EXPOSE YOUR HATE
Após o lançamento do álbum de estreia, a banda potiguar passou anos sem lançar um material oficial, o que foi sanado agora em 2014, com o poderoso e destruidor “Indoctrination of Hate”, que mostra uma banda ainda mais agressiva, mas sem fugir de suas raízes. O período que afasta o ‘debut’ do novo álbum, exatos nove anos, serviu para que o Expose Your Hate firmasse sua formação, que agora é um quinteto formado por Cláudio Slayer (baixo), Luiz Cláudio (vocal), Flávio França e Paulo Death (guitarras) e Marcelo Costa (bateria). Apesar do hiato entre os lançamentos, a banda sempre se manteve ativa, inclusive tendo participado de um tributo ao Napalm Death e tendo realizado diversos shows pela região Nordeste. Na entrevista a seguir o baixista Cláudio Slayer fala das mudanças de formação, do novo disco, alguns assuntos externos...
Recife Metal Law – Após o lançamento do álbum de estreia, “Hatecult”, o Expose Your Hate passou por mudanças em sua formação e, atualmente, é um quinteto, com a adição de mais um guitarrista. Quando vocês chegaram à conclusão de que era necessário mais um guitarrista na banda?
Cláudio Slayer – Após o lançamento do “Hatecult”, em 2005, nós percebemos que ao vivo a banda ganharia mais peso e poderia executar todas as dobras de guitarras gravadas no CD se incluíssemos mais um guitarrista. Desde os tempos da Demo (2001) éramos um quarteto, mas a partir de 2006, com a entrada de Flávio França, nos tornamos, desde então, um quinteto. Alguns guitarristas passaram por essa função, estabilizando hoje com Paulo Death na segunda guitarra, além de Flávio.
Recife Metal Law – Ainda sobre a adição de mais um guitarrista, Herman Souza foi quem gravou o novo álbum, mas já não faz mais parte do Expose Your Hate. Qual a razão para que Herman saísse tão rapidamente da banda?
Cláudio – Logo após o fim das mixagens do novo CD ele teve que deixar a banda por causa da sua carreira na área jurídica e alguns assuntos da sua vida particular; precisava focar no trabalho e não poderia mais acompanhar as coisas da banda.
Recife Metal Law – Eu já havia notado, mesmo antes do lançamento do segundo álbum, que o som de vocês havia ficado mais denso e brutal (se é que isso era possível) e ainda houve espaço para alguns solos nas músicas. A ideia era realmente essa: além de deixar o som mais denso e brutal, acrescentar alguns solos para fugir do lugar comum do estilo que vocês praticam?
Cláudio – Isso rolou naturalmente. Acontece que no “Indoctrination of Hate” entrou as influências e maneira de compor das pessoas que não faziam parte da formação no tempo do “Hatecult”, contudo ‘amarradas’ do jeito Expose Your Hate de fazer música, entende? Acredito que valorizar as referências, ser fiel a sua essência e gozar da afinidade musical entre os integrantes da banda não quer dizer, também, que devemos aprisionar a arte dentro de normas e padrões pré-determinados na hora de concebê-la.
Recife Metal Law – Novamente um álbum do Expose Your Hate é lançado pela Black Hole Productions. Como vem sendo essa parceria, que surgiu em 2005?
Cláudio – Nossa parceria com a Black Hole Productions completou dez anos e, se depender de nós, durará muito mais! O Fernando Camacho (proprietário da Black Hole Productions) sempre foi uma espécie de membro extra da banda, pois ele compreende perfeitamente nossas ideias. Sempre em sintonia conosco, além de lançar o material, ele também participa dando sugestões importantes e contribuindo com seu trabalho de arte na estética dos lançamentos, camisas, flyers, etc. É um cara que sempre fez o seu melhor pelo Expose Your Hate e nos orgulhamos muito de fazer parte do ‘cast’ da Black Hole Productions.
Recife Metal Law – O primeiro álbum foi lançado em 2005 e só nove anos depois o segundo álbum surgiu. Por que esse lapso entre um lançamento e outro?
Cláudio – Pois é. Muitos contratempos interferiram na dinâmica da banda durante esses anos e isso comprometeu muita coisa, sabe? As mudanças de integrantes foram as principais razões. Veja só, desde o “Hatecult” somente eu e o vocalista Luiz Cláudio continuamos na banda e nesse período já vamos no terceiro baterista; éramos um quarteto, passamos a quinteto, voltamos a quarteto, depois voltamos a quinteto e isso tudo acaba afetando desde o processo criativo até a disponibilidade para fazer shows, por exemplo. Aqui não encontramos muito músicos disponíveis que curtem nossa proposta musical, isso com certeza também pesou um pouco, além do fato de sermos velhos ranzinzas e insistir em certos ‘critérios’ para que alguém se efetive na banda. (risos) Contudo, felizmente agora estamos com uma formação bem sólida e já começando a trabalhar em material novo.
Recife Metal Law – Devo mencionar que a demora foi compensada por um álbum poderoso. “Indoctrination of Hate” é um chute na cara, da capa a última música. A maioria das letras é criada por você, Cláudio, enquanto que a parte sonora foi feita por toda a banda. Mas, como criador da parte lírica, tu já apresentas um esboço de como cada música deve soar?
Cláudio – Normalmente a música já é construída pensando na métrica de uma possível letra e como também participo desse processo de composição junto com o restante da banda, fica mais fácil de adequar o que escrevo a parte instrumental. Prefiro escrever as letras quando as músicas já estão com seus ‘esqueletos’ bem definidos, assim aquela letra já nasce quase que pronta para aquela música em questão.
Recife Metal Law – O novo álbum contém 17 músicas, cada uma mais violenta que a outra, porém tais músicas apresentam algumas variações em seu decorrer, com passagens mais densas e trabalhadas, típicas do Death Metal. Na verdade isso sempre foi uma tônica no som da banda. Como foi criar músicas que não fugisse do que o Expose Your Hate sempre fez, mas que ao mesmo tempo não ficassem no lugar comum?
Cláudio – Um fator importante é que nosso background musical é o Death Metal. Viemos de bandas anteriores desse estilo e quando resolvemos criar o Expose Your Hate queríamos mesclar isso com o Grindcore e o Crustcore. Com o passar do tempo, acho que essa nossa origem musical está retornando de forma mais latente, evidenciando também um aprimoramento técnico natural depois de certo tempo tocando. Nós costumamos deixar a coisa fluir na hora de compor e nesse segundo CD houve uma maior participação de outros membros nas composições, o que também contribuiu para a sonoridade das músicas, pois apesar da afinidade musical que temos entre nós cada um também deixou sua marca.
Recife Metal Law – Algumas músicas já vinham sendo tocadas ao vivo, mas mesmo quem as ouviu nos shows, como eu, ainda poderá se espantar com tamanha voracidade de petardos como “Ready to Explode”, “Marked Target” e “666 Reasons to Hate”. Se alguém acha que a música subterrânea vem a cada dia se comportando, o Expose Your Hate nada contra a maré. Esse novo álbum seria algum tipo de resposta ao conformismo encontrado no meio Underground?
Cláudio – Muito interessante essa sua afirmação. Para dizer a verdade, eu nunca tinha avaliado as coisas por esse ponto de vista. Partindo do pressuposto que o próprio nome da banda já sugere uma postura anti-conformista, onde o ódio representa uma indignação interior exposta numa catarse cheia de fúria. Sua colocação faz sentido sim, pois tudo isso é traduzido na nossa música. Fomos sempre orientados pelos meios de manutenção do status-quo para omitir nossa raiva e descontentamento, ‘seguir a maré’ sem questionar seu fluxo. E isso não é diferente no Underground; somos seres sociais agindo em consonância com normas/regras da sociedade que já estão arraigadas ao nosso ser; ter consciência disso e conseguir enxergar a ‘matrix’ de fora é que é a chave da questão. Temos muitos motivos para odiar, para confrontar, para não se comportar, e usamos a música para isso. Underground é subversão e não submissão.
Recife Metal Law – As letras continuam contundentes, o que é até de se esperar, em razão do estilo praticado pela banda. Uma das que mais me chamou a atenção foi “Spreading Holy Violence”, que descreve perfeitamente o momento atual entre judeus e palestinos. O que vocês acham dessa “guerra santa” que dura anos e faz cada vez mais vítimas inocentes em nome de “deus”?
Cláudio – Essa é uma das letras de autoria do vocalista Luiz Cláudio e retrata de maneira direta e incisiva essa situação citada por você. Falando em Oriente Médio, esse conflito se arrasta por anos derramando sangue inocente, seja ele por meio do terrorismo institucionalizado de Israel, ou através dos grupos fanáticos e extremistas da Palestina. Em suma, ambos na tentativa de impor suas convicções religiosas através do terror. Mas nesse caso particular, o uso desproporcional da força praticado por Israel nos mostrou nos últimos dias como uma guerra pode ser cruel. Uma guerra fomentada por preceitos religiosos não deveria fazer sentido algum, pois eles não dizem que as religiões praticam o bem? Balela! Povos cegos pela idolatria e essa devoção assassina por seus deuses, onde tudo se resume a quem terá o poder de subjugar e quem será subjugado.
Recife Metal Law – A arte da capa ficou uma maravilha, mostrando o que de mais podre existe na face da terra: corrupção, políticos, guerras e religiões. Como o conceituado artista Remy C trabalhou nessa arte? Vocês enviaram algum esboço ou letras das músicas?
Cláudio – Na verdade, quando concebi o conceito da capa queria que ela representasse de forma geral tudo que está contido nas letras do álbum. Eu já tinha essa ideia em mente e acabei fazendo um rascunho de próprio punho que enviei para o Fernando Camacho (dono da Black Hole Productions, que também deve ser lembrado por ser responsável pelo belíssimo trabalho de arte do encarte). O Fernando tem muitos contatos e começamos a pesquisar orçamento e tal com alguns artistas brasileiros e ‘gringos’ que poderiam trabalhar na ideia da banda, assim chegamos ao Remy C, que nos presenteou com essa ilustração maravilhosa.
Recife Metal Law – A banda sempre fez muitos shows na região nordeste, porém existe uma possibilidade de que tais shows sejam expandidos para outros territórios?
Cláudio – Sim, esses são nossos planos para 2015, ir além do território nordestino. A única vez que isso aconteceu foi em 2009 quando chegamos a tocar em Brasília/DF no festival Ferrock. Apesar de sermos aquele tipo de banda que não pode se ausentar por muito tempo da cidade de origem por causa dos empregos de alguns, se planejarmos direitinho poderemos ir mais longe dessa vez.
Recife Metal Law – Qual tipo de ódio não deve ser doutrinado?
Cláudio – O ódio é uma arma poderosa e por isso nos ensinaram que devemos contê-lo, negá-lo, ‘mostrar a outra face’. Mas ele faz parte da nossa vida, um sentimento que deve ser usado ao nosso favor, canalizado de forma positiva para se tornar um instrumento que nos liberte do conformismo e nos fortaleça para o mundo real. Qual tipo de ódio não deve ser doutrinado? Todo ódio dever ser doutrinado, mas mantenha-se de olhos abertos, a linha é tênue: usá-lo ao seu favor ou experimentar o combustível do lado mais grotesco e animalesco do ser humano.
Site: www.exposeyourhate.com.br
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Tiago Prado, Diego Silfer