OUTSET





A cena potiguar tem excelentes nomes quando o negócio é o extremismo musical dentro do Underground. Extremismo esse em forma de ataques sonoros. Talvez um dos nomes mais conhecidos no que se diz respeito a esse lado extremo seja o Expose Your Hate. Mas o Outset é outro nome que vem ganhando certo respaldo e que também caminha pelo Death Metal/Grindcore. Do Expose Your Hate o Outset não traz só a linha sonora extrema, mas, também, alguns músicos: Flávio França (guitarra), Marcelo Costa (bateria) e Luiz Cláudio (vocal) também fazem parte do Expose Your Hate. Completam o Outset Patrick Schafstein (baixo) e Pedro “PH” Henrique (guitarra). Na entrevista a seguir o guitarrista Flávio nos fala sobre um pouco da história da banda, primeiro álbum de estúdio (este e os demais trabalhos lançados pela banda estão disponíveis para audição no
Bandcamp), entre outros tópicos inerentes ao Outset.

Recife Metal Law – O Outset surgiu em 2003 e, antes do lançamento do seu primeiro álbum de estúdio, lançou duas Demos. Vocês ainda lembram como foi o trabalho de composição desses dois trabalhos?
Flávio França –
Em primeiro lugar, muito obrigado pelo espaço cedido à banda. É de extrema importância para nós essa participação no Recife Metal Law. Quanto às composições dos dois primeiros registros da banda, muita coisa mudou em relação à hoje, obviamente, levando-se em consideração que já se passaram mais de doze anos da primeira gravação. O processo era bem mais simples, de forma mais rápida, com menos recursos e menos conhecimento técnico. Eu chegava com os riffs de guitarra, que eram bem mais curtos por sinal, imaginava a bateria que queria e mais ou menos a métrica para os vocais, mas sempre deixando os outros músicos à vontade para colocarem suas ideias, sem impor nada. E era assim que acontecia. Muita coisa era criada em casa por mim, enquanto outras eram montadas ou recriadas nos ensaios mesmo.

Recife Metal Law – A próxima pergunta abordaria justamente esse método inicial de composição...
Flávio –
Muita coisa mudou... Hoje o processo se torna cada vez mais complexo e planejado, naturalmente. Acredito que temos mais controle sobre tudo. A etapa de composição já não é tão rápida e simples. Primeiro gravo os riffs em casa mesmo, toco bastante a música num dia, paro a sessão, retomo dias depois para ver se surgiram novas ideias, gravo a segunda guitarra e testo, até apresentar aos outros músicos as guitarras e estrutura da música praticamente pronta. Sem falar nas outras etapas, além da composição, que hoje são facilitadas com acessibilidade maior a softwares de gravação gratuitos, cursos de mixagem, vídeos no Youtube e equipamento de captação mais em conta.

Recife Metal Law – A capital potiguar tem outro forte representante do Grindcore/Death Metal, que é o Expose Your Hate. De alguma forma existe a preocupação da sonoridade do Outset não soar parecida com a do seu conterrâneo e parceiro de estilo, ainda mais que três integrantes da banda também fazer parte do Expose Your Hate?
Flávio –
Embora as duas bandas pertençam a um mesmo estilo e tenham alguns integrantes em comum, alguns fatores diferem bastante as duas. No Outset as composições das cordas são minhas apenas, além de algumas letras e idealização das batidas. Já no Expose Your Hate as composições seguem outra linha, já que o baixista é responsável pela maioria das composições, além do que a afinação dos instrumentos no Outset é bem mais baixa, o que confere outra sonoridade, assim como as métricas do vocalista são bem distintas. Então, de forma natural, ocorrem as particularidades de cada uma.

Recife Metal Law – O primeiro álbum, “Retreat to Nowhere”, foi lançado, inicialmente de forma digital. Como surgiu a parceria com os selos para o lançamento no formato físico?
Flávio –
Tenho que agradecer, e muito, principalmente ao Emydio da Gallery Productions de Fortaleza, que desde o nosso primeiro lançamento já vinha nos apoiando, e sabemos que isso está cada vez mais difícil. Assim que eu terminei as músicas do “Retreat to Nowhere”, mandei pro Emydio e perguntei se ele tinha interesse novamente em nos lançar. Na mesma hora ele topou. O pessoal da Feed Bizarre também entrou na parceria, acreditando no nosso trabalho. Além da Rising Records de Mossoró, através do meu contato com o proprietário Luciano Elias (muito obrigado, amigo!). Para fechar a parceria, um selo aqui de Natal, a Lampião Records.

Recife Metal Law – Como não poderia deixar de ser, esse álbum é uma aula de brutalidade. É rápido, grotesco, com vocais aterradores, mas, por outro lado, o Death Metal também aparece, na sua parte mais técnica, deixando algumas passagens mais cadenciadas. Essa mescla de estilos tem por objetivo não deixar as músicas muito ‘retas’?
Flávio –
Essa mescla de estilos citadas sempre se deu naturalmente, pois todos nós consumimos muito Death Metal e Grindcore, além de outros estilos que vez por outra aparecem sutilmente na nossa música. O que aconteceu nesse álbum é que o Death Metal realmente entrou mais nas composições. Não foi imposição minha nem de ninguém, mas do próprio Death Metal que dessa vez ocupou mais espaço, tornando a pegada desse disco já um pouco diferenciada dos dois primeiros registros.

Recife Metal Law – Todas as músicas presentes no álbum de estreia são inéditas, ou seja, nada das Demos fazem parte dele. Mas houve a cogitação de colocar, no ‘debut’, alguma música feita outrora?
Flávio –
Chegamos a cogitar alguma regravação de material antigo ou incluir cover/versão de algum clássico, mas no final queríamos mesmo era um disco mais enxuto, só de inéditas.
Talvez no próximo material, que será um EP, venha alguma regravação e covers, como também umas duas inéditas.

Recife Metal Law – A parte lírica, assim como a parte sonora, é um arregaço! A temática aborda, principalmente, corrupção, política, violência... Como vocês encaram e veem a atual situação política, econômica, de segurança, saúde e afins, de nosso país, e como tudo isso influenciou na hora de escrever as letras do disco?
Flávio –
É como eu sempre digo aos amigos: celebrem todos os dias, pois ficar vivo no Brasil está cada vez mais difícil. É nesse clima que encaramos o que acontece ao nosso redor. Isso aqui é pior que o Velho Oeste! É selva! Nós da banda não somos os mais otimistas, e isso se reflete na parte lírica. Infelizmente esses temas nunca deixarão de ser atuais. O que mais me cansa sobre o momento atual é ver familiares e amigos desfazendo amizades em nome de direita ou esquerda, verde ou vermelho, em nome de pessoas ou valores que não valem a pena. Sem falar na nossa população que, se formos levar em conta as redes sociais, deve ser a mais justa e desenvolvida do mundo, superando fácil Finlândia, Suíça e Noruega. Estou falando da nossa hipocrisia, onde apontamos o dedo para os governantes, mas não enxergamos nossos atos diários de corrupção. “Não existe país com governo corrupto e população honesta”.

Recife Metal Law – Uma das músicas veio em português. Como se deu a ideia de inserir uma música em português nesse álbum?
Flávio –
Olha, foi ideia do nosso vocalista que já manifestava essa ideia de escrever letras não só em inglês. Achei interessante a ideia e não havia razões para impor uma objeção. Quando pudermos deixar nossos trabalhos mais amplos e ricos em detalhes, deixaremos.
Para os próximos lançamentos, cogito até a possibilidade de escrever uma letra em francês ou holandês.

Recife Metal Law – “Retreat to Nowhere” foi gravado em cerca de dois anos, entre 2013 e 2015. O que motivou o disco a demorar tanto a ser gravado?
Flávio –
O que aconteceu é que nesse período aconteceram muitas coisas nos projetos nos quais sou envolvido. O Expose Your Hate, se não me falhe a memória, estava no processo de divulgação do disco novo. A Son of a Witch estava fazendo shows no Sudeste, como também gravando seu disco no Rio de Janeiro. Além de outros projetos, como a gravação da Demo e shows da Observer. Foi um processo turbulento, mas não me arrependo de ter me envolvido em tantas coisas. Vale muito à pena e já, já, entro nessa rotina de novo. Espero que os próximos trabalhos não demorem tanto, uma vez que agora tenho uma sala/estúdio de gravações para facilitar os processos que envolvem tempo/dinheiro.

Recife Metal Law – Existe a informação de que o ‘debut’ teve diversas etapas de gravação. A bateria foi gravada no Studio R; Guitarras no Schafstein’s Pium Forest Studio e os vocais e baixo no Warsong Studio. Havia mesmo essa necessidade de gravar o disco em diversos estúdios?
Flávio – 
Houve, sim, a necessidade, pois fomos gravando onde era mais fácil e possível no momento, levando-se em consideração também a disponibilidade dos músicos, dinheiro, etc. Não é o mais aconselhável numa produção musical. Acredito que esse disco foi o que me deu mais trabalho no final das contas, desde o início das gravações até a masterização. Uma coisa é certa: ao conceber este disco adquiri bastante experiência (nunca o suficiente) para as próximas produções. Esse realmente marcou e ensinou muito.

Recife Metal Law – A arte da capa ficou bem interessante e foi feita pelo vocalista Luzdeth Lott. A arte gráfica também ficou por conta dele e Tiago Prado. Mais algum integrante da banda chegou a opinar sobre a arte ou tudo ficou praticamente por conta do vocalista?
Flávio –
Nosso vocalista quase sempre fica responsável pela arte da capa/gráfica. Com exceção da capa do primeiro registro (“Welcome to the Outset”), que foi feita pelo querido Alcides Burn, todos os outros trabalhos foram do Luzdeth, tendo ajuda do Tiago Prado nesse último trabalho. Eu participo do processo juntamente com o vocal, seja concebendo o conceito de capa, seja escolhendo o título do disco, ou decidindo se vai ter foto da banda no encarte e como será essa foto, cores a serem usadas na capa, cor do logo, assim como a disposição das letras no encarte, etc. Tomamos as decisões em conjunto.

Recife Metal Law – Tendo o apoio de diversos selos na divulgação do álbum de estreia, como vem sendo a receptividade de “Retreat to Nowhere”?
Flávio –
Não posso reclamar do Emydio e todo seu trabalho. Nosso disco já foi parar nas mãos do Jairo (ex-Sepultura), Clinger (Heavy Metal Online) e outros, além de chegar em vários cantos do país, como sempre vejo nas redes sociais os parceiros nos marcando em fotos nas quais mostram o “Retreat to Nowhere”. Foram mil cópias e já, já, acabam. Isso é bastante satisfatório e nos deu gás para começarmos novo material, que vem em breve. Quero agradecer ao amigo Valterlir pela entrevista. Continuem com esse trabalho muito importante para os apreciadores da música pesada. Estarei sempre à disposição. Foi um prazer! Abraço a todos os parceiros que compraram nosso disco e estão nos dando força para continuar.

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E-mail: [email protected]

Entrevista por Valterlir Mendes
Fotos: Divulgação