DISTRAUGHT





A banda gaúcha de Thrash Metal Distraught pode ser chamada de uma verdadeira guerreira e que suportou a todos os intempéries de sua jornada no meio Heavy Metal, afinal são 24 anos de duras batalhas, mas sempre se mantendo de pé. Em meio a tudo isso, seu mentor, o vocalista André Meyer, mostra que mesmo com as adversidades, o trabalho pode continuar, quando se faz algo com o coração. A banda continua divulgando o seu mais recente álbum de estúdio, o quinto da carreira do Distraught, “The Human Negligence is Repugnant”, lançado pela Voice Music em 2012. Como era de se esperar, devido ao tempo de lançamento, a banda já trabalha em novas músicas para um vindouro novo álbum. Ou seja, o Distraught continua a produzir, e isso é uma ótima notícia para o Heavy Metal nacional!

Recife Metal Law – Vamos começar falando sobre “Unnatural Display of Art”, que inclusive foi lançado no Japão. No Brasil esse álbum foi lançado pela Voice Music. Além desses dois países, o álbum chegou a ser licenciado para algum outro?
André Meyer –
Não, mas a Spiritual Beast (Japão) fez um ótimo trabalho na época; entrevista na Burn, que é uma grande revista, e conseguimos muitos fãs por lá. A Voice Music, aqui no Brasil, tem feito seu trabalho honestamente, enfrentando as dificuldades no mercado como as demais.

Recife Metal Law – Mesmo com todos os anos de carreira e com esse excelente álbum lançado, o Distraught não chegou a fazer uma grande tour no Brasil. O que mais dificulta na hora de realizar uma turnê no nosso país?
André –
É sempre a questão dos custos. Existem bandas brasileiras que estão sempre na estrada, mas porque tem condições de bancar suas despesas, o que não é nosso caso.

Recife Metal Law – O mais recente álbum, “The Human Neglicence is Repugnant”, é o quinto da carreira da banda. Cada álbum do Distraught mostra uma evolução natural, mas quem conhece a banda, a cada lançamento seu, sabe que se trata do Distraught. A que se deve isso?
André –
Preocupamo-nos muito com isso e acho que como tu falaste, estamos conseguindo estabelecer uma identidade sólida. Isso de tu colocares uma música para tocar sem conhecer o álbum e identificar qual é o artista é realmente muito positivo para nós. Acho que desde o “Behind the Veil” isso vem acontecendo.

Recife Metal Law – Mais uma vez um álbum do Distraught foge do estereótipo do Thrash Metal, mesmo que esse estilo esteja bastante presente em sua musicalidade. Como vocês trabalharam a parte criativa desse novo álbum para que as raízes não fossem deixadas de lado?
André –
Acreditamos que temos estado vigiando a nós mesmos. A cada trabalho novo que estamos construindo, estamos sempre observando o que funcionou e o que não, dos anteriores; um refrão forte e marcante não pode faltar em nossas músicas, por exemplo. Quanto ao estilo, o Thrash Metal sempre estará presente, se tratando do Distraught. Mas é como tu falastes, não nos limitamos a seguir regras de musicalidade, procuramos, sim, tentar inovar nosso estilo e dar o melhor para nossos fãs.

Recife Metal Law – Em “Justice Done Betrayers” cheguei a lembrar do Arch Enemy, porém, ao mesmo tempo, a música mostrou algo do passado do próprio Distraught. Seria coincidência essa mescla contemporânea com os primórdios?
André –
Talvez uma consequência pelo fato de nossas músicas terem essa mescla contemporânea, que tu citastes, o fato de lembrar Arch Enemy, deve ser no refrão, onde há uma variação de melodias de guitarra com a voz. É algo que bandas de Thrash Metal dos anos 80 não fariam, por exemplo.

Recife Metal Law – As mudanças na formação parecem ser um fator determinante para a evolução musical do Distraught. André, como integrante original, como você analisa o trabalho apresentado em “The Human Neglicence is Repugnant”?
André –
Acho esse álbum um ponto alto na carreira da banda; nos trouxe ótimas críticas na mídia especializada e servirá de base para o próximo trabalho. As vezes a mudança de algum membro na banda serve para somar naquilo que a maioria gostaria de fazer e um não permite que o grupo faça, que foi o que aconteceu nesse álbum com a saída do antigo baterista e a entrada do Dio.

Recife Metal Law – Sobre mudanças, a mais recente foi a saída do guitarrista Marcos Machado. Levando em consideração que o músico já estava na banda há 15 anos, mesmo a saída se dando de forma amigável, como foi recepcionada tal saída?
André –
O Marcos sempre será nosso parceiro, um grande músico e uma grande pessoa também. Infelizmente ambas as partes viram que ele não tinha como continuar, seus interesses profissionais estavam tomando grande parte do seu tempo, impedindo dele se dedicar para o grupo. Então, chegou a hora de sair.

Recife Metal Law – No álbum anterior, a temática lírica abrangeu o lado violento da raça humana. Nesse novo álbum esse tema parece ainda estar bem latente. Tal tema ainda pode ser usado em diversos álbuns do Distraught?
André –
Sim, de certa forma sempre vamos expor tudo àquilo que nos repugna, tratando de seres humanos.

Recife Metal Law – A música “Justice Done by Betrayers” ganhou um clipe. Essa música foi escolhida em razão de sua letra representar bem quem “faz a justiça” no Brasil?
André –
Sim, essa música foi inspirada num fato que aconteceu comigo onde precisei dela – “justiça” –, mas fui apunhalado pelas costas. Revolta-me muito a forma com que os cumpridores das leis estão lidando com assassinos, estupradores, ladrões, etc.

Recife Metal Law – Em se falando nisso, muitos criticam o judiciário brasileiro pela falta de punição a criminosos, mas sabemos que as leis são cheias de “brechas”, já que quem as faz tem por intuito se aproveitar de tais “brechas”. Num país onde os legisladores são os primeiros a cometer crimes, de que forma haverá punição exemplar e, por conseguinte, receio de se infringir as leis?
André –
Realmente é difícil saber uma solução em um país que governantes ainda se beneficiam com as leis. Por que eles deveriam reavaliar as leis se as mesmas favorecem a eles? Estamos em apuros! Algo radical tem que ser feito, e logo.

Recife Metal Law – Após a última música, uma instrumental acústica intitulada “Silent Face”, existe um cover para “Overkill” do Motörhead. Essa instrumental amena surgiu com essa finalidade – de anteceder a furiosa “Overkill”?
André –
Não, apenas queríamos fazer uma surpresa para nossos ouvintes. Já tínhamos gravado a “Overkill” em Buenos Aires para um tributo ao Motörhead, que acabou não saindo. Então resolvemos aproveitar para finalizar o álbum.

Recife Metal Law – O novo álbum mostra uma força incrível, inclusive uma de suas músicas, “Psycho Terror Class”, foi regravada pela banda argentina Climatic Terra, e recebeu o título de “Psycho Terra Class”. De que forma os argentinos chegaram até vocês e solicitaram a regravação dessa música? Qual é a história que envolve esse tributo?
André –
A Climatic Terra são grandes amigos! Já fizemos muitas tour juntos pela Argentina e eles já vieram e tocaram com a gente aqui no Brasil, também. Na verdade eles são fãs do Distraught e gostam muito dessa música. O James (vocalista) já dividiu o palco comigo cantando essa música e a banda quis fazer uma homenagem. Ficou muito bom.

Recife Metal Law – O baterista Dionatan “Dio” Britto vez ou outra apresenta alguns vídeos no Youtube, inclusive de versões que nada tem a ver com o Heavy Metal. A banda, de alguma forma, já chegou a receber algum tipo de crítica em razão de tais vídeos?
André –
Que eu saiba não.

Recife Metal Law – No início falei sobre os selos que lançaram o álbum anterior. Novamente, no Brasil, vocês estão trabalhando com a Voice Music. Mas o novo álbum foi licenciado para fora do país?
André –
Infelizmente não. As coisas estão ficando cada vez mais difíceis, em se tratando de gravadoras, lojas de CDs... Hoje em dia ninguém mais compra discos e isso reflete em todas as áreas de comercialização musical.

Recife Metal Law – Isso é um fator interessante. Antigamente a divulgação era por meio de cartas, flyers, shows locais... Essa era a forma das bandas Underground divulgar sua música, já que não contava com a internet e conseguir um contrato com uma gravadora era bem difícil. Seguindo esse raciocínio, pouca coisa mudou, com relação às vendas, já que as bandas menores não vendiam milhares e milhares de discos. Estou certo?
André –
Em se tratando de bandas menores sim. Mas hoje as bandas menores vendem menos e as vendas das maiores também diminuíram muito. As gravadoras só pegam bandas prontas, não querem mais investir em banda desconhecida.

Recife Metal Law – O Distraught já está trabalhando num novo álbum de inéditas. O que esperar das novas músicas?
André –
Sim, estamos empenhados novamente nas composições. Difícil até para nós dizermos algo agora, mas com certeza vem aí mais uma avalanche de riffs e vocais violentos.

Site: www.distraught.com.br

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Mariana Bischoff, Sophia Velho e Aline Jechow