UGANGA
A banda mineira de Thrashcore Uganga mostra que está mais ativa do que nunca, e que os anos de hiatos entre um lançamento e outro ficaram no passado. Após o lançamento do bem sucedido álbum ao vivo “Eurocaos – Ao Vivo”, a banda não perdeu tempo e colocou no mercado “Opressor”, lançado ano passado pela Sapólio Rádio. O álbum vem recebendo ótimas críticas, o que não é para menos, já que mostra uma banda mais amadurecida e bem focada no que faz. Entre outras novidades, o Uganga conta com uma nova formação, trazendo três guitarristas: Christian Franco, Thiago Soraggi e Maurício “Murcego” Pergentino. A banda é complementada com Manu “Joker” Henriques (vocal), Raphael “Ras” Franco (baixo e vocal) e Marco Henriques (bateria e vocal). Na entrevista a seguir podemos saber um pouco mais sobre o novo disco, futuros lançamentos e até mesmo assuntos como redução da maioridade penal.
Recife Metal Law – Antes de “Opressor”, o mais recente álbum do Uganga, a banda lançou “Vol. 3: Caos Carma Conceito” (2010) e “Eurocaos – Ao Vivo” (2013). De que forma esses trabalhos ajudaram a moldar a sonoridade do novo trabalho?
Manu “Joker” Henriques – Creio que todo material que lançamos leva a banda um passo adiante. Ao menos é assim que vejo as coisas no Uganga. Sempre foi assim, mesmo em nosso primeiro trabalho, “Atitude Lotus” (2002), onde éramos praticamente outra banda, tanto em sonoridade quanto formação. Nosso estilo vem sendo moldado a cada álbum lançado. Eu diria que “Na Trilha Do Homem De Bem” (2006) apontou o caminho, os outros dois álbuns que você citou ratificaram esse caminho e “Opressor” nos levou além. Espero que sigamos assim.
Recife Metal Law – A boa receptividade dos trabalhos anteriores foi fator crucial para que a banda renovasse o contrato com a Sapólio Rádio?
Manu – Possivelmente. O Guilherme (Sapólio Radio) conhece a banda há muito tempo e vem acompanhando nosso corre na cena. Ele sabe que não estamos nessa por modinha e que trabalhamos duro, além de gostar do que fazemos. Eles lançaram o nosso álbum ao vivo, depois o “Opressor” em CD e agora estão para soltar as versões em vinil e fita K-7, isso é muito legal! Além disso, já fechamos o lançamento do DVD de 20 anos em janeiro de 2016. Tudo isso me leva a crer que eles estão satisfeitos com a parceria e nós também.
Recife Metal Law – As letras do novo álbum estão bem tensas e parecem que foram criadas antes da parte instrumental – ao menos é essa a impressão que tive ao ouvir o CD. Vários temas são abordados. Como foi juntar todos os temas sem parecer clichê e fazer letras bem escritas?
Manu – Na verdade dessa vez eu fiz o contrário. (risos) Trabalhamos todo o instrumental antes e eu encaixei as letras depois, inicialmente pensando mais na melodia e por fim escrevendo as letras, buscando um sentido. Eu sempre escrevo e tenho muita coisa guardada onde recorro na hora de criar as letras, mas nesse trabalho eu usei muito pouco dos meus arquivos. Numa fase posterior à criação dos ‘bonecos’ das músicas, comecei a trabalhar nisso sozinho e só mostrava para a banda alguma coisa quando estava 100% satisfeito com aquilo. Gostei de trabalhar assim, já que antes eu realmente escrevia as letras primeiro e depois montávamos as músicas em função delas. Gostei dessa inversão e creio que ao menos por hora continuarei trabalhando assim. Sobre os temas, inspiração é o que não falta, tá tudo aí na nossa cara.
Recife Metal Law – Ainda sobre as letras, todas foram criadas por você, com uma parceria ou outra. Isso torna o trabalho do restante dos músicos, na parte instrumental, mais simples? Ou você já chegou com o esboço do instrumental para as músicas presentes em “Opressor”?
Manu – Não creio que torne o trabalho mais simples, mas acho que define as coisas. Desde as nossas primeiras Demos cuido das letras, é algo natural e parte da identidade do Uganga. Isso não quer dizer que, como você mesmo observou, não possa haver parcerias. No “Opressor” tem colaborações do Marco (bateria), Eliton Tomasi – nosso manager – e do meu camarada Tito (Seu Juvenal), mas a verdade é que eu cuido dessa parte e tenho a total aprovação dos meus companheiros de banda. Já na questão instrumental é um trabalho coletivo mesmo. No final é a assinatura dos cinco – agora seis – que faz o Uganga soar como soa. É por isso que desde o primeiro álbum dividimos todos os créditos pelo instrumental, como faz o Black Sabbath, por exemplo.
Recife Metal Law – A banda mostra um excelente relacionamento com o seu manager, tanto é que você criou com ele a letra de “Opressor”. Isso significa que relacionamento entre banda e manager vão bem além do campo profissional, não estou certo?
Manu – No nosso caso sim. O Eliton, além de trabalhar com o Uganga, é amigo de todos nós e uma pessoa que admiro muito. Já estamos nessa parceria há mais de seis anos e tem sido bastante produtivo, tanto no lado pessoal quanto profissional. Com relação à faixa-título, ele colaborou com boas ideias, em especial por se tratar de um tema recorrente em nossas conversas. É uma sorte trabalhar com alguém que não vê só o lado material das coisas.
Recife Metal Law – Vendo tudo o que acontece ao nosso redor, principalmente no Brasil, fica mais fácil criar as letras para o Uganga?
Manu – Infelizmente acho que sim. (risos) Amo nosso país, mas acho que estamos vivendo uma fase que ficará marcada na história como a era da insanidade total. O mundo de maneira geral, a meu ver, é regido por mentiras, e grande parte da população acredita cegamente nessas mentiras. Governos fantoches, como esse que temos aqui no Brasil, patético e mentiroso, são parte desse mal e com certeza fonte de inspiração para algumas das minhas letras.
Recife Metal Law – O que vocês acham dessa lei da redução da maioridade penal? Parece que em “Moleque de Pedra” a banda já previa que os “moleques estão mortos”...
Manu – Não vou falar em nome da banda, mas a minha posição particular é que não vai adiantar nada. Acredito que o ideal seria termos um sistema correcional para menores mais eficaz, severo e produtivo. Óbvio que sei que existem pessoas que com 16 anos já são uma ameaça e creio que, não havendo correção eficaz, não devem voltar ao convívio em sociedade. Agora fazer disso via de regra e colocar menores nesse inferno superlotado que são as cadeias brasileiras é demagogia pura para desviar o foco. Temos leis excelentes, mas não as aplicamos, pois estamos mergulhados em corrupção e burocracia. Tenho nojo disso tudo cara!
Recife Metal Law – O álbum conta com algumas participações, como é o caso de Juarez Tibanha (Scourge, ex-Cirrhosis), Murillo Leite (Genocídio) e Ralf Klein (Macbeth). Como foi ter esses músicos no álbum, e como foi escolhida a participação de cada um para cada música?
Manu – “Moleque de Pedra” é a faixa mais brutal do novo disco e pensei no Tibanha na hora, pois, em se tratando de brutalidade, ele é um mestre. (risos) Essa música tem um clima bem ‘oitentista’, bem Metal mineiro mesmo, e o cara fez um puta trabalho. Somos amigos há muitos anos e foi uma honra tê-lo berrando nesse som. “Who Are The True?” (cover do Vulcano) tem três solos e aí pensamos que seria legal ter dois convidados para dividi-los com o Christian. O Murillo é um amigo desde 2010, quando tocamos em São Paulo e eu já conhecia o Perna desde 1987 quando o Angel Butcher, banda que eu tocava, dividiu o palco com o Genocídio em Uberaba no “Endless Curse Festival”. Sou muito fã do som deles, todas as fases, e curti muito o solo mais ‘noise’ que ele fez. Já o Ralf nós conhecemos também em 2010 quando fomos para a Europa pela primeira vez. Tocamos ao lado do Macbeth no “Razorblade Festival” na Alemanha e ali nasceu uma amizade que dura até hoje. Eles curtiram nosso som e me chamaram pra cantar “Ace of Spades” com eles, foi uma doideira! O Macbeth é uma banda fenomenal, uma das melhores da Alemanha na atualidade eu diria, e o solo que ele fez foi maravilhoso! Gostei da mistura de Metal clássico que ele colocou com o ‘noise’ do Murillo e o Thrash do Christian. Acho que de forma inconsciente foi um laboratório para as três guitarras que temos agora, até pelo fato do Thiago ter uma pegada mais ‘noise’ e Punk nos solos e o “Murcego” ser um guitarrista mais clássico.
Recife Metal Law – Antes do lançamento de “Opressor”, dois clipes foram lançados: “Guerra” e “Casa”, que trazem imagens obtidas na segunda turnê que a banda fez na Europa. Mas, após o lançamento do disco, a banda ainda pretende fazer mais algum clipe?
Manu – Sim, vamos soltar um ‘lyric video’ para “O Campo” feito pela Arte Master, que deve sair logo e não descartamos a possibilidade de outro clipe, quem sabe? Talvez para “Nas Entranhas do Sol” e, caso role, devemos trabalhar novamente com nosso amigo Eddie Shumway da Travesseiro Discos, que não é um selo mas uma produtora de vídeos. (risos)
Recife Metal Law – “Opressor” traz um cover do Vulcano, mas tendo em vista que você já fez parte do Sarcófago (tudo bem, a banda já mandou um cover da banda no álbum ao vivo, mas é diferente), vocês não pensaram em colocar alguma versão do Uganga para uma música do Sarcófago?
Manu – Não conversamos sobre isso de maneira séria. Acho que são propostas e momentos diferentes, mas num CD tributo ao Sarcófago poderia rolar algum som do “Rotting”... Enfim, não é algo que esteja nos nossos planos e não vejo acontecendo.
Recife Metal Law – Ainda sobre “Who Are the True?”, a ideia de gravar uma versão se deu mais por seu tema lírico ou pela parte instrumental mesmo?
Manu – Ambos. O som tem uma pegada Thrash clássica misturada com umas partes mais ‘groovezadas’ que casam bem com nosso estilo e a letra é um foda-se para esses puristas ‘radicalóides’ que desde sempre testam nossa paciência. Acho “Who Are The True?” um puta álbum!
Recife Metal Law – O guitarrista Christian Franco, por um período, teve que se ausentar das atividades do Uganga, mas permaneceu como membro da banda. Como anda a saúde do guitarrista?
Manu – Christian está 100% recuperado e estamos celebrando sua melhora fazendo o que mais gostamos: tocando! O cara é um guerreiro e mesmo durante o tratamento esteve tocando e compondo, ele vomita riffs! (risos)
Recife Metal Law – A banda vem trabalhando num DVD, previsto para ser lançado em 2016, em comemoração aos 20 anos de Uganga. O que podemos esperar desse trabalho? Haverá algum tipo de surpresa?
Manu – Eu espero que sim! (risos) Não creio que vamos mudar nosso estilo, mas com certeza vamos buscar ir além de onde estamos. Creio que o próximo trabalho será um EP, o primeiro lançamento nosso com três guitarras, já que efetivamos o “Murcego” (Canábicos) como terceiro guitarrista. Já temos alguma coisa encaminhada e estamos animados. A banda está soando muito bem!
Recife Metal Law – “Opressor” vem ganhando bastante destaque, sendo assim, como a banda vem trabalhando uma possível turnê em terras brasileiras?
Manu – Estamos focados em tocar por aqui e na América Latina. Queremos ir ao Nordeste pela primeira vez, assim como em todos os lugares do Brasil onde ainda não fomos e celebrar com nossos irmãos de Rock N’Roll!
Recife Metal Law – O que esperar do Uganga, além do lançamento do DVD, para os próximos meses?
Manu – O foco agora é estrada. Queremos tocar ao máximo, pois o “Opressor” ainda está recente. Além disso, tem o DVD e o novo trabalho, que deve sair lá pra meados de 2016. Estamos no corre e na disposição!
Sites:
www.uganga.com.br
www.facebook.com/ugangaband
Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Fernando Martins, Gothoom Sachtikus