FALLING IN DISGRACE





A banda pernambucana Falling In Disgrace tem pouco tempo de atividades, mas conta com músicos que ficaram conhecidos no meio Underground pernambucano por terem participado, anteriormente, de outras grandes bandas, que por este ou aquele motivo deixaram de existir. Após o lançamento de uma Demo, a banda partiu para o lançamento de seu primeiro álbum, e vem divulgando o mesmo com bastante afinco e de forma totalmente independente. Atualmente o Falling In Disgrace é formado por Márcio Paraiso (guitarra), Nilson Marques (baixo/vocal) e Hugo Veikon (bateria).

Recife Metal Law – Como vocês avaliam a importância da Demo “Never Die Alone” para o amadurecimento musical do Falling In Disgrace?
Márcio Paraíso –
Sem dúvida alguma a Demo “Never Die Alone” foi o pontapé inicial para a banda e uma migração de uma fase que eu e Hugo Veikon (bateria) tivemos, pois viemos de uma banda de Brutal Death Metal e naquela época gostaríamos de fazer algo com mais groove e tal. Porém, por questões de gosto de Elvis, outro membro de nossa ex-banda (Abyss of Darkness) isso foi impossível. Após anos só indo a shows e afastado de compromisso com banda eu voltei, junto com Nilson Marques (vocalista/baixista) e Krakum Santos (ex-Falling in Disgrace) e convidamos Hugo Veikon. Assim lançamos a “Never Die Alone” (Demo que foi disponibilizada apenas para download) e ali mostramos nosso feeling e amadurecimento como músicos de Metal. Aprendemos muito com essa avaliação de bandas em shows e visitando ensaios de outras bandas amigas.

Recife Metal Law – Levando-se em consideração as músicas gravadas na Demo, de que forma vocês trabalharam para compor as músicas que estariam no primeiro álbum da banda? Vocês procuraram manter a mesma fórmula de compor?
Márcio –
Na verdade, eu fiz todas as melodias e Nilson todas as letras. Precisávamos de um baterista e Hugo era o cara mais indicado por dois grandes motivos: tem compromisso com o que faz e morava próximo. Então como eu sempre ouvi muito mais Thrash Metal do que qualquer outra vertente do Metal, a “Never Die Alone” saiu assim, mostrando um pouco do meu feeling ‘Thrasheiro’, por isso ele é bem linear. Algumas pessoas disseram que ele tem muitos elementos, eu particularmente não acho que tenha tantos elementos, talvez porque cada um na banda ouve coisas diferentes e não impomos o que cada um vai pegar de inspirações. As melodias são compostas, passamos para o baterista, ele ouve e coloca os ritmos, depois analisamos o que fica e o que sai e no decorrer desse ‘tira e bota’ Nilson vai encaixando as letras. Quase dessa mesma forma serviu para a composição do “At the Gates of the Death” (álbum de estreia).

Recife Metal Law – Vocês, da banda, chegam a dizer que o estilo do Falling In Disgrace é um “Metal Maloka”, mas, sinceramente, acho o estilo bem voltado para o Thrash/Death Metal, sendo que a parte Death Metal fica mais para os vocais guturais que o Nilson Marques apresenta em algumas passagens. Então, qual a razão para ainda dizer que o som que vocês fazem é “Metal Maloka”?
Márcio –
Bem, eu sou um grande fã do Claustrofobia e usei esse termo no começo da banda, porque coloquei aquelas balançadas nas melodias, coisa que o Claustrofobia faz, mas isso foi logo censurado pelos demais membros da banda. Alguns de nossos canais, como e-mail e acredito que o Facebook ainda deve constar isso, mas não era para ser usado mais, afinal isso foi algo criado para a banda Clautrofobia. Então mudamos o termo e já usamos faz um bom tempo o termo: Rock de Caveira com Fogo (risos), termo que um amigo nosso citou em nosso ensaio. Gostamos e usamos isso. Tem até mesmo em nossa faixa que colocamos nos shows, na hora de tocar; tem em nosso CD de estreia também. Se você prestar atenção, essa frase tem em algum lugar do CD, não vou dizer onde, pra você e para quem adquiriu o material procurar. (risos) Garanto que causei curiosidade agora. (risos) Mas isso não quer dizer que estamos criando um novo estilo, quem somos nós? Foi apenas um jargão.

Recife Metal Law – O primeiro álbum, “At the Gates of the Death”, foi lançado de forma independente e não foi prensado de forma oficial. Por que vocês fizeram tudo por conta própria, inclusive a produção (masterização e gravação)?
Márcio –
É difícil encontrar alguém que queira lançar bandas Underground, sobretudo do nordeste. Citamos como exemplo o lançamento da banda Alkymenia (Caruaru/PE), que lançou um som foda e fizeram de forma independente também. Você vai me dizer que aquela banda não merecia um lançamento por uma gravadora de grande porte? Lógico que merecia! Então, nós corremos atrás sim. Com o material gravado corremos atrás de selos - distros - gravadoras e qualquer desses que ‘apóiam’, mas foi difícil receber um ‘OK’. Com isso colocamos a mão na massa e fizemos quinhentas cópias por conta própria, impressão de encartes off-set frente e verso, tamanho de 36x12 - com direito a parte do box frente e verso, impressão pigmentada em CD-R com aplicação de verniz. Porra, se ninguém se interessa em lançar tem todo direito e nós temos é que correr atrás de nossa meta e não ficar esperando e pedindo a um e a outro, afinal o som é nosso e quem mais quer divulgar algo mais profissional possível que nosso dinheiro pode pagar é nós mesmo. Então fizemos o que nosso dinheiro pode pagar. Na masterização e gravação contamos com um grande apoio do produtor Júnior Araújo (Dinamérico). O cara é um grande músico e ‘trampa’ com isso. Como ele é um amigo de todos da banda, fez um preço legal e se dedicou bastante. Ele também participou do nosso ‘debut’, e esse cara sempre esteve conosco até mesmo em críticas. Somos muito gratos a ele e também grandes fãs.

Recife Metal Law – Como o baterista Hugo Veikon também trabalha com parte gráfica, pensei que ele seria responsável pela capa do álbum e seu design, porém essa parte ficou a cargo de Ana Paula de Aquino. Por que a escolha de Ana Paula para fazer a arte gráfica do CD?
Márcio –
Hugo ‘trampa’ legal com essas partes porque ele é da área. O mesmo fez nossa primeira capa e gostamos muito daquela arte. Ele jogou os elementos que pensávamos. Mas necessitávamos de uma pessoa de fora, que visse a banda como um cliente e não como um filho, porque isso atrapalha muito: ter alguém de dentro fazendo as coisas. Daí a publicitária Ana Paula de Aquino foi a melhor escolha. Passamos a ideia do que queríamos e ela entendeu perfeitamente. Foi fazendo o trabalho e nos apresentou o ‘rought’ de duas artes, então aprovamos a pré-produção deste que usamos e a mesma foi dando andamento e nos exibindo. Ana Paula nos transformou em defuntos e aprovamos. Ela acompanhou o processo final da impressão, desde os encartes até o ‘label’ do CD, para se certificar que a qualidade seria a melhor possível, que nosso dinheiro poderia pagar. E o resultado é esse: nós mortos antes morrer.

Recife Metal Law – Ainda sobre a parte gráfica, a capa traz uma cidade arruinada, em destroços, inclusive com os músicos servindo de modelos para a mesma. O objetivo da arte da capa foi apenas ilustrar o título do álbum?
Márcio –
Na verdade Ana Paula de Aquino solicitou fotos de pessoas exclusivas para fazer os defuntos, e como isso tudo requer dinheiro pensamos em nós mesmo e amigos, se você vir os detalhes da arte tem amigos mortos por todos os cantos da capa. Nesse sentido foi que tudo ficou interessante. A falta de dinheiro para os modelos ilustrarem a capa foi bem favorável, pois nos colocando como modelos defuntos mostramos que todos vão se ver naquela cena de guerra civil e o resultado vai ser aquele. Pessoas criando guerra contra pessoas, como narra a letra de uma de nossas músicas: “Povos contra povos - para mim parecem porcos, Nação que promove a destruição” (letra de “Segundo de Realidade”). Não se trata só da morte de pessoas, mas sim uma morte dilaceradora, provocadas por pessoas.

Recife Metal Law – Musicalmente, acho que a banda amadureceu bastante, inclusive a gravação deixou as músicas bem densas, pesadas e com o instrumental bem definido. Como vocês avaliam o resultado alcançado com esse primeiro full lenght?
Márcio –
Há sempre um avanço de todas as partes, não só de nossa parte musical como também do produtor Júnior Araújo. Os plugins vão sendo aperfeiçoados, isso tudo ajuda. Já na evolução das melodias, na hora da composição eu tive bastante tempo, visto que a banda não estava fazendo shows. Naquela ocasião me sentei e comecei a criar. Nilson ia me visitar e acabou participando do processo criativo das mesmas. Nas passagens de som na casa de Hugo acabou rolando outra música. Sem muita pressa, mas ao mesmo tempo com um ‘dead line’ estipulado por nós mesmo. Fomos lapidando e saiu o que saiu, um som denso com letras sobre a maneira que a sociedade se comporta.

Recife Metal Law – Na Demo existe uma música em português, mas vem como bônus, e numa entrevista que fiz com vocês, a resposta foi de que essa música era bônus em razão de as músicas serem em inglês. No álbum existem duas músicas cantadas em português. Então, qual a razão para se colocar duas músicas em português nesse disco?
Márcio –
Na Demo a faixa “Olhos de Canhão” realmente foi um bônus, porque ela era a única em português e sua literatura fugia da linha de pensamento das outras, mas gostamos tanto da parte instrumental que a incluímos como bônus. A inclusão dela nos rendeu bons comentários. Já as duas faixas em português do CD “At the Gates of the Death” foram compostas simplesmente porque queríamos deixar nítido o que abordamos nas letras e nosso idioma, obviamente, é o mais apropriado. Daí no “At the Gates of the Death” colocamos outras bônus. É legal adquirir um CD e ver que ele tem bônus. E pra quem não pegou a nossa Demo, vai poder ouvir duas faixas bônus oriundas da mesma, que foram incluídas nesse nosso novo lançamento.

Recife Metal Law – Sobre as músicas, seis são inéditas e como bônus, como já mencionado, colocaram duas músicas da Demo e um cover. Por que não inserir mais músicas inéditas no álbum ou ao menos regravar as músicas que estavam na Demo?
Márcio –
Bem, iria ter apenas seis faixas mesmo. Daí foi debatido que seria legal colocar um bônus pra quem não pegou a Demo e poder observar a diferença de um trabalho para o outro. O cover entrou porque queríamos mostrar um som que nos influencia e que nos acompanha. Tínhamos outras músicas que queríamos gravar como das bandas: Korzus, R.D.P., Danzig, Obituary... Então Danzig foi a escolhida para o nosso lançamento, mas temos outro desses gravado para acaso algum selo queira lançar esse mesmo material. Dessa forma eles podem desfrutar de uma faixa diferente, porque pra eles talvez não seja lucrativo lançar um material idêntico ao nosso. Já se tratando de regravar uma faixa da Demo, nunca rolaria e acredito que não rolará, ela foi apresentada daquele jeito e não será modificada, por dois grande motivos: primeiro, pra gente ela tem que soar como foi. Segundo, fica inviável pagar pra regravar, visto que teríamos uma porrada de investimento na frente.

Recife Metal Law – O cover escolhido foi “Twist Cain” do Danzig. Alguma razão em especial para a escolha dessa música?
Márcio –
Sim, a razão é que dos que gravamos gostamos muito da versão de que fizemos de Danzig. A música “Twist Cain” em si só é demais. Porém fizemos nossa versão: mais pesada, vocal gutural e rasgado de Nilson e eu no backing vocal, pedal duplo, coisa que não tem na música original, viajamos legal. Por isso colocamos no encarte que foi uma performance e não um cover. Já a outra que temos gravada quem canta sou eu, mas isso só vai ser exibido se algum selo quiser fazer seu lançamento. Caso não ocorra esse outro lançamento já temos mais um bônus para nosso próximo material. Tá vendo? Vai sempre ter um bônus. (risos)

Recife Metal Law – Com relação à parte de divulgação, como ela vem sendo trabalhada? Já existem muitos shows agendados?
Márcio –
Vimos divulgando aos nossos contatos fora e dentro do Estado de Pernambuco, negociando com algumas distros e lojas um valor bem pequeno para que mantenham o valor proposto pela banda. Valor de R$ 7,00, ou seja, se você tá pagando a mais que R$ 7,00 compre conosco, que nosso valor é tabelado (cartel - risos). Isso é um valor bem pequeno e no final se você for ver é apenas pra propagar mais e levar o som da banda àqueles que curtem Metal. Ainda investimos em flyer, aquele velho flyer para ser enviado em correspondência e dispor nas lojas especializadas. E como o meio internet tá ai, enviamos tudo isso por e-mail e outras plataformas. Quanto à agenda, estamos indo. Na verdade conseguindo mais show fora de Recife. Acho que aqui tem muita banda e isso acaba criando uma lacuna muito grande nas apresentações das bandas. Mas estamos aí, tocamos em Maceió/AL com as bandas Morcegos, NervoChaos e Unearthly, em Garanhuns/PE com Oddium, Instinct Noise, Plague Inside e outras promessas. Mas sempre preferimos não acreditar e correr atrás de mais oportunidades, buscando divulgação como esta oferecida pelo Recife Metal Law. Entrevistas e resenhas são sempre bem-vindas.

Recife Metal Law – O espaço é de vocês para acrescentar algo mais de relevante para a entrevista...
Márcio –
Somos gratos pela oportunidade de expor aqui nossas ideias e por divulgar nosso material. Gostaríamos de frisar que a banda está disponível para shows. Entrem em contato ([email protected]). Quem não conhece nosso som confira em nosso Myspace (www.myspace.com/fallingindisgracebanda), pois facilita pra você saber se nosso som vale à pena. Para os selos e distros estamos a fim de uma ampla divulgação séria e profissional, isso garantimos. E, porra, não temos como não agradecer aos nossos Desgraçados (amigos e Headbangers que curtem a banda) e Desgracetes (amigas Headbangers que curtem a banda), bem como as bandas e Headbangers que compartilham os momentos e nos indicam para shows. E um agradecimento especial para nosso grande amigo Willian Headbanger (bélic - risos). Valeu mesmo pelo espaço! Falling In Disgrace agradece!

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e Pei Fon