BONES IN TRACTION
O Bones in Traction surgiu na quente cidade de Mossoró/RN e, apesar do pouco tempo de formado, vem conseguindo bastante respaldo em sua cidade e região. Seus shows são sempre cheios de energia e isso vem trazendo para a banda uma parcela de admiradores. O Bones in Traction faz um som mais contemporâneo, sofrendo influências de Pantera, Machine Head e da fase atual do Sepultura, mas sem deixar de procurar uma identidade própria. Com apenas um trabalho lançado, o EP “...In the Dock...”, a banda vem procurando se firmar no concorrido meio Undeground, e sobre essa luta e outros tópicos, o baterista Vicente “Mad Butcher” nos fala a seguir.
Recife Metal Law – O Bones In Traction é uma banda jovem, com pouco mais de um ano de atividades. Como surgiu a banda e quais eram os objetivos principais de seus integrantes?
Vicente “Mad Butcher” Andrade – A primeira formação tinha o intuito de montar uma banda cover do quarteto Texano Pantera, mas logo de cara as composições se impuseram e nos fizeram mudar o norte da ideia gênese. Não chegamos nem a tocar covers dessa banda. (risos) Hoje a banda é composta por Vinicius (guitarra), Vicente (bateria), Arthur (baixo), Plinio (vocal) e Neto (guitarra solo). O objetivo principal foi complementar a cena Metal da região, onde faltava uma banda com uma pegada mais groove, mais anos noventa: Sepultura, Pantera, Machine Head, etc.
Recife Metal Law – Quem foi o responsável pelo nome da banda? Vocês sabiam que existiu uma banda com o mesmo nome formada em São Paulo e que chegou a lançar duas Demos na década de 90?
Vicente – Bones in Traction se refere à letra da música “Mouth for War” do Pantera. Na época pesquisamos na internet e vimos que já tinha existido uma banda com esse nome, mas que não estava mais em atividade. Não achamos que isso comprometeria nosso projeto. O nome da banda foi ideia minha, médico ortopedista (“Mad Butcher”), assim o nome ‘ossos em tração’ caiu como uma luva. (risos)
Recife Metal Law – O primeiro trabalho da banda é o EP “...In the Dock...”, lançado em julho de 2014, via Rising Records. Como foi o processo criativo para esse EP? De que forma a banda trabalha para compor suas músicas?
Vicente – Abordamos temas sociais e existenciais. Todos da banda compuseram letras e as bases fluíram nos ensaios. Uma batida em cima de um riff, na base do erro e acerto. Não nos preocupamos em definir um estilo fixo; curtimos som pesado com vocal gutural cheio de ‘ódio no coração’. Quase todas as ideias surgiram assim no coletivo, nada de violão e composições solitárias, sempre todos participaram. Luciano Elias, o dono da Rising, é um grande parceiro e está ajudando muito na divulgação do projeto.
Recife Metal Law – A produção sonora deixou o EP bem forte e o seu estilo musical pede uma gravação nesses moldes. Para um trabalho de estreia, a gravação está acima da média. O resultado obtido foi o que realmente vocês procuravam?
Vicente – Nosso produtor musical foi Cassio Zambotto, que atualmente mora em Natal. Ele é a mente criminosa (risos), porque captou bem a proposta da banda e conseguiu extrair o melhor de cada músico. O EP superou todas as nossas expectativas. Crescemos muito com esse processo de gravação e hoje já compomos com mais maturidade, tecnicamente falando.
Recife Metal Law – Esse EP tem recebido boas críticas na mídia especializada, mas fazendo um som, digamos, mais moderno, como vem sendo a aceitação junto ao público mais ortodoxo?
Vicente – Procuramos fazer um som pesado; a musicalidade é muito visceral e muito empolgante, principalmente “ao vivo”. Tocando fora de casa, em algumas capitais como Natal e Fortaleza, sentimos uma vibração muito positiva vinda do público. Não consideramos nosso som ‘moderno’ e, principalmente, o público mais ‘true’, tem rasgado elogios. Sempre tem quem não curta nossa sonoridade, independentemente da idade, mas estamos nos esforçando ao máximo e levando esse projeto muito a sério, então, o mínimo que esperamos, é o respeito do cenário musical.
Recife Metal Law – A instrumental que abre o EP dá uma dica do que podemos encontrar na parte lírica da banda, já que traz inserção de uma pequena discussão. De onde foi tirada essa parte incidental e quais temas foram abordados nesse primeiro trabalho?
Vicente – A temática central do EP se desenvolve sobre as manifestações populares que surgiram antes da Copa do Mundo no Brasil, “as paralisações dos 20 centavos, as revoltas de 13”... Então, o áudio com o diálogo aterrorizante que abre nosso EP foi retirado de gravações amadoras feitas por aqueles que participaram dos confrontos com batalhão de choque da polícia.
Recife Metal Law – O encarte é bem simples e não traz as letras das músicas? Por que a banda optou em não colocar as letras no encarte?
Vicente – A questão foi financeira, “nua e crua”. Como foi um EP de estreia e num primeiro trabalho apoio cultural é nulo, fizemos o que estava ao nosso alcance. Na internet disponibilizamos as letras das músicas ao público. Acreditamos que o EP cumpriu sua função; recebemos muitas reclamações em relação à duração do áudio e a falta de um encarte mais completo com as letras, por exemplo. Consideramos essas críticas positivas. Contudo, isso será levado em consideração no nosso próximo trabalho, que pretendemos lançar no início de 2016.
Recife Metal Law – Um clipe foi gravado para fazer a divulgação do EP e a música escolhida foi “Modern Man”, faixa que fecha o EP. Como foi todo o processo de criação do clipe e qual a razão para a escolha dessa música?
Vicente – O clipe foi produzido por Macaco (guitarrista do Son of Witch de Natal/RN). Passamos para ele os moldes que queríamos trabalhar e ele captou bem a mensagem. Escolhemos um anfiteatro e gravamos tudo num dia só. Escolhemos a música “Modern Man” porque ela foi a última música do EP e a última a ser composta. Assim, de certa maneira, ela representa o que há de melhor em nossa criatividade já que foi composta com a banda mais entrosada, mais madura, musicalmente falando.
Recife Metal Law – A banda, após o lançamento do EP, vem fazendo diversos shows, mesmo que eles se concentrem em sua própria região. Como vocês analisam essas performances ao vivo e o que isso traz de positivo para a carreira do Bones In Traction?
Vicente – Cada show é uma história. Muitos problemas estruturais no circuito Underground, de ‘backline’, espaço para os músicos se concentrarem ou realizarem atividades quaisquer, se aquecerem ou descansarem, por exemplo. E, muitas vezes, a falta de organização é visível. Mas tudo ajuda a crescer. Nossa interação com o público está cada dia mais ‘afiada’ e os shows tem se tornado uma grande farra.
Recife Metal Law – Para uma banda surgida na quente Mossoró, quais são os mais difíceis obstáculos a superar?
Vicente – Estamos longe dos grandes centros, onde ocorrem os grandes festivais, e cada vez mais há um aumento significativo nos custos para nos deslocarmos para os eventos aos quais somos convidados. Muitas vezes nos é oferecida apenas uma ajuda de custo para a viagem. A falta de incentivo também é muito grande, tanto particular como governamentais. Mas temos grandes bandas em Mossoró, que tem quebrado esses paradigmas, e servem como inspiração, como o Monster Coyote, Mad Grinder, Red Boots, por exemplo, que tem levado o nome da cidade para os maiores festivais do Brasil. Acreditamos no trabalho e no nosso projeto e esse ano pretendemos percorrer o Brasil todo. Vamos ver no que vai dar.
Site: www.facebook.com/bones-in-traction
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação