AGRESSOR





São mais de três décadas dedicadas ao Thrash Metal, mas que entrou em ‘stand by’ em 2015, devido à inconstância de integrantes na banda. Porém, antes dessa parada nas atividades, a decana banda carioca Agressor deixou para os amantes do Thrash o excelente álbum “Demise of Life”, um álbum que faz jus a toda a trajetória da banda, que mesmo não contando com muitos álbuns (foram apenas dois lançados), deixou seu nome gravado no cenário Heavy Metal nacional. Antes da parada, restaram apenas dois integrantes: o guitarrista Alexandre Cabral e o líder/fundador, letrista, baterista e vocalista Paulo Tinoco. E Paulo foi quem nos falou nessa entrevista...

Recife Metal Law – O Dark Sun é um selo que sempre apoia as bandas que fazem uma sonoridade ‘old school’, porém não investe muito em divulgação. Como foi todo o trabalho para expor o primeiro disco da banda, “Victim of Yourself” (2006)?
Paulo Tinoco –
O selo Dark Sun pertence ao Ader, que também é dono do Dies Irae. Como ele faz as coisas dos selos em seu tempo livre, acaba não tendo tempo suficiente para fazer a divulgação que podemos chamar de ideal. Independente disso, eu mesmo sempre tento fazer o máximo possível para divulgar as coisas da banda e fazer com que nossos discos cheguem até as pessoas e possibilite que elas conheçam nosso trabalho. Fui a São Paulo e coloquei o CD em algumas lojas da Galeria do Rock, assim como em outros lugares do Brasil. Preciso fazer o mesmo com o novo “Demise of Life”, assim que possível.

Recife Metal Law – Ainda pegando o ‘gancho’ da primeira pergunta, o Agressor é uma banda que tem mais de três décadas de existência. Todos esses anos de banda ajudam na hora de divulgar seu nome e até mesmo arranjar shows?
Paulo –
Imagino que isso possa favorecer de algum modo. Tenho muitos contatos antigos também, com pessoas sempre dispostas a ajudar, mas acho que efetivamente tudo depende muito do esforço que fazemos quanto banda. Se todos da banda trabalharem muito e de forma correta, as possibilidades de se fazer uma boa divulgação aumentam, da mesma maneira que se nos dedicarmos pouco o resultado será igualmente limitado.

Recife Metal Law – Antes do segundo álbum, a primeira Demo, “Destruição Metálica”, lançada originalmente em 1986, foi relançada como EP em 2012, pelo próprio Dark Sun. Esse relançamento teve algo em especial ou foi apenas para não deixar uma lacuna tão grande sem lançamentos do Agressor?
Paulo –
Na verdade esse lançamento foi proposto pelo Ader e eu mesmo não sou muito fã desse tipo de relançamento, com ‘outtakes’ de shows e ensaios. Mas fui convencido pela questão histórica, já que o encarte traz a trajetória da banda no início e conta como era ter uma banda no início dos anos 80. Acredito que será bem aceito por aqueles que gostam do Agressor e já tem os outros trabalhos. Recentemente chegamos a tocar músicas dessa Demo, como foi o caso de “Juízo Final” e surpreendentemente a música soou bem atual e mostrou, pelo menos para mim, toda sua atemporalidade.

Recife Metal Law – O novo álbum, “Demise of Life” foi gravado/produzido no DQG Studios, e traz uma sonoridade excelente. A banda, que também produziu o álbum, ao lado de Davi Baeta, usou os avanços tecnológicos a seu favor. Como foi todo o trabalho em estúdio, tendo em vista que mesmo com o uso da tecnologia o álbum, ao menos aos meus ouvidos, foi gravado de forma analógica?
Paulo –
O objetivo era buscar uma sonoridade que remetesse a algo mais orgânico, mas isso não é tão simples de explicar nem de se conseguir. Demandou muito tempo na audição de timbres e experimentações quando da fase de mixagem. O som ainda não estava 100% do que queríamos e não estávamos conseguindo um consenso, visto que o estúdio ficava em outra cidade e as conversas rolavam pela internet, quando em dado momento nosso guitarrista, Alexandre, chegou a ir ao estúdio já aos “45 do segundo tempo” e ficou lá trabalhando em cima dessa questão com o Davi. Com isso chegou-se a um resultado que nos agradou muito.

Recife Metal Law – Da formação que gravou o disco anterior restaram apenas Paulo Tinoco (bateria e vocal) e Alexandre Cabral (guitarra). Mas Gustavo Lima (baixo) e Raphael Zaror (guitarra) fizeram um ótimo trabalho. Desde quando esses músicos estão com a banda e qual a maior de contribuição de ambos para a sonoridade do Agressor?
Paulo –
Eles entraram por volta de 2010 e 2011. Gustavo trouxe para a banda linhas de baixo mais técnicas, sem perder o peso, e Raphael manteve a pegada tão necessária para as bases de guitarra. É bom salientar que os dois deixaram a banda no meio deste ano e no momento tivemos que dar uma parada meio que forçada por conta de outras atividades que estou realizando. Não sei ainda o que virá pela frente.

Recife Metal Law – O Thrash Metal praticado pela banda, como não poderia deixar de ser, é bem influenciado pela ‘velha escola’, bebendo na fonte do Thrash germânico e americano, mas sem deixar de lado suas características próprias. E sobre essas características, fazer músicas em português é uma delas. Dessa vez vocês colocaram mais músicas em nosso idioma. Qual foi a razão para isso?
Paulo –
No álbum “Victim of Yourself” de 2006 tivemos a música “Onde está a coragem?”, que foi feita em português e teve um resultado que gostei muito em termos sonoros, apesar do processo da criação ser muito mais trabalhoso. Além disso, vejo que há assuntos que quero falar diretamente para nós que somos brasileiros, que vivemos uma realidade diferente de quem vive em outros países e continentes. Dessa forma, o álbum “Demise of Life” trouxe três músicas em nossa língua que são: “Morte em Vida”, “Belo Morte” e “Terra sem Lei”. Certamente as músicas em português continuarão a aparecer em trabalhos futuros.
 
Recife Metal Law – Falando sobre influências, “The Origin” mostra bastante influência do velho Slayer, inclusive nas linhas vocais. Isso foi premeditado?
Paulo –
Nem tem como negar, né? (risos) Certamente aquelas frases foram cantadas assim de forma intencional e jamais negaria que o Slayer sempre foi minha maior influência e minha banda de Thrash preferida desde o lançamento do “Show no Mercy”, e continua sendo até hoje. Mas quando do início das composições para o “Demise of Life”, achava que deveria buscar uma amplitude nas linhas vocais e variar minhas características na forma de cantar. Ao ouvir as gravações que fizemos dos ensaios já percebi que tinha conseguido alcançar esse objetivo e ao ouvir finalmente o álbum gravado confesso que fiquei bem satisfeito com o resultado.

Recife Metal Law – A parte lírica novamente fala sobre temas sociais, destruição da natureza, do homem pelo próprio homem... Como são definidos, na banda, os temas abordados em cada música?
Paulo –
Desde o lançamento da primeira Demo (“Destruição Metálica” em 1986), a grande maioria das letras é feita por mim e a escolha de cada tema vai sempre de encontro com o que me deixa indignado em nosso cotidiano ou algum assunto que sinta necessidade de abordar. O Agressor acabou virando como uma tribuna onde posso externar pontos de vista e passar o que acredito para as pessoas ou mesmo contar alguma história, não necessariamente fazendo juízo sobre o assunto.

Recife Metal Law – Ainda sobre a parte lírica, no álbum anterior todas as letras em inglês vieram traduzidas para o português. Por que vocês não repetiram a dose nesse novo disco?
Paulo –
A vontade era manter o padrão, mas não foi possível simplesmente por falta de espaço na arte. No “Victim of Yourself” fiz questão de colocar as letras também em português porque queria que as pessoas tivessem também essa opção. No caso do “Demise of Life” o padrão da arte e as letras muito grandes acabaram por não deixar espaço suficiente e dessa vez não teve como repetir o que foi feito no álbum anterior.
 
Recife Metal Law – A parte gráfica não é mirabolante, podemos dizer que é até simples, porém ao se desdobrar, o encarte vira um pequeno pôster. O problema é que ninguém vai querer danificar seu encarte para colar o pôster na parede. (risos) Vocês chegaram a pensar em incluir o pôster à parte?
Paulo –
Acho que ele cairia bem numa parede. (risos) Mas não chegamos a cogitar isso por conta do custo que aumentaria consideravelmente. Mas quem sabe a ideia não vire realidade mais para frente. Quando comecei a comprar meus primeiros discos eles eram em vinil e era prazeroso ficar longo tempo observando os detalhes de cada capa. Isso se perdeu quando surgiu o CD e seu tamanho limitado e o objetivo desse formato pôster para o “Demise of Life” era justamente resgatar um pouco desse prazer de gastar minutos observando uma capa.

Recife Metal Law – O novo álbum foi lançado via Dark Sun e Eternal Hatred e tem o apoio da Voice Music na distribuição. Acho que isso só veio a ajudar o Agressor. Como vocês analisam o trabalho dos três selos para a atual fase da banda?
Paulo –
Essa era a formatação que imaginava ser a ideal para que o trabalho chegasse mais longe possível e ela foi ‘costurada’ meses antes do álbum ir para a fábrica. Mas assim que o CD saiu as coisas desandaram e no fim das contas o álbum acabou sendo bancado e distribuído pela própria banda e também pelo selo Dark Sun.

Recife Metal Law – Sabemos de todas as dificuldades que envolvem uma turnê, ainda mais para uma banda onde os seus integrantes não vivem da música, mas existe a possibilidade de o Agressor sair divulgando esse álbum com shows em todo o Brasil?
Paulo –
No fim de 2014 tínhamos esse desejo e tentamos realmente fazer dessa forma, mas os primeiros seis meses de 2015 e os shows que fizemos nesse período mostraram que é muito difícil essa tarefa. Quatro integrantes onde todos têm atividades profissionais e familiares distintas acabam não favorecendo para atender a exigência necessária de uma rotina de shows e viagens. Ficou muito evidenciado que não teríamos como fazer isso e os conflitos surgiram quase que imediatamente, culminando com a saída de dois integrantes. Por conta de questões particulares eu mesmo acabei aproveitando essa saída deles para focar em outras coisas e deixar mais pra frente uma definição quanto ao futuro da banda.

Site: www.agressor.com.br

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, José Ricardo Pinto