DEAD CITY WALKER





Muitos projetos servem de válvula de escape. Outros servem para mostrar ao público outra faceta de músicos, as quais não podem ser mostradas em suas bandas de origem. Esse é o caso do Dead City Walker, projeto que traz os músicos Renato Costa (vocal), Eduardo Holanda (guitarra) e Cleber Melo (bateria), da banda pernambucana de Hard Rock Still Living. Inicialmente os músicos queriam apenas lançar algumas músicas de forma digital, mas com o passar do tempo viram que poderiam ir mais longe, até que entraram em estúdio para gravar um álbum completo. O primeiro álbum do Dead City Walker, mesmo trazendo algumas nuances do Hard Rock, difere bastante da banda principal dos músicos e agradará em cheio aos fanáticos por Heavy Metal tradicional. Na entrevista a seguir saberemos um pouco mais a respeito desse projeto nas palavras de Renato Costa (vocal) e Eduardo Holanda (guitarra).

Recife Metal Law – Filmes de zumbis estão em voga, atualmente, além do grande sucesso do seriado The Walking Dead. O nome da banda – Dead City Walker – foi diretamente influenciado por esse grande sucesso do que é relacionado a zumbis, hoje em dia?
Renato Costa –
Na verdade, vejo o lado mais simbólico da temática. O Dead City Walker, a meu ver, procura mostrar a inadequação de um sujeito ao modo de vida cultuado atualmente pela sociedade e a solidão que tal inadequação pode provocar. O contexto lírico de canções como “Harvest Day” e “In The Grave” mostram como a inadequação ao “admirável mundo novo” repercutem de forma agressiva no indivíduo. Eu vejo essa estranheza ao mundo e as reações que ela provoca como principal aspecto lírico da obra.
Eduardo Holanda – Exatamente! O cara que se move em busca de algo diferente pela insatisfação de como as coisas estão! Na verdade é uma atitude! Não tem haver com zumbis famintos... (risos)

Recife Metal Law – O Dead City Walker surgiu, inicialmente, como um projeto e faria o lançamento de um EP virtual, sem muita pretensão. Quando foi que os integrantes começaram a pensar mais sério e cogitaram em trabalhar num full lenght?
Renato –
Na verdade, após o primeiro ciclo de gravações, decidimos encarar o projeto de forma mais séria. O Eduardo Holanda (que é um excelente compositor) trouxe mais algumas canções para que pudéssemos trabalhar e montar um disco, realmente. A partir daí houve fluência no trabalho, desde as composições até os arranjos. Como já tocamos juntos na Still Living (Eduardo, o Cleber, e eu), pudemos contar com um bom entrosamento. Foi um processo bastante divertido e de aprendizado.
Eduardo – Após algum tempo ouvindo as três músicas gravadas pensei que se tivéssemos mais algumas músicas poderíamos lançar um álbum... Ao conversar com Renato e Cleber, mais umas vez eles aceitaram o desafio e foi o que fizemos, gravamos o restante do álbum e regravamos as três iniciais.

Recife Metal Law – Antes do lançamento do full lenght, vocês lançaram um single virtual, com a música “In the Grave”. Qual era o objetivo principal ao lançar esse single?
Renato –
“In The Grave” surgiu como cartão de visitas do projeto. A intenção de reviver um som que tanto gostamos e que nos serve como influência até hoje, mesmo quando caminhamos em outras ‘praias’. Tentamos notar como um projeto de Heavy Metal tradicional poderia ser aceito nos dias de hoje, com uma miscelânea de vertentes musicais e de gostos bastante variados. Além disso, a música passa uma energia bastante congruente ao contexto do disco. Então, ela foi a escolhida para que pudéssemos ‘dar a cara à tapa’.
Eduardo – Esta é uma prática que temos na Still Living, os singles são excelentes para apresentar o trabalho. Disponibilizamos de forma gratuita “In The Grave” enquanto o álbum estava sendo prensado, para as pessoas conhecerem um pouco do que estávamos preparando.

Recife Metal Law – Renato Costa (vocal) e Eduardo Holanda (guitarras) fazem parte da banda de Hard Rock/AOR Still Living, que fazem um estilo bem diferente do Dead City Walker. Em razão da diferença na sonoridade das bandas, havia a necessidade de fazer um projeto voltado ao Heavy Metal tradicional?
Eduardo –
Pessoalmente eu sempre quis gravar algo nessa linha. O Heavy Metal faz parte de minha vida; passei por algumas bandas de Heavy Metal no passado até ajudar a formar a Still Living. Era algo que eu gostaria de ter feito a mais te
mpo, entretanto, à época em que eu tocava em bandas de Metal as condições para gravar ou até mesmo adquirir equipamento era algo muito difícil... Aproveitamos um intervalo de lançamentos da Still Living e gravamos. Tenho muito orgulho desse registro.
Renato – Assim como o Eduardo Holanda, eu também dei meus primeiros passos na música a partir do Heavy Metal. Há pouco tempo, eu ainda fazia parte da Archë, que mesclava elementos de Heavy, Power e Progressivo. O Dead City Walker, com certeza, é um culto às nossas influências musicais. A questão de poder buscar novos horizontes musicais é sempre uma necessidade.

Recife Metal Law – Com relação ao baterista Cleber Melo, qual a formação musical dele?
Renato –
O Cleber Melo é um excelentíssimo músico. Ele toca desde muito cedo. Desde a adolescência! Já foi professor de bateria em escolas de música aqui da cidade, tendo uma vasta experiência, tanto no ensino como com outras bandas locais, como a Preludium, por exemplo. A forma de tocar dele impressiona até mesmo nós que o conhecemos há longa data. Além de ser um grande cara, também!

Recife Metal Law – O primeiro álbum, homônimo, traz músicas inspiradas nos grandes ícones do Heavy Metal tradicional. As influências estão lá, mas a banda conseguiu imprimir certa peculiaridade em seu som, algo difícil, em tempos atuais. Como foi todo o processo criativo? Os três integrantes trabalharam em conjunto ou as músicas contidas no álbum já vinham de épocas remotas?
Renato –
Os dois! As músicas já existiam dentro das gavetas do Eduardo Holanda! Estavam ali prontinhas para serem exploradas. A partir do convite dele, trabalhamos bastante com um material que já existia. Porém, eu e o Cleber Melo tivemos toda a liberdade de compor nossos arranjos e de criar bastante. Foi uma grande experiência. Não tivemos muita pré-produção. Fomos ao estúdio com ‘esqueletos’ de ideias e, lá, tivemos liberdade pra criar ou refutar o que já havíamos criado. No final, as músicas levam muito da nossa cara como músicos. Inclusive, fico feliz por termos conseguido passar essa peculiaridade. Independentemente das influências, estamos fazendo música nossa. É importante que isso seja percebido.
Eduardo – Um review do álbum que li recentemente também citou isto, que, mesmo com as influências mostradas, não soávamos datados e sim espontâneos, algo feito de fã para fã! É muito legal ter este feedback do trabalho! Honestamente apenas trouxemos nossas influências para o Dead City Walker. Acredito que o processo foi determinante nessa ‘peculiaridade’ no som e esse processo foi desafiador! No início falei sobre esta ideia de gravarmos algumas músicas, e sem hesitar os caras toparam, sem ouvir um riff sequer! Mudamos muito as músicas durante a gravação. Essa liberdade permitiu que gravássemos sem pressão, sem pré-produções longas... Não sabíamos como soaria tudo isso no final; queríamos captar a energia de um bom ensaio. Foram poucos ‘takes’ de gravação e pouco tempo de estúdio. Foi uma grande experiência!

Recife Metal Law – Gostei bastante do que ouvi nesse álbum. Músicas inspiradas, com certa grandiosidade, vocais bem postados, e uma banda apostando mais no peso do que na velocidade. Muitas bandas praticantes do Heavy Metal tradicional procuram impor um pouco mais de velocidade em suas canções. O Dead City Walker não seguiu essa vertente...
Eduardo –
Obrigado Valterlir! Considero isso um grande elogio! Acredito que uma banda não precisa ser veloz o tempo todo para soar pesada. Há um excelente território para ser explorado ao se cadenciar mais as músicas. Quem ouve, por exemplo, o Candlemass sabe do que estou falando. Temos algumas músicas mais rápidas no álbum, elas trazem equilíbrio e buscam referências em Accept e Saxon. Acredito que se conseguirmos gravar um segundo álbum, seguiremos a mesma linha.
Renato - A cadência foi um aspecto interessante desse álbum. Foi exatamente o que buscamos: o diferencial com relação às outras bandas da vertente. Acredito que até mesmo o contexto lírico sombrio e de introspecção nos levaram a essa fórmula. Dessa forma, acredito que tenhamos conseguido congruência entre o que dizemos e a forma com a qual dizemos. Isso é importante para a obra.

Recife Metal Law – Muitas músicas carregam em poderosas melodias, e um bom exemplo disso é a excelente “Last Passenger”, que traz riffs pesados e marcados, além de solos inspirados. A parte vocal condiz perfeitamente com a instrumentação da música, além de uma bateria corretíssima, e que só acrescentou mais qualidade à música. Outra que eu gostei bastante foi “The Sower”, pois os riffs são totalmente influenciados por Black Sabbath e até mesmo Iron Maiden. Quem teve acesso a esse disco, quais músicas vêm apontando como as melhores?
Renato –
Essas músicas, juntamente a “In The Grave”, são as músicas que têm se destacado no álbum. Porém, se eu puder deixar uma opinião pessoal, eu gosto bastante da “Harvest Day”. As influências percebidas são uma forma de agradecimento e de culto àqueles que nos proporcionaram maravilhosas obras musicais, além de muita reflexão! Iron e Sabbath são os maiores e devem ser sempre cultuados dentro não só do Metal, mas, também, na música em geral!
Eduardo – A gradeço os comentários! “Last Passenger” tem se destacado bastante. Interessante que ela é uma das mais cadenciadas do álbum. Lembro que estava ouvindo muito os trabalhos de Michael Schenker no período que estávamos compondo; o riff inicial é uma humilde homenagem a “Rock Botton” do UFO, as bases vão na linha do Picture e Iron Maiden... “The Sower” é totalmente inspirada em Black Sabbath... Gosto muito dessa música! A faixa título tem sido comentada também.

Recife Metal Law – Também pude notar que vocês ainda acresceram algo do Hard Rock em algumas melodias e a já citada “The Sower” é um bom exemplo disso, principalmente nas partes vocais...
Renato –
É uma questão essencial! Eu realmente acreditava que o Hard Rock, em um momento ou outro, iria emergir de forma bastante clara. Costumo dizer que me encontrei como vocalista e músico na Still Living. Então, o Hard Rock passou a me constituir como vocalista e sua presença no estilo de cantar e até mesmo de compor as linhas vocais com certeza seria percebida. Vejo isso como parte da peculiaridade citada em uma pergunta anterior.

Recife Metal Law – As três últimas músicas fazem parte de uma trilogia intitulada “Darkness Trilogy”. Por que vocês decidiram fazer essa trilogia para esse primeiro disco?
Eduardo –
Queríamos retratar uma pequena sequência típica de álbuns conceituais, então fizemos uma pequena e simples trilogia. Ela tem bastante influência de Black Sabbath que acredito ter ficado legal. Espero que as pessoas gostem.

Recife Metal Law – Sobre a parte sonora, eu gostei bastante do resultado final. Não é nada grandioso, porém bem cuidado e com todos os instrumentos timbrados de forma correta. Vocês gostaram do resultado da produção sonora ou mudariam algo?
Renato –
Sim! Realmente não é nada grandioso, como uma superprodução, mas é algo que remete à atmosfera ‘setentista’ e ‘oitentista’ que buscamos cultuar. Eu realmente acredito que o resultado da parte sonora tenha sido mais uma das peculiaridades desse trabalho.
Eduardo – Gostei do resultado final da gravação. Acredito que os timbres estão bem condizentes com as músicas; elas têm uma atmosfera mais crua, algo que realmente gosto. Aldecy (Alpha Studio) entendeu bem o que queríamos. Honestamente eu mudaria algumas coisas em relação às guitarras, gravei muitos improvisos... (risos), mas esse é mais um bom motivo para escrever novas músicas e um novo álbum.

Recife Metal Law – A parte gráfica é simples, mas bem informativa, faltando tão somente as fotos dos integrantes. Qual a razão para a não adição de fotos?
Renato –
Boa pergunta, cara! Acho que porque somos caras feios. Mas falando sério, acho que nem pensamos muito em fotos nossas. Talvez nos trabalhos futuros.
Eduardo – O processo foi bem rápido, inclusive o fechamento da arte em geral. Tínhamos que economizar também no encarte, então optamos por incluir as informações essenciais e letras.

Recife Metal Law – O álbum trouxe diversas participações. Como o Dead City Walker se trata de um projeto, ter essas participações foi inevitável?
Renato –
Na verdade não! Foi algo espontâneo e que nos alegrou bastante. O Thiago Nascimento (que também toca conosco na Still Living) estava vendo as gravações e acabamos o convencendo a participar da gravações dos backing vocals. O Aldecy já é nosso parceiro de longa data. Vem realizando um belíssimo trabalho não só conosco, mas com vários músicos aqui da cidade, além de que ele mesmo é um dos melhores músicos que conheço. Foi tudo muito bem divertido. E a participação do Eduardo Maciel (Eduardinho) foi realmente bem especial. Um estímulo e tanto para ele, que está começando na música em um instrumento tão belo, quanto para nós, que podemos renovar nossas forças com a juventude dele. E ele é um grande carinha!
Eduardo – Foi uma honra ter estes convidados no álbum! Cada um deles tem uma particularidade. Por exemplo, a intro do CD, “The Unexpected Guest”, é uma pequena homenagem a uma banda que particularmente acho sensacional, o Demon! Então convidei Fernando Barbosa para narrar essa intro, pois sei que ele é um dos grandes fãs do Demon que conheço, então convidamos e ele aceitou. Thiago e Aldecy foi como Renato contou; da mesma forma Clécio (Ex-Still Living), que gravou a bateria de “Harvest Day”. Quanto a Eduardo Maciel, foi um momento especial para mim! Gravar com meu filho foi incrível! E nada mais justo que gravar uma música que ele me ajudou a escrever. Ele gravou alguns arranjos em “Requiem” (última parte de Darkness Trilogy).

Recife Metal Law – Esse projeto vai ser levado adiante, seja com novos trabalhos ou até mesmo fazendo shows?
Renato –
Quanto aos shows, não sabemos. Está a cada dia mais difícil tocar. Escassez de eventos, algumas portas fechadas para nós que somos do interior... Realmente não posso afirmar nada sobre shows. Aqueles que podem são os que promovem os eventos. Pode ser até que realizemos algum evento para debutar esse trabalho, mas é difícil de pensar nisso com as outras ocupações de nossas vidas. Porém, com relação aos álbuns de estúdio, eu acredito piamente que o Dead City Walker deve seguir a todo vapor. Afinal de contas, gostamos de compor, arranjar e gravar nossos trabalhos.
Eduardo – Dependendo de nós sim! Estamos cogitando algo ao vivo, entretanto, como Renato afirmou, shows estão cada vez mais escassos. Quanto a um novo álbum, é um processo que está cada vez mais caro, tudo dependerá da repercussão do CD e das vendas, só assim poderemos financiar o segundo álbum. Divulgamos e enviamos para muitos lugares o CD, espero que as pessoas mantenham a mente aberta para conhecer novas bandas ou projetos. Mesmo tendo foco na Still Living, creio que o Dead City Walker pode ainda mostrar mais, fazer shows, gravar... Mesmo sabendo que financiar um álbum custa caro, torço para que tudo corra bem e possamos fazer isso em breve. Gostaria de agradecer a entrevista, Valterlir. Muito obrigado por ouvir nosso material e nos conceder esse espaço para falarmos sobre o Dead City Walker. Saiba que nos sentimos honrados!

Site: http://palcomp3.com/deadcitywalker
E-mail: [email protected]

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação