FATES PROPHECY
Como todas as bandas de Heavy Metal no Brasil, o Fates Prophecy teve seus altos e baixos, mas com o diferencial de se manter firme e forte em seu destino, que é de fazer música de qualidade, algo que nunca mudou durante todos os anos de banda. Desde o seu início, em 1991, muita coisa mudou, principalmente na formação da banda, que tem como único membro remanescente o guitarrista Paulo Almeida, o qual é acompanhado, atualmente, por Leonardo Beteto (vocal), Carlos Kippes (guitarra), Rodrigo Brizzi (baixo) e Sandro Muniz (bateria). Essa formação é diferente da que mostrou um ótimo trabalho no mais recente lançamento do Fates Prophecy: “The Cradle of Life”, lançado pelo selo Arthorium Records, no formato físico, em 2014, mas é a que vem trabalhando duro para divulgar esse álbum, e o vez fazendo de forma grandiosa. E sobre esse novo trabalho, um pouco da história da banda, evolução sonora, entre outros tópicos, saberemos um pouco mais nas palavras de Paulo Almeida e Rodrigo Brizzi.
Recife Metal Law – O primeiro contato (e único) que tive com o Fates Prophecy foi com o álbum “Into the Mind”, lançado em 1998. Depois desse lançamento e antes do mais recente, vieram dois álbuns e alguns singles. Como vocês analisam cada lançamento na evolução da sonoridade feita pela banda?
Paulo Almeida – Acho que a palavra é essa mesma, “evolução”. A cada álbum evoluímos dentro do que nos propusemos; cada álbum que passou ficamos mais contentes com o resultado e com a mudança de identidade que aconteceu sutilmente de um para o outro. Acredito que hoje estamos com a nossa sonoridade bem definida e com uma identidade própria.
Rodrigo Brizzi – Também há o fato que com o passar do tempo novas fronteiras sonoras são descobertas, o que faz com que a banda possa buscar novas sonoridades, timbres e até mesmo o uso da tecnologia para auxiliar o processo de composição e gravações, sendo este também um ponto relevante na evolução.
Recife Metal Law – Desde o seu início, a banda já passou por diversas formações, inclusive nos vocais, o qual, após o lançamento do novo álbum, foi novamente mudado. Como é lidar com essas alterações logo nos vocais?
Paulo – É natural, acontece com todas as bandas. Claro que não é o que desejamos, porém se algo não está funcionando precisa haver mudanças. Mas realmente as mudanças sempre foram para melhor, não importa os problemas pessoais de cada um, se você está envolvido em algo tem que dar 100%. As pessoas não faltam no trabalho como alguns músicos faltam em ensaios; as pessoas não levam as suas esposas ao trabalho, não trabalham alcoolizadas... Então não há motivo para não encarar uma banda da mesma maneira, a não ser que você realmente não encare o trabalho com seriedade, então nessa situação qualquer mudança sempre será para melhor.
Rodrigo – Todos estão no mesmo barco e se um está remando para o lado contrário, acaba atrasando todos os outros. Essas diferenças podem vir do simples fato da pessoa não estar se dedicando como os demais, ou mesmo por não ter o mesmo foco.
Recife Metal Law – O único membro original da banda é o guitarrista Paulo Almeida. De certa forma, Paulo insere na musicalidade do Fates Prophecy algo que lhe é peculiar, ou seja, que as músicas da banda devem soar da forma que ele queira que seja essa música?
Paulo – Não. Nossas composições são assinadas como muitas bandas, música e letra, mas não é porque a música e letra são minhas que cada um não colaborou com a sua parte, e quanto mais colaboração, melhor. O que normalmente acontece é que eu estou sempre compondo porque gosto, então se os outros da banda escreverem pouco, a maioria das músicas serão minhas. Pessoalmente prefiro dividir mais essas tarefas, mas nem sempre isso acontece.
Rodrigo – Estou vivendo pela primeira vez o processo de composição na banda e o Paulo tem nos deixado bem confortável para expor nossas ideias de composição. É claro que há uma linha a se seguir e neste ponto acho que é necessário que haja alguém pra manter o direcionamento sonoro característico da banda.
Recife Metal Law – “The Cradle of Life” é o mais recente lançamento da banda e, primeiramente, foi lançado de forma digital. Por que vocês decidiram lançar esse álbum logo nesse formato?
Paulo – Esse álbum teve a sua gravação muito demorada por uma série de problemas e quando terminamos a gravação e tentamos contatos com alguns selos, só tivemos propostas absurdas, então já que era para dar nosso trabalho de graça para alguém que não se importaria muito, nós resolvemos dar esse presente aos nossos fãs.
Rodrigo – Ficar com esse material parado até encontrar um selo faria também com que a banda ficasse de certa forma “engessada” quanto a novos trabalhos ou mesmo fazer shows. Seria muito ruim ter um álbum pronto e somente apresentar músicas de álbuns anteriores, ou mesmo já executar as músicas novas sem que houvesse o lançamento do mesmo.
Recife Metal Law – E como surgiu a oportunidade de trabalhar com a Arthorium Records? Essa parceria vem sendo produtiva para ambas as partes?
Paulo – Está tudo indo muito bem. É exatamente o que precisamos: pessoas que entendam o que uma banda precisa de verdade, alguém que trabalhe de acordo com as necessidades. Muitos selos se preocupam apenas em “despejar” um monte de lançamentos no mercado e esperam que a sorte faça o resto, a Arthorium trabalha junto com as bandas e por isso o trabalho está fluindo muito bem.
Recife Metal Law – A arte gráfica ficou excelente, bem cuidada, algo que chama a atenção, ainda mais em tempos de downloads ilegais. Como foi pensada essa parte de apresentação do material lançado? Já estava tudo definido antes mesmo do lançamento físico?
Rodrigo – O Paulo tem todo um processo de composição baseado na arte visual, então a maioria das artes foi feita antes mesmo das músicas, pois é este o “modus operandi” que funciona melhor no processo criativo dele. Ele pode explicar melhor.
Paulo – Normalmente filmes e estórias interessantes sempre são boas inspirações para mim. Então, quando penso em algum conceito para um álbum, já imagino título, nomes de músicas, como seria a capa, etc. Então antes mesmo de terminarmos de gravar o álbum, a arte já estava toda pronta. Só não liberamos imagens porque queríamos guardar para o lançamento físico.
Recife Metal Law – Esse novo álbum ainda traz a influência da NWOBHM, de nomes como Iron Maiden e Saxon, mas a banda, ao decorrer das músicas apresentadas, insere uma cara mais própria. Como foi juntar influência e caraterísticas próprias no novo álbum?
Rodrigo – Um dos fatores que acho relevante nesse sentido, além da evolução natural que a banda apresenta conforme o passar do tempo, foi o fato da produção do disco ficar a cargo da própria banda, o que nos fez deixar todo o material exatamente do jeito que queríamos. O controle total sobre as composições e arranjos e também a escolha de timbres de cada instrumento fez com que a banda soasse com características mais próprias.
Recife Metal Law – A parte lírica é bem escrita, e trata de sentimentos humanos e até mesmo questionamentos acerca do surgimento da raça humana. De quem foi à ideia de tratar sobre tais assuntos nesse disco?
Paulo – O disco não é conceitual, nem todas as músicas tem uma ligação, mas algumas abordam o mesmo tema de forma diferente. Eu escolhi o título do álbum e a partir daí algumas letras foram surgindo naturalmente.
Recife Metal Law – A capa ilustra bem o que ouviremos nas letras de “The Cradle of Life”, mostrando uma espaçonave, uma pirâmide Inca e até mesmo (na contracapa) serpentes e maçãs. Como foi concebida essa arte e como cada música trata tal assunto?
Paulo – Todas as nossas capas, assim como muitas músicas foram muito baseadas em ficção, então a ideia era imaginar um cenário completamente diferente. Eu pessoalmente não acredito em nenhuma religião e não acho nem um pouco importante para meu desenvolvimento como ser humano estar ligado a alguma. Ser “bom” ou “ruim” não tem nada a ver com religião e sim como você quer viver a sua vida, então eu acredito que tudo pode ser possível, mas não atribuo a ninguém as coisas que acontecem. Essa é a minha visão, e para falar a verdade, nós nunca conversamos muito a respeito disso na banda, mas imagino que ninguém se importa com minhas ideias “controversas”, senão eu já estaria sabendo... (risos)
Recife Metal Law – O encarte apresenta algumas imagens, entre elas a da Tumba do Senhor de Sipán, descoberta no Peru em 1987 por Walter Alva e a imagem de uma onça-pintada, ambas com grande destaque. Qual a razão para o destaque nessas duas imagens?
Paulo – A ideia do álbum é que talvez possa existir outra hipótese para nossa criação além das duas que estamos acostumados: a teoria criacionista onde Deus criou o homem e a teoria da evolução. Tanto na capa como contracapa sugerimos isso. A capa representa a teoria da evolução, mais voltada para o desenvolvimento da natureza com uma “ajuda” extraterrestre e com uma serpente como personagem principal e que também pertence à teoria criacionista. Na contracapa tem justamente a ideia do pecado original, com a maçã mordida e serpente, mas também com uma intervenção extraterrestre. Essa é a ideia baseada em uma ficção, mas ao mesmo tempo existe certa homenagem à América Latina nesse álbum; o fato de ter existido uma civilização peruana há mais de 5000 anos, ao mesmo tempo da civilização egípcia sem nunca terem um contato é um bom combustível para podermos imaginar que seria possível o primeiro homem ter surgido em nosso continente... Então essas imagens simbolizam a parte histórica e natural da América Latina, a onça é um símbolo bem forte.
Recife Metal Law – Gostei bastante da consistência encontradas nas músicas desse álbum. Mas duas me chamaram muito a atenção, em razão de seus fortes refrãos: “New Degeneration” e “Devil is my Name”. Gostei da boa junção entre melodias e agressividade. Mas, na opinião da banda, quais músicas mais representam o que é o Fates Prophecy atualmente?
Rodrigo – Em minha opinião duas faixas representam bem essa nova fase: “Primitive Man”, pela sonoridade pesada e mais cadenciada, e a faixa homônima “The Cradle of Life”, por conta das texturas e harmonias. Essa última, inclusive, é a preferida da maioria da banda de ser tocada em shows.
Paulo – Concordo com o Rodrigo. A “The Cradle Of Life” é sem dúvida nossa música preferida, e o fato dela ser bem diferente de tudo que já fizemos a torna muito especial para a banda. É uma música que até foge um pouco do Heavy Metal. Eu a “enxergo” com uma sonoridade meio World Music, mais progressiva, mas, ao mesmo tempo, com a nossa identidade. E a “New Degeneration” foi a primeira música composta para esse álbum, acho que ela é bem forte e representa bem essa nova fase também.
Recife Metal Law – A versão física traz um cover do Crimson Glory, para “In Dark Places”. Esse bônus é para recompensar aqueles que adquiriram a forma física de “The Cradle of Life”?
Rodrigo – Já tínhamos essa música gravada, pois seria lançada num tributo europeu ao Crimson Glory, que acabou não saindo. Então achamos que seria um bom bônus, e também um diferencial na versão física do álbum.
Recife Metal Law – E quais são os próximos passos da banda para 2015?
Rodrigo – Estamos fazendo shows de divulgação do último lançamento e com isso aproveitando para entrosar ainda mais a nova formação. O próximo passo é compor material novo.
Paulo – Essa formação já está bem entrosada, e pode parecer um pouco clichê, mas acredito que nunca estivemos com uma formação tão sólida, então queremos tocar ainda o máximo possível o repertório desse álbum porque, acima de tudo, estamos nos divertindo muito tocando juntos. Sem dúvida o próximo passo é um novo álbum. A meta é começar a trabalhar nele ainda neste ano, mesmo que seja mais para o final de 2015. Gostaria de agradecer ao Recife Metal Law pela entrevista e oportunidade de podermos falar um pouco mais da nossa carreira, e obrigado a todos os leitores que nos acompanham.
Site: www.fates-prophecy.com
E-mail: [email protected]
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Débora Brizzi