STILL LIVING
Não é nada fácil sustentar uma banda de Hard Rock atualmente, ainda mais quando essa banda advém do interior do nordeste. A Still Living vem passando por cima de todos os obstáculos existentes e que teimam em atrapalhar o bom andamento das coisas e, após três anos, desde a sua estreia em estúdio, com “From Now On”, nos apresenta seu novo lançamento, “Humanity”, um álbum mais maduro, até certo ponto superando a estreia, mas que não deixa de lado as raízes típicas do estilo, porém apresentando outras nuances em novas músicas. A banda, composta por Renato Costa (vocal), Eduardo Holanda (guitarra), Leandro Andrade (baixo), Thiago Nascimento (teclados) e Cleber Melo (bateria), sem mantém firme em suas convicções e trabalha arduamente na divulgação de seu novo álbum. Na entrevista a seguir os músicos falam um pouco sobre diversos assuntos que permeiam o universo da banda, nos deixando a par sobre praticamente tudo que é encontrado no caminho do Still Living.
Recife Metal Law – Como se deu o processo de composições para o novo álbum, “Humanity”?
Renato Costa – De forma muito espontânea! Todas as músicas foram compostas e trabalhadas nos ensaios; a pré-produção foi curta, pois fomos para o estúdio prontos!
Thiago Nascimento – A parte lírica surgiu do cotidiano...
Eduardo Holanda – Um ponto fundamental para a composição de “Humanity” se deu com a efetivação dessa formação. No nosso processo de composição, todos opinam, logo quando alguém novo chega à banda, novas ideias também. Gosto da sonoridade de “Humanity”. Liricamente o acho bem interessante, pois tratamos o conceito de “Humanidade” de uma forma mais existencial, observando o cotidiano, como Thiago afirmou. Lembro que logo que divulgamos o título do álbum nos perguntaram se iriamos falar sobre guerras, destruição, etc.
Recife Metal Law – Mas sobre o que de fato falam as letras do novo álbum? Vocês procuraram seguir uma temática lírica específica nesse novo disco?
Eduardo – Como citei acima, os temas versam sobre um prisma mais existencial, revelando os anseios humanos que nos faz continuar lutando; a busca por novas razões, os sonhos que nos movem; a escuridão interna que combatemos, mas que faz parte de nossa natureza, esperança e desesperança, sentimentos de perda, o próprio fator humano, aflição e a busca pelas mudanças. Existem algumas metáforas espalhadas no álbum, como regressar a si próprio, a descrença, ter atitude diante da vida. A temática ficou nesse território, tentando trazer questionamentos para o conceito de Humanidade nos dias atuais.
Recife Metal Law – As gravações novamente foram feitas no Alpha Studio. O que houve de diferente em relação ao “From Now On”?
Renato – Fomos bem mais preparados e conseguimos mais organicidade em “Humanity”.
Eduardo – A infraestrutura que o Alpha Studio nos ofereceu melhorou muito em relação a 2012, que já era ótima. Pudemos captar um som mais orgânico de bateria e guitarra. Aldecy tem muita experiência, ele sempre entende as nossas ideias e para onde queremos levar a sonoridade da produção.
Thiago – A infraestrutura também melhorou muito em relação a equipamentos!
Recife Metal Law – O que mudou após a saída de Clécio (baterista)? O que Cleber trouxe de inovação para o som e para a banda?
Eduardo – Cleber é um grande amigo e músico. Ainda fico impressionado com o que ele faz num simples ensaio... A entrada dele trouxe grande contribuição em vários aspectos. No que concerne à música, posso afirmar que nos reinventamos.
Cleber Melo – Eu escuto muito Dream Theater... (risos)
Renato – Além da questão musical, que é notável, a principal mudança é a nova energia que ele trouxe para a banda. Ele chegou no início da composição de “Humanity”, e nós aproveitamos essa energia de um novo integrante, de uma nova musicalidade e usamos como combustível para nos animar e evoluir também! O clima da banda, com certeza, é totalmente diferente.
Leandro Andrade – É isso aí!
Recife Metal Law – O logotipo da banda também mudou. Conte-nos como se deu essa mudança?
Eduardo – Por mim teríamos mudado há mais tempo, mas reservamos isso para o novo trabalho. Usamos, nos últimos dois singles e no novo álbum. Como queríamos trabalhar com um artista gráfico para a capa, optamos por ter um novo logotipo também.
Recife Metal Law – A banda fez uma parceria com a Imperative Music, e com essa parceria lançaram o “Humanity” e também relançaram o “From Now On”. O que vocês podem falar sobre a parceria?
Eduardo – Essa parceria começou com nossa participação na coletânea “Imperative Music Vol. 6”. Ano passado, 2015, fizemos uma nova parceria apenas para a primeira prensagem do “Humanity” e para uma pequena quantidade de cópias do “From Now On”. Aproveito para informar que este ano relançamos “From Now On” com uma faixa bônus e com uma prensagem 100% profissional, já que as primeiras prensagens saíram em CD-R. Não firmamos parcerias para este relançamento, continuamos trabalhando de forma independente.
Renato – Essa parceria nos ajudou a chegar ao público japonês e europeu...
Thiago – Continuamos pobres! (risos gerais) Seria bom que essa parceria tivesse rendido shows.
Recife Metal Law – E o que faltou para que a parceria rendesse shows?
Eduardo – Acredito que o interesse do selo era apenas a parceria para os lançamentos. Parceria que terminou na primeira prensagem de “Humanity”, tendo em vista que já colocamos no mercado “From Now On” de forma totalmente independente (relançado com prensagem 100% profissional e ainda com uma faixa bônus).
Recife Metal Law – Como vem sendo a divulgação e aceitação do “Humanity”?
Eduardo – Intensa. Hoje, pela web, nossa maior ferramenta. Enviamos material para vários sites e blogs especializados, alguns veículos internacionais também. Inclusive, temos recebido até pedidos do material por alguns meios de mídia da internet fora do Brasil para resenharem o álbum. Quanto a aceitação, posso dizer que os ‘reviews’ que recebemos até o momento estão elogiando bastante o álbum, inclusive temos sido indicados também em canais do Youtube.
Renato – Nada mais certo que aquele velho e conhecido ditado: “santo de casa não faz milagres”! Enquanto estamos repercutindo bem no Japão, incrivelmente na Inglaterra, que é um dos berços do som que tocamos e, também, na Europa, aqui em nossa cidade somos ignorados.
Leandro – Aqui somos considerados uma banda de garagem. Quem prestigia o trabalho aqui são os amigos e familiares.
Thiago – Os amigos e também alguns locais que apoiam nossa música.
Recife Metal Law – Há como mudar essa visão de povo colonizado e fazer com que os conterrâneos comecem a valorizar o que é feito com paixão em sua própria terra?
Eduardo – Boa questão! Nós estamos fazendo nossa parte, trabalhando duro, tentando a cada lançamento melhorar algo, da composição aos shows. Não sei se essa questão se estende a todas as bandas daqui. Conosco a coisa não é fácil, estamos em tempos bem diferentes; a facilidade ao acesso à imensidão de trabalhos lançados cotidianamente e aos clássicos tornam o tempo curto pra tanta informação. Muitas pessoas simplesmente ignoram bandas novas, e piora quando é uma banda de sua região. Parece haver uma descrença por parte de algumas pessoas quanto à qualidade do trabalho e até alguns pré-julgamentos. Aquela mentalidade de o que “o que vem de fora é melhor” ainda permeia o contexto por mais que se negue. Não considero isto uma competição, música é trabalho, esforço e arte. Reforço que todos são livres pra ouvir o que quiserem... Acredito que os excessos são ruins, o ‘bairrismo’ pode te privar de conhecer novos e excelentes trabalhos de outras regiões e países, e o desdém com a música feita em sua região mina toda uma estrutura, de lançamentos de novos trabalhos até a realização de shows, o equilíbrio dessa equação não é muito fácil... É sintomático. Na década de 90, aqui, tínhamos uma infraestrutura bem menor, mas os K-7s com áudios de ensaios circulavam, comprávamos as demos, conversávamos e, em alguns casos, até dividíamos equipamentos e locais de ensaios. Hoje, com uma infraestrutura melhor de equipamento, estúdios e CDs gravados profissionalmente, não há o mesmo interesse... Não estou generalizando, sei que muitas pessoas ainda buscam, apóiam e adquirem os trabalhos, mas diminuiu consideravelmente. É uma questão difícil, mas o público precisa perceber o esforço das bandas, o quanto é difícil manter uma banda em atividade e produzindo. Adquirir, na medida do possível, o merchandise, CDs, ir aos shows, etc. Sei que estamos em meio a uma grave crise econômica, mas muitos de nós gastamos bem mais com cerveja do que com material das bandas de nossa região... É um direito de cada um, uma questões de escolha!
Recife Metal Law – Vocês tiveram algum feedback de fora do país? Afinal “From Now On” já foi distribuído no Japão...
Renato – “Humanity” também! Tivemos um bom feedback da Bélgica, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e, principalmente, Japão!
Recife Metal Law – Voltando a falar sobre o álbum, a banda conseguiu superar um bom álbum de estreia, mantendo a mesma técnica e feeling. Quando vocês entraram em estúdio, havia tal preocupação, de superar uma estreia em grande estilo?
Eduardo – Honestamente sempre criamos algumas expectativas com novos empreendimentos. Nós procuramos sempre ir um passo além em cada lançamento, seja um single ou um próximo CD. Não foi diferente para “Humanity”, todos da banda concordam que fomos um passo a frente, mas para este álbum foi mais tranquilo. Compomos sem pressa, ensaiamos bem, fizemos boas ‘jams’, focamos em compor um álbum que mantivesse o feeling de “From Now On”, mas que trouxesse algumas novas ideias. Torço para que as pessoas percebam essas nuances entre os álbuns e agradeço seu comentário sobre termos superado nosso lançamento anterior! Acredite, esse feedback é muito importante para nós!
Recife Metal Law – O novo álbum é repleto de boas músicas, inclusive com todas trazendo grande interpretação – novamente – vocal de Renato. É um disco que prende o ouvinte do início ao fim. Na opinião de vocês, quais são as músicas mais representativas desse novo disco?
Eduardo – Obrigado! A boa interpretação que você comentou se dá graças à entrega de cada um que houve nos ensaios. Nosso tempo é muito curto, todos temos muitas atividades, logo, temos que usar o tempo com muita intensidade para compensar isto, fomos bem preparados para o estúdio e isso conta muito. Você citou Renato, realmente cara, posso te dizer que é um cara muito dedicado à Still Living. Um grande compositor e sempre preocupado em fazer um bom trabalho em todos os aspectos e está sempre evoluindo como vocalista. Criar uma atmosfera musical onde o ouvinte se interesse em ouvir o CD até o fim não é muito fácil, mas isto também é considerado na banda. Quando está pronta a gravação fazemos os nossos ‘set list’ de como será a ordem, nos reunimos e conversamos sobre isto, o resultado vai para a prensagem! Eu vou citar duas músicas que considero significativas, apesar de curtir o álbum como um todo, “Flying High” e “Rock and Roll Thunder”, por trazerem elementos novos sem perder de vista o que desenvolvemos em “From Now On”. Mais uma vez agradeço a observação!
Recife Metal Law – Eu gostei de várias delas, mas uma que muito me chamou a atenção foi “Stolen Prayer”, que tem uma levada bem Heavy Metal no seu andamento...
Eduardo – “Stolen Prayer” tem, de certo modo, uma aura mais pesada mesmo, tanto na letra quanto no instrumental. Apesar de ter a levada cavalgada típica do Heavy Metal também tem arranjos de teclados que ‘passeiam’ entre os estilos, acho isto interessante, mostra que podemos usar vários elementos em nossa música e ainda soar como Still Living. E como já estamos compondo o sucessor de “Humanity”, posso te dizer que isto ficará bem mais evidente no próximo trabalho.
Recife Metal Law – A capa de “Humanity” tem um tom bem sombrio. Era isso o que a banda procurava, com o intuito de a capa se adequar ao título do álbum?
Eduardo – A identidade visual do álbum, a meu ver, ficou no contexto que as letras expressam. Alguns profissionais que fizeram ‘reviews’ dizem que somos uma banda com elementos de Hard Rock, outros dizem que somos AOR ou Melodic Rock, há outros que dizem que usamos elementos de tudo isso para criar nossas músicas. Bem, eu respeito as opiniões condizentes. A meu ver a identidade visual do álbum representou bem nossas músicas, e isto é o mais legal.
Recife Metal Law – Qual a maior dificuldade que o Still Living enfrenta atualmente?
Cleber – Tempo!
Thiago – Falta de shows, venda de discos, falta de apoio dos órgãos de cultura.
Eduardo – A parte financeira também pesa... Cada dia se torna mais difícil gravar e lançar um álbum de forma profissional. Custos de estúdio, parte gráfica, prensagem, distribuição, promoção, divulgação... Tudo custa muito caro e as vendas de CDs diminuem ano a ano. Infelizmente percebo que poucas pessoas buscam comprar os lançamentos de bandas independentes. Refiro-me ao Hard Rock-AOR, em especial, que é a ‘nossa praia’. Disponibilizamos o material de forma direta para baratear o preço, vendemos quase pelo preço de custo, mas mesmo assim não há muito interesse em bandas pequenas aqui no Brasil. Se você, leitor, é exceção a essa regra, ficam aqui às nossas congratulações!
Recife Metal Law – Quais são as pretensões para o restante de 2016?
Thiago - Fazer uma mini-turnê para divulgar “Humanity”.
Leandro – Com certeza uma turnê!
Eduardo – Divulgar ainda mais “Humanity”, bem como o relançamento de "From Now On"! Sem esquecer que queremos adiantar bem a composição do nosso próximo álbum, aproveito pra informar que será um álbum conceitual!
Recife Metal Law – Muito Obrigado pela entrevista. Deixem suas considerações finais...
Eduardo – Muito obrigado pela entrevista e pela oportunidade de falarmos mais sobre nosso novo álbum! Respeito muito o trabalho de vocês, é uma honra para nós! Para adquirir nossos trabalhos, procurem-nos nas redes sociais, no site ou pelo e-mail.
Cleber – Valeu pessoal! Muito obrigado!
Site: www.stillliving.com.br
E-mail: [email protected]
Entrevista por Renan Willians e Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação e Juarez Ventura (ao vivo)