MONTULN





Avinda do Chile, a banda Montuln tem seu som seguindo uma linha mais Death/Black Metal, porém com passagens Pagan Metal e uma temática lírica que fala da luta do povo Mapuche contra a invasão espanhola. Mesmo com seu som chegando a lembrar alguns baluartes do estilo, o Montuln procurou mostrar, em seu trabalho de estreia, “Espíritu Ancestral”, um som com caraterísticas próprias, que procura fugir do lugar comum, tanto nas letras como nas harmonias. A banda hoje é formada por Gustavo Carrera (guitarra e vocal), David (baixo e vocal), Eduardo (guitarra) e Pablo Bravo (bateria). Mesmo tendo sido lançado em 2012, a banda ainda continua na divulgação de seu álbum de estreia, mas na entrevista a seguir Gustavo já dá a informação que trabalham num novo álbum. Confiram!

Recife Metal Law – O Montuln surgiu em 2010, na cidade de Concepción. Como surgiu a ideia de formar a banda e de qual estilo seguir?
Gustavo Carrera –
Surgiu como um projeto de Black Metal um pouco mais sinfônico do que o som atual da banda. A ideia era ser Black Metal melódico. A formação inicial foi com um teclado, guitarra, baixo, bateria e vocal. A ideia foi proporcionar a cena local diferentes temas e músicas bem trabalhadas, voltadas ao Symphonic Black, não tão puro como o som que temos hoje.

Recife Metal Law – Dos integrantes do Montuln, apenas o baterista César “Zhisor” González já tocou em outras bandas?
Gustavo –
A verdade é que todos os membros que originalmente formaram a banda vieram de projetos anteriores de diferentes estilos, principalmente relacionados com o Black Metal. Zhisor, como é comum entre os bateristas do cenário Underground, faz parte de outras bandas, incluindo a banda de Slamming Brutal Death Metal Urogenital Macrofage, que é a mais ativa. Os outros membros, exceto o nosso atual guitarrista, Eduardo Salgado, tiveram bastante experiência em bandas anteriores, mas decidimos focar exclusivamente no Montuln

Recife Metal Law – E qual é a origem do nome Montuln, e como se deu a sua escolha para nomear a banda?
Gustavo –
O nome da banda está diretamente ligado aos temas de nossas letras. Quando tínhamos cerca de oito meses ensaiando e compondo com nossa linha original, com um teclado, guitarra, bateria e baixo com o nome de Magna Solaris, houve uma reestruturação da banda, com a saída do tecladista e vocalista, entrando uma segunda guitarra (Daniel Yanez) naquela época, e tornando o som mais cru e denso, adquirido com duas guitarras e sem teclado. Então decidimos mudar um pouco o estilo da banda e se concentrar em um mais agressivo Black/Death Metal melódico, e tendo como inspiração os valores da cultura dos povos indígenas da nossa terra, o Mapuche, e sua centenária e corajosa luta contra a invasão europeia cristã. Daí vem o nome, Montuln, que em mapudungun, a língua mapuche, significa libertação.

Recife Metal Law – Muitas bandas lançam uma ou mais Demos antes de lançar um full lenght. Com o Montuln não foi assim, já que a banda, de cara, lançou seu primeiro álbum, “Espíritu Ancestral”. Pelo que ouvi nesse CD, a banda mostrou que estava pronta para lançar um álbum completo. Mas o que vocês esperavam desse álbum, foi alcançado?
Gustavo –
Na verdade, “Espíritu Ancestral” foi o nosso primeiro lançamento. Desde que eu comecei a trabalhar com o Montuln, com a formação com duas guitarras, nos concentramos em fazer este projeto conceitual de sete temas, todos relacionados entre si musicalmente e em termos de letras. O próximo passo natural era fazer composições juntos e um álbum inteiro. Como foi o nosso primeiro trabalho, a nossa expectativa era, principalmente, conseguir um som aceitável e distribuição conhecida. A gravação de excelente qualidade, obtida no Audiomotion Studios, nos deixou motivados a produzir e lançar um disco em digipack, o que levou um longo tempo para toda a concepção e produção, e saímos bastante satisfeitos.

Recife Metal Law – A musicalidade encontrada no álbum de estreia é grandiosa. Gostei bastante do álbum por completo, por trazer músicas dinâmicas, fortes, ríspidas e densas. Mesmo fazendo um estilo que vai do Black ao Death Metal, com maior ênfase no primeiro estilo, vocês mostram uma boa variação de andamentos, o que criou algo atrativo na música do Montuln. Como foi todo o processo criativo para o primeiro álbum?
Gustavo –
O disco é, na verdade, uma mistura de Death e Black metal, que são as influências fundamentais de todos os membros. Em termos de composição, é certo que o disco contém várias etapas e, portanto, estilos. Algumas músicas foram inicialmente composta por mim, antes da formação da banda. São de um estilo de Black Metal clássico. Em seguida, após a formação completa, toda a banda trabalhou, como ouvido em temas como “Cadenas de Fuego” e “Tambores de Guerra”, ao passo que o resto dos temas mostram uma mistura de elementos e harmonias mais Death Metal e uma explosão Black Metal, que foram trabalhados e retrabalhados por todos os membros na sala de ensaios e constituem a maior parte do disco e do som, mais propriamente Montuln.

Recife Metal Law – Algumas passagens chegaram a me lembrar o Marduk, principalmente nos andamentos mais extremos. Para criar as músicas do Montuln vocês sofrem algum tipo de influência externa?
Gustavo –
Sempre que nos concentramos em compor uma ideia ou assunto particular e, portanto, precisamos de ritmos e tempos que nos permitem expressar essa ideia. Em “Espíritu Ancestral” embarcamos na luta mapuche contra a invasão espanhola em nosso próprio ponto de vista. Portanto, os temas são carregados com muita violência e agressão, então nos voltamos para ‘blast beats’ e muitas passagens extremas, por isso a referência em Marduk e faixas, mas não a maior influência, já que temos mais influência do lado Black e Death Metal melódico sueco.

Recife Metal Law – Outra influência que pude notar é da cultura chilena, principalmente em “Perimontu”. Mas digo que foi algo bem sutil. Como foi incorporar algo da cultura local sem desfigurar o Black Metal feito pela banda?
Gustavo –
Como o disco é totalmente conceitual e reflete a nossa própria visão dos valores da nossa terra, dos homens que lutaram para defendê-la durante séculos contra a ocupação judaico-cristã dos espanhóis, queríamos incorporar alguns ritmos e melodias próprias em passagens inspiradas na cultura Mapuche, apesar de tentar fazê-lo de uma maneira muito sutil para não desfigurar o Black Metal que queríamos fazer, e não algo falso ou forçado.

Recife Metal Law – Por falar em cultura chilena, a banda traz em sua temática lírica algo relacionado à antiga luta contra a invasão europeia e sobre as terras Mapuche (povo indígena da região centro-sul do Chile). Tais temas não são tão corriqueiros em bandas de Black Metal. Por que o Montuln decidiu tratar de tais assuntos em sua música?
Gustavo –
É justamente isso que você disse: nós fizemos porque não é um tema comum e não tem sido usado como deveria ser. Temos uma história rica em eventos e personagens valiosos para pagar um tributo e que nos inspiram a fazer essa música que tanto amamos. É comum em bandas de Black Metal do Chile e da América do Sul, em geral, continuar a usar o simbolismo e temas herdados das bandas que iniciaram o estilo. Por isso estamos cheios de Vikings e deuses egípcios. No entanto, em nossa opinião, desse lado do mundo temos inspiração e valores para dar sentido à nossa música e dever de resgatá-los e trazê-los à luz.

Recife Metal Law – “Espíritu Ancestral” foi lançado de forma independente, mas veio cercado de muitos cuidados, tanto na parte gráfica como na produção sonora. O resultado final, em se tratando da parte gráfica e gravação foi totalmente satisfatório para a banda?
Gustavo –
Como eu disse anteriormente, o nosso objetivo de gravar as músicas originalmente era para ter um registro de média qualidade, para distribuição aos nossos amigos e conhecidos. Mas o resultado que obtivemos foi melhor que o esperado, o que nos levou a trabalhar em uma produção mais profissional e investir em design gráfico com atenção a cada detalhe para ter um acabamento mais completo musicalmente e também no próprio disco. Por isso podemos dizer que ao analisar hoje, em perspectiva, o disco tem detalhes que poderiam ser aperfeiçoados, mas foi o nosso primeiro trabalho e nos deixou muito feliz e satisfeitos.

Recife Metal Law – Sendo um álbum lançado de forma independente, como vem sendo feita a divulgação desse material?
Gustavo –
A promoção e divulgação foi feita por nós mesmos através da nossa página no Facebook, e nos eventos que participamos tivemos também o apoio à distribuição e à promoção pelo selo chileno Australis Records. E, principalmente, pelas recomendações e opiniões das próprias pessoas que conheciam o nosso trabalho ou escutou o álbum.

Recife Metal Law – Com relação aos shows, no Chile existem muitos locais para se apresentar o som do Montuln? Os Headbangers daí apoiam com força total as bandas de seu país?
Gustavo –
Nós somos uma banda de Concepción, sul do Chile. Enquanto em Santiago há muitos locais e lugares para tocar e ouvir Metal, em Concepción a cena é menor e os locais menos numerosos. No entanto tivemos o apoio suficiente dos organizadores de eventos e do público em geral, de modo que nós tocamos em Santiago, Concepción e outras cidades do Chile, o que nos deixou bastante satisfeitos, considerando que somos uma banda relativamente nova, com diferentes temas, letras em castelhano e que não é muito comum nesse estilo.

Recife Metal Law – “Espíritu Ancestral” foi lançado em agosto de 2012, ou seja, há mais de três anos. A banda já trabalha em um novo material?
Gustavo –
Neste momento estamos completamente focados em compor e trabalhar num novo material, com Eduardo Salgado nas guitarras. E embora tenhamos participado em alguns eventos, a nossa prioridade agora é trabalhar em novas composições, que esperamos se materializar em um segundo álbum no início do próximo ano, de acordo com os temas relacionados com o povo Mapuche, mas dessa vez nos concentramos em temas mais esotéricos e místicos, e arranjos musicais mais experimentais, mas sem abandonar as harmonias e som agressivo que queremos caracterizar e diferenciar.

E-mail: [email protected]

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação, Sebástian Domínguez, Fenriz Photography