HELLSAKURA

A banda HellSakura, apesar de ainda jovem, tem uma figura bem conhecida   no meio Underground: a vocalista/guitarrista Cherry, que já tocou na   banda Okotô, a qual teve certo respaldo no meio Underground. Voltando a   falar sobre o HellSakura, a banda é complementada pelo baixista Napalm e   pela baterista Pitchu. Juntos o trio já lançaram três materiais, sendo   um EP, um split e, mais recentemente, seu primeiro álbum de estúdio,   “Bloody to Water”, o qual vem ganhando vários elogios da mídia   especializada. Sobre o ‘debut’ álbum e outros pertinentes assuntos,   tivemos uma conversa com a banda...
Recife Metal Law – Antes da banda HellSakura, a vocalista/guitarrista   Cherry fez parte do Okotô, que teve certo respaldo no meio  Underground.  O que ocorreu para que o Okotô sucumbisse e desse lugar ao  HellSakura?
Cherry – Oi! Legal estar aqui respondendo essa entrevista! O Okotô   foi minha primeira banda; tenho muito orgulho disso, ainda mais por ser   lembrada até hoje. Eu acho que fizemos um bom ‘trabalho’. O HellSakura   começou com meu convite ao baixista Napalm para fazer um som e a Pitchu   entrou pouco mais tarde,  completando o trio.
completando o trio.
Recife Metal Law – Sakura é uma personagem de mangá/anime. Por que o   nome escolhido foi uma junção do nome dessa personagem com a palavra   “Hell” (que em português significa “Inferno”)?
Cherry – Sim, Sakura é um mangá, mas também é a flor de cerejeira,   com significado de prosperidade. O “Hell” todos sabem, mas não queremos   dizer que o inferno seja prosperidade, estamos só fazendo um contraste   entre as duas forças. Sakura é também o nome de um shoyu, molho com cor   preta e bem salgado muito usado pelos brasileiros.
Recife Metal Law – A banda surgiu oficialmente em 2008, e no mesmo   ano dividiu um split com a banda japonesa Kamisori. A razão de dividir o   split com o Kamisori foi em razão da descendência japonesa de Cherry?
Cherry – Nosso split com o Kamisori foi lançado pelo selo japonês   Karasu Killer. O Kamisori é uma grande banda de Tóquio; misturam Thrash e   Hardcore japonês e as coisas aconteceram com a ajuda de nosso amigo   Rafael Yaekashi do Darge, que já tinha tocado com eles antes. Eu queria   muito trazer o Kamisori para uma tour no Brasil. Estou louca para ouvir  o  CD novo deles!
Recife Metal Law – Não conheço as músicas do split, mas pelas informações que tenho, as músicas contidas no mesmo foram cantadas em português. O HellSakura, inicialmente, tinha como proposta fazer músicas em português?
 contidas no mesmo foram cantadas em português. O HellSakura, inicialmente, tinha como proposta fazer músicas em português?
Cherry – E realmente tinha vários sons em português, mas não importa   o idioma, simplesmente fico tocando os riffs, vou cantando em cima...   Não temos regras sobre qual idioma usar, qual vai ficar melhor...
Recife Metal Law – O segundo trabalho veio em forma do EP “Sakura   Fubuki”, com as músicas já cantadas em inglês. O EP conta com seis   músicas, as quais também estão presentes no primeiro full lenght da   banda. O intuito do EP foi mostrar algumas músicas que iriam fazer parte   do primeiro álbum?
Cherry – O “Sakura Fubuki” foi lançado no Japão. Depois nós gravamos   no Mr. Som mais quatro músicos e fizemos um full lenght, o “Blood to   Water”, e o lançamos com total apoio da Tumba Records.
Recife Metal Law – O primeiro álbum, “Blood to Water”, apresenta dez   músicas, e é um álbum curto, com menos de meia hora. Mesmo com o pouco   tempo de duração de suas músicas, as mesmas não são tão simples.   Obviamente que temos sons mais diretos, mas os riffs fogem do habitual   jeito de compor Punk  Rock. Quando vocês foram gravar esse álbum, o que vocês queriam apresentar, sonoramente falando?
Rock. Quando vocês foram gravar esse álbum, o que vocês queriam apresentar, sonoramente falando?
Cherry – Acho que é resultado de horas e horas tocando e curtindo os   riffs, ensaiando... Eu crio os riffs, arranjo as partes, mando MP3 ou   então eu me encontro com a Pitchu no meu mini bunker @home ou os três  no  estúdio lá em casa, e cada um dar a sua sugestão, apresenta outras   ideias. Mas nosso objetivo é ir direto ao assunto, sonoramente falando.
Recife Metal Law – No álbum existe uma música cantada em português,   curiosamente a mais agressiva. Houve a cogitação de se gravar mais   músicas em nosso idioma e com a mesma pegada furiosa de “Quem é Você?”?
Cherry – (Risos) Essa música e dedicada a alguém, mas não podemos   falar quem. Isso é influência do Punk/Hardcore brasileiro, tipo Olho   Seco, Ratos de Porão, Cólera...
Recife Metal Law – O álbum teve algumas participações especiais:   Serpenth (Belphegor), Donida (Enterro e Matanza) e Mayra Biggs. Alguns   desses músicos são integrantes de bandas que atuam dentro do cenário do   Metal extremo e com sonoridade que nada tem a ver com a proposta  musical  do HellSakura. Como rolou essa ideia de convidar essas pessoas?  A  participação das mesmas tem algo a ver com o conceito do disco e/ou  de  suas composições ou foi apenas uma jogada de marketing para agregar  mais  valor ao álbum?
Cherry – Não foi uma estratégia de marketing, foi só um jeito legal   de fazer um som com pessoas que temos afinidades musicais. O Serpenth  já  conhecia o som do HellSakura, então recebi uma mensagem sobre   participar do novo CD, e logo disse que sim! Então mandamos dois sons   (“Bombs Away” e “Distorted Mirror”) e ele gravou o solo de guitarra da   “Distorted Mirror”. Tivemos sorte que houve uma pausa na turnê do   Belphegor e conseguimos sincronizar as agendas. O Donida chegou no   estúdio com a palhetada na ponta dos dedos e disse que queria gravar a   base da “Very Dark Sunday”, além do solo, e ficou ótimo, porque faixas   com diferentes guitarristas deixa o som mais pesado. A Mayra, além de   ser uma baixista incrível, tem um dos melhore vocais que conheço!
Recife Metal Law – A produção ficou ao teu cargo e de Marcelo Pompeu e  Heros Trench (Korzus). Escutando o CD, em alguns momentos, parece que a gravação foi feita de   forma analógica, com fita. Fale um pouco de como foi o processo de   produção do álbum e diga se a ideia era dar essa impressão de sonoridade   antiga aos sons da banda.
   Escutando o CD, em alguns momentos, parece que a gravação foi feita de   forma analógica, com fita. Fale um pouco de como foi o processo de   produção do álbum e diga se a ideia era dar essa impressão de sonoridade   antiga aos sons da banda.
Cherry – Temos trabalhado juntos há algum tempo e gostamos do som   que eles tiram no estúdio. Em minha opinião a sonoridade crua e real   chega até os ouvidos com bons instrumentos, bons ‘takes’, boa sala de   gravação, e na hora mixar com o Heros deu para usar efeitos sem parecer   som de plástico. A tecnologia é bem vinda, mas fazer Rock e mais que   tecnologia!
Recife Metal Law – Ainda falando do álbum, notei que vocês optaram   por uma capa/encarte em fomato digipack sem caixa acrílica. Atualmente   muitas bandas de Punk e Crust do cenário mundial têm usado esses   formatos de ‘embalagem’, onde prevalece o papel. Houve mesmo uma   preocupação do grupo com o meio ambiente ou a escolha do formato foi   apenas por motivos estéticos e de logística? Pergunto isso, pois o disco   acaba ficando mais leve e com isso se reduz custos com postagens...
Napalm – No início tínhamos dúvidas em utilizar o digipack por   vários fatores... Ele fica mais leve para enviar pelos Correios, mas   fica bem mais caro pra ser feito, e não diminuiria o impacto contra o   meio ambiente, porque tudo que é feito em gráfica leva solventes de   tintas que serão despejados nos rios e mares. A gente se preocupa com o   meio ambiente, mas nossa colaboração está presente na mensagem   antinuclear que ilustra a capa e nos nossos sons. No final, depois de   discutirmos um monte, caímos na real que não economizaríamos nenhuma   gota do nosso suor para ensaiar, tocar e gravar, então a capa não   poderia ser  feita   com descaso. E fomos super apoiados pela Tumba Records, que nos deu   total liberdade para produzir o CD. Pessoas como o Edu estão cada vez   mais raras na cena Underground musical.
feita   com descaso. E fomos super apoiados pela Tumba Records, que nos deu   total liberdade para produzir o CD. Pessoas como o Edu estão cada vez   mais raras na cena Underground musical.
Recife Metal Law – A arte do encarte tem elementos de nossa cultura   mesclados com alguns lances japoneses. No primeiro momento, parece bem   óbvio, visto a origem da banda, nome e abordagens, mas o que esses   elementos têm a ver com o conteúdo do disco? Qual relação dos símbolos   aplicados e do personagem estampado na frente de capa com as letras das   músicas? Aproveite e explique qual foi o conceito criativo utilizado   para associar a ilustração da capa com o título do álbum e quem foi   responsável por essa arte.
Napalm – Achamos tanto o Brasil como o Japão países de elementos   culturais bastante opostos e autênticos. São duas culturas muito ricas e   diferentes, mas se completam. A capa surgiu logo após o acidente   nuclear que aconteceu no Japão recentemente. Isso me fez lembrar a época   em que éramos mais novos e passamos por uma situação parecida no   Brasil, com Angra dos Reis, depois o Césio 137... Não é um tema e sim   uma realidade que atinge o mundo todo. Nossas músicas não retratam   apenas gás tóxico vindo da cidade, mas também das forças opostas, do bem   e do mal se confrontando em busca do equilíbrio. A arte foi feita por   mim mesmo e fiquei muito feliz quando li algumas resenhas elogiando a   ilustração.
Recife Metal Law – “My Motorhead” e “Orgasmabomb” são nitidamente músicas para homenagear o Motörhead. Como surgiu a ideia de fazer tais músicas, e qual a influência que o Motörhead representa para vocês?
 Motörhead. Como surgiu a ideia de fazer tais músicas, e qual a influência que o Motörhead representa para vocês?
Napalm – “Motörhead is my fuel”! Essas músicas são para quem gosta   de Motörhead, como nós gostamos. E você não me peça pra tirar a   distorção do meu baixo! (risos)
Pitchu – Tudo! Desde o visual do Lemmy (“Metal-Punk-Rural) de ser e o som matador desse power-trio foda!
Cherry – “Lemmy my papa”, mas ele não sabe. (risos)
Recife Metal Law - Falando ainda das letras, faça um breve comentário   das demais letras de músicas que compõem o “Blood to Water”.
Cherry – Sobrou, então, humm. “My Motorhead” já foi...   “Orgasmabomb”, essa letra na turnê japonesa tinham uns americanos   cantando bem na minha frente. Eles estavam trabalhando numa base militar   que tem muito a ver com a letra. “Crown of Fire” na verdade não faz   sentido nenhum. (risos) Brincadeira! Pensando bem, a letra começou na   frente do hotel, quando uma homeless que passava resolveu ficar junto   com a banda e o Reyashi (Vader) olhou para ela e disse: “the   princess...”. “Bombs Away” inspirou o título do álbum. Acho que o Napalm   já explicou muito bem acima.
Recife Metal Law – Muito obrigado por conceder essa entrevista. Fica o espaço para as considerações finais...
Cherry – Agradecemos as pessoas que estão conhecendo o HellSakura e   fazendo contato com a banda, comprando CD e compartilhando as   informações. Esperamos produzir muito mais coisas nessa vida e,   principalmente, esperamos tocar em Recife em breve! Obrigada a Tumba   Records, Karasu Killer, Pearl, Manic Panic, Sick Mind, Hangar 110,   PlayTech.
Site: www.hellsakura.com
Entrevista por Valterlir Mendes e Chakal
Fotos: Divulgação, Maurício Santana, Sah Guerreiro e Akira Sesoko