HEADHUNTER D.C.





Aproveitando a nova passagem da lendária banda baiana de Death Metal Headhunter D.C. por terras pernambucanas, aproveitei o ensejo para bater um papo com o seu vocalista, Sérgio “Baloff” Borges. Na entrevista procurei abordar temas relacionados ao último álbum de estúdio da banda, o qual ainda vem sendo divulgada; sua nova passagem por Pernambuco, dessa vez tocando no renomado festival Abril Pro Rock e sobre o tributo recém-lançado em homenagem a banda, além, claro, sobre os planos futuros do Headhunter D.C.

Recife Metal Law – Apesar de ter sido lançado há três anos, o último álbum do Headhunter D.C. continua a ser divulgado. O álbum mostrou que a banda, apesar de se manter presas às suas raízes, evoluiu dentro do estilo que sempre se propôs a fazer. Após três anos, como vocês analisam “...In Unholy Mourning...” para a carreira do Headhunter D.C.?
Sérgio “Baloff” Borges –
Hails Valterlir! Sim, a campanha do “...In Unholy Mourning...” segue a todo vapor, ainda que o álbum tenha sido lançado originalmente há três anos. Isso se deve ao fato do mesmo ter tido uma edição europeia no ano passado via Evil Spell Records, e esse mesmo selo o lançará em vinil agora nesse primeiro semestre de 2015, o que significa que ainda seguiremos promovendo-o por mais algum tempo. Apesar disso, já estamos em fase de composição de novas músicas para um próximo trabalho, com previsão de lançamento para 2016. Evoluir sem trair as nossas raízes sempre foi algo primordial para nós, e isso é o que eu chamo de verdadeira evolução. Sempre aproveitaremos esse desenvolvimento técnico adquirido com o passar dos anos para tornar o nosso Death Metal ainda mais brutal e obscuro, o que não deixa de ser um grande desafio encarado e cumprido por pouquíssimas bandas de nossa geração. Então me sinto honrado e orgulhoso por termos nos mantido fiéis às nossas origens através de cada álbum lançado nesses 28 anos de estrada. Considero “...In Unholy Mourning...” como o melhor álbum de nossa carreira, tanto por suas músicas quanto por suas letras. Conseguimos com esse álbum a ambiência sonora que realmente procurávamos, o que criou o clima perfeito para o que queríamos expressar através de cada rito deathmetálico nele contido. Alguns podem achar que o considero o nosso melhor trabalho devido ao fato de eu tê-lo escrito em sua íntegra (letras e músicas), meio que “puxando a sardinha pro meu lado” (risos), mas a verdade é que realmente o acho o álbum mais completo do Headhunter D.C., onde cada aspecto complementa o outro, em minha opinião. Tocar Death Metal é uma eterna busca, e sempre procuraremos fazer com que cada novo álbum seja melhor que o anterior. Sem esse desafio, não há motivação para continuar.

Recife Metal Law – Esse álbum parece ter aberto muitas portas para a banda, e uma delas os levou direto para a Europa. O mais recente álbum foi crucial para que a banda tocasse na Europa após anos de formada?
Sérgio –
Eu acho que “...In Unholy Mourning...” desencadeou nossa ida à Europa, sim, mas uma soma de grandes fatores tornaram possível esse giro pelo Velho Mundo, entre eles o fato de termos completado 25 anos de estrada, nos dando experiência mais do que suficiente para finalmente encararmos os palcos europeus, então acho que aquele foi o momento mais do que certo para aquela turnê. Já temos planos para um novo giro pela Europa em 2016, mas para isso temos que nos certificar de já estarmos com o próximo álbum lançado.

Recife Metal Law – Como foi para o Headhunter D.C. tocar na Europa, algo que é um sonho de praticamente todas as bandas brasileiras? Temos que levar em conta que vocês nunca tiveram esse deslumbramento, já que precisou de décadas até que a banda tocasse no Velho Mundo...
Sérgio –
É verdade. Eu costumo dizer que nunca tivemos essa verdadeira “obsessão” de tocarmos na Europa a qualquer custo como acontece com várias bandas brasileiras. Algumas delas se deram mal lá fora por conta disso, o que sempre nos fez questionar se realmente valia a pena ir tocar lá fora “na tora”, sem qualquer estrutura ou planejamento apenas para se ter uma turnê europeia no currículo. Sei que hoje em dia as coisas acontecem muito mais rápido do que há 20, 25 anos, mas sempre achei que as bandas precisam procurar criar um nome, uma história antes de se aventurarem em turnês fora do país. Falando em nossa tour europeia em 2013, foi algo como um sonho transformado em realidade mesmo, uma experiência incrível e inesquecível, com alguns shows realmente memoráveis, grandes encontros com fãs, novos e antigos, e velhos amigos e irmãos dos tempos das cartas e ‘tapetrading’. Foi muito foda tocar em países onde as bandas são realmente respeitadas e valorizadas, onde o Metal, o headbanger, é tratado com respeito e seriedade, onde as coisas realmente funcionam dentro do Underground, com todo o suporte que nós, bandas que trabalham sério, precisamos e merecemos. É claro que nem tudo foram flores, como em qualquer giro nesses moldes, mas num geral, felizmente, foram muito mais aspectos positivos do que negativos, portanto o balanço que faço é o melhor possível. Tendo sido nossa primeira tour na Europa, foi um excelente “reconhecimento de terreno” e que nos trouxe uma ótima bagagem para a próxima jornada.

Recife Metal Law – Mesmo depois de tantos anos e agora tendo tocado na Europa, o Headhunter D.C. sempre se mostrou uma banda Underground, sem estrelismos ou coisas do tipo. Seria essa a fórmula para se manter há quase três décadas em atividade?
Sérgio –
Somos do Underground, viemos do Underground e nele nos manteremos. Acho besteira se deixar deslumbrar por qualquer coisa que seja, e isso nós vemos muito por aí, pessoas e bandas se tornando arrogantes pela ilusão do “$uce$$o”. Isso definitivamente não cabe no Underground. Não sei se seria essa a “fórmula” para nos mantermos em atividade ininterrupta por tanto tempo, mas da mesma forma que nossas músicas nascem e soam naturalmente, também somos transparentemente naturais em nossa postura perante a cena, a qual nada mais é do que um reflexo de nossa postura perante a própria vida em geral.

Recife Metal Law – Voltando a falar sobre “...In Unholy Mourning...”, ele foi lançado apenas numa luxuosa embalagem digipack, trazendo, inclusive, um patch. Mas, como mencionado acima, finalmente ele será lançado em vinil...
Sérgio –
Como falei anteriormente, o “...In Unholy Mourning...” será finalmente lançado em vinil pela Evil Spell/Undercover Records da Alemanha, o mesmo selo responsável pelo lançamento do “God’s Spreading Cancer...” em LP e pela edição europeia do último álbum, que inclusive vem com um cover do Mortem, “Summoned to Hell”, como ‘bonus track’. Essa edição de “...In Unholy Mourning...” em vinil estava programada para maio do ano passado, mas problemas com o antigo ‘layouter’ e com as fábricas europeias abarrotadas de LPs pra prensar causaram, segundo o selo, todo esse atraso. Estou muito puto com toda essa demora, mas infelizmente é algo que independe de nossa vontade, e com isso a ansiedade só aumenta. Só nos resta mesmo aguardar...

Recife Metal Law – O Headhunter D.C., vez ou outra, toca em Pernambuco, parecendo ter uma ligação estreita com este Estado. Qual foi a primeira vez da banda tocando em Pernambuco? O que vocês lembram dessa primeira vez por aqui?
Sérgio –
Realmente temos um forte elo com Pernambuco, principalmente com Recife, onde já tocamos diversas vezes e somos sempre muito bem recebidos pelo público, dentro do qual temos vários amigos de longa data. É como o nosso segundo Estado aqui no Nordeste. A primeira vez que tocamos em Pernambuco foi em Recife, no início de 1992, lançando o “Born...Suffer...Die”, quando dividimos o palco com o Câmbio Negro no antigo Sucata. Foi um show absolutamente violento em todos os sentidos. A casa estava lotada e tinha gente entrando pelo telhado, literalmente (risos). Por estarmos tocando com uma banda de Hardcore, o público, obviamente, se dividia entre bangers e punks, e como era de praxe àquela época, o pau comeu solto! (mais risos) Acho que a campanha “United Forces” do S.O.D. não deu muito certo em Recife naquela época, assim como também não funcionou muito bem aqui em Salvador... (risos) O interessante é que 23 anos depois tocaremos novamente com o Câmbio Negro em Recife, agora no festival Abril Pro Rock, mas dessa vez com a certeza de que a violência sairá apenas do P.A.s. “You’ve learned a lesson in violence”!!!

Recife Metal Law – Sobre o Abril Pro Rock, e mostrando que a banda tem grande proximidade com Pernambuco, a banda foi convidada a fazer parte do ‘cast’ do festival deste ano. Mesmo já tendo tocado por tantas vezes por esses lados, o que esperar dessa nova apresentação da banda num festival como o Abril Pro Rock?
Sérgio –
A expectativa é a maior possível. Estamos realmente bem empolgados com esse show do Abril Pro Rock. Aliás, sempre desejamos muito tocar no festival, pois sempre ouvimos as melhores referências possíveis sobre o mesmo, seja sobre estrutura, tratamento às bandas e a visibilidade que um festival desse porte dá às mesmas. É mesmo um grande orgulho termos um festival desse nível aqui no Nordeste. Vale lembrar que o Paulo André, um dos produtores do Abril Pro Rock, foi um dos responsáveis pelo nosso show de 1992 comentado anteriormente. Coincidências boas, né? (risos)

Recife Metal Law – E como será trabalhado o ‘set list’ para esse show?
Sérgio –
Criamos um ‘set list’ que abrangerá todos os álbuns da banda. Obviamente, por se tratar de um festival com muitas bandas, o tempo disponível será um pouco menor do que se fosse um show tendo nós como ‘headliner’, e algumas músicas que costumamos tocar inevitavelmente ficarão de fora, mas prometemos que não haverá descanso ou tempo pra ficar com a cabeça parada. Brutalidade profana 666% garantida!

Recife Metal Law – Recentemente a banda ganhou um tributo intitulado “Born to Punish the Skies... A Deathmetallic Brotherhood in Darkest Mourning For God”. O tributo, inclusive, tem um longo texto feito por você. Como tu analisas esse tributo e de que forma ele ajuda na carreira da banda?
Sérgio –
Estamos honrados pela iniciativa da Mutilation em nos prestar essa homenagem, assim como por todas as grandes versões executadas pelas bandas participantes. Não é muito comum vermos tributos a uma banda como a nossa, já que esse tipo de lançamento é quase sempre voltado às bandas mainstream. Então, algo assim é realmente de nos deixar ainda mais honrados e orgulhosos por todo o árduo trabalho desenvolvido ao longo dessas quase três décadas de carreira – e recebermos uma homenagem dessa “em vida” é ainda mais foda, nos dando ainda mais força e poder para continuamos honrando o Metal da Morte Underground como sempre fizemos. Eu coordenei todo o desenvolvimento do projeto, desde o convite às bandas, passando pela compilação das músicas, concepção da capa e layout. Estou muito satisfeito com seu resultado final. A propósito, um grande SALVE e um muito obrigado a todas as bandas envolvidas no projeto e à Mutilation Records pela iniciativa. Mais do que um tributo a nós, uma verdadeira congregação sônica em prol do Death Metal Underground. Confiram e aguardem o volume 2 para muito em breve!

Recife Metal Law – Como era de se esperar, tem algumas músicas que ganharam versões próprias das bandas que as executaram. Quais músicas mais te chamaram à atenção?
Sérgio –
Sem qualquer chance para puxa-saquismo aqui, eu definitivamente gostei de todas as versões do tributo, sem exceções. É claro que versões próprias sempre nos chamam mais a atenção, principalmente por mostrarem o nível de criatividade que cada banda possui, mas mesmo as bandas que se mantiveram fiéis às versões originais colocaram suas próprias características nas músicas de forma grandiosa. Citar essa ou aquela faixa acabaria soando injusto com as demais, então aconselho que todos confiram o CD e tirem suas próprias conclusões. Aproveitando a oportunidade em estar cedendo essa entrevista a um site pernambucano, gostaria de citar aqui os excelentes covers de “Am I Crazy?” e “Inner Demons Rise!” gravados pelo Decomposed God e Inner Demons Rise, respectivamente, ambas de Recife. Brutais! Parabéns, irmãos!

Recife Metal Law – Atualmente alguns tributos têm sido lançados de forma digital, algo que eu não gosto. Mas o tributo ao Headhunter D.C. veio caprichado e com um encarte sensacional! Um tributo ao Headhunter D.C. não poderia ser digital, nem com uma parte gráfica simples, não é mesmo?
Sérgio –
Não mesmo, cara! Antes de tudo esse é, também, um grande presente aos fãs da banda por tão admirável suporte e dedicação ao longo dos anos, portanto não haveria como a produção do tributo ser diferente, afinal eles merecem! Eu particularmente nunca vi um tributo com um ‘booklet’ tão elaborado e com tantas páginas – e olha que já participamos de inúmeros álbuns-tributo! –, então definitivamente ninguém tem ou terá do que reclamar.

Recife Metal Law – Além de ser conhecido por seu afinco ao Death Metal, o Headhunter D.C. sempre trabalha muito em seu merchandising. A banda irá disponibilizar quais tipos de material no Abril Pro Rock?
Sérgio –
Infelizmente ainda não temos o merchandising de nossos sonhos, mas um dia chegamos lá. No Abril Pro Rock disponibilizaremos de CDs (cinco lançamentos diferentes, incluindo a versão europeia do “...In Unholy Mourning...” e o tributo) e dois modelos de camisa: “Punishment At Dawn” e a comemorativa dos 25 anos da banda. Infelizmente o novo patch feito pela Evil Spell provavelmente não chegará a tempo, assim como os pins produzidos no México, mas todos poderão adquiri-los posteriormente pelo correio.

Recife Metal Law – E como andam as novas músicas? Vocês já têm algo pronto para um vindouro novo álbum?
Sérgio –
Já temos três (caminhando pra quatro) músicas novas para um próximo lançamento, seja ele um EP, um split ou preferencialmente um novo full length. Novos hinos de morte e pecado estão a caminho... Aguardem! Demais novidades, acabamos de gravar um cover do Bathory (“Total Destruction”) para um vindouro tributo apenas com bandas brasileiras a ser lançado pela Garm Magazine da Alemanha, além de uma nova edição do “...In Unholy Mourning...” que está a caminho, dessa vez em double cassete via Raw Blackult Records da Bolívia, sendo a segunda fita uma gravação inédita de pré-produção do álbum, feita ao vivo em estúdio em 2010 e com as músicas ainda sendo lapidadas. Raw as fuck! Obrigado Valterlir pelo espaço e pelo sempre poderoso suporte! Vemo-nos no Abril Pro Rock! Conto com a presença de todos lá na linha de frente! DEATH METAL RULES SUPREME!!!!!!!!!

Headhunter Death Cult: Caixa Postal 283, Agência Central – Comércio. Salvador/BA. CEP: 40.015-970.
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Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Frederico Neto, Winston Jr., Slanderer Possessed, Cerise Gomes