HAGBARD





O estilo Folk Metal vem ganhando vários adeptos, ao redor do mundo, e o Brasil tem um forte representante: Hagbard. Depois do lançamento do ótimo EP “Lost in the Highlands” (2013), que já mostrou uma banda “afiada”, foi a vez de o Hagbard lançar, também em 2013, o seu álbum de estreia, “Rise of the Sea King”. O álbum foi lançado pelo selo russo Sound Age Productions, tendo a distribuição sendo feita no Brasil pela própria banda. Em pleno processo de divulgação do seu primeiro álbum, a banda concedeu uma entrevista bem esclarecedora ao Recife Metal Law, respondida pelo guitarrista Danilo Marreta. Os demais integrantes do Hagbard são: Rômulo “Sancho” (baixo), Everton Moreira (bateria), Gabriel Soares (teclados, flauta) e Igor Rhein (vocal).

Recife Metal Law – O EP “Lost in the Highlands” (2013) foi uma prévia do que viria a ser o full lenght do Hagbard. De que forma esse material foi trabalhado para fortalecer o nome da banda?
Danilo Marreta –
Saudações! Para nós é uma grande satisfação ter esse espaço para divulgar nossas ideias; agradecemos a equipe Recife Metal Law e todos os leitores. Lançar “Lost in the Highlands” foi uma decisão que tomamos enquanto gravávamos “Rise of the Sea King”. Resolvemos divulgar algo novo e algo já conhecido, para dar uma prévia no que estávamos trabalhando. A diferença, no caso do EP, é que ele foi todo produzido na nossa cidade natal, Juiz de Fora/MG. Fizemos o lançamento físico do material em um show comemorativo e então o mandamos para sites/gravadoras. Obtivemos um retorno positivo disso e hoje temos pouquíssimas cópias disponíveis desse EP.

Recife Metal Law – Esse material chegou até o selo russo Sound Age Productions. Mas como foi esse contato? Apenas por meio virtuais ou o selo chegou a ter o material físico em mãos para apreciar o trabalho da banda?
Marreta –
Mandamos material físico para várias gravadoras brasileiras e estrangeiras, mas no caso da SoundAge o contato foi todo feito pela internet. Penso que uma das grandes dificuldades de divulgar material em outros países seja os Correios, pois o envio é normalmente caro e a entrega é muito demorada. Para receber algo vindo de outro país a questão é ainda pior, o que nos faz utilizar bastante a internet em nossas tentativas de promover a banda.

Recife Metal Law – O mercado fonográfico, faz um tempo, não é tão forte como outrora. Então, como é poder ter o primeiro trabalho, “Rise of the Sea King”, de cara, lançado fora do país?
Marreta –
É muito gratificante para nós que esse CD tenha sido lançado na Rússia, especialmente por se tratar de um material de estreia. É uma conquista importante que soma valor ao nosso trabalho.
 
Recife Metal Law – Por falar nisso, não houve interesse de algum selo em lançar tal trabalho aqui no Brasil? De que forma vem sendo feita a distribuição em nosso país?
Marreta –
De início estava tudo certo para o lançamento ser feito por um selo brasileiro que prefiro não citar, mas então desistimos por estarmos insatisfeitos e continuamos em busca de outro. Depois disso o interesse de selos brasileiros só existiu de forma real quando o material já estava lançado, mas até hoje o CD não possui prensagem nacional. Não que não existam bons produtores e gravadoras por aqui, mas talvez nossas escolhas tenham sido ruins na hora de enviar o material promocional, pois acredito que no futuro o trabalho no Brasil será muito mais produtivo. A distribuição de “Rise of the Sea King” foi feita pela banda; centralizamos isso propositalmente por termos recebido uma quantidade limitada de CDs. Vendemos principalmente em shows, mas também satisfatoriamente pela internet. Agora temos uma loja virtual que facilita o acesso para quem tiver interesse em adquirir o material a distância.

Recife Metal Law – O estilo da banda é o Folk Metal, e esse primeiro CD mostra bem isso, porém outros estilos também estão inclusos na música do Hagbard, como o Viking Metal, música celta e Heavy Metal. O Folk Metal permite essa junção de diversos estilos?
Marreta –
Concordo que nossas músicas tenham influências variadas, e a nossa proposta é trazer vários elementos para o nosso estilo, desconsiderando rótulos. Creio que o Folk Metal tenha essa abertura sim, pois existem várias correntes dentro do estilo que englobam diferentes sonoridades.

Recife Metal Law – “Rise of the Sea King” conta com dez músicas, e o encarte informa que a sua composição foi bem democrática. Vendo dessa forma, tudo leva a acreditar que os músicos da banda curtem um mesmo estilo musical e, sendo assim, ficou mais fácil de compor as músicas presentes no ‘debut’...
Marreta –
Sem dúvida, o processo de composição na banda é bem democrático. A ideia central é trabalhada até que todos concordem que atingimos o que pretendíamos. Em relação à sintonia na composição do CD, diria que ela partiu principalmente dos membros originais da banda, apesar de todos terem participado. As mentes criativas do álbum foram principalmente nosso tecladista (Gabriel), o ex-guitarrista Tiago Gonçalves e nosso vocalista (Igor).

Recife Metal Law – Uma de minhas músicas preferidas é “Let Us Bring Something For Bards to Sing”, advinda do EP. Música ‘festeira’, com boa junção dos vários estilos praticados pela banda. Já outras que me chamam a atenção são as acústicas “Mystical Land”, trazendo influência do Tuatha de Danann, e “Hidden Tears”, que conta com os vocais de Vitória Vasconcelos. Em nenhum momento a música do Hagbard soa igual. Trazer essas partes acústicas e até mesmo convidados especiais foi essencial para que isso ocorresse?
Marreta –
Certamente. As partes acústicas são muito valorizadas por nós, estão em muitas de nossas músicas. Também gostamos bastante de acrescentar diversidade ao nosso ‘set’ com baladas que valorizam mais a parte melódica e continuaremos a fazer isso. Os convidados foram parte essencial no conjunto do álbum. No caso contamos com as participações do violinista Vinicius Faza e da vocalista Vitória Vasconcelos. Ambos contribuíram em várias músicas e acrescentaram muito ao CD “Rise of the Sea King”.

Recife Metal Law – Sobre convidados, o baixo foi gravado por Daniel “Guma” Saab e não pelo efetivo Rômulo “Sancho”. Qual a razão para isso?
Marreta –
Daniel Saab foi membro da banda por bastante tempo, ele não só compôs como gravou as partes de baixo de “Rise of the Sea King”. Rômulo assumiu o cargo de baixista quando Daniel pediu para sair, o que ocorreu após os baixos estarem finalizados. Consequentemente o crédito foi atribuído ao “Guma”, mas, em contrapartida, muito foi feito com a participação do Sancho, que foi então considerado o integrante efetivo do material.

Recife Metal Law – O uso do violino é essencial para o tipo de música que vocês fazem, e tal instrumento foi tocado, no álbum, por Vinicius Faza. Existe a possibilidade de alguma apresentação ao vivo contar com esse instrumento?
Marreta –
Vinicius Faza é um violinista excepcional e com certeza reaparecerá em futuros materiais da Hagbard. Quanto a exibições ao vivo, imagino que acontecerão eventualmente, porém as colaborações de estúdio são mais fáceis, pois envolvem menos fatores.

Recife Metal Law – Voltando a falar sobre as músicas, algumas têm um aspecto mais épico, de batalhas, como é o caso de “Dethroned Tyrant”, e isso se contrapõe em relação a temas citados, que são acústicos. A banda quis trabalhar, tanto em temas mais ‘festeiros’, calmos, assim como em temas épicos e de batalha para retratar algo, digamos, vivido pelos Vikings?
Marreta –
Sim, o conteúdo lírico do álbum é variado, de certa forma. A parte lírica do material retrata temas diversos, porém majoritariamente fantásticos (no sentido de algo oriundo da fantasia). Temos músicas que podem, sim, ser atribuídas a batalhas vividas por Vikings, cuja mitologia influenciou o nome da banda e também o título do álbum e, como dito anteriormente, temos também temas mais relacionados ao álcool/festas, etc. Consideramos a pluralidade temática algo positivo, não pretendemos delimitar nossas composições a um tema único.

Recife Metal Law – A arte da capa é muito bonita e é uma espécie de ilustração para o título do álbum. Além da ligação entre capa e título, existe ligação das letras, seja com a capa, com o título do álbum ou entre si?
Marreta –
A arte de “Rise of the Sea King” foi extremamente bem feita por Jobert Mello, que também trabalhou conosco em um design de camisa e é um artista da nossa confiança. As letras não foram escritas em conexão com o título, que na verdade foi criado após as letras e foi relacionado ao nome e ao contexto da banda.

Recife Metal Law – “Rise of the Sea King” foi gravado no Aba Studio, em Juiz de Fora, cidade natal da banda, e mixado e masterizado por Jerry Torstensson, no Dead Dog Farm Studio, em Säffle, Suécia. Por que essa última parte também não foi feita no Brasil?
Marreta –
Fizemos o EP em nossa cidade e gostamos muito de como ele soou, porém para o CD tínhamos uma expectativa maior. Pensamos em fazer o processo com o Jerry, pois já conhecíamos a qualidade do seu trabalho através do disco “Bad for Health”, dos Juiz-Foranos da Glitter Magic, banda que conta com o meu irmão nas guitarras. Foi uma questão de fazer a escolha certa a partir de referências. Não apostamos em um estrangeiro em detrimento à um brasileiro cegamente, por exemplo.

Recife Metal Law – Como o álbum foi lançado por um selo russo, já existe a possibilidade do Hagbard tocar fora do Brasil?
Marreta –
Até hoje não tivemos nenhuma possibilidade real de concretizar isso, mas o número de bandas brasileiras indo para fora é cada vez maior e essa é certamente uma pretensão que temos. Não é uma obsessão e não queremos ir só para tocar fora, então trabalharemos para estar preparados e quando possível buscaremos mais este passo.

Site: www.hagbardofficial.com

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Bernardo Traad, 3F Photo