CLAUSTROFOBIA





A banda Claustrofobia é uma das mais batalhadoras da cena Underground nacional e tem seu nome bastante divulgando, seja aqui no Brasil ou fora do país. Tanto é que a banda teve um de seus álbuns lançado pela Candlelight Records. Tudo bem, não foi um lançamento que teve uma boa divulgação, como a própria banda menciona em suas entrevistas, mas serviu para dar mais força ao Claustrofobia, que transformou as quedas e obstáculos em força para continuar na luta. A banda surgiu em 10994 e desde 1996 mantém a mesma formação, a qual gravou cinco álbuns de estúdio, sendo o mais novo “Peste”, um trabalho totalmente cantado em português, e que vem recebendo vários elogios, além de algumas críticas, essas mais voltadas à música “Nota 6.66”. A banda novamente estará tocando em Pernambuco, e sobre essa nova passagem, o novo álbum e outros assuntos, o baixista Daniel Bonfogo comentou na entrevista a seguir.

Recife Metal Law – “I See Red” foi lançado por um selo ‘gringo’, no caso a Candlelight Records, mas não surtiu o impacto que a banda tanto almejava. O que realmente faltou para que o “I See Red” tivesse maior impacto, mundialmente?
Daniel Bonfogo –
Sim, logo depois que lançamos no Brasil houve o interesse da Candlelight para lançá-lo na Europa e Japão. Mas, por algum problema, no Japão não foi lançado. Realmente o álbum não foi trabalhado na Europa do jeito que gostaríamos. A Candlelight é uma gravadora relativamente “grande” por lá. Assim que foi lançado lá, fomos para a tour europeia e posso dizer que conseguimos completá-la até a metade. Tivemos problemas com a agência que organizou a tour. Muitos shows cancelados, a nossa van quebrou várias vezes, nos obrigando a cancelar shows. Tudo deu errado, a não ser a primeira parte que fizemos com uma banda finlandesa, a Rearmed. Perdendo shows a situação foi ficando cada vez mais difícil, toda a rota foi se perdendo e, consequentemente, o dinheiro acabando em razão de tudo isso. Resumindo, nessa parte da tour só tínhamos dinheiro para voltar pra casa e foi isso o que fizemos. Não tínhamos outra saída a não ser abandoná-la. Tudo já estava ficando muito perigoso e arriscado. Não podíamos nos arriscar por ‘cagada’ dos outros. A Candlelight nem se meteu nessa parte. Na verdade eles só lançaram o álbum na Europa, não fizeram nenhum outro tipo de trabalho. Claro que para nós foi muito importante, mas eles não trabalharam em nada o álbum. Há muitas bandas no ‘cast’ deles, mas não focaram no Claustrofobia.

Recife Metal Law – O Claustrofobia, desde o seu início, fez músicas em português, mas, de alguma forma, “I See Red” fez com que vocês lançassem um álbum completamente cantado em nosso idioma?
Daniel –
Não necessariamente o “I See Red” fez com que lançássemos o “Peste”. Como todos sabem, sempre fizemos músicas em português, desde as nossas primeiras Demo-tapes, em 1995. É uma marca registrada da banda e não é novidade para os fãs. A ideia de fazer um álbum totalmente na nossa língua já era uma ideia antiga. Com todas as turbulências passadas com o “I See Red” escrevemos muitas ideias e isso teria que ser em português, pelo impacto. Tínhamos que nos expressar na nossa língua. No Brasil, lançar um álbum de Metal em português não é pra qualquer um. Ainda existem pessoas que não curtem, alguns fãs torceram o nariz, mas tudo isso é normal. O “Peste” veio para dar uma nova cara pra banda, mas sem perder o estilo. Conquistamos novos fãs com isso. Mas não vamos parar com os trabalhos em inglês, eles continuam do mesmo jeito. Esse álbum foi algo especial para o Brasil. Logo mais tem o novo álbum em inglês, aguardem!

Recife Metal Law – “Peste” é um álbum forte, pesado, agressivo, tanto na parte instrumental como vocal e foi gravado em apenas uma semana, no Estúdio Da Tribo. Passar pouco tempo em estúdio para gravar o álbum foi algo premeditado para que “Peste” soasse do jeito que soa?
Daniel –
Na verdade não foi premeditado. Era o tempo que teríamos para gravar, em razão de muitas coisas que estávamos passando. Ele iria soar da mesma forma se tivéssemos gravado em mais tempo. É um álbum forte e pesado, porque a banda é assim mesmo. Dedicamos a vida a ela, então não importa onde e em quanto tempo gravarmos, sempre será dessa forma. Cada álbum tem seu momento, as coisas que vivemos e sentimos na época, por isso cada um tem sua qualidade e peculiaridade.

Recife Metal Law – As letras são cantadas em português, como já mencionamos, porém é um português carregado de gírias e certos “dialetos” suburbanos. Vocês carregaram nessas gírias e “dialetos” para que as letras tivessem a mesma agressividade da parte sonora?
Daniel –
Não foi uma ideia pensada, surgiu tudo naturalmente. Tudo que falamos nas letras são coisas que falamos no dia a dia. As letras do “Peste” expressam bem os pensamentos da banda. Tivemos esse cuidado também em falar de modo que as pessoas entendessem e que a molecada mais nova tivesse interesse nas ideias. É um álbum que fala de vários assuntos, tanto positivos quanto negativos. Cabe a cada uma absorver e refletir o que achar melhor.

Recife Metal Law – Uma das músicas é instrumental e certamente a mais inusitada. “Nota 6.66” é um verdadeiro “Samba Metal”, pois vem com batuques, tamborins e guitarras pesadas, e foi composta ao lado do Batuque de Corda. O Claustrofobia já tinha algum tipo de contato com o Batuque de Corda ou esse contato surgiu apenas para gravar essa música?
Daniel –
Tínhamos um estúdio de ensaio em São Paulo e o Batuque de Corda ensaiava lá toda semana. É um grupo de samba verdadeiro, não esses grupos de samba “mela calcinha” que aparecem na TV. Um dia pedimos para que gravassem uns ritmos de Samba, mas mais voltados para percussão pesada, como uma escola de samba mesmo, desfilando. Depois disso o Marcus foi tentando encaixar as guitarras e saiu esse “samba metaleiro”. (risos) Tínhamos essa ideia muito antes de começarmos a compor o “Peste”. Claro que não é nenhuma novidade, pois no Brasil algumas bandas já tinham misturado ritmos de percussão com o Metal. Não quisemos revolucionar nada, só realizamos uma antiga vontade. E caiu muito bem nesse álbum cantado em português. O samba verdadeiro tem tudo a ver com o país, é da nossa cultura.

Recife Metal Law – Alguns fãs mais ortodoxos do Metal não gostaram nada dessa música. Pessoalmente, vocês já receberam algum tipo de reclamação, com relação a esse som?
Daniel –
Sim, com certeza! Assim que lançamos um teaser do álbum na internet, com um trecho do samba, muitos fãs da banda, e fãs de Metal em geral, acharam que a banda tinha mudado radicalmente. Muito pelo contrário, o “Peste” é realmente 100% a cara desses 18 anos de banda, com todos os pensamentos e ideias que surgiram nesse tempo. Claro, não podemos agradar a todos, isso é impossível. Muitos fãs dos trabalhos em inglês não curtiram esse álbum e respeitamos isso. Outros preferem ouvir o álbum todo e pular a faixa “Nota 6.66”. A maioria gostou e aprovou. Então não temos que ficar esquentando com isso, gosto é uma coisa muito pessoal. E pra que curtiu e se identificou, obrigado!

Recife Metal Law – Muitas bandas, no Brasil, estão fazendo músicas em português. O Claustrofobia já faz isso desde a sua primeira Demo, “Saint War” (1995), mas o Heavy Metal feito em português, atualmente ou do passado, de alguma forma influenciou em alguma música contida em “Peste”?
Daniel –
Não necessariamente o Heavy Metal, mas sim o Punk e Hardcore. Crescemos ouvindo Ratos de Porão, por exemplo. Sempre tivemos essa identificação com bandas que cantavam na nossa língua. Até Rap/Hip Hop nós ouvimos. Foi uma coisa totalmente natural e inocente desde as Demo-tapes, pois tínhamos 13, 14 anos. Isso ficou como uma característica da banda. Muitas pessoas se identificam com as ideias da banda.

Recife Metal Law – A banda já passou por algumas mudanças na formação, mas a atual formação já se encontra junta há muitos anos. Há quantos anos, precisamente, Marcus D’Angelo (vocal/guitarra), Alexandre de Orio (guitarra), Daniel Bonfogo (baixo/backing vocal) e Caio D’Angelo (bateria) estão juntos, e de que forma isso influencia na hora de compor e ensaiar?
Daniel –
Essa formação está junta desde 1996. Com certeza isso ajuda na hora de compor e ensaiar. Conhecemo-nos desde crianças. Fora a banda, estudávamos juntos, brincávamos, etc. Então há uma cumplicidade, respeito e, principalmente, amizade. Vai além do músico. O fato de tocarmos tantos anos juntos também faz com que tenhamos um entrosamento que se adquiri somente com o tempo.

Recife Metal Law – Alexandre recentemente lançou o livro “Metal Brasileiro: Ritmos Brasileiros Aplicados na Guitarra Metal” e, além disso, é bacharel em guitarra, pós-graduado em estruturação e linguagem musical e docente superior em música. Os demais músicos da banda também seguem uma carreira paralela ao Claustrofobia?
Daniel –
O Alexandre, além de tudo isso que você falou, é professor em uma escola de música e também toca no Quarteto Kroma de guitarras. O Marcus já tocou bateria na banda Oitão, de Hardcore (São Paulo), mas atualmente está parado na função de baterista. (risos) Eu nunca tive projetos, além do Claustro. Tento me focar 100% nela, mas pretendo no futuro fazer alguma coisa.

Recife Metal Law – Em 2010 a banda fez dois shows em Pernambuco, sendo um no Abril Pro Rock e o outro no Bomber Rock Bar. Nesse segundo o local estava totalmente tomado e o calor era praticamente insuportável. E parece que isso fez com que a banda tocasse com “sangue no olho”. Então, o que se esperar dessa nova apresentação do Claustrofobia em terras pernambucanas?
Daniel –
Realmente estava muito quente! Foi um dos lugares mais quentes onde já tocamos. Sempre fazemos nossos shows com o mesmo empenho, prazer e “sangue no olho”, independentemente das circunstâncias e público. O público de Pernambuco é animal e isso nos deixa mais empolgados ainda! Esperamos que compareçam e prestigiem o evento. Será antológico mais uma vez! Abraços a todos! É a “Peste” invadindo Recife novamente!

Site:www.claustrofobia.com.br
E-mail: [email protected]

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Raphael Pinotti e Ronaldo Chavenco