UNCIVILIZED
A banda pernambucana Uncivilized surgiu sob o nome de Skyblast, em 2004, nome que logo foi mudado para o atual. Em 2008 lançou sua primeira Demo, “...And First We Heard the Wolf”, um material que mostrou todo o potencial da banda, que faz um Death Metal único, o qual a banda define como Epic Death Metal. Mesmo com um bom trabalho em mãos, a banda nunca foi de fazert muitos shows, o que começou a mudar com o lançamento de seu primeiro álbum, “Destination”, lançado em 2012, de forma independente. O Uncivilized, este ano, foi uma das responsáveis por abrir o show da lendária banda alemã Destruction. Conheçam um pouco mais sobre a banda na entrevista a seguir.
Recife Metal Law – A primeira (e única) Demo da Uncivilized, “...And First We Heard the Wolf”, foi lançada em 2008. De que forma esse trabalho ajudou a moldar a parte musical e lírica da banda?
Nilson Castelo – Podemos dizer que a Demo serviu à banda como uma amostra de toda a proposta geral, bem como de certo experimentalismo, através do qual se tentava constituir um novo trabalho. Digo novo porque estávamos vivenciando nossa antiga banda, a Blastoff, com uma proposta Death/Thrash. As músicas expostas na Demo já haviam sido compostas anos antes da Uncivilized existir. Músicas como “Ulfhednar” e “Teutoburgerwald” foram compostas desde os tempos da Blastoff (banda da qual eu, Sandro e Augusto fazíamos parte). Com mais um intervalo no trabalho da Blastoff, decidimos, eu e Sandro, moldar a possiblidade de um projeto paralelo, buscando ir além do que estávamos fazendo, quer fosse no aspecto lírico ou no aspecto musical. “...And First We Heard the Wolf” foi a afirmação de tal projeto, dando a personalidade do que de fato seria a Uncivilized.
Recife Metal Law – Algumas bandas, mesmo sem nenhum trabalho lançado, costuma fazer muitos shows. Com o Uncivilized não foi parecido, mesmo tendo em mãos uma Demo tão boa. Por que a banda, de sua formação até os dias que precederam o lançamento do álbum, não era de fazer muitos shows?
Sandro Lima – Boa pergunta. Na verdade estávamos focados nos ensaios, gravando a Demo e divulgando-a na internet. Alguns contatos foram surgindo timidamente. Não sei mesmo porque não surgiram mais convites... Talvez a desconfiança por sermos uma banda desconhecida... Não sei ao certo. Creio que mesmo tendo feito poucos shows, conseguimos apresentar nosso som e gradativamente estamos conquistando nosso espaço na cena.
Recife Metal Law – O primeiro álbum, “Destination”, foi lançado ano passado, e mostra uma banda mais madura musicalmente e liricamente. Manter a formação original até o lançamento do álbum pode ter ajudado para que isso ocorresse?
Nilson – Nossa formação é feita, antes de qualquer coisa, pela afinidade musical e pelo comprometimento entre os integrantes. Mesmo que todos tenham atividades paralelas à banda, temos experiência suficiente para sabermos que o que queremos realizar vai além dos ensaios. Portanto é importante manter o grupo em todo processo de composição. A mudança de integrante, ocorrida logo após a finalização das gravações de “Destination” não estava em nossos planos, mas ocorreu. O fato é que mantivemos nosso ideal de adicionar valores à banda e ao nosso trabalho.
Recife Metal Law – Falando sobre a mudança, após o lançamento do ‘debut’ álbum o baixista Alexsandro Borges saiu da banda, e em seu lugar entrou Augusto Clemente. Acho que Alexsandro foi um dos responsáveis a moldar a sonoridade do Uncivilized, então o que o levou a sair da banda?
Sandro – Alexsandro contribuiu conosco, participou das gravações da Demo e do ‘debut’, mas infelizmente não pode continuar na banda por questões pessoais. Sua saída se deu de forma bastante amistosa, saliento. Augusto ocupou o posto por ser amigo nosso de longa data e de ter tocado em nossa antiga banda, a Blastoff (embrião do que seria a Uncivilized).
Recife Metal Law – Além da mudança no posto de baixista, a banda optou por inserir um segundo guitarrista, Joabson Branntwein. A meu ver isso foi o ideal para o Uncivilized, já que sua musicalidade sempre pediu duas guitarras. A adição de um segundo guitarrista tem algo a ver com o que mencionei?
Nilson – Com certeza! Como a temática lírica e a abertura musical dentro de vários estilos do “Metal” foram fatores geradores para o trabalho da Uncivilized, sabíamos que era necessária uma composição mais rica ao som das guitarras. Já que estávamos trabalhando no lançamento de “Destination” de maneira tão intensa que, inclusive, deixamos de ensaiar por meses, adiamos a entrada de um novo integrante. Outro fator importante foi manter a estabilidade das relações entre os integrantes. Para que o projeto continuasse no caminho correto deveríamos manter a serenidade e a maturidade das relações e dos discursos dos integrantes, considerando que temos muitas influências musicais, assim como obrigações profissionais e familiares que, de maneira direta ou indireta, repercutem no trabalho que realizamos. Antes de fazermos o som que as pessoas conhecem, fazemos o som que estamos gostando de compor e executar. Discutimos músicas e ideias, temáticas e experimentalismos. Logo, precisávamos de alguém que fosse um fator a mais. Joabson, através da unanimidade dos integrantes, trouxe-nos mais harmonia musical e versatilidade. É mais um elemento criador que fortalece a Uncivilized.
Recife Metal Law – Voltando a falar sobre o álbum de estreia, como foi todo o seu processo criativo? Notei que as letras ficaram a cargo de Sandro Augusto e Nilson Castelo. Isso se deve a esses dois integrantes estarem mais por dentro dos assuntos abordados nessas letras, que falam sobre temas históricos?
Nilson – Não definimos quem escreve ou compõe, apenas acontece. Sabemos que nas relações entre os integrantes da banda, tarefas são realizadas à medida que nossas afinidades se desenvolvem. As aptidões e as competências de cada um vão sendo exploradas no melhor dos sentidos. À época da composição de “Destination”, as músicas escolhidas para ‘fecharem’ o CD foram composições minhas e de Sandro, mas temos Erik com muita criatividade e senso crítico, ajudando-nos bastante nos arranjos finais das músicas. Podemos dizer que ele é um cocompositor das músicas. Com relação às letras, como falei, tarefas acabam sendo definidas por todos a todos. Todos podem escrever, mas de maneira geral, eu e Sandro trabalhamos com maior intensidade neste quesito.
Recife Metal Law – Já a parte gráfica, que ficou ótima, diga-se, ficou a cargo do baterista Erik Cavalcanti. Houve uma preocupação de fazer ligação entre título do álbum, nome da banda e a arte usada na capa?
Nilson – Complementando a resposta à questão anterior, são tarefas realizadas diante das competências. Nosso amigo e baterista Erik nos dá todo o suporte de que precisamos com relação à arte gráfica. Ficamos bastante satisfeitos, pois ninguém melhor do que um membro do grupo para compartilhar o ‘pensar’ sobre a composição da arte geral, de tal forma que letras, músicas e esta arte geral estejam equilibradas. São consultas e mais consultas aos próprios integrantes e suas impressões para que o trabalho final esteja pronto.
Recife Metal Law – O álbum traz sete músicas, de certo modo, longas. Felizmente a banda mostra qualidade e as músicas não ficam no lugar comum, o que deixa o ouvinte preso ao que é apresentado nesse ‘debut’. Houve essa preocupação de fazer músicas para que elas não soassem maçantes e que, de alguma forma, prendessem o ouvinte?
Sandro – São como narrativas, transmitem a mensagem dentro de uma sonoridade com boas variações. Acho que a preocupação foi a de dosar bem as variantes de peso, melodia e velocidade.
Recife Metal Law – Gosto de “Destination” por completo, mas músicas como “The Inca’s Trial (Skyblast)”, “Seven Days Into the Battle Storm” e a minha preferida, “Flagellum of God”, merecem destaque. Na visão de vocês, quais músicas melhor definem a sonoridade do Uncivilized?
Nilson – Não direi aquela que define a banda, mas aquelas que representam a evolução do nosso trabalho. Quando escrevi a letra e defini a música “The Inca’s Trial (Skyblast)”, estava me desprendendo do trabalho com a Blastoff. Esta música foi importante para o molde do que gostaríamos de fazer. “Flagellum of God” se encaixa como a música que diz: sabemos o que estamos fazendo (e talvez assim você possa dizer é a música que representa a banda), mas gostaria de deixar claro que a música título, “Destination”, é a última a ser ouvida no CD, como quem deixa o recado que ainda há mais por vir. Ela representa essa linha, essa conexão com a evolução constante da banda. Ao menos é minha visão de compositor. (risos)
Recife Metal Law – Vocês chegaram a cogitar em colocar alguma música da Demo no primeiro álbum?
Sandro – Houve no início, bem antes de gravarmos o álbum. Mas achamos que seria melhor apresentar material novo.
Recife Metal Law – Esse álbum foi lançado de forma independente. Quais as vantagens e desvantagens de lançar um CD por conta própria e como vocês estão trabalhando na parte de divulgação?
Sandro – As vantagens, creio, são as de você ter mais liberdade criativa, ter mais tempo pra produzir, enfim, mais autonomia. As desvantagens são as de ter um orçamento um pouco apertado para produção, gravação, parte gráfica, etc. Enfim, de não ter um suporte de um selo que possibilite a produção e distribuição do material. Para nossa divulgação nós contamos basicamente com as mesmas ferramentas que a maioria das bandas utiliza que são Myspace, as redes sociais, blogs, zines virtuais...
Recife Metal Law – Vocês se autodenominam uma banda de Epic Death Metal. Poucas bandas fazem o estilo que o Uncivilized faz. Então, de onde vêm as influências da banda, seja em conjunto ou individualmente?
Nilson – É interessante responder a esta pergunta, pois remonta às conversas entre eu e Sandro (há alguns anos) sobre nossas leituras e aquilo que poderia estar inserido dentro do Metal. Primeiramente, ressalto que a Uncivilized é fruto destes debates, destas ideias. Por isso nosso som tem sido apresentado com variáveis a respeito da sonoridade ou das cadências na execução das músicas. Quando executamos aquilo que sentimos de acordo com as letras, temos tempos diferentes, cadências distintas por situações distintas expressas nas letras. Não queremos que seja complexo. Não o é. Apenas afirmo ser “Epic Death Metal” pelo que abordamos nas temáticas. Com relação às influências na sonoridade, temos muito a ser mencionado, sobretudo com relação a cada integrante, desde nossas audições com o Hard Rock até o Folk Metal em geral. Dentro deste universo sonoro, temos destaques (no som da Uncivilized) para o Death, o Black e o Folk Metal, pois são parte do universo do que compomos. Como citações de algumas vertentes sonoras para a Uncivilized, temos Bathory, Unleashed, Dissection, Emperor, Enslaved, Dark Tranquillity, Borknagar, Satyricon, Rotting Christ, Amon Amarth, Death, Mythological Cold Towers, Einherjer...
Recife Metal Law – Com o lançamento de “Destination”, a banda vem conseguindo mais espaço para apresentar sua música? Existe a possibilidade de a Uncivilized fazer shows fora de Pernambuco?
Sandro – Eu particularmente gostaria muito de termos feito mais shows, mas pouco a pouco os convites estão surgindo. O lançamento do álbum tem suscitado mais interesse no nosso som e espero que possamos tocar fora do estado e fazer mais contatos com bangers e produtores de outras regiões. Um dado curioso, nossa primeira apresentação ao vivo foi no nosso vizinho Estado da Paraíba, a convite dos irmãos da Gates of Holocaust e Art of Torture (valeu André, Arielson e Diego!). Quem tiver interesse em nos convidar para tocar, estamos aí, prontos para erguer a bandeira da Uncivilized por aí afora!
Site: www.myspace.com/uncivilizedspace
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Karla Gonçalves e Larissa Rafael