NECROPSYA
Muitas bandas, apesar de sua qualidade sonora, trabalham de forma independente, e mesmo assim, a cada lançamento, mostram uma qualidade indiscutível. Esse é o caso da paranaense Necropsya, que recentemente lançou seu segundo álbum de estúdio, “Distorted”. Ao todo, são 12 anos de carreira, uma Demo, um EP e dois álbuns lançados, tudo feito de forma independente, mas cada um mostrando uma evolução natural e eficiente, fazendo de sua música algo bem peculiar. Há sete anos a banda mantém a mesma formação – Henrique Vivi (baixo e vocal), Celso Costa (bateria) e Henrique Bertol (guitarra) – e talvez esse seja um dos fatores para que o Necropsya se mantenha firme e forte, fazendo música de qualidade e lutando no meio Underground.
Recife Metal Law – O primeiro álbum do Necropsya, “Roars”, foi lançado em 2007, de forma independente. De que forma vocês, hoje, analisam esse lançamento, tanto em termos de divulgação como sonoramente?
Henrique Vivi – Salve galera do Recife Metal Law e leitores! Do nosso primeiro álbum para cá pudemos conhecer muita gente, ver como funciona melhor a cena e aprender muito com a experiência de estrada, de palco, de divulgação... Enfim, tudo isso serviu como base. Então, claro, analisando bem, poderíamos ter feito diferente em algum ponto ou outro, mas jamais nos arrependemos. O “Roars” abriu muitas portas e nos deu oportunidade de ter um ‘feedback’ para crescermos que jamais teríamos se não tivéssemos lançado aquele CD daquele jeito. Fizemos o que era o nosso melhor na época e sempre o olharemos com satisfação.
Recife Metal Law – Desde o seu início a banda vem trabalhando de forma independente, mas mostra profissionalismo a cada lançamento feito. Trabalhar dessa forma facilita na hora de criar?
Henrique – Obrigado! É importante saber que estamos cada vez mais mostrando nossa cara, aprimorando nossa identidade sonora e sempre dando um passo de cada vez. É trabalhoso por fazermos tudo independente, mas é maravilhoso por termos a liberdade total em tudo o que envolve a banda. Na hora de criar, isso facilita bastante no sentido de ter um norte e, cada vez mais, ‘o que fazer e o que não fazer’ fica mais claro.
Recife Metal Law – Em 2011 foi a vez de a banda lançar seu novo trabalho, “Distorted”. Esse álbum mostra um amadurecimento musical impressionante, e mesmo fazendo um som com características próprias não deixa de soar Thrash Metal. Isso mostra que é possível evoluir sem ter que adicionar elementos estranhos ao som feito por uma banda, não estou certo?
Henrique – Certíssimo! Concordamos e temos isso muito bem focado na hora de compor. O Heavy Metal é um estilo maravilhoso, porém sabemos que a linha entre o inovador e o “tosco” no estilo é muito tênue. Então, por mais que a intenção de alguma música seja complexa ou inteligente, agregando outros estilos, já vimos que no Necropsya não dá pra sair experimentando qualquer coisa sem total consciência, senão também vira uma salada sonora. Ao invés de expandir ainda mais nosso som, acabaríamos fazendo o contrário.
Recife Metal Law – Vamos falar sobre a arte gráfica do novo trabalho, que novamente veio bem abstrata. O que vocês quiseram transmitir com a imagem da capa, bem como com o título do CD?
Henrique – Boa pergunta – depois das músicas escolhidas e gravadas, e conversar sobre possíveis artes, chegamos a esta ideia dos prédios, uma selva urbana que, quando se reflete, mostra algo mais distorcido que os prédios originais. Além disso, o reflexo nos permitiu pensar um pouco mais adiante em um desenho que, dependendo de quem o vê, mostra uma onda sonora. O conteúdo lírico da faixa “Distorted” tem muito a ver com estas ideias todas, então passamos a ideia para o artista gráfico, o Allan Deangeles, que fez uma tremenda arte.
Recife Metal Law – Na parte de dentro da caixa do CD existe uma imagem curiosa, que é um homem engravatado, como se estivesse meditando, uma mulher pedindo esmola a este homem, e ambos sentados no pátio de uma fábrica abandonada. Qual a razão para esta imagem estar inserida no encarte do CD?
Henrique – Esta arte é maravilhosa! O conceito todo da arte do CD é mais ‘clean’, porém, quando o Allan fez esta imagem para nós, ficamos boquiabertos. Aquela arte vale mais que muitas palavras e conseguiu traduzir nosso pensamento do contraste em achar que é normal e é aceito coisas bizarras que acontecem – uma criança atirar em uma professora em sala de aula já não é uma notícia chocante, uma buzinada no trânsito já deixa o cara irracional, um status ou conta bancária define a desigualdade cada vez mais, já os valores e educação das pessoas não servem tanto para definir um caráter... “Que porra é essa?” é mais ou menos como começa a letra da faixa “Distorted”. A indiferença de um senhor bem afeiçoado que se sente tão zen com o feio e à pedinte ao seu lado foi muito bem sacado pelo Allan. Apesar de não ter a ver com o resto da arte do CD, fizemos questão que ela estivesse ali.
Recife Metal Law – Com relação à parte musical, como já mencionado, ela soa bem peculiar e inerente ao Necropsya, mas uma das músicas, “Proud and Maggots”, tem algumas levadas que me fizeram lembrar a banda gaúcha Distraught. Vocês chegam a sofrer algum tipo de influência de bandas, sejam elas nacionais ou ‘gringas’, na hora de compor as músicas do Necropsya?
Henrique – Sim, demais e o tempo todo! Tentamos, obviamente, não ‘chupinhar’ uma banda tão na cara, pois acreditamos que não agrega muito à cena e alguns encarariam como cópia – e com razão. Conhecemos o Distraught, é uma ‘sonzera’, mas se ele realmente serviu de influência direta na “Proud and Maggots”, não saberíamos lhe dizer com firmeza. Nós três temos influências diferentes e todas as músicas são processos feitos em conjunto, então em cada música nossa tem um pouco de cada coisa que gostamos de ouvir.
Recife Metal Law – A banda mostrou diversas facetas nesse novo material, tais como agressividade, groove e algo mais contemporâneo em sua musicalidade. O quão isso é importante para o enriquecimento da música do Necropsya?
Henrique – É importante no sentido de uma música não virar uma cópia de outra, ainda falando sobre influências. Desde o começo, focamos em deixar o CD musicalmente abrangente, sem perder nossos elementos como uma banda de Metal. Isso também partiu do princípio de que a pessoa que for ouvir o álbum não se canse ao longo do CD com músicas que talvez sejam muito parecidas entre si. Estávamos tão envolvidos com vários tipos de música e tocando em outros projetos que, na bem da verdade, isso foi natural. Vemos isso com naturalidade o tempo todo e é muito bacana que isso está sendo bem encarado pela mídia especializada.
Recife Metal Law – Duas músicas contam com participações especiais nos vocais. São elas: “Ask Myself” e “Kill ‘Em”. Por que a adição de convidados nessas músicas?
Henrique – O Daniel Gonzalez é o vocal do Satisfire, uma banda ótima de Guarapuava/PR. Os caras são parceiros de longa data, o baterista (Alessandro Küster) produziu o álbum todo, e aproveitamos uma passagem do Daniel no estúdio pra gravar junto a “Ask Myself”, pois o cara tem o grito certo praquele refrão! Já a participação do Flavio Franco é curiosa – o cara é um figuraça... Depois de uma noite que vimos que ele consegue falar e gritar arrotando ao mesmo tempo (!!!), pedimos pra ele deixar seu talento gravado. O “Kill’em”, antes do último refrão, foi gravado cru e o produtor ficou tão abismado que nem mexeu no áudio dele!
Recife Metal Law – Atualmente muitas bandas vêm adicionando em seus álbuns músicas cantadas em português. Qual foi a razão para que vocês colocassem duas músicas (“Utopia” e “Stress”) cantadas em português no novo álbum?
Henrique – Olha, não vemos problema algum em fazer músicas em português. Porém, não dá pra achar que tudo em português ficará bacana – precisamos respeitar o fato de que, assim como samba em inglês não é algo ainda muito bem aceito, algo semelhante se aplica ao Metal em português. Querendo ou não, a cultura do Metal está ligada à língua inglesa. Então, fazemos música em português só se ela soa bem em português, e foi o caso da “Utopia” e da “Stress”.
Recife Metal Law – A atual formação da banda está junta já faz bastante tempo. Isso facilita na hora de compor as músicas, bem como de deixar tais sons com uma musicalidade inerente ao Necropsya?
Henrique – Com certeza. Tocar junto há sete anos com os mesmos caras faz um bem enorme! Além disso, nós três trabalhamos diretamente com música, e isso nos dá campo para tocarmos juntos em outros projetos, com vários tipos de som. Então temos isso muito bem embasado, o entrosamento entre nós facilita bastante.
Recife Metal Law – Assim como a parte instrumental, a parte lírica é bem diversificada. Falem, um pouco, a respeito da temática lírica desse álbum. Mesmo tratando de diversos assuntos, existe uma espécie de ligação entre as mesmas, o título do álbum e sua capa?
Henrique – Não vamos mentir, no começo não existia. Mas, quando já tínhamos boa parte das músicas compostas e começamos a imaginar como elas funcionariam em uma unidade, vimos que as temáticas das letras, de certa maneira, se entrelaçavam. Veja, não é um álbum conceitual, porém, a ideia de que a nossa sociedade anda tão contrastante, desigual e distorcido se faz presente em boa parte das letras. Em outras, como tudo isso tem consequências nos conflitos internos, atitudes, protestos, indignações, etc., não foi algo intencional, mas vimos que isso poderia ser aproveitado no meio da gravação.
Recife Metal Law – O lançamento de “Distorted” também é marcado por uma mudança no logotipo da banda. Qual a razão para mudar o logotipo?
Henrique – Bom, a mudança de atitude e a maturidade que queremos buscar não poderiam ser só na parte musical. O logo antigo foi feito pelo Henrique Bertol (guitarra) quando começamos a tocar, lá na nossa adolescência, e achávamos que precisava de uma reforma. Novamente convocamos o Allan DeAngeles que manteve uma semelhança, porém, conseguiu inovar e ficamos felizes demais com o resultado.
Recife Metal Law – Trabalhando de forma independente, como vocês procuram agendar os shows do Necropsya? Existe a possibilidade de a banda fazer uma tour de divulgação do novo álbum?
Henrique – Como trabalhar independente é mais difícil, nós três procuramos agendar shows e manter a banda dentro das nossas possibilidades de agendas pessoais, etc. Fizemos uma mini-turnê de divulgação deste álbum que envolveu cidades do Paraná e Santa Catarina, mas esperamos que isso seja só o começo! Agradecemos demais o espaço dado pelo Recife Metal Law, e estamos ansiosos demais para tocar ainda mais e fazer a nossa música cada vez melhor! Para quem não conhece o som: http://soundcloud.com/necropsya - além de estarmos presentes nas redes sociais. Grande abraço a todos!
Site: www.myspace.com/necropsya
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Heloisa Heidgger e Makila Crowley