EMINENT SHADOW
Existem bandas que, por opção própria, decidem tomar um caminho que só os verdadeiros amantes de seu estilo musical também procuram trilhar. Uma dessas bandas é a brasiliense Eminent Shadow, que surgiu em 1994 e por escolha própria lançou poucos materiais. Poucos, mas de qualidade indiscutível, e isso é o que realmente importa. São dezoito anos de história, todos dedicados ao verdadeiro Death Metal, onde a banda sempre procurou divulgar de forma bem limitada o seu nome. Inclusive, seus dois primeiros trabalhos foram lançados em K-7 (a Demo “Warriors of the Centuries – 2000) e vinil (“Final War” – 2006). Ano passado foi a vez de seu primeiro trabalho lançado no formato CD, o segundo álbum “In the Fog of the Night... We Burn His Kingdom”. Na entrevista a seguir o baixista Dimitri Stemler fala um pouco mais sobre a história da banda e seus lançamentos. A formação do Eminent Shadow é complementada por Xandy Profano (vocal), Lamartine (guitarra) e Marcelo (bateria).
Recife Metal Law – O primeiro full lenght da banda, “Final War”, foi lançado em 2006, apenas no formato vinil. Com certeza isso limitou a divulgação do trabalho e, dessa forma, chegando apenas aos verdadeiros cultuadores do Death Metal. Como vocês analisam, depois de cinco anos, esse lançamento?
Dimitri Stemler – Hail Valterlir! Primeiramente queria agradecê-lo por mais essa oportunidade. Bom, a gente vê o LP “Final War” como uma realização de uma grande vontade e um objetivo conquistado pela banda. A divulgação restrita se deve a força dos reais Deathbangers que se preocupam em conhecer o Underground em sua essência, buscando materiais mundo a fora. Por incrível que pareça, há cinco anos os lançamentos em LPs eram menos comuns do que hoje em dia e os CDs era algo bem massificado. Nesse curto intervalo de tempo muita coisa mudou. Praticamente hoje ninguém adquire CDs, devido à facilidade dos downloads de internet, e os materiais em vinil deram um “boom” se tornando “cult” com seus altíssimos preços de revenda e de produção, embora, gostamos muito desse formato. Creio que o real Deathbanger não adepto da ‘baixaria’ de som e que não tem condições de pagar altíssimos preços por materiais em vinil, mas faz questão de ter o material original da banda que curte, existe a opção da aquisição em CD a um custo mediano. Apesar dessas frequentes mudanças, para nós foi uma honra ter conseguido concretizar um registro no formato vinil e saber que o material chegou nas mãos certas!
Recife Metal Law – Existe algum projeto para relançar esse trabalho, já que foi limitado, no formato CD?
Dimitri – Não pensamos nisso. Talvez lançar algumas faixas como bônus ou mesmo regravar alguns sons do LP para um próximo trabalho, depende muito! Podemos ver isso aí mais pra frente!
Recife Metal Law – Um fato interessante é que a banda se aproxima de duas décadas de atividades, mas não tem tanto lançamentos feitos. A que se deve isso?
Dimitri – Primeiramente tocamos Death Metal por prazer e porque gostamos, não por pressão de ninguém. Não temos a pressa e o desespero de lançar algo novo ano a ano. O objetivo é fazer o som com sinceridade e não a troco de fama. Não cobramos nada de nenhum integrante porque todos sabem de suas responsabilidades e fazemos os trabalhos na medida do possível, podendo demorar o tempo que for. Mas, como toda banda, alguns problemas internos já assolaram o Eminent Shadow, principalmente em seu início, ajudando a retardar alguns objetivos. Os problemas nós fomos superando, nos dando maturidade no decorrer dos anos para seguir forte, trilhando os caminhos do verdadeiro Death Metal.
Recife Metal Law – Durante esse período de atividades, apenas houve alteração nos vocais. Os três materiais lançados pela banda conta com três vocalistas diferentes (mesmo que Messias também tenha gravado a Demo, Rafael também fez os vocais na mesma). Por que existe essa rotatividade no posto de vocalista?
Dimitri – Na verdade os vocais, embora nossos amigos até hoje e a amizade que temos, é algo extra banda, foram os caras que mais deram trabalho. Os motivos, por coincidência, foram os problemas individuais de cada um. O Rafael já não vinha se dedicando, deixando de participar de vários ensaios. A mesma coisa o Messias, por causa de seu trabalho conturbado e de sua vida pessoal, não conseguiu conciliar o tempo às atividades da banda, deixando também de frequentar os ensaios durante quase um ano. Quando ele saiu, somente duas alternativas vieram à cabeça, a Andrea (ex-Valhalla) ou o Xandy (ex-Unholy Angel). Ficamos, nós três, um bom tempo ensaiando e compondo quando recrutamos a Andréa (ex-Valhalla) que já havia feito parte do Eminent Shadow, tocando baixo lá pra 1997. Ela assumiu os vocais e chegou a cantar durante sete meses, mas a frequência nos ensaios ficou comprometida por seus problemas individuais. Mais uma vez a banda passou um período sem vocal, até o Xandy assumir o posto e se fixar definitivamente há meia década. Além de um grande amigo de tempos, suas ideias condiziam com os propósitos do Eminent Shadow.
Recife Metal Law – Mesmo com essas mudanças nos vocais, nunca houve uma mudança brusca na forma de se cantar as músicas do Eminent Shadow. Seria essa uma exigência da banda para que algum integrante assumisse o posto de vocalista?
Dimitri – Achamos que o vocal gutural cabe melhor no Eminent Shadow. Tentamos manter o que a gente fez desde o início, mesclar vocais guturais e alguns rasgados. O estilo de Death Metal que tocamos exige esse tipo de vocal, sendo natural a adaptação dos vocalistas que já passaram pela banda. O que sinto de diferença são as métricas no encaixe do vocal do Xandy nesse novo trabalho, que em minha opinião melhorou muito, mesmo que imperceptível ou sutilmente a quem ouve.
Recife Metal Law – O novo trabalho se chama “In the Fog of the Night... We Burn His Kingdom”, lançado em parceria com quatro selos. Como vem sendo o trabalho feito pelos selos? Vocês acham que essa parceria vem facilitando na distribuição do novo álbum?
Dimitri – A parceria começou quando concluímos a gravação. Primeiramente o material sairia pelo selo Genocide Prods, Eterno Abismo e Misanthrophic Recs. Após alguns meses até a conclusão da arte do material, a Genocide encerrou suas atividades e a Misanthropic resolveu procurar mais dois selos para concretizar o lançamento, entrando a Impaled Recs. e a Blasphemy Prods. Sabendo da pouca demanda por CDs atualmente, e pra não ficar somente um selo encarregado da distribuição de todas as mil cópias e demais despesas, a ideia da parceria facilitou para todo mundo, tanto pela questão geográfica quanto na divisão dos custos de lançamento entre os selos.
Recife Metal Law – O primeiro full lenght foi lançado no formato vinil. Vocês cogitaram em lançar o novo trabalho também nesse formato?
Dimitri – Sim a gente cogitou. Na real procuramos pouco. Futuramente queremos lançá-lo também em LP, é a nossa vontade.
Recife Metal Law – As músicas contidas no novo álbum mantém intacta a característica do Eminent Shadow de fazer Death Metal. Para alguns pode parecer simples fazer um som tradicional, mas como vocês fazem para criar as músicas da banda, sem fugir das raízes, mas trazendo atrativos ao ouvinte?
Dimitri – Agradeço o comentário! Acima de tudo ser verdadeiro com o que gosta é muito importante, pois não apenas curtimos Death Metal, mas vivemos insanamente o Metal Negro da Morte. Tocamos por que gostamos da extrema música Underground e por puro prazer. Ouvimos muito som e cada um integrante da banda tem suas próprias influências dentro do Metal Extremo. Acho que isso deve contribuir na hora de criar as músicas, mesmo sem a gente perceber, surge naturalmente. Fazemos os sons sem pressa também, às vezes as inspirações vêem numa hora boa em que estamos malhando o instrumento. Costumamos fazer o normal de toda banda, cada um chega com um riff ou com um som quase pronto, nos reunimos na casa de um e de outro pra mostrar, nos ensaios as opiniões vão surgindo, e assim vai.
Recife Metal Law – Músicas como “Confront of the Gods” e “Bloody Conspiracy” são exemplos claros de inspiração. De onde vem a inspiração para se fazer Death Metal nos moldes ortodoxos?
Dimitri – Valeu novamente! Crescemos na época de ouro do Death Metal e com certeza isso influencia na hora de fazer as músicas. Temos os ouvidos daquela época é isso flui naturalmente. Creio que as influências de cada membro da banda também influenciam.
Recife Metal Law – Eu apenas citei duas músicas como exemplo, mas o novo disco, como um todo, merece destaque, com cada música trazendo sua própria identidade. Quais músicas, na opinião dos músicos, melhor definem a sonoridade do Eminent Shadow nesse novo trabalho?
Dimitri – É difícil falar de um som, pois gostamos de todos. Acho que o álbum por completo define bem o que é a banda. Se for citar um desses sons, creio que a música “The Times of the Bonfires”, por ser mais arrastada e pela letra abordar um tema que remete à Inquisição, caracteriza o estilo do Eminent Shadow. Mas as músicas que você citou, juntamente com a “Prediction of the Sword”e a “Barbaric Worship” são muito marcantes e completam a característica desse novo disco.
Recife Metal Law – Duas músicas me chamaram à atenção em “In the Fog of the Night... We Burn His Kingdom”, em razão de não ser contumaz vocês fazerem músicas nesses moldes. A primeira é “Fúria de Aço”, uma música totalmente cantada em português. Por que a banda decidiu em colocar uma música totalmente cantada em nossa língua pátria nesse álbum?
Dimitri – Tocamos algumas vezes essa música como introdução instrumental em alguns shows. Nosso vocal chegou com a letra direta, que resume nossa mensagem contra a moral cristã, sendo uma declaração de guerra aos dogmas religiosos. O que era pra ser apenas uma introdução acabou virando música. Foi uma oportunidade também em homenagear o Metal Underground nacional, sabendo que o país tem grandes guerreiros batalhadores que lutam com seriedade pelo verdadeiro Metal subterrâneo! Hail aos reais seguidores do Evil Death Metal!
Recife Metal Law – A segunda música é “Baphomet”, da banda austríaca Miasma, gravada originalmente para o álbum “Changes” (1992). Qual foi o motivo para se colocar um cover no novo trabalho e qual a razão para a escolha da música e banda?
Dimitri – O Miasma foi uma grande banda do início dos anos 90 e o disco “Changes” marcou muito o Underground. A característica daquele disco em todos os aspectos é muito extrema e boa para o Banger que curte Death Metal em sua essência! Até hoje quando escuto o disco é como se fosse à primeira vez. Muita gente só sabe obter como referência os anos 80, sendo que o início dos anos 90 teve uma importância muito grande, pois foi uma das épocas auges do Death Metal tradicional com muitas bandas lançando grandes clássicos. Relembrar isso foi uma questão de honra!
Recife Metal Law – A capa do novo disco veio num tom avermelhado, o que a deixou bem malévola, em conjunto com a arte apresentada. Esse foi o objetivo que a banda almejava com as imagens e tonalidade da capa?
Dimitri – Apesar de alguns pormenores, a capa ficou bem macabra. O tom avermelhado deu um ar sangrento e achei muito boa, só que um pouco escura. O desenho no geral ficou bem elaborado e baseado nas próprias letras do Eminent Shadow. Sobre a arte gráfica, não procuramos um profissional em design artístico, sendo feita por nosso guitarrista mesmo, da maneira que deu!
Recife Metal Law – A banda já vem fazendo alguns shows em divulgação ao novo trabalho, mas existe a possibilidade do Eminent Shadow fazer datas numa longa sequência, numa espécie de turnê?
Dimitri – Turnê é difícil de fazermos, por motivo de tempo, ficando pesado ausentarmos de nossa cidade por muitos dias, depende muito. Shows isolados sim, estes pretendemos realizá-los. Seria uma honra derramar o ódio sonoro em terras pernambucanas algum dia, pois sei que existe uma legião de Bangers que apóia essa maldita cultura independente chamada Underground! Saudações aos guerreiros que o fazem!
Contatos: A/C Dimitri Stemler. Colônia Agrícola Águas Claras. Ch. 13, Cs 03 – Guará. Brasília/DF. CEP: 71.090-000.
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação