SUNRUNNER





A banda americana Sunrunner foi formada em 2008, na cidade de Portland e faz, em sua música, uma união entre o Rock Progessivo, aquele com raízes fincadas nas décadas de 70/80 e o Heavy Metal, principalmente nos riffs de guitarra. Mas a musicalidade da banda vai além, vez que insere alguns instrumentos exóticos em algumas músicas, mas sem deixar se afastar da sua sonoridade principal. O Sunrunner já tem três álbuns de estúdio lançados, e atualmente divulga o mais recente, “Heliodromus”, lançado pelo selo italiano Minotauro Records, em 2015. Mesmo não tendo um nome tão forte mundo afora, a banda trabalha arduamente para que esse fator mude, inclusive tocará fora de seu país pela primeira vez. O Brasil será o ponto de embarque de uma turnê que a banda fará, a começar em agosto de 2016. Na entrevista a seguir Joe Martignetti (guitarra/vocal) nos fala sobre diversos tópicos, inclusive sobre a passagem pelo Brasil. Complementam a atual formação da banda David Joy (vocal/baixo) e Ted MacInnes (bateria/vocal).

Recife Metal Law – O Sunrunner surgiu em 2008, num país onde predomina a música Pop. Sendo assim, como é a receptividade para com a sonoridade da banda?
Joe Martignetti –
Bem, nós somos relativamente desconhecidos aqui em nosso próprio país. Mas a maior parte da minha música favorita não é popular aqui, de qualquer forma. Então não é nenhuma surpresa.

Recife Metal Law – Antes do mais recente lançamento vieram dois álbuns – “Eyes of the Master” (2011) e “Time In Stone” (2013). Ao lançar esses discos, o Sunrunner já tinha sua proposta musical definida ou eles foram essenciais para que a banda moldasse a sua música como ouvimos atualmente?
Joe –
Eles foram, definitivamente, essenciais. Cada álbum que você faz aprende alguma coisa com ele, se é algo que você não gosta, que você deseja alterar, ou algo que você quer continuar a explorar. Nosso primeiro registro é um pouco estranho, mas necessário para obter essa atual fase. Queríamos ser muito experimental naquele momento, mas depois que terminamos, percebemos que foi demais. O segundo álbum nos ensinou muito sobre o que queríamos para o som e produção.

Recife Metal Law – O mais recente álbum recebe o título de “Heliodromus” e foi lançado por um selo italiano, Minotauro Records. Por que o álbum foi lançado por uma gravadora de fora do país? Foi uma decisão da banda?
Joe –
Bem, primeiro de tudo eles estavam interessados em nós! É muito difícil conseguirmos contratos de gravação. A Minotauro também lançou os CDs dos nossos bons amigos do Ogre, que também são de Portland. Em seguida eles se aproximaram do meu irmão e perguntaram se poderiam lançar um registro de nosso pai, datado de 1980, chamado Seth (nenhuma relação com a atual banda de Metal). Entre Ogre e Seth, a Minotauro perguntou sobre nós e achamos que o negócio seria muito bom. Então aqui estamos.

Recife Metal Law – Esse novo álbum traz uma sonoridade bem diversa, no que se refere ao Heavy Metal e Rock Progressivo, tendo bastante influência de ambos os estilos em praticamente todas as músicas presentes no disco. Os integrantes chegaram a ouvir determinado disco para que houvesse uma inspiração musical para “Heliodromus”?
Joe –
Todos nós ouvimos um monte de música diferente, então as influências variam muito. É por isso que se enquadram na categoria Prog. Mas não temos a intenção de tocar Prog Metal. Nós ouvir muitas coisas, como Metal, Rock, Folk, World Music, Jazz, Country da ‘velha escola’, até mesmo algumas músicas Pop dos anos 80! Tudo aparece em nossa música; você pode dizer exatamente o que ouvimos, penso! Prog, para mim, significa apenas que há, um pouco, como ampliar os parâmetros típicos de um gênero específico. Prog Metal é assim também, mas acho que a ênfase está mais enraizada na tecnicidade, desempenho e ainda se manter atualizado com a produção de Metal e som. Isso é ótimo! Eu gosto desse tipo de música também, mas para nós é mais como expandir as fronteiras e manter um tipo de som Rock/Metal dos anos 70/80.

Recife Metal Law – A parte lírica desse novo CD foi inspirada no mitraísmo, uma religião pagã nascida na época helenística. Como vocês chegaram a essa temática lírica e qual foi a espécie de estudo que vocês fizeram para as criar?
Joe –
Doug estava lendo sobre esse tema e percebi o termo “Heliodromus”, que traduzido do latim para o inglês significa “Sun Courrier” ou “Sun Runner”. Além disso, é uma das muitas iniciações durante os rituais mitríaticos. Essa parte do ritual, o iniciado iria montar a parte de trás desse “Heliodromus” para um passeio no cosmos. Achamos que era muito bizarro se as pessoas tentassem evocar essa criatura, que compartilhava o mesmo nome. Além disso, a nossa mascote, que está em todas as capas, é uma espécie de criatura do espaço. Nós a chamamos de ‘Sunrunner’, uma espécie de ave espacial, que tem todos os tipos de poderes! Foi uma conversa que tivemos quando começamos a procurar nomes de bandas. Foi totalmente decidido. Nós pensamos que “sim, Sunrunner é um nome legal... Soa como algum tipo de criatura que pode viver no espaço e viajar através do tempo”. (risos) Podíamos ter estado sob algumas influências na época. Mas depois de ler sobre o “Heliodromus” foi bem uma espécie estranha de coincidência! Então tivemos que aprender mais e, eventualmente, escrever uma canção sobre isso... Uma música muito longa! (risos)

Recife Metal Law – Quando se fala em mistura de Heavy Metal e Rock Progressivo, logo nos vem à mente músicas longas e intricadas e isso não ocorre no Sunrunner. Quando as composições estão sendo feitas, existe a preocupação no limite de tempo de cada música?
Joe –
Sim, um pouco. Para mim, cada vez que gravo uma Demo, uma canção acaba tendo sete minutos. Toda vez! Bem, você sabe, algo em torno de seis minutos e meio e sete minutos e meio, algo assim. Em minha mente eu acho que a música sente o que quer ser. Se eu sentir que a música representa um pouco de história, vou acrescentar ou tirar algumas coisas para que o escopo da história se encaixe no âmbito da música. Se é apenas uma mensagem curta, vou cortar partes da música para torná-la mais curta. “Cortar a gordura”, como Frank Navarro sempre diz. Eu gosto de variedade. Na verdade, é muito difícil escrever uma canção de quatro minutos ou menos. Mas, às vezes, canções curtas são agradáveis. Isso me faz respeitar a música, algo que eu não costumava fazer. Como as pessoas fazem músicas muito boas curtas?! Eu gosto das bandas da ‘velha escola’ que tinham uma faixa longa em cada registro lançado. Então, no fundo da minha mente, eu quero que isso aconteça. Assim, entre todas essas coisas, o álbum começa a se moldar em variedade e comprimento, de modo que eles não sejam todos iguais.

Recife Metal Law – Ainda sobre tamanho das músicas, só a faixa-título é realmente muito grande, passando dos 20 minutos, trazendo diversas passagens sonoras, andamentos musicais e adição de vários instrumentos. Como foi o processo criativo dessa música? A intenção era realmente ter uma música realmente longa nesse trabalho?
Joe –
Sim! Bem, nós não dissemos: “vamos fazer uma canção de 20 minutos”. Nós só sabíamos que tínhamos que escrever uma canção épica sobre o “Heliodromus”. Assim que a música estava com alguns riffs que sobraram, algumas compotas, algumas escritas individuais, até mesmo um par de ideias realmente antigas que nunca se encaixavam em qualquer lugar; quando sentimos que a música tinha o suficiente de peças e começamos a formar a estrutura, meio que se encaixou naturalmente. Por isso não queríamos mexer em nada. Mesmo que a Demo estava naturalmente com cerca de 20 minutos. Era como, “bem, isso deve ser épico o suficiente?!”.

Recife Metal Law – No release da banda tem a informação de que o Sunrunner é formado por David Joy (vocal/baixo), Joe Martignetti (guitarra/vocal) e Ted MacInnes (bateria/vocal). Mas o encarte de “Heliodromus” traz a adição de Frank Navarro (letras e arte), Erik Neilson (guitarras, elétrica, acústica e tenores, ukulele e vocal) e Douglas Porter (guitarras e vocal). Além de músicos convidados. Mas qual a função dos músicos citados na banda?
Joe –
Boa pergunta! (risos) Na verdade, Frank Navarro ajudou a formar a banda comigo, Ted e Dave. Doug se juntou a nós apenas alguns meses antes de gravarmos “Time In Stone”. Então, nós estávamos em um número de cinco. Frank tocou algumas partes, coisas acústicas e, por vezes, os graves. Quando ele não tocou baixo, Dave tocou enquanto cantava. Depois de “Time In Stone” Frank se estabeleceu com família, esposa e filhos. Ele não estava interessado em fazer tantos shows. Ele, na verdade, nunca foi. Ele gosta de sentar e escrever e ele faz um monte de obra de arte. Então, nós queríamos alguém para substituí-lo nos shows. Foi quando Erik entrou. Ele toca violão tenor, usa pedais, faz alguns sons estranhos e grandes harmonias vocais. Mas Frank continuou a escrever músicas e fazer arte para nós nos bastidores. Então viva! Nós éramos um time de cinco pessoas novamente! Mas, às vezes, nos ensaios, somos seis com Frank. Ele escreveu algumas grandes peças para “Heliodromus”. Logo após lançarmos “Heliodromus”, Doug e Erik deixaram a música. Foi uma coisa mútua. Eu acho que Frank ainda tem algumas ideias musicais, mas eu sei que ele não vai tocar ao vivo. Assim, ele permanece como uma parte da banda, apenas em segundo plano, como uma sombra. Ele faz um monte de nossos flyers e toda a arte para o interior dos CDs.

Recife Metal Law – O novo álbum foi gravado em diversas fases, começando com a analógica, passando para a digital e depois voltando, novamente para a analógica. Por qual razão vocês decidiram gravar o disco dessa forma?
Joe –
Por muitas razões. Um: analógica, embora não seja 100% comprovada cientificamente, parece ter a melhor qualidade de som. Mas fita é dispendioso e é muito mais difícil de trabalhar com ela. Dois: digital é acessível e fornece aos músicos uma maneira de fazer projetos em casa e também é muito versátil e prático. Então, qual é o melhor uso de cada um? Talvez a gente combinar o melhor dos dois mundos. Temos feito experiências com essa ideia desde a primeira Demo, em 2009, que foi gravada em fita (tudo o que fazemos é gravado em fita, exceto para alguns ‘b-sides’). Bem, nós gostamos de gravar, controlar o álbum ao vivo. Se fizermos essa fase na fita, não é um grande negócio. Fizemos alguns ‘takes’ de cada música e pressionamos o botão de gravação. Nós temos que fazer isso no estúdio, que, sim, é caro. Mas nós só reservamos três ou quatro dias para um registro. Estritamente para capturar a banda ao vivo, em fita, em um quarto agradável. Além disso, nós gostamos muito de nosso engenheiro de som e ele tem boas sugestões, de vez em quando. Assim, este é o volume do som! Analógico! A próxima fase é instrumentos adicionais, solos, etc. Você realmente vai notar se fizermos uma transição para o digital aqui? Talvez, mas eu duvido. Essa parte do processo leva muito tempo. O digital vem a calhar para processos demorados. Além disso, podemos fazer essa parte em casa. Ninguém vai notar que a flauta ou violão foram gravados em casa. A partir daí, nós vamos para o Off The Wall Studios, em Massachusetts. Ele tem um grande equipamento. Este é o lugar onde fazemos todos os vocais. É um estúdio pequeno, mas perfeito para gravar uma coisa de cada vez. Você poderia montar uma banda inteira lá também. Mas nós gostamos da gravação analógica inicialmente, usando bobina a bobina é uma verdadeira dor na bunda, quando se grava as faixas de voz, então o modo digital é ótimo para isso. Jimmy também mixa o álbum digitalmente, por isso, logo que estamos gravando a voz, ele mixa. Além disso, é a maneira mais fácil no mundo digital. Eu acho que essa é a forma, onde o digital realmente ajuda no processo. Agora para a masterização, nós trazemos tudo isso de volta para o analógico. Esse processo coloca tudo em conjunto. É um pouco mais caro para fazer no analógico, mas desde que sobre dinheiro para os overdubs, voz e mixagem usando o digital, eu acho que vale à pena. Assim, o processo se inicia com o analógico, vai para o digital e, finalmente, novamente para o analógico. No entanto, o take da master vai em duas direções até a etapa final. Primeiro, ele é salvo em uma fita master para um lançamento em vinil. Mas, também, ele retorna para o formato digital, para CD e lançamento ‘online’. Parece complicado, mas realmente não é. E é o melhor dos dois mundos.

Recife Metal Law – A banda estará fazendo uma tour além de suas terras, passando primeiramente pelo Brasil. Como foram feitos os contatos para essa tour no Brasil e o que a banda espera da receptividade do público brasileira, já que o nome Surunner não é tão difundido aqui?
Joe –
É claro que esperamos alcançar novos fãs no Brasil! Nós também esperamos que os fãs que já temos aí aprovem a versão da banda com três integrantes. Algumas harmonias de guitarras desaparecem, sim, mas Dave mudou algumas linhas de baixo para harmonizar com a guitarra, às vezes. E o som é mais pesado! Mais aberto! Nós amamos e esperamos que vocês também! Além disso, nós apenas esperamos ter um grande momento e conhecer o maior número de vocês quanto possível! É a nossa primeira vez fora dos EUA, por isso estamos muito animados. Se tudo correr bem, queremos voltar cada vez que lançarmos um novo álbum!

Contatos:
www.sunrunnermusic.com
www.minotaurorecords.com

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação