Intense Guitar Playing”, resolvi gravar um CD oficial. Totalmente voltado para a guitarra instrumental assim como para a velocidade e técnica extrema. Queria mostrar muitas coisas em nove músicas. Foi um Cd difícil de tocar ao vivo, pois são muitas guitarras tocando ao mesmo tempo. Nos workshops era mais fácil, mas com a banda é mais ‘quente’ e é onde eu me sinto mais a vontade. Em 2008 lancei um ‘book’ que se esgotou rápido. As pessoas me pediam os links de algumas músicas. Com esses pedidos resolvi escrever os que eu achava mais legais e lançar.
 
Recife Metal Law – Agora em 2010 foi à vez do segundo álbum de estúdio ser lançado: “Genocide”. Como foi todo o processo criativo desse material? De que formam as músicas foram compostas para esse novo CD?
Carlos –
Em 2009 trabalhei muito em outros projetos e dei muitas aulas. Estudava muitas coisas e tinhas muitas ideias, mas não o tempo necessário para transformar tudo em música. Em novembro do mesmo ano, parei com tudo e resolvi me dedicar à composição do disco. Ensaiei com o baterista em dezembro e no começo de janeiro de 2010, logo na segunda semana do mesmo mês, começamos as gravações. Diferente de “Firestorm” esse novo trabalho é mais voltado para ser tocado ao vivo, para um público mais amplo e com melodias de fácil ‘digestão’. “Genocide” foi todo composto com guitarras de sete cordas enquanto que “Firestorm” eu trabalhei com os dois tipos de guitarra, de seis e sete cordas.

Recife Metal Law – Com exceção das partes de bateria, percussão e teclados, guitarra, obviamente, e baixo, ficaram ao teu cargo. Por que não foi convidado um músico para gravar as partes de baixo desse álbum?
Carlos –
Trabalhar com outros músicos é sempre uma ótima experiência. No trabalho anterior trabalhei com dois baixistas que apenas gravaram o que eu escrevi como uma base para a criação do baixo deles. Conheço outros grandes baixistas que seriam até melhores que os que gravaram “Firestorm”, mas queria fazer algo o mais rápido possível. Sou professor de baixo também e, dessa forma, resolvi eu mesmo fazer o trabalho. Contudo, tenho já outros instrumentistas em mente para novos projetos.

Recife Metal Law – E os convidados especiais, houve algum motivo, em especial, para que os músicos Thiago Marques (teclados), Theodore Ziras e Vernon Neilly (guitarras) fossem convidados para participar de “Genocide”?
Carlos –
O Thiago era o tecladista de Metal mais próximo que eu tinha. Foi meu colega durante a faculdade de música e conhece o estilo. Sabe o que se encaixa e o que não, e fez um ótimo trabalho tanto nas improvisações quanto nas passagens escritas. Ziras e Neilly são dois grandes guitarristas, assim como amigos. Mesmo ambos morando em terras distantes mantemos contato por e-mail. O Vernon, eu encontro sempre durante a Expomusic em São Paulo. É uma pessoal muito legal e me deu muitos conselhos em minha carreira. Ziras sempre foi uma influencia dentro do estilo Shred (N.D.E.: termo utilizado para o estilo de tocar guitarra dando ênfase à velocidade e técnica). É um monstro na guitarra e um dos nomes mais importantes do instrumento na Grécia.

Recife Metal Law – Esse material continua a mostrar todo teu direcionamento musical voltado ao Heavy Metal, inclusive trazendo bases que nos remetem ao Thrash e ao Death Metal. Como tem sido a aceitação desse álbum entre os fãs do Heavy Metal?
Carlos –
Superou “Firestorm” em todos os aspectos. “Genocide” recebeu muitos elogios em muitos lugares do mundo. Independente de ser o estilo dos ouvintes, “Genocide” é mais ‘musical’, não só voltado para a parte técnica. É um CD mais melódico e que foi feito para agradar não só os músicos ou guitarristas. Feito para agradar todos que ainda compram CD, que vão a shows não só para analisar a parte técnica de uma canção, mas para os que vão curtir um show pela festa. Queria que as pessoas lembrassem do verdadeiro motivo de tocarmos um instrumento. Ninguém começa a tocar para ser mais rápido do que os outros, nós tocamos porque é legal tocar e para nos expressarmos através de um instrumento.

Recife Metal Law – Por falar em Death Metal, uma das músicas, “The Symbolic Philosopher”, foi dedicada ao falecido Chuck Schuldiner. Essa música foi composta no sentido de homenagear esse grande e falecido músico ou depois de composta foi que tu notaste que ela seguia uma linha mais técnica do velho Death (a banda)?
Carlos –
Sempre gostei da banda Death. Chuck até hoje é um dos maiores nomes do Metal. Em 2011 fará 10 anos de sua morte. Não sei se vou lançar algum trabalho em 2011, então resolvi homenagear o pai do Death Metal fazendo uma canção baseada nas músicas “The Philosopher” e “Symbolic”. Tudo foi de forma proposital.

Recife Metal Law – Além de Chuck, mais dois músicos foram homenageados nesse álbum, sendo ambos compositores de música clássica: Mozart (na música “Speed Adagio”, que tem o título original de “Adagio”) e Christoph Willibald Gluck (na música “Ballet”). Definitivamente, Heavy Metal e música clássica podem ter os mesmos ouvintes?
Carlos –
Conheço muitas pessoas envolvidas no Metal que adoram música erudita. Eu estudei muitas peças no violão e junto com mais dois guitarristas do Rio Grande do Sul, montei o Guitar Symphony, projeto voltado para interpretação da música erudita na guitarra. Essas duas canções eram tocadas nesse projeto e são muito legais de serem interpretadas. Em “Firestorm”, regravei uma peça desse estilo. Foi algo natural de acontecer em “Genocide”.

Recife Metal Law – Como as músicas não contêm letras, como tu fazes para intitular cada uma delas?
Carlos –
Cada pessoa tem uma vivência única. As interpretações de sons e imagens estão totalmente voltadas às experiências de cada um. A música é singular e abstrata. Cada canção me lembra um determinado objeto, situação ou pessoa. É dessa forma que eu faço para escolher os nomes das canções, assim como o nome do disco. Quem sabe muitos escutem as peças e não concordem com os nomes. Isso poderia ser possível, mas como o CD é meu, fica o nome que eu escolhi. (risos)

Recife Metal Law – Com relação à capa de “Genocide”, existe a informação de que ele foi criada em 3D. Fale-nos um pouco mais a respeito da capa desse novo álbum...
Carlos –
Foi uma ideia do Gilby Sweet, pessoa responsável pelo encarte e pelo Myspace. Ele trouxe a possibilidade de fazermos assim durante uma reunião. Ele não tinha aplicado essa ideia em nenhuma arte anterior e como eu seria o primeiro, resolvi topar.

Recife Metal Law – Existe a possibilidade de Carlos Lichman sair em turnê para divulgar esse novo lançamento?
Carlos –
Sim! Estou sempre agendando novas datas de shows e workshops. Realizo eventos tanto com banda como com trilha. Atualmente estou envolvido em divulgar o máximo possível, então fica algo fácil de levar Carlos Lichman para diferentes lugares. Para os interessados, fica o e-mail para contato: [email protected]. Estou aberto a muitas propostas para a divulgação do trabalho novo, assim como para os serviços de free-lance. Gostaria de agradecer o Recife Metal Law pela oportunidade e por todo apoio. Valeu mesmo!

Site: www.carloslichman.com / www.myspace.com/carloslichman
E-mail: [email protected]

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação