UNEARTHLY

Unearthly. Com certeza uma das bandas que mais tem crescido no meio Underground nacional. Mas isso não foi conquistado da noite para o dia, já que a banda vem trabalhando duro desde 1998, lançando diversos materiais (de qualidade indiscutível), fazendo muitos shows, inclusive fora do país, e tendo lançado, no ano passado, “Flagellum Dei”, um álbum que é simplesmente esmagador e que só vem a confirmar todo o poderio do Unearthly. Sem maiores delongas, fiquem com a entrevista a seguir, concedida por Eregion (vocal/guitarra) e M.Mictian (baixo), a qual esclarece diversos assuntos da carreira da banda, inclusive sobre o novo álbum.
Recife Metal Law – O Unearthly surgiu como uma banda de Black Metal, onde apresentava pequenas influências do Death Metal. Com os anos e alguns lançamentos a banda saiu do lugar comum e hoje é praticante de um Death/Black Metal poderoso e devastador. Essa transição entre estilos parece ter sido algo bem natural para a banda...
Eregion – Sim, realmente foi natural, pois sempre buscamos uma evolução/maturidade, sonora e
profissionalmente. Fomos seguindo e fazendo sempre aquilo que acreditávamos que seria um passo a frente.
Recife Metal Law – A coisa mais interessante nos lançamentos do Unearthly é que o ouvinte pode esperar por boas surpresas e não por algo previsível. Existe um estudo antecipado para que cada lançamento da banda cause um impacto que ainda não tinha sido causado pela própria música do Unearthly?
M.Mictian – Procuramos sempre fazer o melhor para cada álbum, e de maneira nenhuma ficar nos repetindo, nos auto-copiando. Desta forma tentamos achar sempre algo novo, bom, que enriqueça nossas músicas, algo para surpreender mesmo. Seria muito ruim se ficássemos fazendo sempre as mesmas coisas.
Recife Metal Law – Entre Demos, singles, EPs e álbuns, o Unearthly já soma onze lançamentos. A banda, agora em 2012, completa 14 anos de atividades. Como é, para vocês, fazer tantos lançamentos e atrair a atenção da mídia e público, com tais lançamentos na época da facilidade para se ter música gratuita?
Eregion – Desafio, sempre um novo desafio. Fazer música no Brasil já algo realmente difícil, música extrema então é quase impossível, por isso a cada lançamento fazemos um grande planejamento para que tudo funcione da melhor maneira possível, dentro das nossas limitações financeiras e políticas (Brasil). Posso te afirmar que fazemos ‘milagre’. (risos)
Recife Metal Law – “Flagellum Dei” é o novo álbum da banda, e traz onze músicas de uma qualidade
indiscutível. Como foi toda a concepção sonora e lírica desse álbum?
M.Mictian – O Eregion organizou um cronograma durante várias semanas, no qual consistia em determinados dias estarmos em seu home estúdio criando, compondo e gravando as músicas. Nos outros dias ouvíamos as canções em casa e tentávamos melhorar ou acrescentar algo mais ou até limar algumas coisas que não nos agradava; depois regravávamos e partíamos para os ensaios e foi fluindo muito bem desta maneira... Fomos colocando nossas ideias juntando tudo para chegarmos ao produto final.
Recife Metal Law – Falando da parte lírica, ela vem bem diversificada. Inclusive todas as letras vêm com um pequeno comentário sobre os temas que as mesmas falam. A banda já recebeu algum tipo de crítica por não direcionar sua temática lírica apenas para temas obscuros e anticristãos?
Eregion – Não, ainda não recebemos nenhuma crítica do tipo, mas acredito que todas elas estão no mesmo contexto, do satanismo de Lavey, e do anti-cristianismo moderno. Na verdade todas as letras, apesar de terem um conteúdo diferente entre si, trabalham sobre a mesma abordagem e o mesmo ponto de vista.
Recife Metal Law – A parte sonora é uma verdadeira devastação sonora, algo que, sinceramente, eu já esperava do Unearthly. Porém o impacto é bem forte, até mesmo para quem já está acostumado com o poder das músicas do Unearthly. Como vem sendo a aceitação desse álbum, tanto na mídia especializada como pelo público?
M.Mictian – As críticas estão sendo as melhores possíveis e as vendas também. Estamos felizes por alcançarmos um nível alto com esse lançamento e também felizes por todos que gostam de boa música estarem entendendo a proposta e exaltando “Flagellum Dei”.
Recife Metal Law – Lembro de ter conversado rapidamente com M.Mictian antes da viagem para a
Polônia, onde a banda registrou todas as faixas do novo álbum. Nessa conversa ele falou um pouco da rotina de ensaios diários e alguns preparativos. Como foi toda a preparação para essa ‘aventura’ e quais foram os pontos fortes do processo de gravação lá no Hertz Studio?
Eregion – Foi como estar num exército! Algumas semanas ensaiávamos todos os dias, umas três horas no mínimo, depois íamos para o meu home studio e gravávamos alguns riffs... Fizemos tudo com muito esmero, com medo da pressão que sentiríamos lá e por acreditarmos no sucesso do nosso suor. Mas ao chegar lá vimos que o clima foi mais fácil do que esperávamos; o processo todo em si é bem diferente do que se tem aqui no Brasil, isso é uma coisa que deu 90% da ‘cara’ do som, e vimos que todo nosso esforço deu certo, pois foi bem tranquilo o processo de gravação e produção. Tudo funcionou muito bem.
Recife Metal Law – Ainda falando da gravação do “Flagellum Dei”, vocês contaram com a participação especial de Steve Tucker, ex-Morbid Angel, nos vocais da música “Osmotic Haeretic” e isso, com certeza, agregou algum valor ao álbum. Mas como aconteceu esse contato com Steve? Isso já estava nos planos do Unearthly ou foi algo que ocorreu por acaso?
M.Mictian – Eu mantenho contato com Steven Tucker já faz algum tempo e nunca escondi a minha admiração pelo seu trabalho com o Morbid Angel e ele também sempre falava bem de nossas músicas e acabei fazendo o convite para ele fazer participação em alguma música nossa. Ele se mostrou bem interessado... Nós escolhemos a música e enviamos até ele... Foi tudo bem simples. O Steve é um grande cara!
Recife Metal Law – Em 2011 foram publicadas algumas notas através da assessoria de imprensa da
banda informando que o Unearthly havia assinado o lançamento do “Flagellum Dei”, com a gravadora Atmostfear Entertaiment Records. O lançamento do álbum iria ocorrer no segundo semestre de 2011, porém o lançamento foi realizado pelo selo brasileiro Shinigami Records. O que ocorreu para o rompimento com Atmostfear Entertaiment e essa mudança de planos?
M.Mictian – Tivemos vários problemas com essa gravadora que você citou, então decidimos não lançar “Flagellum Dei” com eles, já que eles não cumpriram com o que tínhamos acordado para o lançamento do “Age of Chaos”. Para não termos mais problemas preferimos romper com eles e no momento a Shinigami Records está fazendo um bom trabalho com “Flagellum Dei”. Isso é o que importa para nós.
Recife Metal Law – O novo álbum foi lançado em formato CD aqui no Brasil. Seguindo essa nova tendência de formatos analógicos, existe algum planejamento para lançamento do álbum em vinil ou outro formato através de alguma outra gravadora?
M.Mictian – Seria bem interessante sim. Eu confesso que até gostaria de fazê-lo, mas não temos nenhuma posposta de lançar o “Flagellum Dei” em outro formato, infelizmente.
Recife Metal Law – A musicalidade, apesar de bruta, pesada e demolidora, é bem feita. É música extrema feita por quem sabe fazer música extrema. Para os que acham que fazer música extrema é apenas tocar rápido e barulhento, “Flagellum Dei” seria uma boa resposta?
M.Mictian – Sinceramente não queremos dar resposta nenhuma a ninguém; queremos, na verdade, é fazer nossas canções e trabalharmos com a nossa banda. Nós sabemos o que é melhor pro Unearthly, para as outras bandas não sabemos. Não vivemos criticando ninguém por aí; não nos importamos com a vida ou com a banda de ninguém, já temos problemas demais com o Unearthly, então ficamos focados em nós mesmos e
sempre tentando fazer boa música.
Recife Metal Law – Apesar de todo o aparato bélico encontrado nas músicas, a banda não envereda apenas pelo caminho da brutalidade, inserindo nos andamentos das músicas passagens mais cadenciadas e até acústicas, como ouvidas em “Baptized in Blood”. Por que inserir essa parte acústica justamente nessa música?
Eregion – Foi, como alguns dizem, ‘feeling’. Fizemos tudo o que acreditávamos que a música pedia. Como a letra trata de algo triste na história do brasileiro, pensamos numa melodia dissonante comum das músicas de Bossa Nova/MPB, para fazer o ‘gran finale’ dessa música, e nas outras, fizemos com que a melodia desse um ‘looping’ abrindo e fechando o disco, como se estivesse embalando algo.
Recife Metal Law – Já em “Black Sun (Part I)” existe uma parte de música regional, mais precisamente de baião. Como foi inserir esse estilo musical na sonoridade do Unearthly?
M.Mictian – Somos brasileiros, temos groove! (risos) Mas o fato é que gostamos de música regional brasileira e parece que isso está no nosso sangue. Porém, se você prestar bastante atenção, o disco tem sempre passagens, em determinadas partes, de bateria tribal e alguns outros elementos. A ideia era essa mesma. A intenção era mesclar Metal extremo com esses elementos, mas sem perder a brutalidade, a agressividade peculiar do Metal, e quando Vinnie Tyr trouxe essa ideia pra essa música ela se encaixou perfeitamente e foi bem natural. Então olhamos uns para os outros e dissemos: “Está perfeito”.
Recife Metal Law – Duas músicas nesse álbum são instrumentais: “Limbus” e “Exterminata”. Como vocês analisam a importância de tais músicas para um álbum como “Flagellum Dei”?
Eregion – Essas músicas servem para levar o ouvinte a momentos de calmaria antes da tempestade. Servem para mexer com a concentração e os instintos dos ouvintes.
Recife Metal Law – A arte gráfica de “Flagellum Dei” segue uma nova abordagem de cores. A banda
apostou no branco gelo e tons claros, criando o ambiente onde uma figura papal obscura aparece centralizada, e ainda foram aplicados alguns elementos de outras seitas e religiões na parte interna do encarte. Nota-se uma associação direta com o tema, mas ficam indagações para quem apenas olha a imagem, uma vez que se trata de uma banda que aposta no Black/Death Metal. Por que o uso das cores claras, bem diferentes do que a banda fez em toda sua discografia? Qual a mensagem que a arte do álbum busca passar? Quem foi o responsável pelo design?
Eregion – A ideia de cores claras foi justamente para diferenciar o CD de outros de nossa discografia, e da maioria das bandas de Metal, para ter uma abordagem sutil a primeira vista, mas com várias blasfêmias e símbolos de ocultismo presentes de maneira insípida, que dão um tempero e o contexto do material. A arte foi concebida pelo nosso amigo e tatuador Edu Nascimento, desenvolvida em parceria conosco (Eu e Mictian), e que recebeu uns toques finais do artista tcheco Dariusz Illyanov.
Recife Metal Law – 2012 está apenas começando, mas o Unearthly já tem planos traçados para todo este ano?
Eregion – Sim, bastante planos. A nossa meta é fazer o máximo de shows possível aqui no Brasil e fora para espalhar nossa mensagem e nosso álbum como uma praga. Até o momento já temos shows agendados em São Paulo, Rio de Janeiro, São Luiz do Maranhão, João Pessoa, Recife, Minas Gerais, dentre vários outros, e fora, até o momento, estamos com uma tour na Austrália, shows no leste europeu (Rússia, Bielo-rússia, Polônia), um ‘fest’ na Índia e estamos em negociação para América do Norte e centro europeu.
Site: www.theunearthly.com
Entrevista por Valterlir Mendes e Chakal
Fotos: Maria Fernanda Calls, Nathan Thrall e Divulgação