FINITUDE
A região Nordeste é prolífica no meio Heavy Metal e não apenas quando o estilo é o Metal mais extremo. A banda sergipana Finitude só vem a reforçar essa afirmativa, já que é praticante de um Heavy/Power Metal de alta qualidade. O Finitude tem uma década de formada e já lançou uma Demo e dois singles, além do ótimo álbum de estreia, “Dissensio Homines pt. I” (2013). Esse álbum é um apanhado de ótimas músicas e mostra uma banda que soube trabalhar bem sua musicalidade, já que podemos ouvir passagens inspiradas e de bom gosto. Atualmente a banda é formada por Arnaldo Júnior (bateria), Ícaro Reis (guitarra), Marcelo Menezes (vocal), Djalma Moreira (baixo, backing vocals) e Luiz Gustavo (guitarra, backing vocals). A entrevista a seguir ficou bem elucidativa, tendo em vista que diversos assuntos foram abordas. Conheçam mais um pouco sobre o Finitude...
Recife Metal Law – Antes mesmo de conhecer qualquer material do Finitude, cheguei a ver um show da banda, em Recife. Isso foi em abril de 2007, quando a banda tocou ao lado do Burning In Hell. Lembro que naquela época me impressionei com a qualidade da banda. Vocês lembram como foram os shows naquele ano ao lado dos gaúchos?
Djalma “Nexxus” Moreira – Lembramos sim. Foi nossa primeira turnê e foi incrível. Sobretudo o show de Recife, onde chegamos ao local horas antes do início do show e pudemos conferir um pouco a região, o marco zero e algumas lojas da redondeza. Na hora do show o local estava lotado de bangers agitando. Foi muito bacana!
Luiz “Gusth” Gustavo – O show foi incrível e a forma que o público recepcionou a banda nos impressionou. Sentimo-nos muito bem naquele dia, conversamos bastante com o pessoal antes e depois do show. Todos agitavam com nossas composições que estavam ouvindo pela primeira vez com a mesma energia que agitavam em alguns covers que executamos.
Recife Metal Law – O primeiro trabalho da banda foi a Demo “Way of Wisdom”, lançada em 2006, a qual recebeu diversos elogios na mídia especializada. A forma como esse material de estreia foi recebido era o esperado pela banda?
Djalma – Sabíamos que tínhamos um material de boa qualidade, mas honestamente a repercussão foi maior do que esperado. As resenhas foram muito positivas e na época vendemos mais Demos do que o esperado.
Luiz – A recepção positiva é sempre o desejo de qualquer banda estreante. Nós torcíamos pela melhor possível, no entanto, com todas as resenhas que saíram, percebemos que tudo foi bem maior do que esperávamos. Honestamente, desde o nascimento das primeiras composições ao processo de gravação do CD-Demo – toda a produção ficou a nosso cargo, incluindo mixagem e finalização -, estávamos confiantes, o que foi crucial para o resultado final.
Recife Metal Law – Após essa Demo, o Finitude lançou mais dois singles, sendo um no formato virtual. De que forma vocês trabalharam na divulgação desses singles?
Djalma – Divulgamos no nosso site, YouTube, cartazes em lojas locais e sobretudo nas redes sociais, que são a principal ferramenta dos artistas independentes hoje em dia.
Luiz – A Finitude sempre foi uma banda independente no sentido amplo da palavra, ou seja, compomos, produzimos, divulgamos e agendamos shows por nossa conta. Nós sempre aproveitamos os talentos extramusicais dos componentes, ou seja, além de cuidar da gravação desenvolvi o site da banda; o baterista, à época, e o Djalma sempre trabalharam muito bem com a parte visual, inclusive Djalma assina a capa de nosso primeiro CD oficial, assim por diante. Criamos e exploramos os canais da banda em todos os serviços possíveis: YouTube, facebook, palcomp3, twitter, etc.
Recife Metal Law – A banda costuma fazer muitos shows, em sua região, inclusive abrindo para grandes nomes do Heavy Metal, seja nacional ou internacional, além de participar de alguns festivais. Esses shows ao vivo certamente dão uma carga maior de experiência. Mas, para uma banda nordestina, como é poder fazer todos esses shows em sua própria região; ter o reconhecimento dos seus conterrâneos? De alguma forma isso ajuda a expandir o nome da banda para outras regiões e até mesmo países?
Djalma – É muito bom ter reconhecimento aqui em nossa região. Atualmente temos poucas bandas ativas em Aracaju. Tínhamos ótimas bandas que infelizmente pereceram com o tempo. Atualmente acho que além da Finitude, temos apenas a Tchandala e [maua] no gênero Metal em atividade. Vez ou outra recebemos mensagens no Facebook ou e-mails de pessoas de outras regiões do Brasil ou mesmo de fora do país.
Luiz – A bem da verdade, nossa região está passando por um momento ruim, mas, como banda, sempre buscamos incentivar nossa cena, promovendo shows e convidando outras bandas na ativa para abraçar esta bandeira também. Há a compreensão de que para uma banda/artista de qualquer gênero musical despontar nacionalmente ou internacionalmente deve-se migrar para cidades maiores, ou centros culturais mais ativos e ligados ao estilo escolhido, porém conseguimos fazer a turnê em 2007, tocamos em outras cidades nos anos seguintes, especialmente no Palco do Rock em pleno carnaval da Bahia, apenas fazendo contatos pela internet, hoje o principal veículo de divulgação. Tentamos expor a banda ao máximo pela rede, o que de certa forma significa que estamos atingindo um público bem maior; são constantes as mensagens de apoio vindas de pessoas de todas as partes do país. Não fechamos nossa porta, se um dia for necessário buscaremos os grandes centros, mas por enquanto estamos vendo o que acontece e produzindo muita coisa nova e boa para expor ao público em geral.
Recife Metal Law – O Finitude, depois de um início de grandes vitórias, chegou a dar uma parada em suas atividades, só voltando em 2010. Isso ocorreu devido às mudanças de formação ou um tempo era necessário para “refrescar as ideias”?
Djalma – Na verdade a banda nunca parou de fato, pois sempre nos mantivemos ensaiando. Ocorre que no momento há uma escassez de casas de show, ao menos em Aracaju.
Luiz – Contudo, houve sim mudança de formação com a saída de nosso primeiro baterista, mas foi uma transição rápida, pois logo estávamos ensaiando com nosso atual destruidor de kits, Arnaldo Silva. Os shows ficaram espaçados, mas também tínhamos iniciado a produção de nosso primeiro álbum, outro motivo relevante que nos manteve afastados dos palcos por um bom tempo.
Recife Metal Law – O primeiro álbum, “Dissensio Homines pt. 1”, começou a ser composto em 2010 e sua produção só veio a ser finalizada em 2013. O resultado final ficou excelente, mas para que tudo saísse da forma que a banda queria eram realmente necessários esses três anos, entre o início da produção do álbum e o seu final?
Djalma – Realmente demorou muito para finalizar o CD, mas tivemos vários percalços nesse interim. A gravação das faixas se deu de forma até rápida. Não sei precisar exatamente, mas acredito que tudo foi gravado em questão de um ou dois meses. Mais um ou dois meses de mixagem e masterização. O nosso maior atraso foi por questões burocráticas de registro de faixas e prensagem do CD. Tivemos alguns problemas de logística com a fábrica, mas isso infelizmente não é exclusividade nossa. Vários artistas independentes sofrem com o descaso dessas empresas. Basta uma breve busca na internet para encontrar vários relatos como o nosso.
Luiz – O processo de gravação do CD, desta vez mais minucioso que trabalhos anteriores, foi tranquilo e não demorou tanto. A mixagem e finalização demoraram um pouco mais, pois queríamos um som acima da média. A questão, como bem frisou Djalma, envolveu problemas burocráticos com o registro das faixas, com a prensagem dos CDs – chegamos a receber uma tiragem de 1000 cópias com erros grosseiros na impressão da arte – e depois com a demora para receber a tiragem corrigida e o lançamento. Nesta época contratamos uma assessoria e um selo de distribuição. Foi um período muito atribulado. Hoje resolvemos cuidar nós mesmos de futuros lançamentos e continuamos independentes.
Recife Metal Law – A temática do álbum é conceitual, inclusive seu título foi retirado de uma música da Demo do Finitude, única a ser regravada para esse lançamento. A temática lírica tem a ver com essa única música?
Djalma – Sim. A letra dela pouco mudou em relação a Demo de 2005. A parte da letra fica a cargo de Marcelo (Menezes, vocal) e ela gira em torno de um personagem que tem delírios, visões acerca do conhecimento supremo dos deuses. E ele não tem certeza se está louco ou não é parte nessa busca. Cada faixa narra uma parte dessa estória, sendo que esse disco conta a parte 1. Tanto é que na última faixa do disco a letra fala que essa história está apenas começando e pretendemos continuar a contá-la na parte 2, que por sinal já tem muitas faixas compostas.
Recife Metal Law – A parte sonora é muito bem feita, com boas alternativas durante todo o álbum, trazendo momentos mais pesados, outros mais emotivos, como ouvido em “The Shadows in Your Face”, e até mesmo algo de música regional, como na minha preferida “No Time Standing”. Quais foram as principais referências musicais que a banda inseriu nesse álbum?
Djalma - É clichê falar, mas é claro que cada membro possui seus gostos musicais e, sendo assim, cada um agrega suas influências, sobretudo na hora de criarmos os arranjos. Praticamente todos compartilhamos o gosto musical, mas em intensidades diferentes. Eu pessoalmente sou muito fã de bandas suecas como Pain of Salvation e Opeth.
Luiz – A banda se reuniu justamente por haver esta comunhão de influências com graus distintos. Acredito que na banda eu sou o mais ‘velha guarda’, admirador de bandas como Black Sabbath, Iron Maiden, Deep Purple, Pink Floyd e outras mais novas como Metallica, Megadeth, Dream Theater, etc. Nosso vocalista, Marcelo, trouxe no início da Finitude influências muito fortes de bandas como Angra, Edguy, At Vance e outras. Então, naturalmente as composições foram ganhando estilos e formas bem diversificadas, porém, para nosso primeiro álbum ampliamos ainda mais as referências com a inclusão de outros elementos advindos do Progressivo, do Clássico, do regional. Há uma faixa homônima no CD que representa bem a banda, pois lá existe uma mistura sem limites de ritmos e texturas, como coro erudito, peso, ritmos regionais e contratempos característicos de Prog, além de vocais guturais em certas passagens, a cargo de Djalma - além de baixista, faz todos os guturais do álbum.
Recife Metal Law – Uma das músicas desse álbum, “Another Direction”, foi escolhida para um clipe. Qual a razão para essa música ser a escolhida para o clipe? Além do YouTube, esse clipe chegou a ‘rodar’ em algum programa de TV?
Djalma – Achamos que ela ficaria legal por ter a parte feminina cantada e o gutural, além da introdução que daria um bom clima para o começo do vídeo. Além do YouTube e Vimeo, pretendemos colocar o clipe em exibição em canais como PlayTV que possui programas dedicados ao estilo.
Luiz – Escolhemos esta faixa, que é a de maior duração do álbum, por nos dar maior liberdade de criação visual. Não nos preocupamos com estereótipos de clipes de três minutos para televisão na versão lançada no YouTube e Vimeo. Acreditamos que os ‘youtubers’ não se preocupam com limite de tempo, mas, por óbvio, editamos uma versão para TV. Não pretendemos lutar contra estes padrões, ao contrário, somos dinâmicos e queremos explorá-los.
Recife Metal Law – Achei a capa bem mística. Existe alguma ligação da capa com o título do álbum e com as músicas/letras contidas nele?
Djalma – Sim. As imagens representam ideias contidas nas letras, como a mão que controla a cabeça como sendo o controle que o personagem “GOD” exerce na humanidade. A imagem do rosto humano que parece gritar, agonizar, tem a ver com a dúvida que o personagem tem se está louco ou não, por exemplo. A própria capa possui a imagem de quatro rostos em cada um de seus cantos representando os personagens do disco, essas são mais sutis.
Luiz – Tudo pensado para a capa pode ser encontrado nas letras. Todas as ilustrações inseridas na arte são muito representativas, portanto, convido a ouvirem o CD acompanhando as letras, acredito que seja uma experiência incrível.
Recife Metal Law – “Dissensio Homines pt. 1” foi lançado via MS Metal Records. O trabalho de divulgação tem sido satisfatório?
Djalma – Honestamente não. Praticamente nós é que fazemos o trabalho de divulgação.
Luiz – A divulgação, infelizmente, não atendeu nossas mínimas expectativas, motivo este que nos levou a finalizar com a assessoria e o selo que tínhamos contratado. Hoje divulgamos o CD nós mesmos e esperamos intensificar ainda mais a divulgação em 2015, enquanto preparamos novidades.
Recife Metal Law – Em 2007, como comentado no início da entrevista, a banda fez uma pequena tour pelo Nordeste, quando tinha uma Demo lançada. Atualmente, com um full lenght recentemente posto no mercado, existe a possibilidade de uma turnê mais ampla?
Djalma – A possibilidade sempre há, mas ultimamente as oportunidades são praticamente inexistentes. Os shows de Metal diminuíram muito. É difícil imaginar uma sequência de shows como aquela nos dias de hoje.
Luiz – Ainda assim não perdemos as esperanças e estamos conversando com as pessoas, criando conexões com outras bandas e buscando meios de subirmos aos palcos em breve, pois lá é onde gostamos de estar. Mencionamos que nossa cena está fragilizada, mas estamos viabilizando oportunidades e estamos abertos a tocar fora de nosso Estado. Sabemos que há locais cuja cena anda bem. Consideramo-nos uma banda nacional.
Site: www.finitude.com.br
E-mail: [email protected] / [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Victor Hugo