HEADHUNTER D.C.
O que se pode incluir neste texto introdutório à respeito do Headhunter D.C. que já não tenha sido escrito? O que se pode falar de uma banda que faz, respira e honra o verdadeiro Death Metal desde o seu surgimento, em 1987? A banda passou por muitas mudanças durante todo o seu período de atividades, mas nunca, nunca seguiu uma tendência para chamar para si os holofotes ou tentar aparecer mudando seu estilo de uma hora para outra. Com seus últimos lançamentos, o Headhunter D.C. mostra uma musicalidade inigualável e que só poderia ser feita por uma banda que nunca se curvou aos modismos, e um grande exemplo disso é o magnífico novo álbum, “…In Unholy Mourning…”. Como sempre, o vocalista Sérgio “Baloff” Borges nos cedeu uma entrevista bem detalhada que, entre outros tópicos, fala da primeira turnê do Headhunter D.C. na Europa. Confiram!
Recife Metal Law – O álbum “God’s Spreading Cancer...” (2007), foi lançado nos formatos CD e vinil, e em diversos países. Qual foi o impacto causado por esse disco, tanto no Brasil como no exterior?
Sérgio “Baloff” Borges – Salve Valterlir! Deixemos o luto profano começar... Acho que a campanha de “God’s Spreading Cancer...” foi finalizada da melhor forma possível. O disco causou um impacto muito bom na cena; foi razoavelmente bem distribuído mundo a fora (pelo menos dentro da realidade de uma banda brasileira de Death Metal Underground), atingindo uma boa quantidade de maníacos deathbangers do exterior; recebeu ótimos reviews e, o principal, ficamos muito satisfeitos com seu resultado final, caso contrário nada disso teria importância para nós. Tanto no Brasil quanto lá fora ele ainda é muito procurado, então provavelmente uma nova edição do mesmo (possivelmente com algumas surpresas) pode estar a caminho...
Recife Metal Law – Falando na versão em vinil, ela ficou maravilhosa. Eu peguei ambas as versões, mas, como amante do vinil, devo dizer que tal versão ficou matadora! A banda participou de todas as etapas para o lançamento da versão em vinil de “God’s Spreading Cancer...”?
Sérgio – Na verdade, tivemos participação apenas no processo de criação do master do áudio, com as respectivas mudanças na ordem das músicas (devido ao tempo limite para cada lado do LP) e a inclusão do cover do Necrovore, mas a parte gráfica deixamos totalmente a cargo da Evil Spell Records, que realizou um excelente trabalho.
Recife Metal Law – Antes do lançamento do novo álbum, a banda lançou uma compilação e um split, além de um single. Como existe um hiato de cinco anos que separam o disco anterior do mais recente, esses lançamentos serviram para mostrar que o Headhunter D.C. não para de trabalhar?
Sérgio – O Headhunter D.C. sempre se mostrou extremamente ativo ao longo dos anos, mesmo nos longos hiatos entre os álbuns de estúdio, então é natural que estejamos sempre em atividade nesses períodos, seja lançando materiais, fazendo shows, aparecendo em publicações através de entrevistas, matérias, participando de compilações, splits, enfim. Tudo isso mostra que, independente do tempo que levemos para lançar um novo álbum de inéditas (e olha que dessa vez a maldição dos sete anos foi quebrada... Risos), ou se a cena vai mal ou bem, se o estilo que tocamos está em alta ou não, entre outros aspectos, o Culto da Morte nunca para. Death Cult for Eternity!
Recife Metal Law – Como foram os shows de divulgação do “God’s Spreading Cancer...”? Algum entrou para a galeria de shows memoráveis do Headhunter D.C.?
Sérgio – Fizemos alguns shows realmente memoráveis durante a tour promocional de “God’s Spreading Cancer...”, entre eles basicamente todos os shows da tour sul-americana, “Spreading the Death Cult... Tour 2007 (destruyendo sudamerica)”, e outros que vieram em seguida. Difícil de lembrar de todos que foram realmente relevantes. De qualquer forma, citaria aqui show de lançamento do álbum e comemorativo dos vinte anos da banda aqui em Salvador (e que também contou com a participação do Sanctifier como ‘open act’), e o que dividimos o palco com Possessed e Sadistic Intent em Recife, feito em 2008, e ainda relacionado ao álbum, para representar os grandes e fudidos shows que fizemos naquele período.
Recife Metal Law – Vamos agora falar do novo álbum, e quero começar pela parte gráfica, que está foda! O CD é apresentado numa embalagem digipack, trazendo dois encartes, um com as letras e outro com as letras traduzidas. Uma edição limitada veio com um patch... Fazer um lançamento com esses cuidados é uma forma de tentar ‘driblar’ toda essa onda de ficar baixando álbuns ilegalmente?
Sérgio – Também, mas o objetivo principal realmente não foi esse. É claro que trazer o diferencial numa época tão conturbada para o mercado fonográfico é sempre uma iniciativa mais que louvável para darmos um grande ‘FUCK OFF!’ a toda essa banalidade que reina na atual cena, uma cena de valores trocados, onde o virtual sobrepõe-se ao físico, a mediocridade ao talento, as verdadeiras emoções ao conformismo estático, mas a verdade é que já devíamos um lançamento como esse aos nossos fãs e admiradores da banda há algum tempo, algo como um verdadeiro presente a eles por todo o suporte e dedicação, sem falar que ainda não havíamos lançado nada em digipack até então e que era um desejo particular meu. Acho que do jeito que as coisas já estão fora de controle, dificilmente haverá uma solução para acabar ou mesmo driblar toda essa onda dos downloads ilegais, aliás, pra te falar a verdade, eu nem ligo pra isso, cara, deixo isso para os milionários do show business como Lars Ulrich & Cia.! Nossa música e todos os nossos esforços não são voltados para as grandes massas, mas sim para aqueles que comungam dos mesmos gostos, ideias e ideais que os nossos, e são esses que temos certeza que lá estarão comprando os materiais originais, não importa em qual formato ou quantas edições sejam. A esses verdadeiros deathculters, nosso mais profundo respeito!
Recife Metal Law – A capa, de certa forma, chega a lembrar o “Scream Bloody Gore” do Death. Isso foi algo proposital? Uma forma de homenagem?
Sérgio – Sinceramente, nunca vi a capa de “...In Unholy Mourning...” sob essa ótica, assim como jamais fiz qualquer relação entre ambas as artes.
Recife Metal Law – Algumas músicas foram escritas e compostas ainda em 2007, isso faz com que, por vezes, esse novo álbum soe como uma continuação do álbum anterior, obviamente com cada música soando de forma peculiar. Manter-se fiel as suas raízes é uma forma de o Headhunter D.C. mostrar respeito aos seus admiradores?
Sérgio – Totalmente, mas antes de tudo (e o que é mais importante) é uma forma de mostrar respeito a nós mesmos. Eu poderia concordar com você que “...In Unholy Mourning...” seria mesmo como uma continuação de “God’s Spreading Cancer...”, até porque de alguma forma ele o é mesmo, mas eu digo a você que meu objetivo foi adentrar num universo ainda mais obscuro e envolto de uma atmosfera ainda mais carregada e densa que os contidos em “God’s Spreading Cancer...”, e felizmente acho que consegui isso.
Recife Metal Law – “...In Unholy Mourning...” traz ótimas composições, algo inerente ao Headhunter D.C., mas uma, em especial, chama bastante a atenção. “Hail the Metal of Death!” foi criada com o propósito de ser um hino do Death Metal?
Sérgio – Assim como aconteceu em “Long Live the Death Cult”, estive longe dessa pretensão ao criar “Hail the Metal of Death!”, mas certo de estar fazendo mais um tributo honesto à música que faz nossas almas profanas tremerem. Se ela se tornará um hino do Death Metal, só o futuro nos dirá. Até lá, ouçam-na alto, batam suas cabeças e saúdem o Metal da Morte!
Recife Metal Law – Essa música conta com diversas participações em seu refrão. Como foi trabalhada essa parte do refrão? Deu para juntar todos em estúdio?
Sérgio – O “Choir of the Damned” para o coro profano na música foi formado por 30 irmãos e irmãs escolhidos e convidados por nós, todos reunidos na sala principal do estúdio para berrar um poderoso ‘Salve!’ em nome da música/ideologia deathmetálica, entre eles membros do Malefactor, Poisonous, Eternal Sacrifice, ThrashMassacre, editores de zines e outros guerreiros de nossa cena local. O objetivo foi representar cada deathbanger ao redor do mundo que se orgulham de venerarem a melhor forma de música existente, e o resultado foi incrível, alcançando totalmente minhas expectativas!
Recife Metal Law – As músicas do Headhunter D.C., mesmo sendo Death Metal, traz influência de Doom Metal em alguns andamentos. De onde vêm tais influências?
Sérgio – Na verdade, as partes mais em ‘slow tempo’ sempre foram exploradas por nós ao longo de nossos álbuns, vide músicas como “Deadly Sins of the Soul”, “Conflicts of the Dark and Light” e agora mais recentemente com “Lightless” do novo álbum, entre outras nas quais também inserimos andamentos mais lentos. Aliás, essas partes Doom são características vitais dentro do verdadeiro Death Metal desde os seus primeiros dias, então como somos ortodoxos e tradicionalistas nessa questão, obviamente as estruturas lentas e decadentes sempre estarão na música do Headhunter Death Cult.
Recife Metal Law – Novamente um álbum da banda conta com um cover do ThrashMassacre, dessa vez para a thrasher “Into the Nightmare”. Essa será uma tendência do Headhunter D.C., sempre colocar uma música do ThrashMassacre em seus lançamentos?
Sérgio – Essa é a ideia desde o “God’s Spreading Cancer...”, gravar uma música do ThrashMassacre em cada novo álbum nosso, ou pelo menos as que achamos mais relevantes, ainda que todo o trabalho desenvolvido por eles tenha sido totalmente ‘de culto’ para mim. Aguardem pelo menos mais um massacre açoitante para um próximo lançamento do Headhunter D.C.!
Recife Metal Law – No início falamos que o “God’s Spreading Cancer...” foi lançado em vinil. Isso também acontecerá com “...In Unholy Mourning...”?
Sérgio – Sim, certamente! Já estamos providenciando isso desde já, e a ideia é tê-lo lançado ainda nesse primeiro trimestre de 2013.
Recife Metal Law – No encarte do novo álbum existe um texto que fala sobre a criação e motivação que fez com que Sérgio “Baloff” Borges criasse as composições contidas nesse trabalho. Apenas o vocalista Sérgio “Baloff” Borges é quem cria as músicas do Headhunter D.C.?
Sérgio – Nesse novo álbum aconteceu exatamente dessa forma devido a diferentes circunstâncias. No “God’s Spreading Cancer...” há três músicas minhas e uma em parceria com o Paulo, e no split com o Sanctifier a única música inédita nossa também é de minha autoria. Para um próximo trabalho não sei como isso funcionará, mas caso as circunstâncias mais uma vez me levem a compô-lo na íntegra, o farei com o maior prazer e até onde minha inspiração me permitir.
Recife Metal Law – Em um trecho desse mesmo texto é citado que você nunca teve a pretensão de ser um músico, mas, sinceramente, para criar o que o Headhunter D.C. cria, tem que ser músico, e dos bons!
Sérgio – Não tenho nem nunca tive a pretensão de ser músico ou ser considerado como tal, quero dizer, não sou formado em Música, não leio partitura, nem ao menos estudei Música, assim como o Paulo, o qual, esse sim, considero como um músico de mão cheia. Mas como quem escreve música é músico, queiram ou não queiram, então poderia, no máximo, me considerar um músico de Death Metal, já que é o que faço e apenas o que sei fazer, nada mais além disso. Isso já é o bastante pra mim.
Recife Metal Law – De que forma vocês irão trabalhar na divulgação do novo álbum?
Sérgio – Estamos em plena campanha do novo álbum, fizemos uma série de shows pelo Brasil em 2012 e o CD tem sido espalhado de forma intensa. Os próximos passos são tê-lo lançado na Europa em CD e LP muito em breve e dar continuidade à “...In Unholy Mourning for God... Tour 2012/13” a partir de fevereiro, incluindo aí uma tour de 20 dias na Europa em abril, para a qual já confirmamos nossa participação na edição 2013 do SWR Barroselas Metalfest em Portugal, onde dividiremos o palco com bandas como Possessed, Pentagram (EUA), Belphegor, Cryptopsy entre outras. O luto profano apenas começou...
Recife Metal Law – Falando em Europa, pela primeira vez na carreira o Headhunter D.C. irá tocar naquele continente. Vocês acham, levando-se em conta os 26 anos de banda, que esse momento demorou ou chegou na hora certa?
Sérgio – Eu poderia lançar aqui aquela velha máxima que diz: “tudo acontece na hora certa”, mas não seria tão hipócrita. Demorou sim, pois já estamos mais do que prontos para isso há bastante tempo, mas, infelizmente, nem tudo está ao nosso alcance na hora que queremos. Também, como já disse algumas vezes, nunca tivemos aquela obsessão de tocarmos na Europa a qualquer custo como já aconteceu com algumas bandas brasileiras, passando necessidades lá fora e tocando nas piores condições possíveis apenas para terem uma tour europeia no currículo. Também não vou dizer que esperamos pelo momento certo para fazermos isso, mas o que posso dizer é que parece que esse momento certo realmente chegou e o aproveitaremos para encararmos mais essa jornada em nossa carreira, a qual espero que seja a primeira de muitas. Spraeading the Cult across the lands!
Recife Metal Law – Primeiramente havia sido anunciado que ocorreria apenas um show em Portugal, mas logo depois fora anunciada uma turnê mais abrangente, que terá início em abril e terminará em maio. Quantas datas já foram confirmadas e quais países serão visitados?
Sérgio – Colocamos os planos da tour europeia em prática a partir do convite que recebemos para tocar no SWR Barroselas Metalfest em Portugal, então aproveitamos que já tínhamos confirmado nossa participação no mesmo e fizemos uma parceria com a Roadmaster Booking Agency de nosso amigo Daniel Duracell, que irá nos agenciar para um giro de 20 dias na Europa. Ainda não temos a confirmação de todas as datas, mas já está na rota como início, meio e fim da turnê: Wermelskirchen/Alemanha, dia 11/04, Barroselas/Portugal, dia 16/04 e Milão/Itália, no final de abril ou início de maio. Logo, logo todas as datas serão anunciadas.
Recife Metal Law – A banda pretende fazer um ‘set list’ especial?
Sérgio – O ‘set list’ será basicamente o mesmo da parte brasileira da tour, talvez com uma ou outra mudança, mas independente de ser na Europa ou no Brasil, creio que já se trate de um ‘set list’ especial por abranger todos os nossos álbuns, resultando em quase uma hora e meia de puro ‘mayhem’! Existe a ideia de incluirmos algum cover para os shows lá fora, mas ainda estamos definindo isso.
Recife Metal Law – Obrigado pelo tempo cedido! Longa vida ao Headhunter D.C. e boa sorte com a turnê na Europa!
Sérgio – Eu é que lhe agradeço mais uma vez, grande Valterlir, pelo sempre precioso suporte ao Headhunter Death Cult. Estaremos sempre representando o Death Metal brasileiro com o furor, a paixão e a honestidade que nos é característica, independentemente de onde estejamos. Sigam-nos em luto profano por Deus e conte conosco no eterno caminho da morte total! ALL HAIL!!!!!!!! SALVE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Contatos: A/C Sérgio “Baloff” Borges. Caixa Postal 548, Agência Central – Comercio. Salvador/BA. CEP: 40.015-970.
Site: www.headhunterdc.net
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e Valterlir Mendes (ao vivo)