SACRIFICED





O Sacrificed já tem oito anos de estrada, porém inicialmente surgiu com o nome de Sacriffice e lançou uma Demo, “Streets of Fear”. Após o lançamento da Demo, algumas mudanças na formação e no direcionamento musical, a banda adotou o nome Sacrificed, e lançou em 2011 seu primeiro álbum de estúdio, “The Path of Reflections”, o qual vem rendendo bons frutos à banda, o que não poderia deixar de ser, afinal é um álbum inspirado e mostra uma banda que sabe fazer música de qualidade. Na entrevista a seguir, respondida pela vocalista Kell Hell e pelo guitarrista Diego Oliveira, os músicos abordam não só o primeiro álbum da banda, mas fatos inerentes a carreira do Sacrificed.


Recife Metal Law – O Sacriffice surgiu em 2004 e em 2008 lançou a Demo “Streets of Fear”. Quando foi que os integrantes viram que era hora de mudar o nome da banda e seguir outro rumo musical?
Kell Hell –
O novo nome (Sacrificed) e o novo “rumo musical” surgiram logo após Fabrício Aureo (ex-vocalista) informar que não participaria mais da banda. Diego (guitarrista), que já me conhecia nos vocais da banda Helltown, entrou em contato e fez a proposta. Como eu já havia ouvido e curtido o som do até então Sacriffice, não hesitei em aceitar e assumir os vocais. Bom, foi justamente essa transição entre um vocal masculino e, a partir de então, um feminino que exigiu algumas mudanças da banda, tal como a natural alteração no tom das músicas que seriam compostas a partir da minha entrada. Quanto ao novo nome, a expressão Sacrificed veio não só para marcar uma nova era na banda, um recomeço, mas também para evitar problemas com o nome antigo, que pelo que constatamos na época, também era usado por outra banda.

Recife Metal Law – Já sob o nome Sacrificed a banda lançou um EP homônimo em 2009. Esse trabalho foi uma prévia do que viria a ser o primeiro álbum da banda, haja vista que todas as músicas presentes no mesmo, com exceção da “Intro”, estão no ‘debut’. A receptividade desse EP foi o que deu ânimo para a banda seguir em frente?
Kell –
Quando gravamos as músicas do EP lançado em 2009, já tínhamos planos de gravar um CD full length. Mas sem dúvida alguma, se a receptividade deste EP não tivesse sido positiva, teria sido um “banho de água fria” nos planos já existentes para um ‘debut’ álbum. O EP foi muito bem recebido, principalmente pelo público, e isso foi um grande incentivo para concluirmos o “The Path of Reflections”. Críticas negativas ao EP tivemos, não vou negar, mas algumas delas também nos incentivaram na feitura deste primeiro CD. E posso dizer isso, principalmente em relação aos vocais. Lembro-me bem de um crítico que resenhou o EP e disse que “eu não conseguia segurar notas por muito tempo”. Temos que extrair o melhor das críticas e crescer com elas, mas não vou dizer que isso seja fácil. (risos)

Recife Metal Law – Algumas pessoas não conhecem esse EP, assim como eu, então quais são as diferenças básicas entre esse EP e a atual sonoridade do Sacrificed?
Kell –
Bom, como vocês mesmos já disseram, pode-se dizer que este EP é uma prévia do que estaria por vir no “The Path of Reflections”, até porque três de suas faixas também integram o CD, muito embora com uma nova roupagem. Mas como eu já disse há pouco, as críticas feitas ao EP ajudaram a melhorar e lapidar nossas criações. Especificamente quanto à diferença na sonoridade. Posso dizer que a qualidade do som de um modo geral, e especificamente das guitarras, está bem superior no CD.
Diego Oliveira – Além dos detalhes citados pela Kell, menciono também o cuidado que tivemos ao trabalhar as músicas. Por mais estranho que pareça, “The Path of Reflections” demorou praticamente dois anos para ser lançado. Desde 2009, quando lançamos o “Sacrificed”, já tínhamos muitas das músicas que integrariam o ‘debut’. Entramos em estúdio ainda em fevereiro de 2010 e após milhares de imprevistos e, além da vontade de lançar um trabalho que todos se orgulhassem, saímos apenas em maio de 2011! “The Path of Reflections” representa o amadurecimento da banda com os shows, como músicos e como amigos, nesse período entre os trabalhos citados.

Recife Metal Law – O EP, além do vocal feminino de Kell Hell, traz uma capa que, para quem não conhece a banda, transmite a impressão de que o Sacrificed se trate de uma banda de Gothic Metal. O estilo da banda é bem peculiar, e de forma alguma pode ser taxado de Gothic Metal. Porém vocês se deparam com perguntas sobre o estilo da banda, em razão do vocal feminino e da capa de seu EP?
Kell –
Vocais femininos e Gothic Metal é um tema recorrente em nossas entrevistas. (risos) Eu sou a primeira a levantar a bandeira de que ter uma mulher nos vocais não é sinônimo de um som da vertente gótica do Metal. Como vocês mesmos já disseram, o estilo musical do Sacrificed é bem peculiar, mas não se encaixa no termo Gothic Metal. Sem dúvida já nos deparamos com perguntas do tipo “Vocês tocam gótico?”, mas principalmente em razão de se ter uma mulher como vocalista, e bem menos em razão da capa do EP. Esse é um tabu que enfrentamos constantemente, e é um dogma que estamos tentando extirpar da cabeça das pessoas.
Diego – Dentro da banda escutamos muitas coisas diferentes e essa mistura toda acabou virando parte do nosso som e do nosso estilo. Sou grande fã de bandas como Lacuna Coil, Nemesea, Amaranthe e Nightwish, mas escuto muito mais bandas como Lamb of God, Killswitch Engage, The Agonist e Megadeth. No final das contas temos uma pequena influência de Gothic Metal, mas os outros estilos acabam se sobressaindo. Isso acaba sendo passado mais no visual da banda do que no som em si.

Recife Metal Law – E como foi para a banda trabalhar nas músicas presentes no álbum de estreia, “The Path of Reflections”? Como as músicas do EP iriam constar no ‘debut’, houve uma maior facilidade na hora de compor as demais músicas?
Diego –
Existem várias maneiras de compor. Muitas bandas fazem vinte, trinta músicas, e escolhem as melhores pra entrar no álbum, nós não somos dessas. (risos) Eu e o Vítor (ex-guitarrista) trabalhávamos uma música até que ela ficasse do jeito que queríamos. Algumas simplesmente fluíram, como “Walking Through Flames”, “Call of Insanity” e “The Truth Beneath the Laments”, já outras tivemos que trabalhar mais, como “Prison Mind” e “Far Away to Feel”. No final das contas o Renato Kojima (produtor) deu ótimas ideias que contribuíram para a conclusão das músicas. Muita coisa mudou na hora de gravar tudo, acho que sempre é assim. (risos) O importante é manter a mente aberta para as ideias, se for boa fica, senão sai.

Recife Metal Law – Toda a parte lírica desse álbum foi composta por você, Diego. Qual a razão para que toda a parte lírica ficasse a cargo de um só membro?
Diego –
Acho que simplesmente aconteceu. Eu fui levando as letras, o pessoal gostou e no final acabou indo tudo. (risos) Eu sempre gostei muito de escrever e sempre fui fascinado por política, história e psicologia, isso acabou facilitando muito. Com a quantidade de informação que recebemos hoje em dia, você acaba sentindo a necessidade de se expressar sobre o que está acontecendo, senão acaba se perdendo na opinião alheia.
Kell – O Diego é um dos músicos mais criativos com quem já tive oportunidade de trabalhar, sem dúvida. O som que ele compõe transmite o que a banda quer em termos musicais, por isso a maior parte das canções são de sua composição. Mas há três faixas neste ‘debut’ que não foram criadas por ele: a introdução instrumental, que foi composta pelo ex-baterista, Gustavo, e as músicas “Before a Dream” e “Prison Mind”, compostas pelo ex-guitarrista Vitor Almeida. Mas o que posso dizer é que todas as faixas, embora atribuímos a composição a algum integrante singularmente considerado, tiveram a participação de todos. Todos ajudaram a construir um pouco do que se escuta em cada uma das faixas do “The Path of Reflections”. O Diego ou o Vitor, por exemplo, chegavam com a ideia, com o esqueleto, com a sequência de riffs, mas cada um fez a sua parte. No meu caso, por exemplo, todas as linhas de voz (a exceção de “Red Garden”, que é uma regravação) foram criadas por mim, mas em função da harmonia criada pelo Diego ou pelo Vitor. Quanto às letras, essas sim foram totalmente escritas pelo Diego. Eu só as montei metricamente para que encaixassem na linha de voz criada. Mais uma vez, o Diego é o mais criativo de nós. (risos) Quem sabe no próximo CD algumas das letras sejam de outros integrantes, talvez da vocalista... (risos)

Recife Metal Law – O álbum conta com algumas participações especiais. Qual foi o objetivo principal da banda ao acrescentar tais participações nesse primeiro full lenght?
Kell –
Sem dúvida a participação do Fabrício Aureo (ex-vocalista do Sacriffice) na faixa “Red Garden” foi, acima de tudo, uma homenagem à formação antiga da banda, afinal, se trata de uma regravação de uma canção escrita quando do primeiro EP – “Streets of Fear”. As demais participações vieram para enriquecer o trabalho da banda. Os violinos de Erica Humber e o teclado de Bruno Chester deram uma roupagem e um clima sensacional às faixas, e era justamente essa a intenção. Quanto à faixa “The Truth Beneath the Laments”, decidimos que gostaríamos de acrescentar vocais extremos e dar um peso a mais nesta música para fechar o CD de forma inusitada. Foi aí que pensamos em convidar Lânio Araújo, vocalista da banda Tormento, para participar. Já conhecíamos o trabalho e a competência dele e, então, não hesitamos em escolhê-lo.

Recife Metal Law – E existe um significado especial para o título do álbum, que em português quer dizer “O Caminho das Reflexões”?
Diego –
As letras de “The Path of Reflections” tratam de assuntos que vão do íntimo ao externo, passando pela liberdade de crença, liberdade de expressão, a pobreza pelo país, a conscientização política, a violência nas ruas, guerras internacionais e até mesmo a luta por um sonho. Tudo o que acontece ao nosso redor. A música que melhor representa o título do CD é “Soulitude”, que trata de simplesmente parar para pensar antes de fazer algo. Todos nós estamos, de certa maneira, interligados e simplesmente agir por agir pode ter consequências catastróficas, em determinadas situações. O caminho das reflexões é um cordão que faz a ligação dos diversos temas do álbum, que no final das contas tem apenas uma mensagem principal: Pense.

Recife Metal Law – O álbum é bem linear e composto por músicas que agradam do início ao fim. Para qual tipo de ouvinte a música do Sacrificed é indicada?
Kell –
Para todos que estejam preparados para ouvir um Heavy Metal sem muitos preconceitos (porque é impossível nos despirmos de todos eles, correto?) e que não estejam desesperados para ‘enquadrar’ nosso som em alguma vertente específica do Metal. (risos)
Diego – Também para aqueles que gostam de música feita com paixão e muito trabalho duro.

Recife Metal Law – Uma das músicas que mais gostei foi “Walking Through Flames”, sem desmerecer as demais. Para os músicos fica difícil escolher uma música preferida, então eu gostaria de saber qual (is) música (s) está (ao) tendo maior respaldo frente às pessoas que adquiriram “The Path of Reflections”?
Kell –
Realmente, seria difícil para mim, pelo menos, escolher uma preferida. Músicas são como filhos. (risos) Mas, se temos de generalizar, podemos dizer que, na escolha do público, não podem faltar no ‘set list’ dos shows “Before a Dream”, “The Truth Beneath the Laments” e, é claro, “Call of Insanity”, que ainda é a mais “pedida” desde o EP. (risos)

Recife Metal Law – Um dos fundadores, tanto do Sacriffice como do Sacrificed, foi o guitarrista Victor Almeida, que recentemente deixou a banda. A saída foi amigável, pois o músico não estava conseguindo conciliar as atividades da banda com a sua vida pessoal. Mas como foi para o Sacrificed receber a notícia da saída de um integrante fundador?
Kell –
Foi assustador para todos, acredito. Embora já soubéssemos que o Victor estava enfrentando dificuldades em conciliar sua vida pessoal e musical, ter a certeza de que aquela pessoa com quem compartilhamos anos de estrada realmente não vai mais continuar conosco é muito ruim. Para mim, principalmente, foi especialmente ruim, o Victor cantava junto comigo diversas músicas, fazia backing vocals e sempre foi, para mim, em especial, um grande apoio quando estávamos em cima dos palcos. Fiquei com um pouco de medo quando tive a confirmação de que ele não estaria mais conosco. Mas acho que sou sortuda (risos), afinal, o Leo Rizzi – guitarrista que substituiu Victor Almeida, inclusive nos backing vocals – é um músico experiente e também tem me dado o apoio que preciso na hora dos shows, aliás, o apoio de que a banda toda necessita. Foi uma mudança tranqu
ila e amigável.

Recife Metal Law – A banda já vem fazendo diversos shows, mas existe a possibilidade de tais shows serem realizados em outros Estados brasileiros ou até mesmo fora do país?
Diego –
A primeira etapa da “Tour of Reflections” se limitou ao estado de Minas Gerais entre setembro e novembro (do ano passado), mais pela questão de logística e as condições ofertadas. Mas a intenção sempre foi tocar por todo o Brasil. Esperamos o quanto antes também passar pelo Nordeste, temos ótimas indicações sobre o público daí. O sonho de 99% das bandas de Metal no Brasil é fazer uma turnê internacional. Esperamos alcançar esse sonho o quanto antes... Em breve teremos mais informações quanto a isso. (risos)

Recife Metal Law – O espaço é de vocês para que possam falar acerca dos planos do Sacrificed para o restante de 2012...
Kell –
Quero, antes de tudo, agradecer o Recife Metal Law pela oportunidade. Poder contar um pouco de nossa história e de nosso trabalho nas entrevistas é muito importante para nós. Também quero agradecer a você que está lendo esta entrevista, independentemente se você gosta ou não do nosso som, só de você estar aqui já está valorizando o Metal autoral nacional. Obviamente, os meus maiores agradecimentos vão para nossos fãs, que tanto têm nos apoiado, agora e sempre; a vocês MUITO OBRIGADA! “Listen to the call of insanity”!
Diego – Obrigado, Valterlir, pelo espaço cedido e obrigado aos leitores do Recife Metal Law pelo apoio! Nos vemos nos palcos! Um grande ano para todos!

Site: www.sacrificed.com.br
E-mail: [email protected]

Entrevista: Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação