MACHINAGE
Mesmo com o pouco tempo de atividades, o Machinage vem ganhando bastante atenção, inclusive já tendo feito turnês fora do país. A banda, mesmo antes de lançar qualquer material demonstrativo, lançou um álbum de inéditas, “It Makes Us Hate”, o qual tem ganhado muitos elogios da crítica especializada. Também pudera, o álbum traz um Thrash Metal vigoroso, rápido e pesado, mas sem abrir mão das melodias ou soar demasiadamente ‘old school’, o que faz a banda ter personalidade e fazer uma música com características próprias. Na entrevista a seguir o guitarrista/vocalista Fábio Delibo fala um pouco sobre a história da banda, turnês, organização de shows no Brasil e, claro, do ‘debut’ álbum. Confiram!
Recife Metal Law – O Machinage é um grupo relativamente novo, mas seus integrantes já passaram por outras bandas. Como surgiu a ideia de criar o Machinage?
Fábio Delibo – Todos estão na estrada há muito tempo; passamos por outras bandas e por todas as dificuldades que existem. Minha última banda, antes do Machinage, começou com a proposta de tocar cover. Porém cover é uma coisa meio ruim de se fazer porque você acaba ficando preso nesse mundo, promovendo uma banda que não precisa de exposição e quando se dá conta, ter banda não passa de um entretenimento de fim de semana com os amigos, então acabei partindo para composições próprias e em 2007 formei o Machinage.
Recife Metal Law – O nome da banda soa bem Thrash Metal. Quem surgiu primeiro, o nome Machinage ou a ideia de formar uma banda para fazer Thrash Metal?
Fábio – A banda veio primeiro, o nome veio depois de vários dias pensando. Na verdade, encontrar o nome foi a parte mais difícil, pois as músicas já existiam e não tínhamos ideia de como iríamos chamar. (risos) Por fim, depois de vários nomes, chegamos à conclusão que Machinage seria um nome forte e tinha tudo a ver com nossas composições.
Recife Metal Law – Da formação original apenas Fábio Delibo e Fernando Kump permanecem na banda, com a ressalva de que Fernando chegou a sair do Machinage por um curto período. É difícil se manter uma formação duradoura numa banda como o Machinage?
Fábio – Sim, é bem difícil por sinal. O que acontece é que quando você cai na estrada de verdade, você acaba tendo que abrir mão de algumas coisas e se arriscar bastante. É o que dizemos ser a diferença entre TER banda e SER banda, pois tudo aquilo que acabou começando como uma diversão de fim de semana se torna ‘trampo’ e nem sempre o retorno financeiro é tão interessante. Muita coisa acontece, é complicado... Aliás, nesse exato momento, estamos em três novamente! (risos)
Recife Metal Law – Antes mesmo do lançamento de seu primeiro álbum, a banda fez shows ao lado de nomes como Overkill, Torture Squad, Tim “Ripper” Owens, Evergrey. Como vocês analisam esses shows para a carreira da banda, ainda mais se levando em conta que vocês nem haviam lançado qualquer material fonográfico?
Fábio – É muito louco tudo isso, pensar que alguns dias atrás você está colado na grade olhando aqueles caras e sonhando em estar ali no palco e no dia seguinte você toca no mesmo palco e ainda toma umas cervejas juntos! Isso é fenomenal e o fato de tudo isso ocorrer sem ter o disco lançado é um motivador muito grande pra banda. São momentos históricos, porque mesmo sem CD o retorno do público e mídia nesses shows foram demais.
Recife Metal Law – A atual capa de “It Makes Us Hate” não é a capa pensada primeiramente para o álbum. Qual seria a capa e qual foi o motivo para a mudança?
Fábio – Na verdade foi assim: tínhamos o CD gravado, arte pronta, tudo pronto pra lançar, menos dinheiro pra prensar (risos), e por esse motivo o disco acabou ficando na gaveta. Nesse meio tempo a banda acabou mudando a formação e tocando com certa frequência, somando a mudança dos integrantes os sons começaram a soar bem diferente do material que tínhamos em nossas mãos. Então começamos a cogitar a hipótese de regravar, mas ainda estávamos em dúvida por causa da grana, até que surgiu o convite de Tim Laud pra fazer a mixagem. Então vimos que seria o momento ideal para regravar o CD que não havia sido lançado, e por esse motivo achamos melhor dar uma mudança geral em tudo que havia sido feito até aquele momento.
Recife Metal Law – O primeiro álbum mostra uma banda madura, fazendo um Thrash Metal tradicional, mas sem se apegar, em demasia, ao estilo mais ‘old school’, já que vocês apostam bastante nas melodias e no peso, com algo de velocidade em algumas levadas. Como foi todo o processo criativo do ‘debut’? Ele soa como o Machinage deve mesmo soar?
Fábio – Sim, eu acho que nunca fui atrás de fazer sons que soassem como isso ou como aquilo. A influência de cada um da banda é bem diversificada e isso acaba somando nas composições. Escutamos desde Hardcore até Death Metal. Eu nunca quis dar um título a banda. O termo de que somos uma banda Thrash acaba vindo pelo o que as pessoas escutam no CD, e saiu naturalmente. Talvez por ter o Thrash Metal como minha maior influência, isso acaba sendo notório nas composições. Eu acredito que o Machinage encontrou o caminho de sua personalidade no ‘debut’. Tanto as resenhas do CD como nos comentários, dificilmente nos comparam com uma banda só. Isso é legal, porque nos faz sentir que estamos no caminho certo para fazer o Machinage soar como Machinage e não como qualquer outra banda!
Recife Metal Law – Devo mencionar que os guitarristas Fábio e Fernando trabalharam muito bem, seja nos riffs, nos fraseados dobrados e até mesmo nos solos. A parte de criação é trabalhada de forma conjunta?
Fábio – Na verdade, quando formei o Machinage, as músicas já existiam, e óbvio que algumas coisas acabaram mudando com cada integrante colocando suas influências na banda. A “Mask Behind Some Lies”, por exemplo, é uma composição do Fernando e é um dos melhores sons do CD, em minha opinião. As partes de fraseados dobrados acabaram sendo feita na época em que Renato Lorenccini estava na banda. Na época da gravação o Renato fazia parte da banda e muitas das ideias de dobras vieram dele, inclusive ele foi quem gravou as guitarras junto comigo no CD e foi uma parte muito importante para a sonoridade do CD.
Recife Metal Law – Por falar em trabalhar de forma conjunta, percebi que, com exceção de apenas “Mask Behind Some Lies” e da Intro “Rise of the Souls”, todas as demais composições (letras e músicas) foram feitas por você, Fábio. Algum motivo em especial para que isso ocorresse?
Fábio – Na verdade não. Como mencionei na questão anterior, quando formei a banda as músicas já existiam e os caras curtiram os sons e acabaram ficando. Não existe uma regra de quem deve compor ou não. No momento estamos compondo as músicas do próximo CD, que será gravado ano que vem, e já existem músicas feitas por todos nós. Eu sempre gostei de escrever músicas desde a época que estava aprendendo a tocar, então tenho muitas composições guardadas. Acho que por isso a maioria das músicas eram minhas.
Recife Metal Law – O guitarrista do Korzus, Antonio Araújo, participa fazendo solo na música “Next Victim”, mas uma participação anunciada foi a de Zoltán Farkas do Ektomorf fazendo vocais em “Is This the Way”. Isso não ocorreu. Qual foi o motivo?
Fábio – O Antonio foi muito importante, pois o solo dele da um “up” muito legal na música; um solo muito interessante e faz a música soar maravilhosamente bem. Sobre o Zoltán, acabou sendo um problema de agenda. Na época que conversamos com ele e ele aceitou gravar as vozes, ficamos muito contente, pois era uma participação importante e diferente. Quando entramos em estúdio para gravar, o Ektomorf estava em uma turnê grande. Nós tínhamos um prazo para a gravação e não dava para adiar mais, então acabou não rolando. Para o próximo CD temos uns nomes bem interessantes que confirmaram a participação, mas dessa vez vamos esperar para não dar a notícia errada de novo! (risos)
Recife Metal Law – O álbum, além de ser mixado e masterizado nos EUA, em Orlando (Flórida), também conta com divulgação naquele país. Como vocês conseguiram isso e até onde isso ajudou na hora da banda montar uma turnê nos EUA?
Fábio – Acredito que o fato de ter sido mixado lá na verdade não foi determinante para conseguirmos entrar nos EUA. Com certeza a qualidade da mixagem ajuda muito quando você ouve o CD. Mas uma pessoa muito importante para tudo isso foi David Softee, ele é DJ de uma rádio nos EUA, acabou descobrindo o Machinage e veio atrás de mim para uma possível resenha. Após a resenha nossas músicas começaram a ter uma recepção muito boa na rádio e acabaram nos convidando para fazer uma tour lá, e foi fenomenal!
Recife Metal Law – A turnê nos EUA rendeu bons frutos. Mas como vocês analisam essa tour na América do Norte e qual foi o saldo final? Seria possível fazer algo parecido aqui no Brasil?
Fábio – A tour tem rendido muitos frutos até agora. Foi um dos momentos mais importantes para a história do Machinage. A tour é bom para enriquecer a banda em todos os sentidos, menos financeiro. (risos) A parte financeira em tour como a nossa, no começo, é meio complicada, mas as coisas depois da segunda tour começaram a voltar, e tem muitas novidades vindo ai para o ano vem! Em relação a fazer a mesma coisa aqui no Brasil, eu honestamente acho difícil, porque banda aqui infelizmente não é tratada como deveria ser. Os produtores de eventos acham que devemos pagar pra tocar e não receber, aí começa o erro. Lá você é tratado como artista e aqui, normalmente, não. É triste, mas hoje em dia, acho muito difícil conseguir fazer uma tour por aqui como fizemos por lá.
Recife Metal Law – Do álbum foram retiradas duas músicas para clipes: “Envy” e “Is This the Way”. Por que essas músicas foram as escolhidas?
Fábio – A princípio a “Next Victim” talvez fosse o carro-chefe para divulgação, pois nos shows é uma das músicas mais comentadas, mas ficamos pensando que o CD não vive só dessa música e a “Envy” mostra um lado pesado da banda, com pegadas interessantes de se ouvir. Em relação a “Is This the Way”, queríamos fazer algo que soasse frenético e ao mesmo tempo ensaiando, mostrando a cara da banda, então “Is This the Way” nos soou perfeita para a proposta que queríamos mostrar.
Recife Metal Law – O primeiro álbum alcançou a meta que a banda traçou para o mesmo? Vocês mudariam algo em “It Makes Us Hate”?
Fábio – O CD traçou mais do que se esperava na realidade. Seis meses depois do lançamento todos os CDs prensados esgotaram e o retorno tem sido ótimo, principalmente por ser o ‘debut’. Não mudaria nada nele não! (risos)
Site: www.machinage.net
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Stephen Schmidt e Herick Mem (www.mempix.com.br)