SODAMNED





A banda Sodamned surgiu mesmo para fazer um som peculiar, mas mesmo assim mantendo as raízes do Death Metal em sua sonoridade, que vem carregada de feeling, punch e boas melodias. Depois de uma Demo e um Split lançados, no ano passado a banda lançou o excelente “The Loneliest Loneliness”, um álbum que mostra todo o poderio da banda, e que certamente a fará alçar voos maiores no meio Underground. Na entrevista a seguir abordamos sobre esse primeiro álbum e um pouco da história do Sodamned em mais de uma década de atividades. Confiram e não esqueçam de correr atrás do ‘debut’ álbum da banda, certamente um dos melhores lançamentos de uma banda brasileira em 2011.


Recife Metal Law – A Sodamned surgiu em 1999, tendo lançado uma Demo e um split, esse dividido com o Dark Celebration. Entre cada um desses lançamentos houve um intervalo de quatro anos. Como vocês analisam tais lançamentos e qual a importância que os mesmos trouxeram para a carreira da banda?
Juliano Regis –
Bom, a Demo é o pontapé inicial pra toda banda. Foi a primeira vez que a gente pisou num estúdio, então a gente tinha bem pouca experiência, mas mesmo assim tivemos um resultado bacana. E essa Demo foi bem elogiada pela mídia especializada, serviu pro pessoal saber que o Sodamned existia. O EP já foi um lance um pouquinho mais pensado. Trabalhamos com o Roger Fingle, que já é um produtor mais especializado em Metal, consagrado pelo lançamento de várias bandas bacanas aqui do Sul. Gastamos mais tempo gravando, pegamos um pouquinho mais firme na divulgação, e o resultado geral do lançamento foi bem mais positivo.
Gilson Lange – Os dois lançamentos foram essenciais para que fizéssemos inúmeros contatos dentro e fora do Brasil, e foram uma amostra da proposta sonora da banda. Apesar de a Demo ter ficado com uma sonoridade estranha, acho que na época já deu pra sacar nossas ideias, porém regravamos duas faixas dela agora no ‘debut’ pro pessoal poder sentir o verdadeiro poder dessas músicas.

Recife Metal Law – A banda, como quase todas, já sofreu com alterações em sua formação. Inclusive houve uma baixa recentemente, com a saída do guitarrista Edilson Lúcio. O que aconteceu para que ocorresse essa última baixa na formação?
Gilson –
Na verdade foi tudo muito simples: assim que voltamos da tour na Europa o Edilson entrou em contato com o resto de nós e informou que, por motivos pessoais e financeiros, não poderia nos acompanhar no futuro da banda. Já temos alguns planos daqui por diante, e claro que isso tem um custo a todos, ou em tempo ou em dinheiro, e ele verificou que não poderia fazer parte disso.

Recife Metal Law – E quais são as principais dificuldades que a banda encontra com as alterações ocorridas em sua formação?
Juliano –
Cara, sempre foi complicado achar novos membros pra banda. Da primeira vez que o baixista saiu, acho que levamos um pouco mais de um ano até achar o Felipe. Desde a saída do Leandro Nagata, foram quase três anos pra achar o Edilson. Agora com a saída do Edilson a gente achou o Guilherme em questão de semanas. Então, agora é passar as músicas e deixar a banda afiada para os shows ou para gravar. Enfim, sempre é muito trabalhoso ter um músico novo na banda, ao mesmo tempo em que sempre dá um gás novo pra trabalhar; cada membro novo acaba trazendo algo pra renovar a banda também.
Gilson – O foda é que aqui em Santa Catarina não existe uma quantidade razoável de músicos disponíveis para uma banda. A maioria já possui um ou dois projetos, e o restante tem que se enquadrar em certos parâmetros: em primeiro lugar o cara tem que ter uma mente aberta em relação ao som que fazemos, não ser muito radical em relação a estilo; a pessoa tem que abraçar as ideias de crescimento da banda também, ter alguma disponibilidade para as gravações e shows; e, por último, o cara tem que encarar também a logística que envolve cada ensaio nosso, já que cada um de nós mora em uma cidade diferente.

Recife Metal Law – Em seu release, a Sodamned informa que sua música é livre de restrições, porém seu estilo é o Death Metal, mesmo que esse seu estilo fuja do lugar comum. Livre de restrições significa que a banda pode chegar a mesclar elementos, digamos, que fujam da sonoridade Heavy Metal em sua música?
Juliano –
Não cara, eu acho que a gente quis dizer que não se prende a nada em específico dentro do Metal. Pegue nossa música “The Moutain”, por exemplo, o refrão dela tem um riff bem Heavy Metal, com duetos de guitarra e tudo mais, e no final da música ela vira totalmente Doom Metal, com um tempo bem lento e vocais mega guturais do Éder. Nosso CD tem bastante variação, é tudo calcado no Death Metal, mas a gente acaba passeando por outros subestilos do Metal.
Gilson – Isso mesmo, todos nós consideramos que o Sodamned é uma banda de Death Metal, ou então Death/Black Metal (em termos de som), porém o pessoal mais puritano acaba não gostando muito, pois não nos satisfazemos em fazer somente o tradicional nesta banda. Por isso colocamos lá no release que nossa música é ‘livre de restrições’, só pro pessoal poder ter uma ideia antes de ouvir o som. Mas claro, somos uma banda de Metal e ponto.

Recife Metal Law – Em 2011 a banda lançou seu primeiro álbum, o excelente “The Loneliest Loneliness”, e devo dizer que me empolguei com o álbum! Death Metal com muitas melodias e longe dos clichês do estilo. Como foi trabalhar nas composições desse álbum e o que vocês tinham em mente, sonoramente falando, para colocar nesse álbum?
Juliano –
Acho que tinha em mente o que eu sempre quis fazer desde o começo da banda: música rápida e melodiosa. Uma das primeiras bandas que me influenciaram a compor minhas próprias canções foi uma banda sueca chamada Algaion, que tem bem aquele estilão reto de batera com as guitarras constantemente ‘chorosas’. No Sodamned a gente gosta disso, mas sempre curte também quebrar os tempos, explorar mais as bateras... Enfim, como eu disse antes, passear um pouco por tudo que é possível fazer em termos de música extrema.
Gilson – A verdade é que quando estamos fazendo as músicas e os arranjos não nos preocupamos se está soando única e exclusivamente Death Metal: se o som agradou nossos ouvidos e nos empolgou está aprovada, não importa se soou Heavy, Thrash, Doom... Isso acaba dando personalidade a essas músicas. Mesmo que essa originalidade não seja nosso foco, e nem mesmo seja planejada, as músicas acabam ficando assim naturalmente.

Recife Metal Law – Em algumas músicas desse álbum houve a participação do vocalista da banda A Sorrowful Dream, o que tornou tais músicas ainda mais dinâmicas. Como surgiu a oportunidade de ter o Éder participando neste álbum?
Juliano –
O primeiro show do Sodamned foi junto com o A Sorrowful Dream, em 2000, e desde então eu sou fã da banda. Como a gente iria gravar em Caxias do Sul, que é bem perto de onde o Éder mora, na mesma hora já pensei em pedir pra ele gravar alguns vocais pra gente, pois acho que o cara realmente tem um domínio foda da voz dele. Ele passou um domingo com a gente no estúdio, experimentamos bastante dos vocais dele e o resultado está aí, realmente surpreendeu a todos nós.

Recife Metal Law – Na música “Painted in Blue” existe uma passagem cantada em português, com os vocais do Éder. Por que colocar essa passagem em português justamente nessa música?
Juliano –
Justamente porque era a única parte da música que o Gilson escreveu em forma de verso e, para preservar a rima e a musicalidade que isso proporciona, a gente decidiu deixar essa parte em português. Eu diria também que essa parte da música seria bem uma ‘frase de efeito’ que resume a música inteira. Achamos legal esse tipo de mistura de idiomas. Não teria parte mais adequada pra colocar o Éder cantando.

Recife Metal Law – A música de abertura se intitula “Fear”. Eu acho que a escolha foi totalmente acertada em colocar essa música como abertura do álbum. Como foi decidida a ordem das músicas para “The Loneliest Loneliness”?
Juliano –
Não lembro, realmente. Lembro que já na Demo eu quis começar com uma “intro” e blá blá blá, e o Gilson já veio com a ideia de começar logo com algo mais violento, pra começar assustando o ouvinte. Foi assim no EP também. E quando selecionamos as dez músicas que fariam parte de “The Lonelinest Loneliness”, a “Fear” já saltou como a música de abertura, por ser violenta, por ter um riff marcante, por ter mais cara de hit mesmo. É uma música que empolga bastante quem a ouve, inclusive a gente abre o show com uma “intro” bem veloz já seguida da “Fear”.
Gilson – Acho que na época fui eu que sugeri essa ordem, ou o rascunho de como acabou ficando. A ideia era chamar a atenção mesmo, colocando inicialmente músicas cujos riffs iniciais sejam bem ‘pegajosos’. E o riff da “Fear” soa como o pavio da dinamite, entende? Ele vem numa ascendente de tensão que acaba prendendo o ouvinte! Gosto de começar nossos lançamentos já metendo o pé na porta!

Recife Metal Law – O álbum teve produção a cargo da própria banda e de Roger Fingle (Seduced by Suicide) no Estúdio Nitro. Eu gostei bastante do resultado final, afinal a parte instrumental ficou bem definida, compacta. Mas como vocês da banda avaliam o resultado final da produção do álbum?
Juliano –
Cara, está realmente satisfatória. Aos meus ouvidos nunca vai soar perfeito, sempre vou achar defeitos e é isso que vai me fazer querer gravar um próximo álbum, mas eu estou muito satisfeito mesmo. Quando lançamos o EP, eu achava um resultado bacana, mas não estava satisfeito de verdade; tinha várias coisas que me incomodavam. Com o “The Loneliest Loneliness” eu estou bem feliz. Em termos de definição e peso é algo que eu acho que sempre busquei.
Gilson – Sempre que ouvimos o CD rola aquela voz interior: “putz, bem que eu podia ter feito isso ou aquilo nessa parte da música”. Agora em termos de produção ficou realmente espetacular! A única coisa que realmente não gosto é de como soam os pratos de bateria, e o Felipe já comentou também que mudaria algumas coisas em relação à sonoridade do baixo. Mas com certeza é uma produção de primeira, superior até mesmo a várias coisas que ouço de fora do Brasil.

Recife Metal Law – O responsável pela arte gráfica foi o conceituado Gustavo Sazes. Como foi trabalhar com esse artista e como foi toda a concepção da arte gráfica do álbum? O Gustavo ficou livre para elaborar a arte da forma que quisesse?
Juliano –
Isso, exatamente! A gente tinha o nome do CD, sendo que a gente havia tirado esse nome de um conceito do Nietzsche sobre o “Eterno Retorno”, e o CD contém uma música que é embasada liricamente nesse conceito. Enviamos pro cara o nome do CD, o texto do Nietzsche e a letra da música, e o cara veio com a ideia, que foi aprovada logo de cara.
Gilson – A gente não se intrometeu em nada em relação à concepção, somente fizemos um pedido de que a capa deveria passar um sentimento de morbidez e melancolia ao mesmo tempo, e acho que o cara acertou em cheio!

Recife Metal Law – Voltando a falar sobre as músicas, uma delas é instrumental e recebe o título de “Um Enigma Envolto em Mistério”. Por que intitular essa música instrumental em português?
Gilson –
Como a música não tem letra mesmo, não tinha porque não intitulá-la em português, entende? Tirei a frase de um livro do Stephen King e gostamos do jeito que ela soava em português e ficou assim.

Recife Metal Law – No início, o vocalista e baixista da banda era Gerson Lange, irmão do baterista Gilson Lange. No encarte existe a informação de que Gerson foi responsável pelo arranjo da maioria das músicas, juntamente com o próprio Sodamned. Mesmo fora da banda, Gerson continua a colaborar?
Juliano –
Não, cara. O fato é que boa parte das músicas que estão no CD foram compostas ainda na época em que o Gerson estava na banda; então ele participou dos arranjos e tudo mais. Hoje ele não contribui mais nesse sentido com a banda.
Gilson – Depois que o Gerson saiu da banda deu força pra gente, mas nos shows, atuando como uma espécie de roadie e também monitorando o som pra gente.

Recife Metal Law – Uma curiosidade: A banda surgiu em 1999, quatro anos depois lançou sua primeira e única Demo. Após esse lançamento, a banda lançou em 2007 o split, ou seja, quatro anos depois da Demo. Em 2011 foi a vez do primeiro álbum, separado por quatro anos, após o lançamento do split. Coincidência ou foi tudo planejado?
Juliano –
Não sei dizer, realmente. A gente gostaria de lançar coisas com mais frequência, mas isso não é possível. Conheço um monte de bandas que simplesmente lança algo, não divulga ou distribui direito, e já parte pro estúdio pra gravar um novo lançamento. A gente tem muito tesão de compor e gravar coisas novas, mas também temos em mente que as gravações, prensagem e tudo mais consomem tempo e, principalmente, muita grana, então a gente sempre tentou trabalhar o máximo em cima da divulgação de cada lançamento. De fato no lançamento do “The Loneliest Loneliness” a gente está realmente trabalhando muito pesado, entrando em contato com inúmeras revistas, zines, rádios, enfim, todos os meios possíveis, e dessa vez a coisa está acontecendo de forma mais intensa. É certo que não queremos esperar tanto tempo pelo próximo lançamento.
Gilson – (Risos) Cara, nunca tínhamos reparado nisso! Foi, com certeza, pura coincidência. Como o Juliano falou, queríamos ter lançado com uma frequência maior, e isso não aconteceu por força de ‘trocentos’ motivos diferentes. Mas a ideia é mudar isso pros próximos lançamentos.

Recife Metal Law – A Sodamned já está com as metas traçadas para o ano de 2012?
Juliano –
Sim, muitas metas, inclusive. Acabamos de fechar quatro datas em Minas Gerais (Abril) e quatro datas na Argentina (Outubro), e isso já é o primeiro passo para nossa maior meta, que é tocar fora do Sul do país, bem como em países da América do Sul. Uma tour pelo Norte/Nordeste do país vai rolar também, estamos com vários contatos engatilhados já, e vamos continuar trabalhando bem firme na divulgação do CD. É isso aí!
Gilson – Sem contar que ainda temos muito que divulgar do novo CD. Inclusive se alguém se interessar pelo som da banda, todo o novo CD está disponibilizado para audição em nosso Myspace (www.myspace.com/sodamned), ou pelo Youtube, onde inclusive recentemente inauguramos nosso canal com várias imagens da tour europeia (www.youtube.com/bandaSodamned). Bang ‘till Death amigos!

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação