CARRASCO

Conheço a banda Carrasco desde que era um embrião, em razão dos irmãos Ricardo (Terror Holocausto) e Hugo (Opressor Atômico), advindos de Feira de Santana, na Bahia. A primeira Demo foi lançada no formato K-7, e trazia um Thrash Metal primitivo, cantado em português. Os anos foram passando, a banda chegou a paralisar as suas atividades, mas, em conjunto com o Cristiano (Torturador), continua com suas atividades, com algumas pequenas mudanças em sua sonoridade e forma de apresentar a temática lírica. Com isso veio o primeiro álbum, “Armageddon”, um material direcionado aos amantes da forma ‘old school’ de se fazer Thrash/Speed Metal, com fortes influências do velho Death Metal. Atualmente o Carrasco vem divulgando, e na entrevista a seguir Hugo “Opressor Atômico” nos fala um pouco mais sobre o mesmo.
Recife Metal Law – Depois de quatro Demos lançadas, o Carrasco, finalmente, chegou ao seu primeiro full lenght. Quando vocês viram que estavam preparados para lançar o full lenght?
Opressor Atômico – Fala Valterlir, velho de guerra! A gente começou a pensar em gravar o full lenght logo após o lançamento da nossa quarta Demo, em 2009. Creio que não rolou mesmo essa coisa de “se sentir preparado”, no sentido forte do termo. Achamos que as músicas poderiam gerar um bom disco dentro da nossa proposta e então ensaiamos, juntamos dinheiro e fomos para o estúdio, não sem antes já estarmos com um selo certo para lançá-lo.
Recife Metal Law – Antes de se aprofundar no primeiro álbum da banda, falemos um pouco das Demos. As duas primeiras contém músicas em português, as outras duas, músicas em espanhol. Como vocês analisam essa transição, de cantar, inicialmente, em português, e depois passar a cantar em espanhol?
Opressor – Pra falar a verdade, essa coisa de cantar em espanhol saiu da minha cabeça, meu irmão e Cristiano (Torturador) - que como eu, tiveram contato com uma longa tradição de bandas da América do Sul e Espanha que fazem Metal cantado em espanhol - compraram a ideia. Sobre a transição da fase português
para a fase espanhol, acho que, além do idioma, é nítida a ampliação em termos de composição e letras. O idioma é importante, influencia muito no modo como vai soar o ‘feeling’ da música. Basta você traçar um comparativo entre algumas músicas de Roberto Carlos gravadas em português e essas mesmas músicas gravadas depois por ele, com o mesmo instrumental, em espanhol. (risos) Soa diferente! O fato é que fazer Metal HOJE em dia, apoiado em propostas ditas ‘old school’, é uma tarefa árdua. Envolve muita coisa em termos de composição e isso não depende somente da técnica (que obviamente é fundamental), nesse campo ela é necessária, porém secundária. Creio eu, que você não pode fazer uma música chamada “Thrash Metal” e achar que toca Thrash Metal, entendeu? O buraco não só é mais embaixo, como deve necessariamente ser mais embaixo, senão todo mundo vai achar que faz tudo no mundo, e esta pretensão, além de uma ingenuidade, é uma tarefa humanamente inalcançável. No Metal é necessário o mínimo de critério se você quer discutir sobre alguma coisa em bases minimamente objetivas. Ok, o Metal não é uma teoria científica como a química, mas necessitamos de um mínimo de critério para discutir sobre o que é isto ou aquilo, mesmo que estes critérios sejam provisórios e relativos a uma determinada posição ideológica constituída mediante o crivo da história e determinadas no tempo e no espaço do Underground de cada tempo. Essa coisa de a gente cantar em espanhol mesmo, muita gente torce o nariz, mas falando por mim, não me importo muito. Tenho em mente que o Metal, além de estilo de música, é um movimento cultural (ou “contra cultural”, como quiserem) e como tal sofre as demandas das leis, regras e tendências instituídas no próprio movimento, e quem é do meio sabe, via de regra, Metal se canta em inglês ou no máximo no idioma pátrio. Todavia, se o Manowar lançar um disco em grego hoje, amanhã terão 669 bandas no mundo todo tentando cantar em grego. (risos)
Recife Metal Law – Agora falando sobre “Armageddon”, primeiro álbum da banda. Como foi toda a concepção literária e sonora desse álbum? Como vocês queriam verdadeiramente soar?
Opressor – O álbum foi uma extensão da nossa última Demo, “Aurora del Sortilegio”, com nuances diferenciadas especificamente quanto ao andamento e composição geral de algumas músicas. Nós ampliamos os temas de nossas letras e continuamos com o processo de composição ‘inter-ancient Metal’ (termo inventado agora só para fazer referência ao nosso processo de composição calcado em várias vertentes do Metal feito nos anos 80, isto é, seguindo uma tradição ‘antiga’ ou ‘old school’ para quem quiser) iniciado na Demo anterior. Soar? Quisemos soar Brasil, Alemanha, NWOBHM, América do Sul, Espanha... (risos) Isso tudo calcado na tentativa de deixar tudo o mais obscuro e agressivo possível.
Recife Metal Law – O álbum soa totalmente ‘old school’ e se nota que a banda foi a mais honesta possível. Nada de overdubs ou qualquer truque de estúdio. O resultado final, em se falando da produção sonora, foi satisfatório?
Opressor – Apesar de gastarmos um bom dinheiro e nosso produtor já ter uma boa experiência com
gravação de bandas Metal aqui na cidade, o resultado final não foi, digamos, totalmente satisfatório. Para quem gosta de uma guitarra mais ‘magrinha’ e ‘suja’, tipo as que constam no EP do Hellhammer, no “Obsessed by Cruelty” do Sodom, está tudo em cima com a nossa gravação. Mas o fato é que para o que a gente esperava, a gravação deixou a desejar nesse quesito específico. Tudo ficou muito bom desde a cozinha (batera/baixo) até a timbragem dos vocais e a masterização. Quando me refiro a “satisfação” me refiro especificamente à “timbragem das guitarras”, deveriam ter saído mais “preenchidas”. Alguns amigos já me falaram isso e eu concordo. No fim das contas a guitarra acaba sendo o carro-chefe no preenchimento de uma gravação Metal, aliada à timbragem do baixo. Produtor que diz que preenchimento numa gravação Thrash/Death metal se deve a priori ao baixo, deve ir gravar Blues, Reggae ou Soul Music. No nosso caso não foi culpa totalmente do nosso produtor, utilizei um modelo de guitarra que no fim das contas não deu conta do que queríamos e segui intuições equivocadas. Gravamos a Demo anterior no mesmo estúdio, inclusive gastando menos dinheiro e tempo, e o resultado das guitarras foi 666 vezes melhor. Com toda a certeza desse mundo vamos compensar ‘o peso’ das guitarras nas próximas gravações.
Recife Metal Law – A gravação foi feita no J.A Studio, e a mixagem e masterização ficou a cargo de Joel e do próprio Opressor. Ficar responsável pela mixagem e masterização foi uma forma que tu achaste para que tudo soasse como ouvimos em “Armageddon”?
Opressor – Na realidade eu dei ‘pitacos’ na mixagem e masterização, todo integrante de banda faz isso porque ainda não inventaram uma tecnologia através da qual alguém sem ser você mesmo possa pensar, sentir e imaginar como você mesmo. (risos) Se você deixar tudo a cargo do produtor, mesmo que ele entenda do assunto, o material não sai como a banda quer, isso é muito pessoal. No nosso caso a parceria com Joel foi muito legal nos nossos dois últimos registros e espero que continue sendo nos próximos. Joel é mais conhecido como o “Zé Colmeia” de Camaragibe, porque se parece com um urso. Já é bem conhecido aqui em Recife por realizar boas gravações no meio, basta perguntar ao pessoal do Infested Blood, Bonebreaker,
Malkuth, Hatembrace... É um sujeito engraçado e de bem com a vida (essa última frase ao contrário).
Recife Metal Law – A capa ficou a cargo de A. Mutilator, e também mantém a forma ‘old school’ de se fazer capas, mas trazendo algo mais Negro, se assim posso dizer. O que vocês acharam do resultado final da capa? Alguém da banda chegou a opinar sobre como tal capa deveria ser feita?
Opressor – Posso dizer que todos da banda curtiram muito a capa do disco. A ideia para a mesma saiu da minha cabeça, mas como sempre ele faz a arte de uma forma tão peculiar, que no fim só restou à ideia geral da coisa mesmo, construída de forma fantástica por ele. Alex (a.k.a – Anal Mutilator) é um cara supergente boa, um amigo, e no que depender de nós, havendo disponibilidade de sua parte, sempre vai fazer as artes pros nossos discos.
Recife Metal Law – O álbum foi lançado pelo selo equatoriano La Medula Espinal. Como aconteceu o contato para que o álbum fosse lançado por esse selo?
Opressor – O proprietário do selo entrou em contato conosco via e-mail quando ficou sabendo via outro selo, o Return the Crusher of Posers (Colômbia, nos lançou em tape) que nos estávamos à procura de um selo para o lançamento do nosso full. Respondi o e-mail e acertamos o lançamento.
Recife Metal Law – Sendo esse primeiro álbum do Carrasco lançado por um selo equatoriano, como vem sendo a divulgação do mesmo nos demais países sul-americanos, inclusive no Brasil?
Opressor – Temos tido uma boa divulgação nos países da América do Sul desde a última Demo, mas pelo o que eu venho averiguando, o La Medula vem nos divulgando muito mais pela Europa do que por outras regiões, mesmo na América do Sul. É normal isso, o Underground Metal de um modo geral gira maciçamente em torno da Europa, lá em todo buraco tem gente séria fazendo um bom trabalho, seja com selos, produtoras de shows, bandas, etc. A divulgação no Brasil ficou mais a nosso cargo, então fiz algumas poucas trocas. Quero ver mesmo se sai por algum selo daqui no ano que vem, para que a distribuição seja melhor. Para o
segundo disco vamos ver de fazer o lançamento por selos tanto do Brasil como de fora.
Recife Metal Law – As músicas contidas em “Armageddon” são contagiantes, altamente indicadas aos velhos Headbangers e até mesmo aos mais jovens, que procuram por uma sonoridade totalmente ‘old school’. Quais músicas desse álbum vocês indicariam como sendo aquelas que realmente representam a proposta do Carrasco?
Opressor – Obrigado pelo elogio meu velho! Sem demagogia, sei que vindo de você é sincero. Indicar músicas seria muito complicado e suspeito da minha parte. Ao invés disso eu diria que seria mais interessante ouvir o disco todo, na ordem do disco, inclusive, e em seguida o (a) sujeito (a) tirar suas conclusões. O Carrasco é uma banda que, como dito anteriormente, vem dando atenção a uma proposta “inter-ancient Metal” (esse termo é horrível! Mas de alguma forma passa a ideia que eu quero expressar no momento) de composição, então nossos discos não são ‘versáteis’, mas sempre irão tentar trazer diferentes nuances do estilo antigo de se fazer Heavy Metal. Tem umas músicas que são mais ‘chicletes’ que outras, que trazem um ‘feeling’ maior, sentir isso vai variar em cada um. Devido às facilidades tecnológicas é muito fácil hoje em dia conhecer muita coisa da chamada “era de ouro” do Metal. Aproveitamos-nos disso! (risos) Ser só ‘thrash’, ou só ‘speed’, ou só ‘death’ não é nossa proposta. Nossa proposta é tentar ser tudo isso da maneira menos sebosa possível, sem porra louquice e sem forçar a barra. Achamos possível tentar constituir uma unidade em torno desses estilos, e isto obviamente não é uma tentativa só nossa, pois isto é uma tendência dentro do revival de estilos antigos do Metal que vem rolando de dez anos pra cá. Creio que essa tarefa seja possível e estamos tentando executá-la com os pés fincados em torno do que construímos nos nossos dois últimos registros (a saber, a Demo anterior ao full e o próprio full), buscando respeitar as bases e influências da banda mesmo que sejam muitas. O nosso disco atual tem isso, no próximo também vai ter e nos outros também.
Recife Metal Law – Na contracapa existe a divisão das músicas em “Lado Algoz” e “Lado Bestial”. Isso significa que esse material tem a possibilidade ser lançado, também, no formato vinil?
Opressor – Muitas bandas têm colocado essa divisão ‘a la vinil’ em seus CDs, nós somos apenas mais uma. Nesse momento não há nada fechado em torno desse nosso primeiro full sair em LP, quem tiver interesse entre em contato. Tá mais fácil nosso segundo disco sair em LP, mas isso já é outra história; certo é que seria um sonho realizado, com certeza, em ambos os casos.
Recife Metal Law – Quais são os próximos passos da banda para este restante ano de 2012? Existe algum plano de fazer shows fora do Brasil?
Opressor – Para esse ano o que temos de concreto, em termos de lançamento, é que o nosso full lenght vai sair em formato pro-tape pela Heavy Steel Recs. de Portugal, e todas as nossas Demos sairão em uma compilação em formato CD, também pela La Medula Espinal Recs., ainda este ano. Em termos de lançamentos futuros, estamos gravando uma espécie de pré-produção do nosso segundo disco para entrar em contato com alguns selos já em mente e com os quais já temos contato, para que algum (ou alguns) desses realize (m) o seu lançamento no ano que vem. Isso justamente tem a ver com tocar fora do Brasil. Meu sonho é fazer uma tour do Carrasco junto com a minha outra banda, o Beast Conjurator (que inclusive terá disco lançado em breve) na Europa. Na Europa sempre tem vários espaços e produtores para fechar data, desde que sua banda seja bem divulgada lá. Vamos correr atrás disso. Tudo caminhando bem, creio que em dois ou três anos tocamos, havendo um bom planejamento. Queremos muito tocar na América do Sul e obviamente no Brasil também. Vamos ter tempo para nos organizar, e os relançamentos do ‘debut’ e o lançamento do segundo disco serão decisivos para isso. Quanto às possibilidades mais imediatas de show queremos tocar novamente em João Pessoa, Campina Grande e Natal lançando nosso ‘debut’.
Contatos: A/C Opressor. Rua Orós, 200, Ap. 202, Bloco E, Condomínio Mora Capibaribe – Cordeiro. Recife/PE. CEP: 50.711-340.
Site: www.myspace.com/carrascothrash
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação