TCHANDALA





Conheci o som do Tchandala após conferir o primeiro clipe da banda, “One Billion Lights”, no Youtube. Pesquisei um pouco mais e descobri que a banda havia disponibilizado seu álbum, “Fear of Time”, para audição, no próprio Youtube. E que álbum! Fazia tempo que eu não ouvia um disco que me prendia da primeira a última música. O próximo passo foi correr atrás do material físico e, claro, saber mais sobre a banda, seus planos, o início de tudo, entre vários assuntos, que foram tratados com o vocalista Dejair Benjamim. O Tchandala é complementado por Sandro Souza (baixo), Pablo Rubino (bateria), Thamise Ducci e Will Moreira (guitarras) e já avisa que está trabalhando em novas músicas para um novo disco.


Recife Metal Law – Vamos começar falando sobre o início da banda, que surgiu em 1996. Como foi formar uma banda de Heavy Metal em Aracaju e qual foi a primeira formação da banda?
Dejair Benjamim –
A banda nasceu no colégio em que eu e Pidele Menezes (ex-vocalista) estudávamos. Desde a nossa adolescência tínhamos a vontade de montar uma banda juntos, e na época eu tocava contrabaixo. Logo encontramos Silvio Beiju (guitarra), que também estudava no mesmo colégio que nós, e Hudson Codô (bateria), e iniciamos as composições e ensaios. Nesse período era bem difícil encontrar músicos bons e que tivessem interesse em tocar Metal. Demos sorte.

Recife Metal Law – O nome Tchandala é bem curioso. Onde vocês encontraram o nome para a banda e por qual motivo vocês decidiram ‘batizar’ a banda com esse nome?
Dejair –
O nome foi retirado do livro “o Anticristo” do autor alemão Friedrich Nietzsche. Tchandala é uma casta do hinduísmo; são pessoas que realizam o trabalho mais servil da humanidade. Nietzsche usava o termo Tchandala para xingar os padres, pois ele acreditava ser a pior ‘raça’ existente. Achamos um nome forte e bem diferente do usual.

Recife Metal Law – Apesar do tempo de estrada, a banda só conseguiu lançar seu primeiro álbum, “Fear of Time”, em 2012. Como vocês analisam, para a carreira da banda, os lançamentos anteriores (Demos e singles)?
Dejair –
As Demos e singles foram de grande importância para mostrar o quanto a banda está na ativa, sem nenhuma interrupção durante todos esses anos. É sempre muito difícil lançar um CD, pois demanda muito tempo e dinheiro. Nós contamos como nosso primeiro álbum o “Fantastic Darkness”, que contém 12 músicas e foi lançado em 2001, mesmo com uma qualidade um pouco abaixo do padrão nacional. Temos grande orgulho desse CD, pois o mesmo foi elogiado por diversos sites, revistas e fanzines. Alguns veículos o consideram como Demo e outros como CD oficial. “Fear of Time” é nosso segundo CD, e foi lançado com recursos próprios. Houve um salto na qualidade com o “Fear of Time”, o que possibilitou melhor divulgação da banda. Os lançamentos anteriores foram parte importante do nosso percurso; serviram como registro e aprendizagem.

Recife Metal Law – “Fear of Time” é um álbum estupendo! Devo dizer que o disco chama a atenção do início ao fim, com músicas atrativas e bem criadas. Como vocês chegaram a esse resultado?
Dejair –
Obrigado! O “Fear of Time” é um apanhado de composições de todas as fases da banda, tendo como base composições de várias formações ao longo de 16 anos. É claro que modificamos bastantes coisas para gravarmos, pois ele teria que representar o sentimento e ‘pegada’ da banda na época do lançamento. É um CD que tem uma essência muito forte e trata de diversos assuntos de cunho pessoal.

Recife Metal Law – Não dá para apontar essa ou aquela música... “One Billion Lights”, “The Vision of a Blind Man”, “Revenge”... São oito músicas excelentes! Mas, para a banda, qual música melhor representa todo o trabalho feito pelo Tchandala até agora?
Dejair –
Ficamos lisonjeados com o seu comentário, pois esperamos ter contribuído para a cena brasileira, e ter participado da vida de algumas pessoas provocando as mesmas sensações e memórias importantes que a música, o público e outras bandas nos proporcionaram. Gostamos do álbum como um todo. Mesmo ele não sendo conceitual as músicas se completam de várias formas. Dessa forma fica bastante difícil escolher apenas uma. (risos)

Recife Metal Law – Até uma balada, “Angel”, a banda inseriu no disco, e com maestria, afinal é uma balada bem construída, musicalmente, sem apelos e que passa bastante ‘feeling’ para o ouvinte. Essa ideia de inserir uma balada veio desde o início quando se pensou em gravar um full lenght?
Dejair –
Exatamente! Foi algo pensando desde o início da criação do CD. Adoramos baladas, elas nos dão a oportunidade de expressar sentimentos de forma mais branda, mas intimista. Já estamos com outra balada para o nosso próximo trabalho.

Recife Metal Law – O disco traz alguns convidados, entre eles o vocalista da banda pernambucana Terra Prima, Daniel Pinho, em “Enemy of Mankind”. Como foi pensada a forma de cada convidado participar nessa ou naquela música?
Dejair –
Não acredito na “União do Metal” de forma utópica. Eu acredito na união de amigos e parceiros que tenham uma química que possam dar bons frutos para a cena. Isso aconteceu com os participantes do nosso CD. Sempre tive a ideia de fazer algo que pessoas de outras bandas pudessem compartilhar experiências e que isso ficasse registrado na história da gente. Em particular, o Daniel Pinho é uma cara super talentoso e muito simples. A química rolou de imediato ao nos conhecermos. Mostrei pra ele algumas ‘prés’ do CD e ele acabou sugerindo várias coisas que enriqueceram a nossa música. Ele que idealizou a dinâmica de voz de “Angel” e “Enemy of Mankind”. Inclusive o título dessa última foi ideia dele. As ideias e participação de Daniel Pinho nos trouxeram uma energia extra, a ponto de convidá-lo para produzir a parte de voz do nosso próximo CD.

Recife Metal Law – A arte gráfica de “Fear of Time” ficou de muito bom gosto, condizendo bem com o estilo musical proposto pela banda. As ideias de capa foram concebidas pelo próprio Tchandala ou o designer Alê Alcântara chegou a opinar em algo?
Dejair –
A concepção da arte foi nossa e todo o seu desenvolvimento foi realizado por Alê Alcântara. Ele teve toda a liberdade para criar e explorar elementos para que o produto final ficasse excelente. Confiamos muito no trabalho dele e ele já está em fase de criação da arte do “Resilience”, nosso próximo CD.

Recife Metal Law – Do disco foi retirada a música “One Billion Lights” para um clipe. Esse clipe ficou bem interessante, mostrando a vida de um banger que tem sua total libertação quando vai para um show da Tchandala. Por que essa música foi a escolhida para o clipe e de quem foi a ideia do enredo do vídeo?
Dejair –
“One Billion Lights” fala da seca do sertão de forma metafórica. A ideia inicial do clipe era fazer imagens no sertão e mostrar o cotidiano daquele povo sofrido, porém, por questão de limitação de recursos, tivemos que mudar os planos. Daí, foi quando o diretor do clipe, Marlon Delano, apareceu com a ideia do novo roteiro, o que nos deixou empolgados, pois acreditamos que aquele personagem representa todos nós no dia-a-dia com os nossos papéis sociais. O clipe também mostra o dilema de um headbanger em relação a abrir mão de quem é, de sua imagem, se deve adaptar-se às expectativas de um mercado de trabalho que talvez não o compreenda, ou se permanece como é, sem saber como esse mercado vai reagir. No final a pessoa que o contrata faz parte da banda da qual ele é fã, o que sugere uma resposta ao dilema...

Recife Metal Law – Atualmente a banda vem trabalhando em vários projetos, entre eles um documentário sobre as duas décadas de Tchandala. Quais outros projetos merecem menção aqui e em quais mais a banda direciona seu foco?
Dejair –
Até o final do ano estaremos lançando: Clipe animado de “Angel”, produzido e dirigido pelo cineasta Karlo Rivendell; “We Are Tchandala” - Documentário comemorativo de 20 anos da banda, produzido pela Storyboard Audio visual; Participação no CD tributo a Edu Falaschi. E em 2016 teremos: Gravação e lançamento do CD “Resilience”; Produção e lançamento de três clipes com músicas do próximo CD, sendo um deles também animado, e será produzido e dirigido pelo artista plástico e ex-baterista André Moreira, e terá como tema a degradação do Rio São Francisco.

Site: www.tchandala.blogspot.com.br

Entrevista: Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação
e Alexandre Alcântara