THE LEPRECHAUN





Fazer algo que não é contumaz no meio musical soa meio arriscado, ainda mais quando se trata do Rock. O The Leprechaun não é exatamente uma banda de Heavy Metal, porém sua musicalidade, que de certa forma é bem original, ainda mais em se tratando de música feita em terras brasileiras, agradará a alguns fãs do estilo. Isso em razão das melodias apuradas e da influência de Folk Rock e até música celta encontrada em sua musicalidade. Mesmo fazendo uma música que não conta com guitarras, o The Leprechaun consegue fisgar os ouvintes menos ortodoxos, afinal faz uma música cheia de ‘feeling’, honesta e que está longe de virar queridinha da grande mídia, justamente por ser algo de alta qualidade sonora. Atualmente a banda é formada por Eric Fontes (baixo, tin whistle, backing vocal), Fabiana Santos (vocal), Bruno Stankevicius (guitarra, melódica, backing vocal), Paulo Sampaio (guitarra), Rafael Schardosim (tenor banjo, harmônica, backing vocal), Fernanda Terra (bateria) e Andrew Nathanael (violino). Eric Fontes, na entrevista a seguir, nos fala um pouco mais sobre a banda...

Recife Metal Law – Convenhamos que o nome The Leprechaun não casa bem com uma banda de Punk Rock. Teria sido essa a razão primordial para a mudança na sonoridade da banda?
Eric Fontes –
Na época em que tocávamos Punk Rock decidimos inserir alguns componentes de música irlandesa no nosso som para criar uma identidade que tivesse a ver com o nome da banda e ao mesmo tempo nos desse um diferencial. Acho que essa foi a semente para irmos para o lado do Folk anos mais tarde. Então, de certa forma, você tem razão.

Recife Metal Law – Antes da mudança na sonoridade, porém, houve uma reformulação no ‘line up’ da banda. A mudança na formação foi trabalhosa? Como foi arranjar músicos que se encaixassem na nova proposta do The Leprechaun?
Eric –
Num primeiro momento nós mesmos aprendemos os instrumentos. A banda em geral é composta por amigos de infância que se juntaram para fazer algo diferente. A única pessoa que entrou depois foi o Andrew (violino), por indicação de outro amigo nosso, mas foi tranquilo, pois ele logo se identificou com a proposta.

Recife Metal Law – Após deixar o Punk Rock de lado, a banda partiu logo para o seu primeiro álbum de estúdio, “The Years Are Just Packed”, lançado em 2012. Como foi compor os temas para esse álbum e de que forma fluiu a sua gravação?
Eric –
No primeiro disco fui eu que compus todas as letras. O disco foi composto num momento complicado, mas de grande reflexão sobre questões como o tempo, a vida, a fé. Tudo isso acabou aparecendo lá. A gravação dele foi totalmente caseira. Foi uma decisão que tomamos para que não ficássemos presos ao prazo de um estúdio, mas mesmo assim nós nos empenhamos muito pra garantir que isso não comprometesse a qualidade.

Recife Metal Law – Atualmente a banda vem divulgando seu mais novo disco, “Long Road”. O quê do primeiro álbum foi trazido para esse segundo CD?
Eric –
As referências de estilos tradicionais como a música irlandesa, o Country e o Bluegrass continuam todas lá, embora sendo exploradas de maneira diferente. No que diz respeito à temática do disco, eu estava num momento muito diferente quando compus essas músicas, mas fiz questão que o tom reflexivo permanecesse como componente da identidade da banda.

Recife Metal Law – A banda faz um Folk Rock com influências de música celta e country, algo que não é muito visto/ouvido em terras brasileiras. Como é praticar esse estilo musical em nosso país?
Eric –
Eu acho que é como fazer algo diferente em qualquer lugar do mundo. Quero dizer, há uma série de dificuldades relacionadas à falta de segmentação, locais e veículos especializados, público consolidado... Por outro lado, você tem toda a condição de surpreender as pessoas por trazer algo novo. Tudo depende de alinhar suas qualidades às suas estratégias de divulgação.

Recife Metal Law – Sendo bem sincero, o estilo musical do The Leprechaun não é aquele que estou acostumado a ouvir, mas me agradou bastante. É música de alta qualidade, para se ouvir com calma, relaxando e deixar o aparelho no ‘repeat’. Qual o público que ‘consome’ a música de vocês?
Eric –
Como eu disse antes, nós não temos um público consolidado. Não existe uma cena própria. Nós temos feito shows em locais que variam de festivais de música medieval até casas de Punk Rock e, no geral, a aceitação é muito boa. Se a pessoa tiver a mente aberta é possível que ela goste do nosso som. Se não tiver, realmente é pouco provável que a gente convença.

Recife Metal Law – Eu gostei bastante de todo o álbum, mas é comum que alguma (s) música (s) chame (m) mais a atenção. Eu gostei bastante de “They Won’t Control Our Freedom (For a Day)”, “How Brave We Are” e a maravilhosa “Hold the World” (que traz boa influência de Johnny Cash no instrumental). Quais músicas desse novo trabalho estão tendo maior respaldo junto ao público?
Eric –
Essas que você mencionou estão em todos os nossos ‘set lists’ desde que lançamos o disco. Acho que seu gosto está de acordo com o dos nossos fãs!

Recife Metal Law – “Hold the World”, inclusive, ganhou um clipe. A música traz uma letra que trata sobre ganância, ambição, além de uma levada, como já mencionei acima, maravilhosa. Essa música foi escolhida para o clipe por ser a que mais representa o que a banda é?
Eric –
De certa forma, sim. Nós queríamos garantir que “Long Road” fosse um disco mais animado que “The Years are Just Packed”. Um disco mais feito para ser tocado ao vivo e, por isso, colocamos músicas mais animadas e empolgantes. “Hold the World” representa bem essa intenção.

Recife Metal Law – E com relação ao espaço para shows. Sendo uma banda que faz um estilo que pouco se ouve no Brasil, onde são encontrados os espaços para apresentar a música do The Leprechaun? Com quais bandas vocês costumam dividir o palco?
Eric –
Como eu disse antes, não existe uma regra, realmente. Nós tocamos em pequenos pubs e em grandes festivais. Uma das qualidades da banda é ter uma sonoridade que se adapta a vários ambientes e nós procuramos explorar isso.

Recife Metal Law – Ainda sobre shows e tendo em vista que a banda é um septeto, quais exigências que vocês fazem para se apresentar ao vivo?
Eric –
Não existe uma lista de exigências. Claro que nós procuramos garantir que o local tenha condições mínimas para que o som fique bom, mas, como eu disse, o nosso som é bem versátil. Geralmente é só uma questão de adaptar o ‘set up’ ao local e a gente consegue fazer algo bacana.

Recife Metal Law – Vocês dizem que ainda mantêm uma ‘pegada’ Punk Rock nas melodias da banda. Por que ainda dizer que o Folk Rock do The Leprechaun ainda traz a urgência do Punk Rock em sua música?
Eric –
Existem várias razões pra isso. O fato é que a maior parte das bandas Folks não estão particularmente interessadas em criar um som com energia. A intenção é realmente criar uma música que seja apreciada de forma mais introspectiva. O The Leprechaun não quer fazer shows onde as pessoas fiquem sentadas contemplando a música, pretendemos agitar as pessoas, e isso é um resquício da nossa raiz Punk Rock. Mas existem diversos outros pontos, como a simplicidade da estrutura e melodia das nossas músicas, uma veia de questionamento político... Enfim.

Recife Metal Law – A arte da capa ficou bem psicodélica. De certa forma ela ilustra bem o que é a música do The Leprechaun. Era isso o que a banda queria com essa capa?
Eric –
Sim, nós nos vemos como uma banda com uma grande riqueza de referências musicais e queríamos uma capa que expressasse essa diversidade, algo que exija certa análise pra que você possa sacar todos os detalhes.

Recife Metal Law – “Long Road” foi lançado em maio de 2014; é o segundo álbum da banda, que faz uma sonoridade diferenciada. Como anda, então, a caminhada do The Leprechaun nessa longa estrada que é o meio musical?
Eric –
Pois é, a estrada é longa mesmo. Em muitos aspectos ainda temos uma boa caminhada para chegar aonde queremos. Mas o reconhecimento ao nosso som tem aumentado; estamos sempre conhecendo novas pessoas que foram apresentadas ao som do The Leprechaun e gostaram do que ouviram; estamos sempre motivados a criar e produzir coisas novas e, acima de tudo, temos nos divertido muito. Estamos indo muito bem!

Site: www.leprechaun.com.br

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Daniel Silva