SLIPPERY





São poucas as bandas que enveredam pelo lado do Hard Rock no Brasil, mas a cena continua bem ativa. O Slippery é uma dessas representantes, porém a banda adiciona muito do Heavy Metal em suas músicas, inclusive tendo colocado no ‘track list’ regular de seu álbum de estreia, “First Blow”, uma versão para uma clássica música de uma lendária banda da NWOBHM. A banda recentemente sofreu mudanças em sua formação e atualmente conta com Fabiano Drudi (vocal), Dragão e Kiko Shred (guitarra), Fábio Parisi (baixo) e Lou Taliari (bateria). Formação esta que já trabalha em novas músicas para o sucessor de “First Blow”. O guitarrista Dragão, na entrevista a seguir, nos fala mais sobre tudo que permeia o Slippery, passado, primeiro álbum e planos futuros.

Recife Metal Law – A banda surgiu em 2004 e o seu nome faz referência a um álbum do Bon Jovi – “Slippery When Wet”. Sendo assim, a linha sonora a ser seguida era mesmo fazer Hard Rock?
Dragão –
Desde o princípio nos propusemos a fazer Hard Rock. O nome da banda não é uma referência direta ao álbum do Bon Jovi, embora sejamos todos grandes fãs da banda. A escolha do nome foi resultante mais do gosto pela sonoridade da palavra do que por qualquer outra razão.

Recife Metal Law – Em seu release o Slippery menciona que “muitas bandas contemporâneas têm pecado pela falta de espontaneidade ou pelo pragmatismo das regras que foram criadas para um estilo musical cujo único objetivo sempre foi o de não seguir regras”. Tal afirmativa não soa paradoxal para vocês, já que a banda “não tem a menor pretensão de criar, recriar ou inovar qualquer coisa”?
Dragão –
Compreendo o que quer dizer, mas realmente não penso dessa maneira, até porque hoje em dia a ‘regra’ é justamente reinventar o Rock, adicionando elementos externos a ele. Nunca quisemos isso, gostamos do Rock (entenda-se Heavy Metal/Hard Rock) como ele fora praticado em seus tempos áureos. E é justamente aí que reside a espontaneidade no que fazemos.

Recife Metal Law – O Hard Rock teve o seu auge na década de 80, porém permanece vivo e forte até os dias atuais. Mas como o Slippery enxerga a atual cena Hard Rock, tanto no Brasil como no exterior?
Dragão –
Embora haja esse levante recente de uma nova cena, principalmente nos países escandinavos, com destaque para a Suécia, a cena ainda é inexpressiva, se comparada ao que foi na década de 80, quando o mercado absorvia quase tudo que se produzia dentro do Hard Rock, ditava moda, tinha papel de destaque em trilhas publicitárias, etc. Não acredito que isso voltará a acontecer novamente um dia, não com as proporções que aconteceram nesse período.

Recife Metal Law – Antes do álbum de estreia, a banda lançou uma Demo, a qual teve boa recepção, tanto pelos admiradores do estilo como pela mídia especializada. Tal recepção foi o combustível para que a banda continuasse a seguir em frente?
Dragão –
Sem dúvidas! O grande lance é: continuaríamos a caminhar independentemente do resultado alcançado com o lançamento do EP. Realmente acreditamos no que fazemos como expressão artística e o fazemos com muita sinceridade. Mas é fato que a receptividade positiva que tivemos, tanto por parte do público quanto da mídia especializada, fez com que encarássemos as coisas ainda com mais afinco.

Recife Metal Law – “First Blow”, o primeiro álbum, começa de uma maneira pouco usual para uma banda de Hard Rock, já que a primeira frase do álbum é “Siga seus sonhos e nunca se renda!”. Por que vocês decidiram fugir do clichê literário das bandas de Hard Rock?
Dragão –
“Follow Your Dreams” foi a primeira canção da banda a ser concluída e foi originalmente lançada em 2007, no EP de mesmo nome. Depois decidimos por regravá-la e incluir no álbum. A escolha para a abertura do disco foi em função do clima que a música traz: uma letra e melodias que impulsionam as coisas ‘para cima’, além de possuir um refrão que, de certa forma, prende a atenção de quem ouve, o convidando assim a conhecer o restante da obra. Quanto à temática abordada, realmente temos uma postura mais próxima do Hard Rock britânico do que daquele praticado nos EUA, que tende a abordar com mais frequência temas como noitadas, bebedeira, mulheres e afins. Diria, talvez, que nosso flerte com o AOR tenha sido o responsável por isso.

Recife Metal Law – Sobre as músicas, a banda procurou mesclar temas mais Hard Rock com algo do Heavy Metal e até mesmo baladas. Vocês acham que essa mescla entre músicas é essencial para uma banda como o Slippery?
Dragão –
Creio que sim. Acredito que essa mistura confira certa dinâmica ao álbum, com a mescla de momentos mais tranquilos e outros mais ‘agressivos’.

Recife Metal Law – Devo dizer que “Run For Reaction” é uma música que me chamou bastante à atenção, porém algo que não foi muito do meu gosto foi à utilização de alguns efeitos nas partes vocais. Era necessário colocar tais efeitos nessa música?
Dragão –
A necessidade ou não de algo depende realmente mais do gosto pessoal do ouvinte do que de uma necessidade prática propriamente dita. Gostamos bastante dos efeitos utilizados por bandas de AOR e julgamos, no momento, que ali caberia algo mais próximo disso. Na realidade o que mais se ouve nessa canção é a aplicação de uma ambiência mesmo, não tem muita coisa fora isso. O que se destaca e traz essa sensação é o trabalho de harmonização das vozes.

Recife Metal Law – Ainda sobre músicas que chamam à atenção, quais tem maior apelo entre os fãs da banda?
Dragão –
Isso varia bastante. Quando ouvimos alguém dizendo “a minha preferida é a X ou Y”, sempre nos surpreendemos, porque realmente cada música chega a uma pessoa de uma maneira bem diferente do que chega à outra; cada um tem uma percepção muito pessoal da coisa. Eu arrisco dizer que dentre as obrigatórias estariam: “Follow Your Dreams”, “Two Young Hearts” e “We Seek the Vengeance” (essa última lançada em 2007. Faz parte do EP).

Recife Metal Law – Na época de divulgação da Demo/EP vocês chegaram a lançar um clipe para “Two Young Hearts”. Pensam em fazer isso para divulgar “First Blow”?
Dragão –
Temos, sim, esse projeto em mente. Na verdade começamos a trabalhar nisso, mas acabamos suspendendo temporariamente devido a algumas outras prioridades que elegemos.

Recife Metal Law – Esse disco traz, ainda, um cover para a lendária banda Demon, para a música “Night of the Demon”. A intenção da banda foi homenagear uma banda que gostam, mas vocês não chegaram a cogitar de fazer tal homenagem tirando um cover de alguma banda de Hard Rock?
Dragão –
O Demon é uma banda pertencente à NWOBHM. Nesse período o Hard Rock e o Heavy Metal se fundiam e se confundiam de maneira muito saudável, e com o Demon não foi exceção. Sempre tocávamos um cover ou outro nos ensaios, como forma de diversão mesmo, e sempre rolavam coisas inusitadas, como Picture ou até mesmo o próprio Demon. Tivemos a ideia de gravar “Night of the Demon” e incluí-la no disco. Então entramos em contato com Mike Stone (manager da banda) e tivemos sua aprovação para tal. Talvez (certamente) o mesmo não aconteceria se optássemos por regravar algo do Bon Jovi, por exemplo. (risos)

Recife Metal Law – A capa de “First Blow” faz uma alusão à sensualidade, malícia e algo explosivo. Isso foi uma forma de ‘informar’ aos que não conhecem a banda o que pode ser encontrado nesse álbum?
Dragão –
Exatamente! Essa é a ideia que queremos passar através da arte da capa, a malícia inerente ao estilo, somado ao conteúdo explosivo do álbum.

Recife Metal Law – E quem é a modelo da capa? Ela apenas serviu como modelo fotográfico ou também curte o som do Slippery?
Dragão –
A modelo é San Martins. É uma grande amiga nossa e também fã da banda. Topou fazer o trabalho assim que explanamos o conceito. O ‘click’ é de Fábio Barella, um fotógrafo também de nossa cidade (Campinas/SP), que tem um trabalho sensacional.

Recife Metal Law – Houve um erro no encarte do CD, com a inversão da ordem das músicas “Another Chance” e “No Time to Sorrow”. A banda não cogitou a possibilidade de devolver o encarte para que fosse devidamente corrigido?
Dragão –
Cogitamos sim essa devolução, mas optamos por lançar essa primeira prensagem de 1000 cópias com esse equívoco mesmo. Acabamos dando mais prioridade ao prazo estabelecido, visto que já tínhamos o show de lançamento agendado e a devolução do material possivelmente impactaria isso.

Recife Metal Law – Como anda a criação para novas músicas para um vindouro novo álbum?
Dragão –
Tivemos duas alterações recentes no ‘line-up’ da banda, depois de sete anos sem qualquer mudança na formação: Rod Rodriguez (bateria) e Érico Moraes (contrabaixo) deixaram seus postos, sendo substituídos por Lou Taliari e Fábio Parisi, respectivamente. Estamos trabalhando nos arranjos de novas canções e pretendemos em breve entrar em estúdio para darmos início ao registro de mais um álbum. Por fim, gostaria de agradecer a oportunidade de falar a todos que acompanham o Recife Metal Law. Um grande abraço a todos e estejam prontos para mais uma explosão em breve!

Site: www.slippery.com.br

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Mariana Thomaz, Natalia Panariello, Sabrina Iamamoto