REVIOLENCE





Com oito anos de atividades e com alguns lançamentos feitos, o Reviolence parece estar passando por sua melhor fase, inclusive ganhando um bom respaldo fora do país. Mesmo com as mudanças em sua formação, a banda se mantém firme e forte, e atualmente vem trabalhando para fazer o lançamento de seu novo álbum, ainda este ano. E nem mesmo a recente mudança no posto de baixista fez a banda desanimar, muito pelo contrário, já que tais mudanças de formação parecem fortalecer ainda mais o Reviolence, que atualmente conta com Edson Graseffi (bateria), Guilherme Spilack (guitarra), Ralph Wiltemburg (vocal) e Maurício Bertoni (baixo).


Recife Metal Law – O Reviolence surgiu em 2003, porém uma formação consistente nunca foi o forte da banda. O que acontece para que a formação do Reviolence varie tanto no decorrer dos anos?
Edson Graseffi –
Antes de qualquer coisa quero agradecer o espaço que o Recife Metal Law sempre deu ao Reviolence. É de se elogiar o espaço que vocês têm dado as bandas brasileiras. Bem, em relação a sua pergunta, realmente o Reviolence teve algumas formações diferentes, mas, se você observar, é possível se contar nos dedos de uma mão as poucas bandas brasileiras que mantiveram sua formação original desde o início. Muitos poderiam nessa pergunta culpar a cena Metal brasileira, mas eu, na verdade, vejo que no meio do caminho as pessoas desistem do sonho de estar em uma banda, porque estar em uma banda como Reviolence significa dedicação e trabalho. É muito mais fácil sonhar com tudo que a mística de uma banda de Rock envolve, do que realmente trabalhar para isso. Então falando em antigos membros, para alguns faltou seriedade, para outros ânimo de seguir adiante e alguns poucos casos faltou competência para estar na banda, gravar, tocar ao vivo e enxergar a coisa toda como trabalho. Eu estou nessa há muito tempo; dediquei uma boa parcela dos últimos oito anos de minha vida para esta banda e pretendo estar fazendo isso sempre. Então precisamos estar cercados de pessoas que tenham o mesmo ideal. Por outro lado o som do Reviolence tem sua assinatura, suas características próprias, assim mudanças de formação com certeza são negativas no quesito tempo, mas não afetam em nada nossa sonoridade... E a banda segue firme.

Recife Metal Law – Antes do lançamento do primeiro álbum, a banda lançou alguns EPs e participou de um Split (lançado em DVD). Mesmo com as mudanças na formação, o Reviolence sempre se manteve forte, na ativa. O que faz com que a banda, mesmo com os percalços, continue a produzir, sem parar?
Edson –
Cara, eu sou um obstinado, sempre fui. Tocar Metal é o que eu quero fazer, então, independente das mudanças de formação, eu sempre mantive a banda seguindo adiante, produzindo. Eu mesmo tive um sério problema em meu joelho e tive de parar de tocar. Trabalhei durante muito tempo com fisioterapia para me recuperar e voltei a tocar. Assim o Reviolence sempre esteve ativo. Quando o Guilherme entrou no Reviolence, pouco antes de gravarmos o EP “Violent Phoenix”, o Reviolence passou a ter dois obstinados, então a coisa se tornou mais forte, no que diz respeito a composição. Nós não olhamos para trás, passado é passado. Então a meta sempre é seguir adiante com o trabalho do Reviolence, produzindo material novo para o público. A banda é maior que tudo que aconteceu.

Recife Metal Law – Ano passado vocês lançaram o primeiro álbum, “Modern Beast”. Após sete anos de atividades, o que esse lançamento representado para a banda?
Edson –
“Modern Beast” foi de grande importância, porque trouxe o Reviolence no formato CD. Isso é uma coisa muito louca, porque mesmo em nosso caso, que já tínhamos dois lançamentos no formato EP e mais uma coletânea lançada na Alemanha, penso que as pessoas realmente só dão o real valor para a banda, a consideram “banda”, com um primeiro CD lançado. Isso soa muito estranho nos dias de hoje, onde o MP3 impera, mas aqui no Brasil, pelo menos, a coisa toda ainda funciona assim. Então, nós já tínhamos este respaldo da mídia e do público, tanto daqui como do exterior, e o “Modern Beast” veio só afirmar isso. Acredito que este álbum está fazendo a parte dele no que diz respeito ao crescimento da banda e sua afirmação na cena.

Recife Metal Law – O álbum contém doze músicas e uma “Intro”. As músicas carregam forte influência do Thrash Metal, mas com andamentos técnicos e com certa melodia, inclusive com o vocal de Rod Starscream seguindo uma linha mais Heavy Metal. Essa junção entre o Thrash e o Heavy Metal foi proporcional?
Guilherme Spilack –
É difícil medir a proporção Thrash/Heavy Metal contida em “Modern Beast”, assim como no Reviolence. Nós gostamos de trazer influências de vários estilos para o som da banda. De certa forma, esse é o grande diferencial do nosso trabalho. No álbum você pode encontrar Thrash Metal, Heavy, Neoclássico, coisas inspiradas no Rock N’Roll dos anos 70, etc.    É claro que as linhas de voz gravadas em “Modern Beast” soam mais Heavy, mas o todo é muito mais amplo. Realmente não consigo dizer o que tem mais nesse trabalho. Acredito que quando desenvolvemos esse trabalho buscávamos mais o peso, a precisão e a técnica do que ficar preso aos rótulos de Heavy ou Thrash.

Recife Metal Law – Ainda falando da questão do vocal limpo de Rod mesclado com som pesado e veloz do Reviolence. A ideia parece deixar as mensagens das letras bem claras para os ouvintes. Estou certo? Isso tem ligação direta com os temas das composições? Desde o início da banda era essa mesma a proposta?
Guilherme –
A escolha do vocal foi algo mais estético. Achávamos que esse tipo de vocal completaria a ideia de ser diferente dos padrões estéticos de cada estilo. É claro que por mais que tenhamos trabalhado com vocais mais agressivos, sempre primamos pela compreensão do texto. O público tem que entender o texto sem o auxílio da letra por escrito, se não, não teria sentido trabalhar um texto que tem toda uma reflexão sobre algum tema e fazê-lo se perder no meio de guturais incompreensíveis. Não sei dizer ao certo o quanto isso é proposital, já que entre nós sempre houve o censo comum de que as letras deveriam ser compreendidas pelo ouvinte.

Recife Metal Law – No verso do encarte do álbum existe a frase (traduzida para o português) “Eu sou o rei desse mundo. Eu sou o filho das cidades. Eu sou o mestre desse caos. Besta moderna...”. Na verdade essa frase faz parte da faixa-título. Por que enfatizar essa passagem na última página do encarte?
Guilherme –
Quando terminamos as composições do álbum, sabíamos o quanto a música “Modern Beast” era forte e representativa. “Modern Beast” está totalmente relacionado a tudo o que vivemos hoje nas grandes cidades, seja no trabalho, na mídia, na política, na sociedade... Temos várias “Bestas Modernas” espalhadas por aí atrapalhando as nossas vidas. Desta forma decidimos que ela seria o conceito do álbum. Criamos o personagem e toda a temática urbana que ilustra a capa. As fotos da banda, que estão no encarte e na contracapa, também mostram essa relação com o meio urbano e o texto no final do encarte vem para reforçar esse conceito da arte do álbum.

Recife Metal Law – E com relação à letra de “The Metal Church”, o seu intuito foi homenagear a banda Metal Church, o seu falecido vocalista David Wayne, ou não existe qualquer ligação entre a música do Reviolence e o Metal Church?
Edson –
Olha, sou uma grande fã do Metal Church e do David Wayne, inclusive em sua banda solo Wayne. Mas esta música tem uma história peculiar. Esta letra originalmente foi feita pelo meu irmão Paulo Graseffi, que tocou comigo por dez anos. Ela fala de nossa adolescência e tudo que nos envolvia nos anos 80. Eu pedi permissão a ele para que eu a usasse no disco e acabei mudando algumas palavras e poucas frases. Assim transformei esta letra em uma homenagem a toda as pessoas e todo aquele cenário Metal que eu e ele vivemos nos anos 80 na cidade de Mairiporã. Por isso o título “The Metal Church”, que na verdade é uma homenagem aquilo tudo que vivemos, todo aquele grupo de pessoas que iam a shows, trocavam discos, fitas e zines e tinham um grande sentimento de camaradagem, algo como nossa “Igreja do Metal”. Um fato bacana de ser contado é que, logo após o lançamento do CD “Modern Beast”, nós tocamos em um festival nessa cidade como ‘headliners’, e lá estavam todos os velhos headbangers que andavam com a gente no passado e meu irmão também estava lá. Então eu expliquei no microfone, o que é um fato raro, porque eu nunca falo em shows, sobre a música e o que ela representava... Foi emocionante para todos. Uma grande festa.

Recife Metal Law – Atualmente a banda vem trabalhando em composições para o novo álbum, tendo, inclusive lançado o single “King of the Night”. Haverá alguma mudança musical para o novo álbum, já que a banda conta com um novo vocalista?
Guilherme –
A única mudança musical esperada para o disco é o amadurecimento do trabalho. Desde 2007, quando eu entrei no Reviolence, o Edson e eu começamos a trabalhar juntos nas composições. A maior parte das músicas do “Modern Beast” veio dessa parceria. “Modern Beast” já estava pronto e gravado antes do vocalista entrar para gravar a voz, o King teve mais ou menos a mesma história, a música já estava pronta antes da troca de vocalistas. Claro que existem algumas contribuições. O riff da “King of the Night”, por exemplo, foi uma ideia do baixista, que depois eu trabalhei. Mesmo assim, a maior parte do trabalho do Reviolence vem dessa parceria com o Edson. Como não temos essa dependência dos vocalistas, acredito que o Reviolence continuará soando Reviolence com qualquer um que assuma os vocais. Os nossos conceitos estéticos são muito bem definidos. Então vocês podem esperar mais um disco com a assinatura do Reviolence!

Recife Metal Law – Tanto no álbum “Modern Beast”, como nos dois EPs posteriormente lançados, existe uma figura, uma espécie de mascote. Vocês pretendem usar essa mascote nas próximas capas do Reviolence? Essa mascote já tem um nome?
Edson –
Sim, é uma espécie de mascote da banda. Ela está em nossas capas de disco, camisetas e em nosso “backdrop” de palco. Ela esta bacana agora porque esta usando uma espécie de capacete. (risos) Com certeza estará presente nas capas dos próximos lançamentos. Infelizmente ainda não demos um nome oficial para ela. Já pensamos em algo que talvez vamos divulgar em breve.

Recife Metal Law – O Reviolence vem ganhando bastante respaldo no meio Underground, seja no Brasil ou em outras partes do mundo. A que se deve essa procura pelo som da banda?
Guilherme –
É muito bom ver que o trabalho desenvolvido há tanto tempo vem ganhando respaldo! É ótimo receber comentários positivos das pessoas ao redor do mundo, da mídia Metal, tanto brasileira como estrangeira, ver rádios pedindo músicas para incluir em suas programações. É ótimo! Acredito que isso é devido há uma série de fatores. O nosso trabalho, o cuidado e o preciosismo quando estamos compondo e produzindo. A quantidade de material lançado desde o single “Warning Hell” que ajudou o nome da banda a se manter aparecendo. As pessoas que ajudam o Reviolence com a parte de imagem e mídia, os sites as rádios e as revistas que estão sempre abrindo as portas ao nosso trabalho e, é claro, ao público, que comparece sempre aos shows, nos apóia muito e que também divulga o nosso trabalho para outros headbangers.

Recife Metal Law – Inclusive o vocalista do Tankard, Andreas “Gerre” Geremia, recentemente se declarou fã do Reviolence...
Guilherme –
Isso foi muito legal! Um dia recebemos um e-mail do Gerre dizendo que era fã do Reviolence e que não conseguia comprar o “Modern Beast” na Alemanha. Nesse e-mail, ele estava querendo comprar um disco com a gente! Não achamos legal vender o disco para ele, então enviamos um “Modern Beast” de presente e em retribuição ele nos mandou o último disco do Tankard autografado e com uma carta escrita por ele mesmo, à mão, nos agradecendo. Ele se mantém acompanhando a banda, tem sempre feito comentários positivos a respeito dos últimos lançamentos.

Recife Metal Law – A banda já chegou a gravar alguns clipes, porém nenhuma música do álbum “Modern Beast” foi escolhida para se tornar vídeo clipe. Alguma razão para que isso ocorresse?
Guilherme –
Claro que tínhamos a intenção de trabalhar mais o “Modern Beast”, uma tour maior, clipes, etc. Mas a saída do vocalista impediu que isso acontecesse. Imaginem vocês um clipe de “Modern Beast” com a voz de um cara sendo dublada por outro! Iria ser algo no mínimo estranho. Mas, de certa forma, superamos muito bem os fatos acontecidos, pois passamos a trabalhar com material novo, lançamos single, vídeo, chegamos a tocar mais uma música do próximo álbum ao vivo, as coisas estão fluindo muito bem e em breve as novidades aparecerão.

Recife Metal Law – O novo álbum será lançado ainda em 2011? Existe algo definido sobre o próximo lançamento?
Edson –
Sim, será lançado ainda este ano. Temos várias músicas prontas, e estamos trabalhando no restante da composição. Podem esperar que venha músicas bem pesadas por aí.

Site: www.reviolencemetal.com / www.myspace.com/reviolence

Entrevista por Valterlir Mendes. Colaborou Chakal
Fotos: Divulgação