SOTURNUS



 

A Soturnus surgiu no início do ano 2000, tendo em seu ‘line up’ inicial Rafael Basso (vocal e guitarra), Aline Basso (vocal), Guilherme Augusto (baixo) e Eduardo Vieira (bateria). Um ano depois o quarteto já estava lançando sua primeira Demo, “Poems of Love... Poems of Pain...”, que rendeu boas críticas à banda, possibilitando, inclusive, alguns shows fora de seu Estado. Após isso, a banda passou por mudanças em sua formação, e seus integrantes se envolveram em outros projetos, fazendo com que a Soturnus ficasse inativa por algum tempo. A volta se deu em 2005, com o lançamento da Demo “Solitude”, que já mostrava um novo direcionamento da banda, que já abandonava as raízes Góticas, e agora procurava fazer algo na linha Doom/Death Metal. Em 2007 veio o lançamento do excelente “When Flesh Becomes Spirit”, que mostra uma banda entrosada e de alto nível profissional, proporcionando mais shows para a banda. Apesar da boa repercussão do álbum, houve uma nova alteração na formação, com a saída de um dos fundadores, Rafael Basso, que viajou para a Europa. Porém a banda segue firme e forte e a atual formação conta com Marcos Meirelles (vocal, Lutiferium), Andrei Targino (guitarra, Thyresis), Eduardo Borsero (guitarra), Guilherme Augusto (baixo) e Eduardo Vieira (bateria).

 

Recife Metal Law – A Soturnus chegou a findar suas atividades, mas depois de um tempo deu uma reformulada no ‘line up’ e voltou. O que de fato aconteceu para que a banda decidisse por dar essa parada?

Guilherme Augusto – Acredito que toda banda passe por uma fase de dúvidas, onde os integrantes se perguntam se vale ou não a pena continuar. Isso ocorreu com o Soturnus,  e em uma fase em que nós, como banda, estávamos bem, produzindo e em turnê. Só que, ao mesmo tempo, estávamos ficando mais velhos, terminando nossos cursos de graduação, entrando no mercado de trabalho e sem saber se iríamos ficar ou não em João Pessoa, o que começaria a entrar em conflito com a agenda da banda. Como não queríamos que o Soturnus ficasse em uma espécie de limbo, tocando pouco, sem poder fazer viagens mais longas e sem produzir com qualidade, decidimos encerrar as atividades. Porém, todos os integrantes continuaram a tocar em outros projetos. Eu e o baterista Eduardo formamos uma banda de Death chamada Abstinence of Pain. Rafael iniciou um projeto solo e logo depois entrou no Obskure de Fortaleza. Só depois de quase dois anos parados com o Soturnus, e com nossas vidas em outra fase decidimos voltar, dessa vez mais maduros e mais focados na banda.

 

Recife Metal Law – Com relação ao Obskure sei que o Rafael não pôde permanecer na banda já que a distância o atrapalhava. Mas o que aconteceu ao Abstinence of Pain? Vocês chegaram a lançar algum material?

Guilherme – Na verdade o Abstinence of Pain já existia mesmo com o Soturnus em atividade. Depois dos ensaios do Soturnus nós continuávamos tocando: eu, Eduardo, Rafael e Alexandre Jr. (nosso guitarrista na época), covers de bandas de Death Metal como Dismember e  Obituary. Chegamos a fazer uma meia dúzia de shows só tocando covers. Quando paramos com o Soturnus e Rafael foi pro Obskure chamamos o vocalista Marcos Meireles e o guitarrista Marcelo para completar o ‘line-up’ e começamos a compor. A banda durou cerca de três anos, não chegamos a gravar nada, mas tocamos bastante. Abrimos  para o Malefactor em Natal; para o Krueger em Campina Grande e tocamos diversas vezes aqui pela região. Quando voltamos com o Soturnus o Abstinence of Pain foi deixado de lado, mas sempre que conversamos sobre os tempos da banda cogitamos a possibilidade de voltar.

 

Recife Metal Law – Antes de falarmos sobre o atual lançamento, em 2001 vocês lançaram a Demo “Poems of Love... Poems of Pain...”, que foi bem divulgada no meio Underground, o que proporcionou a banda a se apresentar em diversas cidades, não só da Paraíba, mas também de Estados vizinhos. Como vocês analisam, atualmente, o lançamento dessa Demo?

Guilherme – É bom lembrar que após  “Poems of Love... Poems of Pain...” lançamos, depois  da nossa volta em 2005, a Demo “Solitude”, com duas músicas, que  foi pouco divulgada, pois pouco depois ocorreram reformulações grandes na banda. Em 2001, éramos apenas um bando de garotos com sede de tocar e compor. Fundamos o Soturnus em janeiro de 2000 e em dezembro já estávamos no estúdio gravando. Não tínhamos muita experiência e a gravação serviu para nos dar uma noção do que era gravar; lidar com técnicos de som; procurar timbres de guitarra, efeitos, planejamento da  arte gráfica, site, distribuição e toda uma série de tarefas e atribuições que até então não sabíamos como fazer, nem tínhamos noção de como se fazia. Em termos de sonoridade, o trabalho é o que escutávamos na época e o que a banda tinha se proposto a fazer, com vocais femininos, teclados e cadência nos riffs. Na gravação, faríamos diferente hoje em dia, mas em 2000 era aquilo que tínhamos a disposição e se olharmos os trabalhos da época podemos perceber que “Poems of Love... Poems of Pain...” ficou até um pouco acima da média. Tivemos ótimas resenhas nos veículos especializados e mostramos a nossa cara para o Underground. Sou muito orgulhoso desse trabalho.

 

Recife Metal Law – Sem dúvidas muitos gostaram da sonoridade apresentada nessa Demo, que incluía vocais femininos e o uso de teclados. Mas com a reformulação da banda, tanto os vocais femininos como o uso de teclados foram abolidos. Vocês chegaram a receber algum tipo de crítica em razão disso?

Guilherme – Algumas pessoas reclamaram sim. Antigos admiradores vinham falar conosco dizendo que a banda deveria mudar de nome e coisas do gênero. Mas, ao mesmo tempo, conseguimos agradar a um número maior de pessoas, visto que não abolimos totalmente nossas influências góticas e acrescentamos um pouco mais de peso e velocidade em nosso som.

 

Recife Metal Law – Ano passado vocês lançaram o primeiro álbum, “When Flesh Becomes Spirit”. Como vem sendo a divulgação desse material? O público tem gostado desse trabalho?

Guilherme – Estamos divulgando fortemente. Claro que temos limitações, pois lançamos o álbum de forma independente e todo o trabalho está sendo feito por nossa conta. As resenhas estão saindo em todos os veículos especializados; estamos fazendo trocas com outras bandas e já temos o disco sendo vendido por selos em outros Estados. Recentemente fechamos uma parceria com o selo Warlock de São Paulo e eles estão vendo nosso disco por lá. O público tem respondido muito bem ao disco. Estamos mais pesados e velozes, nossas influências de Death Metal estão mais presentes e o público gosta disso.

 

Recife Metal Law – E como foi gravar esse disco? Sei que ele foi gravado em João Pessoa, tendo o acompanhamento de Marcelo Pompeu (Korzus e Mr. Som), e mixado, masterizado e produzido pelo próprio Pompeu e pelo Heros Trench, em São Paulo...

Guilherme – Quando decidimos gravar o nosso primeiro CD, também decidimos que faríamos a melhor produção que pudéssemos. A princípio queríamos gravar aqui e mixar no Mr. Som. Foi quando ligamos para o Pompeu e acabamos conversando sobre a idéia de ele vir à João Pessoa para produzir o CD. E foi isso que aconteceu. Ele veio e gravamos o álbum em 12 dias. Foi realmente fantástico tê-lo por perto. Um produtor totalmente sintonizado com o Underground, com a exata noção de como nosso disco  deveria soar, exigente e que conseguiu colocar o nosso melhor no disco. A mixagem e masterização foram feitas no Mr. Som em São Paulo pelo Heros Trench e Rafael esteve presente durante todo o tempo para acompanhar as etapas finais e para aprovar os timbres e sonoridade finais do disco.

 

Recife Metal Law – Já a parte gráfica ficou a cargo do renomado Gustavo Sazes e, obviamente, foi apresentado um trabalho digno apenas de elogios. A banda deu alguma idéia a ele para a arte do CD?

Guilherme – Para esse lançamento nos preocupamos muito com todos os aspectos da produção e a parte gráfica era um dos mais importantes. Achamos que um disco não é apenas um trabalho estritamente musical, mas sim uma junção de conceitos, cada um sobrepondo-se ao outro, formando assim a identidade final do trabalho. Inicialmente mandamos a letra da música título para o Gustavo; conversamos sobre o sentimento que gostaríamos de passar com a capa e demos alguns direcionamentos para ele. Ele nos apresentou duas capas diferentes, escolhemos uma e ele continuou com o trabalho, seguindo os padrões da capa escolhida. No final, ele fez um trabalho sensacional alinhando o mesmo conceito no encarte, no site e no Myspace.

 

Recife Metal Law – Ainda sobre a parte gráfica, na parte interna há uma figura de uma mulher. Fiquei curioso, pois ela se parece muito com a Aline Basso. Essa mulher é realmente a Aline?

Guilherme – Ahhh... Você não é a primeira pessoa que nos pergunta isso. Mas não! Não é a Aline. Essa imagem é dos arquivos do Gustavo Sazes. Não sabemos nem quem ela é.

 

Recife Metal Law – Com todo esse esmero a Soturnus lançou um material de ótima qualidade, em minha opinião, e que não deixa a dever a qualquer outra produção, seja feita aqui no Brasil ou no exterior. O resultado final foi satisfatório para vocês?

Guilherme – O resultado foi totalmente satisfatório. Orgulhamos-nos muito do disco que fizemos. Hoje, com a experiência adquirida durante todo o processo, acredito até que faríamos algumas coisas um pouco  diferentes, mas isso é do processo natural de evolução, quando olhamos para trás sempre existe algo que poderíamos fazer de forma diferente.

 

Recife Metal Law – Falando da parte sonora, ele está mais madura e mais bem definida do que outrora. Rafael se mostrou um versátil vocalista, fazendo diversas vocalizações, indo de partes agressivo-rasgadas, a algo mais gutural e até mesmo ‘limpo’. Esses tipos de vocalizações foram previamente definidos ou a atual sonoridade pediu isso?

Guilherme – O estilo foi sendo formado naturalmente, tendo a saída de Aline como um divisor de águas para a banda. A idéia do clima das músicas é fazer com que as partes se desenvolvam crescendo para os momentos fortes ou diminuindo para os momentos mais atmosféricos. Dessa forma a escolha de vozes limpas ou guturais, melodia ou agressividade, foi natural porque cada momento da música pedia um estilo. E, mesmo com a saída de Aline, ainda tínhamos muitas influências góticas que, aliadas com as passagens um pouco mais pesadas, trouxeram essa variação vocal para o som de forma natural.

 

Recife Metal Law – E como foi todo o processo de composição desse álbum? Afinal algo tão bem feito não nasce da noite pro dia. Como as idéias para esse disco foram trabalhadas?

Guilherme – Algumas músicas são ainda de 2003, época que tínhamos vocais femininos e teclados na banda; outras são mais novas, mas também com vocais femininos e teclados. Tínhamos mais de quinze músicas que poderiam ser gravadas. O que fizemos foi escolher as melhores e ajustar os arranjos para a nova sonoridade da banda, sem teclados, com mais peso, velocidade e um maior trabalho de guitarras. Durante esse processo outras músicas foram surgindo, essas já com a cara do novo som da banda e no final ficaram as músicas que estão no disco. Algumas antigas reformuladas e outras novas, compostas quando tínhamos o novo estilo de compor mais fixo em nossas mentes.

 

Recife Metal Law – Algumas letras contidas em “When Flesh Becomes Spirit” ainda trazem participação dos antigos integrantes. Essas músicas são antigas ou mesmo depois de saírem da Soturnus os antigos membros continuam contribuindo na parte lírica?

Guilherme – Não só em letras. Existem participações de antigos integrantes na parte instrumental também. Essas são exatamente as músicas antigas que foram remodeladas para entrar no novo estilo da banda. Por isso deixamos os créditos para os integrantes que tinham trabalhado nelas na época.

 

Recife Metal Law – Existe um tema principal sendo tratado nas letras desse álbum?

Guilherme – Sempre valorizamos muito a parte literal das músicas. Todas as nossas influências são de bandas que possuem uma parte literal forte e parte fundamental no processo de composição musical. No Soturnus não poderia ser diferente e nossas letras são parte fundamental da nossa música. Acho que o tema principal são as dores e paixões humanas. Sejam elas as pessoais, sexuais ou psicológicas.

 

Recife Metal Law – Uma das músicas que mais me chamou a atenção foi a excelente “Pain and Pleasure”. Inclusive essa música traz uma parte cantada em português. Por que essa música tem um trecho cantado em nossa língua?

Guilherme – Esse trecho é, na verdade, parte de um poema de Augusto dos Anjos que adaptei para encaixar no refrão dessa música. Resolvi deixar em português para dar uma ênfase maior ao texto, que é bastante forte, e também por causa da sonoridade. Em inglês poderia não ficar tão bom. Acho que funcionou, essa é uma das músicas que o público mais gosta.

 

Recife Metal Law – No encarte há citações a autores literários como Fernando Pessoa, ao próprio Augusto dos Anjos e Lord Byron. Qual a razão para isso?

Guilherme – Nos inspiramos em autores como Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa, Michel Foucault, Lord Byron e o Marquês de Sade. Colocamos as citações como uma forma de homeganear nossas influências literárias.

 

Recife Metal Law – Recentemente a banda sofreu uma reformulação no ‘line up’, com a saída de Rafael, que foi um dos fundadores do Soturnus. Como vocês receberam a notícia da saída de Rafael e o que ele está fazendo atualmente?

Guilherme – Inicialmente ficamos chocados, pois não esperávamos, já que ele não nos falou nada sobre os planos de morar fora do país e nos comunicou em caráter definitivo. Só que  ficamos sabendo mais ou menos três meses antes. Rafael viajou em Setembro. Então, nesse meio tempo, conseguimos fechar o novo ‘line-up’, só que não iniciamos os ensaios com força total, pois o Soturnus ainda tinha que cumprir três datas da primeira parte da turnê. Inclusive, os novos integrantes fizeram uma participação especial, no último show de Rafael aqui em João Pessoa, na música “Pain and Pleasure”. Rafael está morando em Gotemburgo, na Suécia, e está fazendo mestrado. Entrou em uma banda de Death Melódico, chamada Hate Liberation, como vocalista, e está prestes a gravar um novo material com a banda. Desejamos toda a sorte para ele neste novo projeto e esperamos tocar juntos no futuro.

 

Recife Metal Law – No último show de vocês, que pude assistir, no III Aumenta Que É Rock, já pude conferir a nova formação e, a meu ver, o novo vocalista Marcos Meireles, se encaixou perfeitamente na banda. Essa nova formação parece já estar criando novas músicas, já que no citado evento vocês tocaram “The Doors of Perception”. Como anda o processo criativo ao lado de Marcos e do novo guitarrista Eduardo Borsero?

Guilherme – Conhecíamos Marcos Meireles dos tempos do Abstinence of Pain e ele foi a nossa primeira opção para ocupar o lugar de Rafael. Sabíamos que ele tinha potencial para fazer a variação de vocal que o Soturnus precisava, além de ter uma presença de palco muito boa. O Borsero foi indicação de Andrei e nos impressionou muito por ser um guitarrista jovem e com uma boa técnica. O processo criativo está indo incrivelmente bem. O entrosamento com os novos membros foi super fácil. Finalizamos “The Doors of Perception” e já temos mais duas “engatilhadas”.

 

Recife Metal Law – Obrigado pelo tempo cedido. Deixe um recado final para os leitores do Recife Metal Law...

Guilherme - Obrigado a você pela oportunidade! Gostaria de agradecer a todos que tem nos ajudado, aos fãs que vão aos shows e compram os discos. Sem vocês nada disso faria sentido. Espero encontrá-los nos shows! Stay Dark!

 

Site: www.soturnus.com / www.myspace.com/soturnus

E-mail: [email protected]

 

Entrevista por Valterlir Mendes

Fotos: Divulgação e Valterlir Mendes